Eis que último domingo o povo foi às urnas para eleger prefeitos e vereadores em todos os municípios brasileiros. E algumas tendências podem ser bem observadas.
Antes de mais nada, o povo deu um recado claro: não aceita interrupção da normalidade democrática ou ser guiado a votar pela mídia.
Ainda que sob o peso do julgamento do Mensalão e de uma mídia que se comportou mais como partido político que como jornalismo, o PT cresceu nestas eleições, aumentando o número de prefeitos e vereadores eleitos e sendo o partido mais votado em termos absolutos.
Por outro lado o PSDB, ainda que apoiado incondicionalmente pela mídia, com o Mensalão três vezes por dia nos principais jornais e telejornais do Brasil teve resultados inferiores aos das eleições de 2008, como se pode ver nos dois gráficos que disponibilizo neste post.
Outro ponto que salta aos olhos à primeira vista é que, ao contrário do que analistas e proto jornalistas apregoaram, o ex-presidente Lula não somente está vivo como ainda é capaz de ‘bruxarias’ políticas. O PT colocou Haddad no segundo turno em São Paulo, a chapa progressista montada para Curitiba conseguiu chegar ao segundo turno após 24 anos e a candidatura petista em Belo Horizonte, apesar de derrotada, obteve aproximadamente 40% dos votos. A Presidenta Dilma Rousseff também se revelou uma eleitora de pseo considerável nestas eleições, o que é esperável dada a boa avaliação da população de que ela dispõe.
O Senador e ex-governador mineiro Aécio Neves obteve importante vitória em Belo Horizonte, mas o desempenho de seus candidatos nos principais colégios eleitorais mineiros não foi exatamente animador: dos dez principais, venceu apenas na capital – e faz mais um segundo turno.
Vale ressaltar, também, a boa vitória do candidato do governador Eduardo Campos (PSB) no Recife, demonstrando força. Deve-se relativizar que contribuiu também a péssima avaliação do atual prefeito, que é do PT.
Ainda assim, o PSB obteve um crescimento considerável, o que credencia o governador de Pernambuco a, no futuro, ocupar um espaço de oposição moderada ao PT. Ao contrário de alguns ‘especialistas’ – que, aliás, merecem um capítulo à parte – não vejo o governador como uma oposição de “terceira via”, mas sim como ocupante do espaço hoje ocupado por PSDB e DEM. Parece-me claro que a guinada dos dois partidos à direita roubou-lhe uma fatia expressiva de votos, em especial ao segundo.
Aproveito para fazer um parêntese a respeito de boa parte dos “jornalistas políticos”, em especial os ligados à grande mídia. Eu, um humilde economista e blogueiro, que não tenho fontes primárias, consegui emitir aqui neste espaço análises e previsões mais acuradas que muitos destes jornalistas ‘especializados’ no tema. Obviamente, fica claro que o vendido como “análise política” não passava de proselitismo partidário. Pena.
Por outro lado, as eleições deram um recado claro à oposição representada pelo PSDB e pelo DEM. Enquanto estes continuarem com o velho discurso udenista do “moralismo”, sem propostas econômicas e sociais alternativas, a tendência é de terem sua importância diminuída no espaço político nacional. O povo percebeu que houve uma tentativa de manipulação midiática e que os defeitos da classe política independem de corrente ideológica ou partidária, e com isso vota em massa nos políticos que trouxeram melhoria real de condição econômica e social.
Em tempo, um segundo parêntese. Urge uma reforma política para que velhos defeitos da prática política nacional, praticados em nome da “governabilidade”, sejam definitivamente extirpados da vida política brasileira.
Sobre o Rio de Janeiro, confirmaram-se várias das tendências que vinha apontando neste espaço nos últimos meses.
A primeira foi a folgada reeleição do prefeito Eduardo Paes. Além de ser bem avaliado, a meu ver pesou algo que já havia apontado aqui: o receio da população em ver obras e contratos para Copa do Mundo e Olimpíadas parados devido a uma troca de corrente política de governo.
