Obs:  para uma explicação do procedimento da eleição presidencial americana, leia a coluna explicativa

Amanhã, dia 8, é o grande dia das eleições gerais americanas. Apesar de já termos explicado exaustivamente o cenário tanto para a Presidência como para o Senado e Câmara dos Deputados, já se passaram 20 dias desde a coluna sobre a eleição presidencial e muita coisa mudou nessas 3 semanas.

O mais notório é que Clinton, que já vinha perdendo um pouco de terreno antes, teve uma queda considerável nas pesquisas após o anúncio do FBI sobre a reabertura da investigação sobre os emails oficiais guardados em memórias particulares. Com tal queda, Trump voltou a ter caminhos viáveis para ganhar o colégio eleitoral e, consequentemente, a presidência.

Obs: ontem 0 FBI anunciou que a reabertura foi infrutífera, porém o dano já foi feito e parece ser tarde demais para revertê-lo.

Clinton ainda tem o favoritismo pelas pesquisas. Mas se antes sua vitória era dada como quase certa, hoje ela precisa se aferrar na crença de que não haverá erro nas pesquisas contra ela, mesmo já dentro do extremo da margem de erro.

Para piorar a situação de Clinton, ela vem ganhando muitos votos em estados fortemente republicanos, mas que ainda com esses votos, continuarão nas mãos de Trump, apenas com uma margem menor de diferença. Assim, catapultaram as chances de Clinton ter mais votos populares mas perder a eleição indireta no Colégio Eleitoral. Elas chegaram a 11% de acordo com o modelo do famoso fivethirtyeight.com, uma percentagem muito alta para um cenário tão raro.

Sendo assim, nessa “coluna de véspera” iremos atualizar os acontecimentos, bem como lançar o palpite final da coluna sobre o resultado da eleição.

trumpclinton2Eleição Presidencial: Clinton x Trump

Com a ressurgência de Trump, ele passou a ser o provável vencedor dos estados de Ohio e Iowa, que já tinham uma tendência favorável a Trump e na coluna de 3 semanas atrás estavam classificados como cavalo de batalha. Pelas pesquisas, nesse parágrafo deveria entrar o Arizona também. Mas outro fato, que abaixo explico, deixam as pesquisas em dúvida.

Quanto a Utah, tivemos uma quantidade maior de pesquisas e ficou um pouco mais claro que o candidato independente McMullin não deverá passar dos 30%. Isso é insuficiente para tirar a vitória de Trump no estado.

Já a Flórida e Nevada, que estavam indo suavemente para as mãos de Clinton, voltaram a ser estados altamente contestados pelas pesquisas, até com um ligeiríssimo favoritismo para Trump em ambos.

Porém, aqui temos um problema. Em Nevada é permitido o voto antecipado e por isso as urnas já estão abertas no estado há 2 semanas. Os votos depositados, obviamente, ainda estão descansando dentro da urna, mas o governo estadual divulga diariamente quantas pessoas votaram e a qual partido estão filiadas. Com isso sabemos que quase 60% dos possíveis eleitorais já registraram seu voto. Sabendo que historicamente a abstenção no estado é em torno de 40%, podemos inferir que dificilmente haverá muitos mais votos a serem dados.

De acordo com os números divulgados até aqui, caso os afiliados democratas tenham votado em Clinton e os republicanos em Trump, Clinton ganhará com 6% de vantagem. No condado de Clark, que é o mais populoso do estado, onde fica Las Vegas e por isso tem presença latina maçica, a diferença chega a enormes 13%. É uma diferença até maior do que os números das eleições de 4 anos atrás, quando Obama ganhou no estado por confortáveis 7% de diferença.

Sendo assim, esses números indicam que teremos uma vitória tranquila de Clinton e um erro grotesco de todas as pesquisas no estado, já que no último mês nenhuma pesquisa minimamente séria deu a Clinton mais do que 4% de vantagem. A última da CNN, divulgada segunda passada, chegou a dar 6% de vantagem para Trump.

Nevada talvez seja o estado que as pesquisas mais tem errado nos últimos 10 ou 12 anos. Esse é mais um motivo para eu acreditar que as pesquisas estão erradas lá.

