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Os leitores deste Ouro de Tolo sabem que este Coordenador e Editor Chefe é apoiador do Governo da Presidenta Dilma, assim como apoiou o Presidente Lula durante seus dois mandatos. Entretanto, isto não me impede de apontar seus problemas.

O maior deles, a meu ver, é a comunicação, não somente a comunicação das iniciativas governamentais como a estratégia de políticas públicas para este setor. Programas como o “Brasil Sorridente” ou o “Brasil Carinhoso” são muito pouco conhecidos do grande público, porque a estratégia de comunicação do governo simplesmente não funciona. Talvez os setores responsáveis acreditem que caiba à grande imprensa trazer este tipo de iniciativa.

Obviamente, não é o que acontece. Todos sabemos que a grande mídia, hoje, se comporta mais como um partido político de oposição que como órgão de imprensa. Veículos como o jornal “O Globo”, por exemplo, poderiam perfeitamente ser distribuídos como jornal oficial do PSDB, por exemplo. Outros veículos impressos, radiofônicos, televisivos e de internet seguem o mesmo caminho de oposição sistemática e sem trégua ao governo.

A informação e o bom jornalismo ficaram pelo caminho, soterrados em nome do “objetivo maior”: derrubar o governo no voto ou no grito. O que mais ocorre hoje nas redações é repórteres irem a campo com pautas onde a conclusão sai pré-estabelecida pelos editores, sempre contra o governo. Declarações e fatos são deliberadamente distorcidos a fim de atender à meta de devolver a oposição ao governo federal.

Na prática, hoje, o que se verifica são concessões públicas (rádio e tv) utilizadas para o objetivo de estabelecer uma mudança na ordem política brasileira – constitucional ou não.

Lula em seu governo optou por aumentar o número de veículos que recebiam publicidade oficial, a fim de descentralizar a publicidade oficial e assim obter uma melhor comunicação. Dos 400 órgãos que recebiam publicidade oficial sob o governo Fernando Henrique Cardoso (com a Globo levando sozinha 64% dos recursos totais), Lula passou a contemplar oito mil. Dilma reduziu a 3 mil, com dez veículos de comunicação concentrando 70% dos recursos em 2012. Para 2013 a concentração é ainda maior.

Escrevi artigo sobre este tema em setembro do ano passado.

Curiosa “Síndrome de Estocolmo” do governo: concentrar verbas naqueles que pregam a sua destituição do cargo, no voto ou no golpe. Tal e qual a sequestrados que acabam se afeiçoando a seus sequestradores… Mais curioso ainda é o Ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (foto), defender que seja ainda maior a concentração de recursos na chamada “grande mídia”, de acordo com fontes do governo.

Temos outra face da questão neste momento: a regulamentação da mídia. Recentemente a Inglaterra, na esteira do “escândalo Murdoch”, aprovou lei mais restritiva à mídia. O novo código prevê a adoção de um órgão regulador independente e normas mais rígidas para o direito de resposta e uso de coisas como grampos ilegais. Aqui no Brasil, vale lembrar, a revista Veja se utilizou de escutas clandestinas para espiar opositores e ficou por isso mesmo, em nome da “liberdade de imprensa”.

Aliás, no Brasil não existe liberdade de imprensa hoje em dia, e sim “liberdade de empresa”: a liberdade do dono do veículo difundir livremente sua ideologia como “notícia”.

Existe no Brasil um projeto de lei guardado nas “gavetas” do governo, fruto de uma ampla discussão com a sociedade civil. Basicamente teria dois pontos focais: criar um órgão de auto-regulação, sem interferência do governo; e por outro lado fragmentar a propriedade dos meios de comunicação. 

O Brasil é o único país do mundo onde um mesmo grupo (Globo) detém concomitantemente televisão, rádio, jornal, tv a cabo, distribuição física de tv a cabo, internet e outras mídias. Nem nos Estados Unidos isso é permitido. Entretanto, tocar neste assunto aqui significa “ser comunista”, “ser a favor da censura” e coisas correlatas. Somos um dos únicos países do mundo onde não há qualquer regulação da mídia.

Isso não é tudo: agora se observa um movimento duplo contra alguns blogs de opinião, que possuem audiência crescente.

Por um lado – segundo fontes ligadas ao Governo – Bernardo quer retirar a publicidade que um ou dois deles, de alta frequência, recebem. São espaços que funcionam como contraponto à grande mídia, dedicando-se a colocar os fatos em outras perspectivas. Ainda assim o Ministro das Comunicações não somente quer asfixiar estes espaços como, segundo fontes do governo, quer limitar via legislação o seu campo de atuação – uma forma de devolver à mídia oposicionista o monopólio de informação.

