O leitor deste blog sabe que venho tecendo críticas quanto à atuação da grande mídia nos últimos anos, mais se comportando como partido político que como órgãos jornalísticos. Pois é, voltarei ao tema.
Caiu no meu e-mail semana passada matéria com alguns dados da publicidade institucional do governo em órgãos de imprensa, por matéria da Folha que a Carta Capital repercutiu. São dados referentes a 2011 e divulgados pela Secretaria de Comunicação da Presidência, a Secom.
Percebe-se uma nova inflexão na política. Fernando Henrique Cardoso concentrava a publicidade institucional em poucos veículos, aproximadamente 400. Somente a Rede Globo levava 80% do total destinado à televisão e 64% dos recursos totais destinados, em média.
O Governo Lula promoveu uma maior capilaridade destes recursos, passando a contemplar cerca de oito mil veículos de todo o Brasil. Este foi um dos principais fatores que geraram a oposição sem trégua feita pelo maior grupo de mídia do país (a Globo) ao governo, a propósito.
Sob Dilma e com a Secom comandada pela jornalista Helena Chagas (ex-Globo), nota-se uma nova orientação: são três mil os órgãos contemplados e dez veículos de comunicação concentram 70% do total de recursos. Os veículos das Organizações Globo levam cerca de um terço do valor destinado – R$ 55 milhões para um total de R$ 161, em valores arredondados.
Somente no segmento de internet que a empresa carioca não é líder no recebimento de recursos, estando em segundo lugar – atrás da Microsoft.
Há duas formas de se pensar: uma poderia ser uma estratégia do governo de tentar contrabalançar a campanha feita contra ele por estes órgãos de imprensa dia e noite. Note-se que à exceção da Rede Record (R$ 23,4 milhões), todos os veículos que recebem verbas expressivas de publicidade do governo fazem oposição aberta e quase golpista.
Um parêntese é que a revista Carta Capital leva de forma injusta o epíteto de que é sustentada pelo governo: levou apenas cerca de R$ 120 mil em publicidade anual. A Isto È, por exemplo, levou mais que o dobro.
A segunda e mais provável, também, deriva do fato de que Dilma Roussef vem procurando se compor com esta mídia a fim de não enfrentar a oposição cerrada sofrida por Lula. Só que em minha análise a Presidenta ainda não se apercebeu que com esta mídia não há acordo: o objetivo é derrubá-la do governo, no voto ou no grito.
Há tempos que a grande mídia vem se comportando como um partido político e braço de comunicação dos partidos de oposição. Somente se noticia o que se serve a este objetivo, e não se hesita em empreender manipulações grosseiras a fim de fazer prevalecer o ponto de vista político e ideológico dos veículos.
Chega a ser engraçado se ver “analistas econômicos” torcendo e torturando números a fim de propagar aos quatro cantos que o Brasil vive uma crise econômica que somente pode ser resolvida com um “choque de liberalismo” e entrega dos nossos setores econômicos aos americanos. Ou que distribuir renda é ruim e que os mais ricos devem ser tornados mais ricos a fim de levar ao país ao “progresso”.
Esqueçam: o país vai bem, dentro das circunstâncias internacionais.
A mesma mídia que recebe publicidade oficial teve um de seus principais jornalistas envolvidos com a quadrilha de Carlinhos Cachoeira. Surpreendentemente o Governo concordou em participar de uma “Operação Abafa” para que a revista em questão não fosse convocada a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga o caso.
Nos últimos meses, a cada concessão feita pelo governo a mídia de oposição radicaliza seu posicionamento. Nem vou citar o caso do Mensalão, que foi objeto de post anterior, mas começa a ficar claro que se tenta reproduzir os movimentos golpistas midiáticos ocorridos em 1954 e 64 e que ajudaram na derrubada de Vargas e Jango.
Dia a dia articulistas da mídia radicalizam o discurso e começam a sugerir abertamente uma solução “à Paraguai” para o Brasil. Como em 1954 e 64, sabem que não tem como voltar ao poder pelo voto a curto prazo – então precisam de manobras extra-constitucionais.
Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal está deixando claro no julgamento do Mensalão que se curvou às pressões midiáticas, por fatores que retomarei em outro post. Para algum tipo de iniciativa antidemocrática prosperar via Judiciário falta pouco.
O curioso é que a mesma mídia que volta e meia reclama que “a liberdade de imprensa está ameaçada no Brasil” (em tempo, uma falácia) está no país onde a mesma é a menos regulada do mundo. Nem nos Estados Unidos ocorre o que há aqui, onde um mesmo grupo detém no mesmo lugar televisão, rádio, jornal, revista, distribuição de TV a cabo e produção de conteúdo. Onde se faz política partidária e se vende como jornalismo.
Uma coisa é certa: não será despejando verbas de publicidade que o governo irá conseguir algum tipo de trégua com esta mídia que a cada dia radicaliza seu discurso e caminha para uma defesa enfática de um golpe de Estado. Começa a ficar claro que ou o governo “vai para o pau” contra esta mídia ou será derrubado inapelavelmente do poder por algum tipo de manobra judiciária.
O recado é claro: é capitulação incondicional ou golpe. Parece uma análise extrema, mas a cada ano o cenário se radicaliza.
Finalizando, não me considero estar em condições de dar conselhos à Presidenta, mas parece claro que sua atuação precisa ser menos tecnocrata e mais política. O PT também precisa abandonar a política da conciliação e ter uma postura mais ativa.
Coloco abaixo um resumo dos dados publicados, por mídia, para o leitor ter uma idéia.
TVs
Globo Comunicação e Participações S.A – 50.029.241,00
Rádio e Televisão Record – 23.390.960,00
TV SBT Canal 4 de São Paulo – 19.394.613,00
Rádio e Televisão Bandeirantes – 6.328.810,00
TV Ômega (RedeTV!) – 3.197.261,00
Turner Broadcasting System Latin América – 1.204.555,00