Agora, se as pequisas erraram mesmo em Nevada, ao que tudo indica graças a uma votação histórica dos latinos, quais as chances delas também terem errado no estado vizinho do Arizona, que tem 20% dos votos vindo dos latinos?

Eu diria que há boa chance disso ocorrer já que nos dois estados a votação antecipada de latinos já bateu recordes históricos. Sendo assim, eu coloco em dúvida as pesquisas das últimas duas semanas que concordam em uma vantagem de Trump em torno de 4%.

Por sua vez a Carolina do Norte, que apesar de seu histórico republicano já parecia estar consolidada nas mãos de Clinton, voltou a ter pesquisas inconclusivas. Aqui há um entrevero jurídico quanto a legalidade do registro de alguns eleitores, muitos deles negros, que apoiam Clinton em massa. A justiça determinou que todos os cancelamentos de registros sejam anulados. Porém a decisão saiu muito perto da eleição e não se sabe se haverá tempo hábil de todos eles comparecerem as urnas.

Até aqui, apesar da piora nos cenários das pesquisas, não há nada que realmente tire o sono de Clinton e dos democratas porque, todos esse estados eram “sobras”: não estavam naquela conta dos 272 delegados certos que garantiriam a vitória de Clinton. Ou seja, mesmo que ocorra um péssimo resultado e Clinton perca todos os estados acima, ela ainda ganharia o colégio eleitoral e a presidência.

O problema começa quando chegamos aos estados que compõem esse “muro azul”. Essa última onda pró-Trump gerou três rachaduras no muro em Michigan, Wisconsin e New Hampshire. Se Trump conseguir furar de vez um desses estados, Clinton poderá ficar em apuros.

A liderança de Clinton nos dois estados, que estava em tranquilos 5% a 8%, de repente se transformou em perigosos 1% ou 2%. Ou seja, a vitória de Trump já entrou na margem de erro das pesquisas.

Ao menos em Wisconsin, temos uma pesquisa abrangente de um instituto respeitado divulgada segunda passada que ainda deu 5% de vantagem para Clinton. Mas em Michigan, já temos até algumas pesquisas mais neutras apontando empate.

Ao menos no caso de Michigan há um atenuante: se Nevada deve liderar a lista de erros históricos das pesquisas, Michigan não fica muito atrás pois é outro estado no qual há um histórico de erros. O último erro foi vergonhoso: na primária democrata desse ano entre Clinton e Sanders, as pesquisas indicavam que ela ganharia por uma diferença entre 6% e 20%. O resultado das urnas, como sabemos, foi uma vitória de Sanders por 2%…

Em New Hampshire, há até algumas pesquisas que já mostram Trump na frente. Também há ainda mais pesquisas que mantem Clinton a frente, mas uma “pesquisa das pesquisas” da última semana daria algo em torno de 1% a favor de Trump. Será mais um estado para se prestar atenção na apuração, até porque a grande população independente do estado tende a mudar de voto mais facilmente e a demografia homogênea amplifica essas rápidas mudanças.

150413_hillary_clinton_getty_650x353Se Michigan “cair”, uma vitória na Carolina do Norte ou Flórida será necessária para Clinton. Se Michigan “cair” junto com Wisconsin ou New Hampshire, ou os três juntos, a Carolina do Norte sozinha não segura mais; a vitória na Flórida se torna fundamental para Clinton.

Se apenas New Hampshire “cair”, o que seria o cenário mais possível hoje na minha opinião, os 6 delegados de Nevada sozinhos podem substituir os 4 de New Hampshire.

Outro estado grande e importante desse “muro azul” para se prestar atenção é a Pennsylvania. Entretanto, a situação lá é mais tranquila do que nas três “rachaduras”. Clinton ainda lidera todas as pesquisas divulgadas nesse mês com diferenças entre 2 e 8%.

O que se pode afirmar sem dúvidas é que o cenário dos estados é muito mais instável do que foi 4 anos atrás e são pelo menos 12 estados nos quais há que se prestar atenção nas apurações. Em 2008 eram apenas 6, sendo 4 deles os de sempre.

