Nesta quarta feira, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, volta a seu habitat e nos conta sobre um escândalo de grandes proporções que agitou a liga de futebol americano, a NFL.

Escândalo na NFL

Antes de começar, quero pedir desculpas aos leitores por ficar três semanas sem escrever, mas infelizmente devo adiantar que esses lapsos um pouco maiores poderão ser mais comuns daqui para frente devido a questões profissionais e às minhas tarefas como jogador e árbitro de xadrez. Após essa explicação, vamos ao “mérito” da coluna.
Depois de ficarmos três meses só falando de Jogos Olímpicos, é hora da Made in USA voltar ao seu habitat natural, os Estados Unidos. Nada mais natural do que falarmos do início da temporada da liga de futebol americano, a NFL, ocorrido no início deste mês.
Já adianto que minhas apostas para chegar ao Super Bowl (o grande jogo final, que em 2013 será no dia 03 de fevereiro, em New Orleans) nessa temporada ficam com o Baltimore Ravens e o sempre favorito Pittsburgh Steelers pela Conferência Americana. Além do Atlanta Falcons e do San Francisco 49ers, na Conferência Nacional.
Alias, na Conferência Nacional não se pode descartar o bom time do Green Bay Packers. Bem como o atual campeão – e time do Editor Chefe – New York Giants, que sempre faz temporadas regulares medianas, mas se o deixarem chegar nos playoffs literalmente se agiganta.
Mas ainda não é sobre isso que quero falar na coluna de hoje.
Pela segunda vez consecutiva, depois do fantasma da greve dos jogadores no ano passado, a temporada não começa de forma tranquila. A NFL está sob o impacto de uma “off-season” (época fora de temporada) conturbada, na qual estourou um escândalo do qual talvez ainda não tenhamos visto todas as suas conseqüências, apelidado de “Bountygate”. Bounty é recompensa em inglês e o gate vem de “Watergate” mesmo.
Tudo começou ainda na final da Conferência Nacional de 2010 (equivalente à semifinal) entre New Orleans Saints e Minnesota Vikings.
O quarterback (posição mais importante de qualquer time) do Vikings na época era o ótimo, mas velho e quebrado, Brett Favre.
O jogo transcorreu de forma estranha e não precisava ser um entendido de futebol americano para perceber que claramente os jogadores de defesa do Saints estavam jogando para partir o Favre ao meio ou então em três partes. Isso levantou suspeitas de que o Saints estaria pagando o que no futebol se chamaria de “bicho” para o jogador que tirasse o Favre de jogo.
A NFL nada fez publicamente e o caso foi esquecido como um “choro de perdedor”.
Só que, na verdade, a NFL estava fazendo uma investigação sigilosa gigantesca que durou quase dois anos. Esta investigação começou a realmente achar provas da existência de um programa institucional de recompensa dentro do New Orleans Saints para os jogadores que machucassem propositalmente adversários relevantes – em um absurdo ético e do fair-play. Isso sem contar que as regras da NFL claramente proíbem esse tipo de recompensa.
Ainda segundo as investigações, tudo começou com uma idéia do coordenador de defesa, Gregg Williams, e vários jogadores adversários foram escolhidos como alvo durante os três anos de funcionamento do esquema. Inclusive Favre teria sido o alvo n° 1 da história desse esquema e quem conseguisse tirá-lo do jogo iria ganhar uma nota preta. Dinheiro esse que era financiado pelo próprio Williams e pelos jogadores que formavam a defesa
Tudo indica que, após a NFL descobrir o esquema e informar a cúpula do Saints, a mesma nada fez para interromper o esquema criminoso.
Resultado: em março desse ano a NFL anunciou publicamente o resultado de suas investigações e as punições severíssimas sofridas pelos principais envolvidos no esquema:
1) Williams foi suspenso por tempo indeterminado da NFL.
2) Sean Payton e Mickey Loomis, respectivamente técnico e administrador do Saints também foram suspensos por, em podendo, nada fazerem para quebrar o esquema quando souberam de sua existência. O primeiro está fora de toda a nova temporada, o segundo pelos seus oito primeiros jogos.
