Após mais de um ano de intervalo, está de volta a coluna “Do pouco um tudo e vice versa”, assinada pela jornalista e produtora cultural Thaty Moura.
Embora esta esteja sendo publicada em uma segunda feira, seu dia fixo será às sextas, quinzenalmente. Seja bem vinda de volta.

Na reestréia a colunista fala sobre a recente troca no comando do Ministério da Cultura, que a meu juízo demorou até demais para ser realizada.

A luz no fim do túnel não é um trem desgovernado

“O bom filho à casa torna” e cá estou eu novamente depois de um longo e tenebroso inverno. Acho que estão ficando um pouco clichê esses meus sumiços, mas são os atropelos da vida de uma jornalista “recém” formada.

Estive ausente do Ouro de Tolo por mais de um ano e nesse período muita água rolou por debaixo da ponte, especialmente neste último mês.
Estamos vivendo o primeiro ano eleitoral com a Lei da Ficha Limpa valendo: uma conquista do povo brasileiro que deixou o “sofativismo” de lado e tomou uma atitude concreta com mais de um milhão de assinaturas. Em meio ao período eleitoral nos vemos às voltas com o julgamento do mensalão e com uma postura um tanto “Liga da Justiça” dos ministros da nossa Corte Suprema. O país está crescendo, cada dia uma coisa nova no mundo, uma personalidade a menos (saudades Steve Jobs), mas estamos, sem dúvida em um processo contínuo de evolução.

Talvez ainda seja cedo para falar, mas uma das coisas que mais me deixou contente nestes últimos tempos foi o Ministério da Cultura, ou melhor, a queda da Ana de Hollanda no dia 11 de setembro (que ironia, não?!).

[N.do.E.: compartilho do júbilo da colunista]
 

Acho que qualquer pessoa mais moderninha que entrasse no lugar da Ana já seria uma luz no fim do túnel, mas tenho uma esperança especial na Marta Suplicy. Alguém que tece elogios à atuação de Gilberto Gil frente à pasta (entre 2003 e 2008 e reconhece o valor da Internet merece o meu respeito e um grande voto de confiança.
 
Em sua posse, um dia após a aprovação do Sistema Nacional de Cultura (Proposta de Emenda à Constituição 34/2010) pelo Senado, Marta Suplicy destacou a ampliação da participação da sociedade na produção cultural e a importância da comunicação em meios digitais. “A Internet presta serviço, quando permite questionar o que está cristalizado”.
Marta carrega na bagagem a criação, quando prefeita de São Paulo, dos Centros Educacionais Unificados (CEUs), estabelecimentos de ensino que incluem teatros, quadras poliesportivas, piscina e creche. Ou seja, um espaço que une educação e cultura.
A nova ministra dará continuidade aos programas já consolidados, como o Cultura Viva e os Pontos de Cultura, mas já anunciou novas medidas, como a criação do Vale Cultura e a ampliação do PAC Cidades Históricas, conforme anúncio da presidente Dilma Rousseff. “Sabemos que a cultura é fonte de riqueza econômica e é uma parte expressiva do nosso Produto interno Bruto (PIB)”, explicou a presidente, emendando que confia na ministra Marta Suplicy. “Ela teve uma experiência desafiadora quando esteve na prefeitura de São Paulo. Com os CEUs, levou atividades culturais para milhões de pessoas. Peço não só a Deus, mas a você, que coordene a área da cultura e a leve em frente”, disse Dilma à Marta.

A Despedida de Ana

No comando do ministério há um ano e oito meses, a ex-ministra Ana de Hollanda (é impossível descrever o prazer com o qual escrevo “ex-ministra” antes do nome Ana de Hollanda) não podia sair à francesa e aproveitou o discurso de despedida para fazer um pouco de drama, ops, para explicar suas posições em relação aos direitos autorais.
O tema foi centro das polêmicas durante sua passagem pelo ministério e alvo de duras críticas dos militantes pela Cultura Livre, como esta que vos escreve. Ana disse que defende o direito autoral (não concordo com uma letra desta sentença), porque pensa em quem vive disso. “Quem vive da criação tem que ter condições de continuar fazendo essa maravilha que é a nossa cultura”, explicou.
Aham, Ana, senta lá!
Chega a ser patético o fato dela querer dizer que alguém vive da arrecadação de direitos autorais além daquele escritório com a sigla conhecida: o Ecad, conhece?
Ainda em seu discurso, a ex-ministra (já falei que adoro escrever isso?) ainda comentou o novo orçamento para 2013, os recursos da Lei Rouanet, além de ressaltar alguns, poucos, feitos de seu mandato como ministra.
Novos rumos
Marta recebera o Ministério da Cultura com um orçamento de R$ 3 bilhões para 2013, somados ainda aos recursos da Lei Rouanet, e outros projetos, como as Praças dos Esportes e da Cultura (PECs), um crescimento de 65% em relação a 2012, mas ainda assim é consenso entre artistas e produtores a necessidade de aumentar a verba. Além de muitos desafios pela frente.
De acordo com Geo Britto, do Teatro do Oprimido, a nova gestão deve retomar e ampliar os 3.500 pontos de cultura do país, um dos principais projetos do govenro Lula, que, diz, “foi praticamente descartado” na gestão Ana de Hollanda, com “vários cortes” de verbas.
Os altos impostos de importação, no caso das artes plásticas, e a burocracia excessiva, no caso da classe cinematográfica serão alguns dos muitos obstáculos a serem superados por Marta enquanto ministra da Cultura.
Para o atual governo, a ação cultural tem sido pautada pela democratizaçào do acesso à população, pelo financiamento e pela garantia do orçamento. “Julgamos que a democratização e o acesso à cultura é uma das coisas mais importantes para se agregar à questão democrática e civilizatória”, disse a presidente Dilma Rousseff durante a posse de Marta Suplicy.
A ministra Marta Suplicy garante que uma das metas de sua gestão será fornecer um ambiente integrado nas ações culturais. “O MinC não faz cultura, ele proporciona o ambiente para que ela aconteça”, disse.

Nesse sentido, será necessário manter um contínuo diálogo, levando em conta que os artistas dependem da arte para viver, mas não deixando de lado a capacidade da Internet. Segundo Marta, é com o espaço digital que “podemos gerar sinergia entre pessoas e obras que talvez não poderiam se encontrar de outra forma”. 

 
A ideia, portanto, é considerar a importância do espaço físico dos museus, exposições e teatros – que geram filas cada vez mais longas – e, ao mesmo tempo, reconhecer o papel da Internet como ferramenta de descentralização da produção cultural.
Eu não sei vocês, mas estou bastante animada. Acho que deixarei a acidez de lado e transbordarei amor pelo MinC. Nos vemos na próxima coluna.

Thaty Moura

Fontes:

Governo anuncia saída de Ana de Hollanda do Ministério da Cultura, O Globo, em 11 de setembro de 2012.

Marta Suplicy assume o Ministério da Cultura e destaca importância da Internet, Brasilianas.org, em 13 de setembro de 2012.

O ministério que a Cultura quer, O Globo, em 16 de setembro de 2012.

 
(Foto: Lula Lopes)