Neste domingo de eleições, o colunista Aloísio Villar em sua coluna “Orun Ayé” mostra um pouco da importância do voto.
Na boca da urna
Leitor, eu gosto da coluna ser publicada aos domingos porque às vezes ocorrem situações como essa: ser publicada em um dia de grande importância.
Sempre gostei de eleições e de política. Não gosto muito de políticos, mas de política eu gosto – até porque tudo em nossas vidas envolve política. Se você namora e quer sair com os amigos tem que negociar com a namorada, ser político. De repente em outro dia levá-la ao show de pagode que ela tanto adora e você detesta.
Você sai com seu filho e ele gosta de algo que está na vitrine, faz pirraça e você politicamente diz “na volta eu compro”. Não vai comprar e será o político perfeito para seu filho: aquele que promete e não cumpre. Seu filho aprenderá desde cedo que não se deve confiar em políticos.
Mas desde cedo aprendi porque se você não gostar não adianta nada: ela continuará, políticos serão eleitos e você será governado pelo gosto daqueles que gostam.  
Aí volto àquela velha tese do Bertolt Brecht que já citei aqui na coluna.
“O Analfabeto Político
O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.
É bem por aí.
Ninguém está livre de votar errado: eu já votei no Garotinho [N.doE.: eu também], mas se omitir é pior do que errar. Adianta nada votar nulo ou em branco porque não mudará o curso da história: alguém será eleito você querendo ou não.
E lembrar também que muitos foram torturados e morreram para que nós possamos votar.
Foi nessa época que comecei a me interessar por política. Por incrível que pareça com seis anos de idade já sabia quem era Moreira Franco, Sandra Cavalcanti, Leonel Brizola e Miro Teixeira.
Esses eram candidatos ao governo do Rio de Janeiro em 1982. Torci pelo Miro porque seu vice se chamava Aloisio Teixeira, mesmo nome que o meu. Em 1985 torci por Paulo Maluf contra Tancredo Neves porque todo mundo queria o Tancredo presidente e eu era do contra. Até hoje sou em algumas coisas.
Em 15 de janeiro de 1985 da sala de meu dentista vi aquela festa toda embaixo da chuva de Brasília, com as pessoas se protegendo da chuva com a bandeira nacional. Ali me apaixonei de vez pela política.
E não recriminem meu modo de escolher candidatos até então. Eu tinha oito anos: tem gente com quarenta ou cinqüenta que tem critérios piores.  
Em 1986, primeiro candidato que torci venceu, Moreira para o governo do Rio. Em 1988 torci pelo Arthur da Távola, perdeu e em 1989 a maior das eleições.
Em 1989 eu tinha treze anos e era politizado demais, mais até do que hoje. Eu tinha sonho de ser político e um dia ser presidente da República, até plano de governo eu tinha. Sabia de cor a ordem dos candidatos na cédula eleitoral e era eleitor do Lula, candidato do PT, uma espécie de PSOL da época.
Foi como eu já disse aqui, a mãe de todas as eleições. Lula, Brizola, Collor, Maluf, Covas, Ulysses, Enéas. Políticos controversos, polêmicos, mas sem dúvidas importantes para a história do país.
[N.do.E.: chega a ser curioso se observar como o PSDB de Covas em 89 é o que o PT se tornou hoje em termos de posições políticas e ideológicas. E como o PSDB assumiu a posição de ser o “PDS” de hoje.]
O Brasil se mobilizou pra essa eleição. Eu me mobilizei: só andava com broche do Lula e do PT. Meus professores, maioria de esquerda, se inflamavam em aulas de história e moral e cívica. Uma eleição foi feita em meu colégio e pela primeira vez na vida votei. Nela Lula venceu.
Nas eleições em si, em que até Silvio Santos quase virou presidente, Lula ultrapassou Brizola e foi para o segundo turno, primeira vez que segundo turno era realizado no país.