3) Joe Vitt, técnico assistente, também foi suspenso por seis jogos por cumplicidade, já que soube do esquema e manteve-se calado.
4) Os jogadores Jonathan Vilma, Anthony Hargrove, Will Smith e Scott Fujita também foram suspensos por quantidade variada de jogos (de 3 jogos até 1 temporada inteira) por liderarem o esquema entre os jogadores.
É a primeira vez que um técnico é suspenso na NFL e, até aqui, a maior punição para incidentes dentro de campo contra um jogador tinha sido de cinco jogos. Uma temporada regular completa na NFL tem 16 jogos.
Porém, para variar, nem tudo são flores. Parece que mais uma vez, Roger Goodell, o comissário da NFL (equivalente a presidente), agiu rápido demais e errado, abusando de seus poderes. Assim como já tinha feito com o quase-desastre da greve ano passado.
A associação de jogadores recorreu das punições aos jogadores para um painel de arbitragem instituído dentro do âmbito do CBA (o acordo coletivo de trabalho dos jogadores com a NFL) e conseguiu a anulação das suspensões por falta de provas neste último dia 7.
Assim, a não ser que Goodell traga novas provas que demonstrem a intenção dos jogadores de machucar deliberadamente os adversários, os jogadores não serão punidos. Godell já indicou que deverá fazer isso em um momento próximo.
Já não bastasse toda essa confusão, logo após a coletiva de março da NFL que expôs o problema surgiram inúmeras acusações por parte de ex-jogadores de que Gregg Williams implantou esquemas semelhantes em três outros times nos quais trabalhou: Tennessee Titans, Washington Redskins e Buffalo Bills.
A NFL já informou que está investigando essas denúncias e não estão descartadas novas descobertas e punições em um escândalo que pode manchar bastante a popularidade do esporte, considerado bastante violento por muitos.
Para completar o cenário, o episódio mostrou a fragilidade da arbitragem na NFL.
Um documentarista, aproveitando a onda, lançou um áudio de uma reunião de Williams com seus jogadores de defesa antes do jogo de playoffs contra o 49ers desse ano. Em um discurso desprezível, ele instruiu os jogadores a machucar deliberadamente quatro jogadores do 49ers, inclusive mostrando as lesões que eles sofreram durante a temporada – para que os jogadores “explorassem o ponto certo”.
Impressionantemente, nenhum dos contatos ilegais, ou seja, faltas, feitos pelo Saints no jogo (e já se acharam mais de 10 nos replays) foi marcado pela arbitragem, ficando absolutamente impune.
Lá, como cá…
Em tempo 1: Naquele ano de 2010, o Saints se sagrou campeão e até agora ninguém pensou em cassar o título. Já no jogo contra o 49ers, o Saints perdeu por 36-32.
Em tempo 2: particularmente eu tenho fortíssimas suspeitas de que mais quatro ou cinco times da NFL tenham esquemas semelhantes ainda não descobertos, principalmente o Baltimore Ravens que está com uma defesa extrema demais.

3 Replies to “Made in USA – "Escândalo na NFL"”

  1. Além desse escândalo outro problema sério que NFL está enfrentando esse ano é o lockout dos árbitros que estão sendo substituidos por juízes com pouca (ou na maioria dos casos, nenhuma) experiência na NFL. Isso está tornando os jogos bem mais chatos e tensos com todos os jogadores se achando no direito de reclamar.

  2. O problema da arbitragem é outro complicadíssimo. Talvez seja assunto para uma outra coluna, se tudo já não tiver sido resolvido. Tivemos um semelhante com o baseball há uns 5 anos, com juizes substitutos arbitrando jogos de pré-temporada, mas o problema foi resolvido a tempo da temporada.

    Agora, com arbitragem nova ou velha as 4 grandes ligas estão cometendo pecados gigantescos em arbitragem e não é de hoje. Cansei de ver no ano passado árbitro de NFL mantendo a decisão errada mesmo após olhar o replay clarividente.

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