Isso mesmo, leitor: a ideia é controlar ou censurar estes espaços, segundo fontes governamentais.

Por outro – e preocupante – é a série de processos empreendida contra blogueiros por parte do chefão do jornalismo da Globo, Ali Kamel. Quase todos os principais blogueiros políticos brasileiros estão enfrentando esta dor de cabeça, sejam jornalistas ou não. O curioso é que Kamel vem obtendo vitórias sucessivas na Justiça.

Em que pese a opinião jurídica de um advogado consultado pelo blogueiro – que considera que pelo menos dois dos processos, à luz do Judiciário, são procedentes, me parece que a extensão e o número destes tem como objetivo sufocar financeiramente estes espaços através de indenizações, provocando seu fechamento. Ou seja, o objetivo do chefão da Globo – que, alias, tem posições políticas que resvalam fortemente no extremismo – é claramente inviabilizar este movimento e manter seu monopólio. Isso é fundamental para o objetivo final, que é o de derrubar o governo.

O curioso é que se por exemplo a Globo colocar no Jornal Nacional que eu sou corrupto e recebo propina de donos de postos no meu trabalho, ou que eu “rodo bolsinha” na Augusto Severo, vai levar muito tempo até que eu possa receber a reparação devida pela mentira – se é que conseguirei. Dois pesos, duas medidas. 

Com os fatos expostos, fica ainda mais difícil de se entender a estratégia do Governo Federal de concentrar recursos e dar total monopólio e liberdade de atuação àqueles que o querem derrubar. Que depois não reclamem – o momento da mídia brasileira é muito semelhante ao ocorrido antes do suicídio de Getúlio e do golpe de 1964, com campanha francamente golpista.

Como o leitor pode perceber, algum tipo de regulação se faz necessária. Mas se o próprio governo é contra…

3 Replies to “O governo e sua “Síndrome de Estocolmo” com a grande mídia”

  1. Muito bom texto, discordo apenas em dois pontos. O primeiro é quanto ao jornal “O Globo”: há, sim, uma pendência do veículo para o lado da oposição (o que não é ruim, errado, ilegal, imoral ou engorda), mas acho exagero dizer que poderia ser um jornal oficial do PSDB. Também não vejo problema no tal monopólio global da comunicação porque isso se dá devido a uma absurda competência administrativa da empresa (e incompetência das concorrentes).
    Afora isso, fiquei espantado com o parágrafo sobre o Ali Kamel. Inacreditável…

  2. Intrigante isso, alguém que se intitula claramente apoiador dos governos mais corruptos, venais de toda a história da humanidade, voltar aos velhos tempos de atacar uma empresa jornalistica que foi responsável por grande parte da divulgação de educação e cultura deste país, nos mais distantes locais do mesmo. Este fato é reconhecido por tais governos citados.
    Por outro lado os governos citados arrebanharam financeiramente redes de televisão, jornalistas, imprensa escrita e sim, blogueiros e correlatos. Isto é público e notório. O que o cidadão que escreve esta crítica quer? Citou 2 empresas que cresceram e se tornaram fortes justamente por sua competência, qualidade de informação e independência. Quer o mesmo que está ocorrendo na Argentina, onde outro governo igual aqui quer dominar toda a mídia na marra? Ditadura total como impos o falecido (felizmente) Hugo Chavez à Venezuela. Ora, vergonhoso este seu apoio e nada inteligente.
    De que blogueiros o autor fala? Paulo Henrique Amorim? Que tem seu blog sustentado inequivocamente pelo governo e publica mentiras vergonhosas contra opositores a este governo?

    Seu discurso só serve para incautos, mal informados que são a base de votantes deste governo e de partidos aliados. Só os totalmente ignorantes engolem seu apoio.

    Sei que este comentário não vai aparecer, mas não me furto de dar minha opinião. E concluo, não sou defensor de partido e muito menos empresa nenhuma, sou somente um cidadão informado sobre o que acontece no país e enojado com toda a corrupção a podridão que ele mergulhou nos últimos 10 anos, simples assim.

  3. “O que o cidadão que escreve esta crítica quer? Citou 2 empresas que cresceram e se tornaram fortes justamente por sua competência, qualidade de informação e independência.”

    A gente tem que ler cada uma…
    É muita alienação.

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