Neste sábado, mais uma edição da coluna “A Médica e a Jornalista”, assinada por Anna Barros. O assunto de hoje é aquele que é considerado o “casamento do século”: o do Príncipe William da Inglaterra com a plebéia Kate Middleton.
Analisando todas as faces do casamento real
Parece notícia velha, mas não é. Não vou agora falar da morte de Bin Laden e seu corpo cujas fotos não apareceram até o momento em que escrevo, nem da beatificação do Papa João Paulo II. 
Falarei sobre o casamento do século entre o príncipe William e Kate Middleton, que agora será chamada de Catherine, no último dia 29 de abril. Dizem que Obama não foi convidado, mas penso que ele estava envolvido com a caçada a Bin Laden. Assim preferiu declinar do convite silenciosamente e aproveitar que toda a mídia estaria voltada para Londres, o Palácio de Buckingham e a abadia de Westminster e portanto seria desviada do foco de eliminar o inimigo número 1 da terra de Tio Sam. 
Eu tinha 9 anos quando aconteceu o casamento da princesa Diana e do príncipe Charles, em 29 de julho de 1981. Estava na casa de minha saudosa avó Ana Camila em Cáceres, Mato Grosso. Sou contra a monarquia, mas tenho que admitir que a realeza britânica causa um fascínio, um glamour, pelo menos em mim. 
E uma história de conto de fadas, além de aumentar a popularidade da monarquia e desviar a atenção dos problemas mais graves do país – um alento de dias melhores. Sou jornalista hoje, gosto de notícia, mas confesso que as ruins, no íntimo, me deprimem. Mesmo sabendo que o casamento de Diana e Charles fracassou e que tinha um terceiro elemento ali: o rotweiller Camila Parker Bowles. [N.doE.: se me permitem a ironia, o amor tem razões que até o amor desconhece…]
O matrimônio de William e Kate foi belíssimo. O vestido dela era simples e chique. Não concordo que ela tenha se inspirado em Grace Kelly, pois os vestidos se pareciam só na renda. Tudo foi de muito bom gosto. O traje de William, que era uma farda militar vermelha, era belíssimo. 
Foi uma cerimônia bela e que encantou a todos. Kate parecia ter treinado bastante para aquele momento porque estava impecável. Namorou com William por oito anos e era chamada de forma jocosa de “Waitie Katie” pela mídia imprensa sensacionalista britânica. Os beijos na sacada do Palácio de Buckingham foram tímidos, mas significativos. E a daminha de honra, afilhada de William que tapou os ouvidos com o barulho da massa que preencheu a área à frente do palácio, roubou a cena. 
A popularidade do casamento levou a algumas reflexões: o povo inglês não quer Charles como rei, mas se ele esperou 62 anos, até agora, e a rainha aos 85, esbanja vitalidade, é provável que ele não abra mão do trono em favor de seu filho, William. 
Camilla não será rainha, será princesa-consorte porque foi amante do príncipe e isso gerou um grande mal-estar entre a família real e os súditos. E a morte de Diana, a princesa do povo, só veio a aumentar a repulsa por Camilla, apesar de ela se esforçar bastante para agradar a todos. A outra reflexão é que o movimento republicano britânico existe, mas ainda é incipiente, mesmo que a rainha de fato não mande em nada e sim o primeiro-ministro, no caso, David Cameron, atualmente. [N.doE.: hoje, na prática, quem manda no Reino Unido é o presidente americano Barack Obama.]
Veremos se Catherine tentará imitar Diana ou terá um estilo próprio. William mesmo pediu dois anos sabáticos para ela, ou seja, sem compromissos oficiais da realeza a fim de que ela se adapte à nova condição e ao casamento para fugir dos holofotes da sedenta imprensa britânica. Vão viver no País de Gales, onde ele serve como piloto de resgate da Força Real, num comportamento mais reservado à la rainha Elizabeth II quando se casou com o príncipe Philip. 
Mesmo deixando de falar que ia obedecer ao marido em seus votos nupciais, assim como Diana o fez, Catherine tem um estilo discreto mas com a feição de que será mais submissa ao marido porque ela não poderá brilhar mais que ele, como Diana que brilhou mais que Charles – fato esse que deflagrou o descontentamento dele, o cíúme, o afastamento e o fantasma constante de Camilla. 
Em pensar que Edward VIII abdicou do trono para se casar com a divorciada americana Wallis Simpson, que segundo excelente artigo do brilhante jornalista Elio Gaspari deve ter rogado uma praga na família real pois três filhos da rainha se divorciaram, à exceção de Edward que é casado desde 1999 com Sophie (a princesa Anne e os príncipes Andrew e Charles são divorciados), os tempos da monarquia são outros com a tentativa de se modernizar e ficar mais perto do povo. Vide perfis de Facebook e Twitter que falam da Realeza Britânica, o chamado British Monarchy que eu sigo. 
E termino minha coluna desse sábado sugerindo dois filmes muito interessantes que falam da realeza que são: ‘A rainha’ que conta a sugestão do primeiro-ministro Tony Blair à Rainha Elizabeth para que demonstrasse tristeza pela perda da princesa Diana; e o vencedor do Oscar 2011, ‘O Discurso do Rei’. Este fala da gagueira do Rei George VI, pai de Elizabeth que sucedeu a Edward VIII que preferiu se casar com a sua americana Wallis e ser playboy, desistindo de seu compromisso com o povo, até morrer em Paris. 
Espero que, mesmo diante das especulações, a meu ver, infundadas de que Bin Laden esteja vivo, e esperando uma decisão de Obama se vai mostrar as fotos do terrorista morto ou não, os leitores tenham gostado dessa coluna, um pouco demodée mas que fala de um sentimento que habita nós mulheres: o encontro do amor, o casamento e a vontade milenar de se construir uma família, mesmo que a realeza esteja muito longe dos padrões que estamos habituados a viver. 
Acompanhar o casamento real, que bateu recorde nos trendings topics do twitter superando o terremoto do Japão, foi um bálsamo no meio de tanta tragédia que assola o mundo contemporâneo. 
Até a próxima, no segundo aniversário do Ouro de Tolo! 
Anna Barros”