“Uma é maior / outra é menor / a miudinha é que nos alumeia” [Ponto de chamada de boiadeiros nos terreiros de Encantaria].
 
“Estrela miúda que alumeia o mar / Alumia terra e mar…” [Estrela Miúda. João de Vale e Luiz Vieira].
 
Pedrinhas e estrelas miúdas: foliões anônimos, bêbados líricos, jogadores de futebol de várzea, clubes pequenos, putas velhas, caminhoneiros, retirantes, devotos, iaôs, ogãs, ajuremados, feirantes, motoristas, capoeiras, jongueiros, pretos velhos, violeiros, cordelistas, mestres de marujada, moças do Cordão Encarnado, meninos descalços, goleiros frangueiros e romances de subúrbio, embalados ao som de uma velha marcha-rancho, triste de marré-de-si, que ninguém mais canta.
 
É pela aproximação amorosa, pelo ato de acariciar com devoção sagrada – amor, eu diria – as pedrinhas miúdas, que me alumeio no mundo. Os olhos brasileiros são os únicos que tenho para mirar os dias. É com eles que eu busco conhecer e, mais do que isso, me reconhecer, na aldeia dos meus pais e do meu filho – terra das alegrias na fresta, das canções de gentilezas e dos fuzuês onde, amiúde, não se imaginaria, de tão escassa, a vida.
 
O resto são as coisas e  pessoas poderosas – inimigas dos rios e das ruas – e suas irrelevâncias. 

 

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