Associação de COM.ED. Roquette Pinto (TVE) – 1.027.887,00
Globo Comunicação e Participações L.T.D.A – 833.803,00
Globosat Programadora – 810.281,00
Fox Latin American Channels Brasil – 728.587,00
Rádios
Rádio Panamericana (Jovem Pan) – 1.396.541,00
Rádio Excelsior – 1.129.999,00
Rádio Globo de São Paulo – 730.475,00
Rádio 99 FM Stereo – 539.143,00
Rádio SP-Um – 498.990,00
Rádio e Televisão Bandeirantes – 498.301,00
Rádio Transamérica Brasília – 419.723,00
Kalua Comunicações e Serv. De Publicidade – 408.788,00
Rádio Eldorado – 379.773,00
Rede Católica de Radiodifusão – 349.394,00
Jornais
Infoglobo Comunicação e Participações – 927.474,00
Estado de S.Paulo – 656.394,00
Empresa Folha da Manhã – 585.051,00
SP Publimetro – 259.275,00
Sempre Editora – 249.444,00
Correio Braziliense – 192.822,00
Empresa Editora A Tarde – 182.985,00
Valor Econômico – 164.017,00
Editora Jornal do Commercio – 159.230,00
Estado de Minas – 152.874,00
Internet
Microsoft Informática – 1.285.962,00
Globo Comunicação e Participações – 952.950,00
Universo Online (UOL) – 892.553,00
Yahoo do Brasil Internet – 712.296,00
Terra Networks Brasil – 651.662,00
Fox Latin American Channels Brasil – 491.821,00

Internet Group do Brasil – 444.632,00
Editora Abril – 352.729,00
O Estado de S.Paulo – 337.686,00
Editora Globo – 137.448,00
Revistas
Editora Abril – 1.296.649,00
Editora Globo – 479.060,00
Três Editorial (Isto É) – 266.201,00
Editora Confiança (CartaCapital) – 118.794,00
Editora Escala – 99.444,00
Editora Brasil 21 – 70.889,00
Elifas Andreato Comunicação Visual – 66.666,00
AS Pedreira – Agência Jornalística – 66.528,00
Padrão Editorial – 55.575,00
Editora Alvinegra (Piauí) – 55.110,00
(Fonte: Secom)

P.S. – Ao contrário do que alguns leitores dizem, este blog não recebe um centavo de publicidade oficial ou dinheiro público. Aliás, não recebe um centavo em publicidade de qualquer tipo. Ao contrário, só gasto.

13 Replies to “A Propaganda Institucional e a Oposição Midiática”

    1. A culpa disso é do Lula e sua maldita inclusão digital. Qualquer analfabeto como este blogueiro acha que pode escrever estas besteiras que lemos acima.

      A imprensa deve ser deixada totalmente livre, e os blogs deveriam ser regulados.

  1. Ao invés de cervejas, o blogueiro que comete estas linhas deveria escrever sobre as diferentes qualidades de capim…

  2. Penso que é correta quaisquer tentativas de se acabar com o mal que o PT está promovendo ao país.

    O Brasil precisa de mais capitalismo, menos estatais e mais presença internacional na economia. Empresas como a Petrobras estariam muito melhores como subsidiárias de grandes playeres internacionais.

    E acho que não pode haver nenhum tipo de regulação da mídia. O mercado regula. Onde precisa haver regulação é em blogs como o deste analfabeto que fala em golpe de estado.

    1. O post da semana passada sobre sem teto e favelados parou em algum destes blogs de direita e os sujeitos aterrissaram aqui – inclusive com alguns comentários bastante agressivos.

      Paciência.

  3. Nem deveria perder meu precioso tempo comentando no blog deste Zé Galinha, mas tenho de dizer que é normal a Globo ter a maior fatia: é a maior audiência.

    Aliás, o Zé Galinha em questão devria voltar à escola para aprender a ler e escrever, sem ser papagaio de mensaleiro petista.

  4. Mais um post eivado de bobagens escrito por este imbecil que defendeu os favelados semana passada. Lixo, advindo de outro lixo.

    O sujeito se esquece que a Globo tem sim de ter a maior parcela de publicidade. Por outro lado é uma falácia se falar em golpe – caso ocorra alguma manobra deste tipo será apenas o retorno á ordem natural das coisas.

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