Sua votação foi consagradora, mas me pareceu mais uma opção pragmática que propriamente um apoio entusiasmado.
Marcelo Freixo, embora derrotado, sai como um dos vitoriosos desta eleição. O PSOL cresceu nas cidades do Rio e em Niterói (onde fez o terceiro lugar, 18% aproximadamente dos votos para prefeito, e os dois vereadores mais votados) apoiado essencialmente em um voto elitista e reacionário que ficou órfão com as escolhas de partidos como o PSDB e o DEM – como previ aqui anteriormente.
Este eleitorado foi suficiente para lhe dar 28% dos votos na cidade do Rio, mas me parece próximo do teto. A falta de penetração do candidato nas camadas mais pobres do eleitorado pode ser um entrave para vôos mais altos futuramente.
Ainda assim o PSOL deve comemorar seu desempenho, tendo feito quatro vereadores no Rio de Janeiro e, insolitamente, elegido o prefeito de Itaocara, seu primeiro no estado. Digo que é insólito porque conheço razoavelmente a política da cidade e me parece totalmente fora do esperado um prefeito de um partido de esquerda naquele conservador município.
A propósito, Itaocara teve outro fato insólito: o candidato mais votado a vereador, Max (PSC), simplesmente não se elegeu apesar de ter mais de 5% dos votos da cidade. Coisas do quociente eleitoral…
Outro ponto que não me surpreendeu – havia escrito em março sobre isso – foi o retumbante fracasso da chapa formada pelos filhos do ex-prefeito Cesar Maia e do ex-Governador Anthony Garotinho. Seus eleitorados são mutuamente excludentes e os 3% de votos mostraram isso.
Garotinho, inacreditavelmente, ainda elegeu a esposa e também ex-governadora à Prefeitura de Campos, com quase 70% dos votos.
Alias, o ex-prefeito se elegeu vereador, mas como também vaticinei, muito abaixo dos 200 a 300 mil votos que alguns analistas profissionais esperavam. Pessoalmente acreditava que teria algo entre 30 e 50 mil votos e o resultado final foi de 44 mil sufrágios, terceiro mais votado na cidade.
Isso deixa claro que o ex-czar da cidade vive seu ocaso político, fruto de seu desastroso último mandato e da oposição ao Presidente Lula e ao governo do Estado enquanto prefeito. Entretanto, ele atingiu seu objetivo e a imunidade parlamentar conquistada lhe será útil.
Sobre a composição da Câmara de Vereadores, esperava algo pior, mas não se pode dizer que seja uma esperança. A coligação formada pelo PMDB/PSC elegeu 15 vereadores e as segundas bancadas serão as de PT e PSOL, ambas com quatro. 21 partidos elegeram vereadores no Rio de Janeiro, sendo a mais votada Rosa Fernandes, do PMDB – que possui extenso trabalho fisiológico na região de Irajá e adjacências.
Surpreendeu-me um pouco o menor número de representantes eleitos pelas igrejas evangélicas, embora ainda representativos. Por outro lado, o Rio elegeu vereadores com extensas fichas policiais, bem como alguns notórios milicianos – nada muito diferente do que se esperava.
A se lamentar a eleição de dois candidatos que adotaram a homofobia aberta como plataforma de campanha: Carlos Bolsonaro e Alexandre Isquierdo – este, pupilo do Pastor Silas Malafaia. É uma boa mostra do conservadorismo de setores da sociedade carioca.
Duas notas absolutamente pessoais: o candidato em que votei (Mozart, do PT) não se elegeu e pela primeira vez, ainda que não oficialmente, temos um vereador ligado às causas da Igreja Messiânica: Marcelo Cid (PP). Oficialmente a religião (a qual pertenço) tem como norma não se envolver institucionalmente em campanhas políticas, fato que gera debates internos há alguns anos. Entretanto, o apoio, ainda que extra-oficial e não institucional, é sinal de mudança importante na instituição. Acho salutar.
Aguardemos, agora, o desenrolar de algumas eleições em segundo turno que podem deixar ainda mais claro o quadro nacional.
(Gráficos: Viomundo e O Globo, respectivimente)