Meu palpite: Iowa e Ohio ficarão com Trump. A Carolina do Norte ainda fica com Clinton graças a votação antecipada e a quantidade de pessoas com ensino superior no estado. Nevada fica com Clinton por tudo já exposto.

Trump ganha em Utah e, de forma muito mais apertada do que a esperada, no Arizona. Mas o “muro azul” ficará intacto e Clinton ganhará a eleição com folga. Ao ver a vitória de Clinton certa, os republicanos desistirão da recontagem na Flórida e darão o estado a Clinton. Não haverá “distritos dissidentes” em Maine e Nebraska.

Se tudo ocorrer como prevejo, Clinton ganhará o Colégio eleitoral por 323 a 215.

Porém não se iludam pelos números do meu colégio eleitoral. A disputa está bem mais apertada do que esse de palpite pode supor. Se apenas Michigan, Flórida e North Carolina forem para Trump, o resultado já catapulta para uma vitória de Trump por 275 a 263.

Por fim, a probabilidade de ocorrer o que ocorreu em 2000 e o resultado ser definido em uma recontagem na Flórida não é desprezível.

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A Luta pelo Senado

Quanto mais o tempo passa, mais parece que não haverá uma onda geral para um dos partidos em todas as eleições do senado como normalmente ocorre. Muitas coisas mudaram desde a coluna que destrinchou a situação das eleições senatorais americanas há 2 semanas.

Para começar, 2 vitórias dadas como certas para os democratas ficaram incertas. Wisconsin e Indiana estão mostrando uma melhoria significativa dos candidatos republicanos. Por mais que em Wisconsin o democrata Feingold continua favorito, a vitória ficou longe de estar certa.

Já em Indiana, a disputa se transformou em uma loteria. A última pesquisa confiável, divulgada domingo passado mostra um empate, enquanto outras pesquisas ligeiramente menos confiáveis já dão uma vantagem de 4 a 6% para o republicano Young.

Por outro lado, a Pennsylvania, que estava completamente indefinida, claramente se moveu a favor da democrata McGinty. Todas as quase 20 pesquisas nas últimas 3 semanas concordaram que ela está na liderança.

Em New Hampshire, a republicana Ayotte ganhou terreno e se transformou em ligeira favorita, mas a disputa ainda está bastante indefinida nesse estado pequeno.

Já em Nevada ocorreu o oposto: a democrata Cortez-Masto ganhou um pouco de terreno para se tornar ligeira favorita apenas pelas pesquisas. Se formos levar em consideração os mesmos dados da votação antecipada mostrada acima, a democrata se torna bastante favorita.

Por fim, no Missouri, saíram novas pesquisas como esperadoe apesar delas terem trazido sinais trocados, há uma ligeira vantagem no somatório delas para o candidato republicano Blunt. Ainda sim, não dá para cravar nada.

Em North Carolina, as pesquisas mostram que o republicano Burr deve conseguir a reeleição.

Meu palpite: os democratas ganham em Wisconsin, New Hampshire, Pennsylvania, Nevada e Missouri enquanto os republicanos ganham em North Carolina e Indiana.

Isso daria uma maioria no Senado para os democratas pela margem mínima de 51 a 49.

Câmara dos Deputados

Para a Câmara poucas coisas mudaram. Provavelmente os republicanos devem ficar com 230, 235 cadeiras e os democratas com 200, 205. Aquela esperança dos democratas de diminuir a desvantagem praticamente morreu.

Meu palpite: Republicanos 230 x 205 Democratas.

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo

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2 Replies to “Eleições Americanas 2016: o retorno de Trump e Atualizações Finais”

  1. Já me perguntaram o motivo de ficar tão interessado na eleição americana, por ser outro país, bem distante do Brasil. Respondo que a eleição americana não decide só o novo Presidente dos EUA, mas sim quem será o dono do mundo pelos próximos quatro (e possivelmente oito) anos.
    Nesse ano, torcerei muito para seu palpite estar certo Rafael. Não morro de amores pela Hillary, mas entregar as chaves do mundo a um louco como o Trump? Nem pensar!

    Obs: O que preferia, mesmo, era mais oito anos de Obama, principalmente se tiver maioria no senado…

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