Neste domingo de Dia das Mães, temos a coluna “Orun Ayé”, do publicitário e compositor Aloísio Villar. O tema de hoje é uma comparação entre dois fúnebres acontecimentos e suas reações: as mortes de Ayrton Senna e de Osama Bin Laden.
O curioso é que a data marca o Dia do Trabalhador, feriado em quase todos os países do mundo. Tal data foi escolhida devido às mortes ocorridas em protestos de trabalhadores por melhores condições de trabalho em Chicago, Estados Unidos, em 1886; e posteriormente na França em 1891.
Nos dois casos a luta era pela jornada de oito horas de trabalho diário, ao contrário das desumanas dezesseis horas que vigoravam até então.
Vamos ao texto.
Primeiro de Maio e Suas Mortes
No último 1° de maio foi lembrado que era o 17° aniversário da morte de Ayrton Senna. Aqueles mais novos em idade não chegaram a conhecer o ídolo nacional e não tem idéia da comoção que foi sua morte. Eu sempre preferi o Nelson Piquet [N.doE.: eu também], mas torcia pelo Senna também. Ele representava o Brasil que deu certo, tinha garra, coragem, amor ao país e todos paravam para ver suas corridas. 
Naquele 1° de maio de 1994 o Brasil entrou em luto. 
Parecia que algum parente nosso tinha morrido. Nem na morte do presidente Tancredo Neves se viu tamanha comoção: eu ia pra rua e a conversa era só sobre o Senna, as pessoas choravam e se desesperavam como se um ente querido e próximo fosse. 
Por uma semana o Brasil acompanhou e chorou o velório e enterro de um herói nacional. Senna para os brasileiros está no patamar de um Tiradentes porque o Brasil é um país muito ligado a esportes. Dizem inclusive em tom crítico que o país só se une em copas do mundo de futebol e leva esportes mais a sério do que assuntos que seriam mais importantes para seu dia a dia. 
Nesse último 1° de maio ocorreu mais uma morte marcante, mas não para nós e sim para o povo americano. Os Estados Unidos, em um ataque ultra secreto, assassinaram Osama Bin Laden. Ele era um famoso terrorista que tinha em seu currículo extenso de terror o ataque as torres gêmeas de Nova York em 2001, vitimando cerca de três mil pessoas. Os americanos ao saberem do assassinato foram às ruas comemorar como se tivessem ganhado uma copa do mundo. 
Vocês notaram que nas duas situações citei copa do mundo, né? 
Pois bem: acho que isso reflete a diferença entre os dois povos. O brasileiro é antes de tudo um povo amistoso, acolhedor, solidário e tem no esporte sua tristeza – como no caso do Senna – como sua alegria. Meses depois da morte do ídolo o povo voltou as ruas pra festejar a conquista da copa, milhares de cariocas estavam de madrugada nas ruas do Rio de Janeiro celebrando os jogadores campeões que passavam em carro dos bombeiros. O mesmo que americanos fizeram para celebrar um assassinato perpetrado a sangue frio em alvo desarmado. 
O americano é diferente, talvez por ter passado por guerras ao longo de sua história. Para conseguir sua independência e unificar seu país o americano tem um espírito bélico, celebra suas guerras e seus heróis, vai para as ruas comemorar que um terrorista foi assassinado. 
Para um brasileiro foi chocante ver a festa devido a um assassinato em 1° de maio de 2011, como um americano talvez não entendesse o desespero de uma nação inteira por causa de um piloto de Fórmula 1. 
Povos tão próximos em sua geografia e tão distantes de personalidade. Para ser sincero eu prefiro ir para rua comemorar que meu time foi campeão do que porque alguém morreu. 
Até porque essa morte pode trazer conseqüências catastróficas para quem comemorou…
Orun Ayé!