Super Bowl XLVI

No dia de hoje, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, faz um exercício do que seria um hipotético Superbowl – a finalíssima do futebol americano – no Maracanã, Rio de Janeiro.

Ao contrário do colunista, acho que a questão mais complicada, sem dúvida, é a do fuso horário. E dois pontos não abordados: o deslocamento em massa EUA-Rio de Janeiro e as famosas blitzes da Lei Seca. Vamos à coluna.

Superbowl no Maracanã?

Em uma discussão minha com o editor do blog no Twitter, ele me perguntou qual seria a possibilidade do Maracanã um dia sediar o Super Bowl (o jogo que decide o título da temporada de futebol americano). Respondi prontamente que não haveria qualquer chance, mas ele ainda me indagou o porquê.

Então ele propôs e eu aceitei fazer uma coluna sobre as necessidades do Maracanã para sediar um Super Bowl.

Para começar, quero deixar claro que essa é uma discussão completamente hipotética porque eu não vejo o maior evento esportivo, comercial e televisivo dos Estados Unidos saindo de território americano sequer a longuíssimo prazo. O Super Bowl é tão americano quanto o Oscar e eles não aceitariam que fosse feito fora dos EUA. Ou alguém consegue imaginar uma festa do Oscar sendo feita no Rio de Janeiro, em Paris ou em Londres?

Mas partindo de uma hipotética candidatura do Maracanã para sediar o Super Bowl, antes de tudo será preciso que o mesmo passe por testes.

Lógico, ninguém seria maluco de entregar a organização do jogo mais lucrativo do ano, sem antes realizar testes com esse lugar com partidas bem menos importantes. Assim seria necessário que o Maracanã passasse por vários jogos de pré-temporada, outros vários jogos de temporada regular e mais alguns jogos de etapas de playoffs anteriores ao Super Bowl. Isso já demandaria uma experiência de uns cinco anos, por baixo.

Outro problema, ao meu ver insolúvel, é quanto ao tamanho necessário para o campo de jogo. Após a reconstrução do Maracanã, o comprimento do campo será reduzido para apenas 105m por exigências da FIFA.

Porém um campo de futebol americano tem um comprimento rígido de 120 jardas (nenhuma a mais ou a menos). 120 jardas correspondem a 109,78m, ou seja, faltarão pelo menos 4,78m de grama ao Maracanã.

Ainda teríamos problemas com a largura do gramado. Apesar do campo de futebol Americano ter um pouco menos de 50m de largura, contra 68m do futuro Maracanã, tenho fortes dúvidas se o espaço lateral disponível é suficiente para acomodar os bastante espaçosos bancos e afins dos times na lateral do campo.

Outra dificuldade que visualizo é na área que os americanos gostam de chamar de “hospitalidade”. Basicamente é o conforto existente no estádio, que pode ser medido em facilidades, serviços oferecidos, dimensão e qualidade dos camarotes para agradar as promoções institucionais que ocorrem por causa do Super Bowl e que garantem uma belíssima renda para a NFL (a liga de futebol americano).

Por mais que as exigências da FIFA tenham elevado bastante a hospitalidade do palco da final da Copa de 2014, acreditem: elas ainda estão muito atrás do padrão de um Super Bowl.

MetLife_Stadium_(Giants-Patriots)

Para quem queira ter uma idéia do que estou dizendo, recomendo um estudo nessa área dos três últimos estádios que receberam o Super Bowl e do próximo que receberá: Cowboys Stadium (Dallas, 2011), Lucas Oil Stadium (Indianápolis, 2012, alto do post), Louisiana/Mercedez-Benz Superdome (New Orleans, 2013) e Metlife Stadium (New York/New Jersey, 2014, foto acima).

Parêntese: alias, é bastante provável que o editor visite o Metlife no fim do ano e constate o que estou dizendo.

Outro problema que vislumbro é o tamanho do estacionamento do estádio, mesmo após a reforma da FIFA um pouco aquém do que os americanos necessitam para um Super Bowl. Além das necessidades para as super estruturas de transmissão das TVs americanas que costumam se instalar nessa área.

Para a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, por haver transmissões oficiais do organizador e um local de centro de mídia específico, fora do local de competição esportiva (no caso dos Jogos Olímpicos o gigantesco IBC/MPC que será instalado no antigo Autódromo de Jacarepaguá), não há necessidade de se utilizar dessa área.

Também há o problema do plano de evacuação do estádio em casos de emergência. Já foi uma grande dificuldade para o Maracanã se adaptar as exigências da FIFA. Se a memória não me falha, as exigências da NFL são ainda mais rígidas.

Outro problema é que, pelo que sei, após o fim da Copa do Mundo o Maracanã entrará em obras de adaptação para receber as torcidas dos grandes times de futebol rotineiramente. Nessa reforma pós-copa seriam instaladas grades de separação de setores da arquibancada e o principal: a instalação de alambrados separando a torcida do campo. Pois bem, a NFL não aceita nenhum dos dois. O alambrado, então, chega a ser mortal.

Por fim ainda temos um último complicador, que é o fuso horário. Alias, é justamente por causa desse fator que ainda não tivemos um Super Bowl em Londres, cidade que já recebeu várias partidas “normais” da NFL. Em condições normais, o Rio de Janeiro fica duas horas a frente da costa leste americana. Porém, no momento do Super Bowl, primeira semana de fevereiro, o Rio de Janeiro fica em horário de verão e assim, 3 horas a frente da costa leste.

Isso não será problema nos Jogos Olímpicos porque em agosto, além do Rio estar em horário normal, os EUA estão em horário de verão (lá começa em abril e termina ao final de outubro); logo a diferença será de apenas uma hora. Uma maravilha para o horário nobre americano: é por isso que a NBC (emissora oficial dos Jogos Olímpicos nos EUA) não ficou chateada com a derrota de Chicago para sede de 2016.

Porém, 3 horas de diferença e o problema já começa a ficar bem maior, já que 3 horas a mais da costa leste significam 6 horas a mais em relação à costa oeste e não podemos esquecer que o Super Bowl é um evento nacional.

Ou seja, em minha avaliação: esqueça, Migão.

[N.do.E.: estou me planejando para assistir ao vivo partidas dos Knicks (NBA) e dos Giants (NFL) no mês de novembro. Vamos ver.]


4 Replies to “Made in USA – “Superbowl no Maracanã?””

  1. Faltou o motivo principal. Mesmo se existir a vontade de fazer tudo isso é um custo muito alto para uma partida apenas e acredito que no fim daria prejuízo a cidade e não sei se seria interessante pro Rio. Muito boa a coluna e como você disse, esqueça Migão

    1. Cara, o afluxo de turistas vai trazer um movimento imenso à cidade. Pode-se ter outros problemas, como o Rafic aponta na coluna, mas este, sem dúvida, não há

    2. Prejuízo, acho que seria um exagero. Mas ele seria muito menos lucrativo do que se fosse nos EUA. Mas se terá que haver um grande deslocamento de pessoa, é sinal que realmente não faz nenhum sentido o Rio receber um Superbowl.
      Quanto ao deslocamento em massa, o Rio hoje recebe um fluxo bastante regular de voos provenientes dos EUA, não acho que o deslocamento em massa EUA-Rio traria grandes problemas.
      Agora, quanto as blitzes da Lei Seca, americano está acostumado com isso, não seria problema.

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