Depois do primeiro texto sobre os julgadores do Grupo Especial de 2016, publicado na segunda-feira, a seguir veja a análise do corpo escolhido para o Carnaval nos quatro quesitos restantes.

Mestre-Sala e Porta-Bandeira

Entrou: Paulo Rodrigues (Série A)
Saiu: Luiz Carlos Correa
Ficaram: Aurea Hämmerli, Beatriz Badejo e Mônica Barbosa

Hämmerli e Badejo são das mais antigas no júri e excelentes julgadoras, enquanto Mônica Barbosa também teve um ótimo trabalho após vir da Série A em 2014.

Luiz Carlos Correa julgou muitos carnavais quando ainda eram cinco julgadores por módulo. Depois ficou afastado e voltou em 2015. Suas justificativas foram muito subjetivas e pouco explicativas. Nada a reclamar do corte.

Paulo Rodrigues é o primeiro nome a aparecer aqui vindo da Série A em 2015, quando fez bom trabalho. Primeiro-bailarino do Theatro Muncipal, indiscutivelmente é alguém com conhecimento do quesito.

Mais um quesito em que, ao menos teoricamente, a escalação de julgadores é muito boa.

beijaflor2008eFantasias

Saiu: Rodolfo Santos da Silva
Entrou: Paulo Paradela
Ficaram: Regina Oliva, Desirée Bastos e Helenice Gomes

Em 2015, Fantasias sofreu o mesmo corte drástico de todos os julgadores que samba-enredo sofreu, porém o resultado foi muito mais satisfatório. Dos 4 julgadores, três deles tiveram ótimas atuações e foram exatamente os três mantidos.

Já Rodolfo Santos não descontou nenhuma escola em concepção e por isso virou mero “fiscal de erros”, o que provavelmente motivou seu corte.

Alias, faço aqui um elogio ao presidente Castanheira porque os três julgadores  que ignoraram um dos subquesitos do julgamento em 2015 (Ottoboni, Santos e Gouvea) foram cortados do júri.

Paulo Paradela é mais um dos jurados cortados em 2015 que voltam para 2016. Apesar do julgamento falho do quesito em 2014, Paradela fez um bom caderno e não foi tão culpado pelo conjunto da obra.

salgueiro2015Alegorias e Adereços

Entrou: Rebeca Kaiser (Série A)
Saiu:  Chicô Gouveia
Ficaram: Walber Ângelo de Freitas, João Niemeyer e Madson Oliveira

Outra permanência interessante é de Walber Ângelo. Para quem não se lembra, foi ele quem esqueceu de escrever a nota da Unidos da Tijuca em 2015 mesmo após ele escrever uma longa justificativa crítica, em erro que trocou posições entre Unidos da Tijuca e Portela. Porém, sua permanência é justificável. Abstraindo-se esse erro, que não deixa de ser grave, Walber teve um dos melhores cadernos de julgamento de 2015 com notas e justificativas bastante pertinentes.

O arquiteto João Niemeyer, “herdeiro profissional” de seu tio Oscar Niemeyer, também teve uma boa estreia em 2015 e a tendência é melhorar cada vez mais a medida que a experiência for sendo adquirida. Ele adicionou uma visão estrutural que estava faltando ao quesito.

Madson Oliveira é dos poucos julgadores que detalham pormenorizadamente seu método de julgamento, algo que é muito bom. Fez um ótimo julgamento em 2015 e só precisa adaptar seus critérios, pois da forma como está hoje, ele não está igualando concepção e realização como preceitua a LIESA, mas dando um peso de 60% a 40% a favor da realização.

Já Chicô Gouveia foi muito bem cortado. Mesmo sendo um conceituado arquiteto de interiores seu julgamento foi horrível. Para começar, ele não descontou nenhuma concepção, virando mero “fiscal de erros”, depois escreveu justificativas muitas vezes subjetivas e mesmo quando apontou erros, não se entendia exatamente porque aquilo seria um problema.