Tudo levava a crer que Lula viraria, mas uma famosa edição do debate no Jornal Nacional, uma ex de Lula no horário político de Collor dizendo que o candidato do PT foi seu amante e queria que ela abortasse e Abílio Diniz salvo de um seqüestro no dia da eleição – e vestirem um dos seqüestradores com camisa do PT – acabou com essa virada.
Dessa eleição ficou a nostalgia de grandes momentos como os jingles inesquecíveis de Brizola e Lula e no que deu a eleição de Collor.
Em 1992 entrei para um grêmio estudantil, em 1994 virei presidente desse grêmio e presidente da entidade municipal dos estudantes em Barra dos Bugres, interior do Mato Grosso. Nesse mesmo ano participei de um congresso estudantil e vi como era a coisa por dentro.
A grande maioria foi para a cidade do congresso só querendo farra e na hora de eleger a chapa pra comandar a entidade estadual ameaças como “se não votar em tal chapa volta a pé pra cidade” feitas por outros diretórios.
Nesse momento também me envolvi mais com a política da cidade e vi atos de coronelismo que explicarei melhor em uma coluna futura. Mas tive a honra de apertar a mão do Dante de Oliveira, então candidato ao governo do Mato Grosso e autor da emenda das diretas.
Em 1995 já de volta ao Rio de Janeiro, me filiei ao PDT, acho que sou até hoje – nunca pedi baixa – e vendo mais ainda a política por dentro e os interesses pessoais sempre se sobreporem preferi me afastar da política, virando compositor de samba-enredo.
Que dá no mesmo.
Nessa época do ano as duas classes que muitas vezes esnobam os outros, chamam desconhecidos de amigos, distribuem sorrisos, simpatias, dão bebida, churrasco, santinhos, prospectos e puxam o saco de quem tem o poder. Passadas as disputas e as eleições tudo volta ao normal.
Afastei-me um pouco da política, não sou mais fervoroso como era aos treze anos e até minha tendência política mudou. Hoje estou mais para o centro que esquerda (para mim nem existe mais essa coisa de direita e esquerda). Aquele moleque de 1989 provavelmente votaria no Freixo e no PSOL hoje, mas o de trinta e seis não, apesar de respeitar muito o candidato.
Não quero mais ser político profissional, nem presidente. Mas continuo exercendo a política, isso eu não mudei, de outra forma.
Devo ser um dos compositores que mais fala dos concursos de samba-enredo, mais critica ou ironiza o modelo de hoje e faço sem ranço ou raiva nenhuma porque graças a Deus e meu talento e de meus parceiros desde 2001 pelo menos ganhamos um samba por ano. Fora meus textos aqui ou em peças, contos ou romances que escrevi, que sempre possuem um contexto político.
Não sou político, sou um ser político. Que às vezes aumenta o tom mesmo quando discute política e é chato naquilo que defende, porque se tem um assunto que vale a pena debater ou falar de modo sério é esse porque daí depende o meu futuro, da minha filha, de todos nós. 
Não venda seu voto, ele é um direito seu e uma arma poderosa.
Ofereceram a você leitor algo em troca de seu voto? Pegue, aceite, diga que vá votar no safado e vote em outro, porque na boca da urna só está você e sua consciência – então o sem vergonha que tentou comprar seu voto não vai ver nada. Canalha se trata assim.
Não vote numa pessoa porque é sua amiga, é conhecida, ou artista. Leia, escute o que essa pessoa tem a dizer, se ela tem propostas boas para o local que você mora, à classe que você pertence. Veja o histórico dele e principalmente acompanhe o que ele fará depois. A internet facilita e muito acompanhar o seu parlamentar ou governante.
Praia tem todo fim de semana, chopinho com amigos sempre que vocês marcarem, não deixe de votar porque quem está mal intencionado não deixará de comparecer à urna.
Acho a democracia muitas vezes uma porcaria, mas dos péssimos sistemas de governo que existem, ainda é disparado o menos pior. Então vamos exercê-la em sua plenitude até para podermos cobrar depois.
E bom voto porque o futuro do país e de nossa cidade está em nossas mãos.