22 Replies to “Algumas Notas sobre as Eleições”

  1. Nota-se que o PT é a força política que mais evoluiu ao longo dos anos. O discurso do partido, hoje calcado em um neo-getulismo tardio, sempre encontrará força no Brasil.

    Quanto ao PSDB e DEM vivem seu ocaso, despencando a passos largos. Concordo com Migão que faltam projetos a estes dois partidos que não sabem o que fazer depois que o PT chegou ao poder com seu discurso sectarista.

    1. Mas o curioso, Henrin, é que em termos de projeto econômico o PT é menos sectário que a dupla PSDB/DEM. Estes governaram para 20 milhões de pessoas somente.

  2. Mijante o mensalão ser tratado pelo texto como um factóide criado pela “mídia oposicionista” para derrubar o PT. Parei de ler essa verdadeira pérola no quarto parágrafo.

  3. Eu acho que o PSB vai ocupar o espaço que o tucanato privateiro ocupou sim .. Eduardo se credencia a vôos mais altos , com Minas e uma parcela interessante do interior de SP em mãos…
    A análise da vitória governista é engraçada dado número de partidos da base , sempre bem amamentados… BH o governo não contabiliza derrota , bem como PA.. onde qualquer um dos três seria aliado , mas por óbvio é uma derrota ao projeto local do governador..
    Isso é um ponto que eu queria tocar… Pode o partido nacional ter essa escolha contra o movimento provinciano??
    Outra coisa.. o PT no Rio morreu??

    1. PT no Rio é linha auxiliar do Cabral – elegeu o vice de Paes. Mas não houve renovação dos quadros do partido aqui, isto é fato.

      Há casos e casos sobre os outros estados. Acho que em Minas foi sim uma vitória, até porque o PT fez 40% dos votos na capital e ganhou cinco das maiores prefeituras do estado. E olha que Aécio amordaçou toda a imprensa local.

      Pernambuco foi derrota sim.

    2. venceu uma né… Uberlandia… nas outras 5 maiores , tem 3 segundo-turnos , Betim foi pro Aécio e tem um PP na jogada…
      é ruim essa soma pura e simples como vitória no estado ou na cidade… òbvio que em BH o grupo do Aécio é forte e tal .. mas são outros interesses…

  4. Mais um post lamentável deste seguidor do apedeuta.

    Quanto aos resultados, só reforça a necessidade de termos algum tipo de limitação de renda mínima para que haja o direito ao voto.

  5. Onde que o PT venceu, seu analfabeto? Perdeu em Minas, perdeu em Pernambuco, perdeu no Sul e, se o bom Deus quiser, vai perder em São Paulo.

    Onde infelizmente venceu foi por causa destes pobres sustentados pelo Bolsa Esmola. Por isso que concordo com o colega acima: deveria haver uma renda mínima para se poder votar.

    Por outro lado, aí no Rio fiquei feliz com a conversão de Marcelo Freixo ao bom combate. É uma alternativa conservadora promissora para nossas hostes.

  6. A visão do artigo é típica de um beneficiário do Bolsa Esmola que acabou nos importunando por causa da maldita inclusão digital. Se não fosse o apedeuta o signatário estaria capinando na roça e não vagabundeando atrás de um computador.

    Espero que o STF aliado a grandes patriotas leve a cabo o projeto de livrar o Brasil da dominação anarco comunista representada pelo PT. Reitero a visão dos patriotas acima de que algum tipo de corte por renda deve ser utilizado para auferir o magnânimo direito de voto.

  7. Caramba, não sabia que PSOL fez o terceiro colocado em Niterói. Será que Freixo por lá se elegeria?
    Abraço

  8. O resultado deixa claro que a Globo, a Folha de São Paulo e a Veja deveriam ter o monopólio da informação no Brasil.

    Assim como todos os filiados ao PT deveriam estar presos e a limitação de renda para o voto implantada.

  9. O PT nunca se criou no Rio, infelizmente. Atualmente são capachos do PMDB. Em 2008 poderiam ter apoiado a candidatura da Jandira, que tinha muito mais apelo e experiência que o Molon e preferiram dividir ainda mais a esquerda.

    Em 2006 o PT teve um candidato ótimo, o Vladimir. Mas sei lá, parece que o PT usa o Rio como moeda de troca.

    Esse espaço vem sendo preenchido pelo PSol.

    1. Essa msg era pra ter sido colocada lá em cima, na msg do Emerson rs

      Então devemos ter, aparentemente, Freixo, Pezão e Lindbergh no pleito em 2014.

      Talvez fosse interessante o Psol tentar compor com PSTU novamente e com o PV.

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