Rebeca Kaiser é a segunda julgadora oriunda da Serie A de 2015 na qual ele fez um julgamento criterioso alegoria a alegoria, com notas e justificativas coerentes.

vilaisabel2015Enredo

Entraram: Artur Nunes Gomes e Persio Gomyde Brasil
Saíram: Fernando Bicudo e Sandra Moreira Monteiro
Ficaram: Marcelo Figueira e Johnny Soares

Soares ficou famoso por errar a matemática da nota da Império da Tijuca em 2014. Ainda sim, sobreviveu a sangria de 2015 e continua no júri após dar 10 para metade das escolas ano passado e 9,9 para outras quatro. Ao menos, os décimos tirados foram bem justificados.

Já Marcelo Figueira foi outro dos “promovidos” em 2014. Dos que vieram da Série A, foi o jurado que eu mais critiquei na Justificando a Injustificável. Seu caderno não foi um desastre, mas oscilou bastante entre pontos fortes e fracos. Foi um julgador bastante apegado ao sentido literal muitas vezes despontuando excelentes licenças poéticas. Seu pior vício foi despontuar escolas que não usaram a alegoria como “síntese do setor que a antecede”. Isso nunca foi regra e não está escrito em lugar algum que precisa ser feito. Consertado esses problemas, poderá render um bom caderno de julgador.

Dos que saíram, Fernando Bicudo alternou altos e baixos em seu caderno, mas provavelmente foi retirado pela brincadeira de mau gosto com a União da Ilha ao chamar o desfile de “feiura pura”.

Já Sandra Monteiro também não fará falta. Em sua estreia ela distribuiu uma chuva de 10 e 9.9. Foram sete notas 10 e quatro 9,9.

Dos que entram, Persio Gomyde Brasil é conhecidíssimo. Além de ser mais um julgador de longa data que volta após ser cortado em 2015, ele é um apaixonado por escolas de samba e estudioso a ponto de lançar um livro sobre a festa “Da Candelária a Apoteose”, que apresenta curiosidades dos desfiles desde a década de 70. Ele não costuma perdoar inconsistências do livro abre-alas em relação ao desfile, o que está certo conforme os critérios de julgamento.

Artur Nunes Gomes é novo em julgamentos mas tem um currículo bastante interessante. Mestre em Antropologia Social, já explorou bastante o tema da antropologia áfro-brasileira, inclusive o carnaval. Enredo é um quesito que se exige um grande conhecimento geral e do carnaval e sua biografia indica que ele os tem de forma exemplar. Torçamos por mais uma boa aquição do Corpo de Julgdores.

Essa é a lista comentada de julgadores de 2016. Mesmo longe da perfeição, teoricamente considero uma lista mais qualificada do que a de 2015. Que venha boas notas e boas justificativas para comentar na Justificando o Injustificável de 2016, de forma que o nome da série fique sem sentido.

8 Replies to “O Corpo de Julgadores de 2016 do Grupo Especial – 2ª parte”

  1. Belo trabalho de pesquisa, Rafic. Agora é esperar a apuração e conferir nome a nome. Essa cobrança por um bom trabalho dos jurados é fundamental para a lisura dos resultados. Parabéns,

    1. Obrigado Gil,

      Como eu escrevi lá no inicio da Justificando o Injustificável, não quero perseguir ninguém nem apenas reclamar por reclamar; todo o trabalho de pesquisa antes e depois é apenas no intuito de ajudar no processo de melhoria do julgamento.

      O carnaval adora pesquisar sua história, mas pesquisar dados qualitativos, estatísticas e outras ferramentas de forma sistemática e com um objetivo, pouco se ê. Fica difícil exigir melhoria da festa (e do julgamento mais especificamente) se não há um trabalho de identificação das causas dos problemas para atacá-los.

  2. Muito bom! Parabéns pela análise, muito completa. É bacana porque quando lemos as notícias sobre a troca do júri ficamos sem saber o que pode significar exatamente para o julgamento – apenas sabemos de um caso ou outro, isoladamente, que se destaca (como o caso do “feiura pura”). Esse seu texto clareia o cenário.

  3. Persio Gomyde Brasil é imparcial e profundo conhecedor da historia do carnaval. A escolha não poderia melhor.

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