Mais um domingo e mais uma edição da coluna “Bissexta”, assinada pelo advogado Walter Monteiro. O tema da coluna de hoje é o domínio da Microsoft no mercado de software.
Nuvem Passageira
Tinha prometido ao Editor-Chefe escrever algo sobre o rescaldo das operações policiais no Rio de Janeiro, tudo porque eu citara um comentário de um trecho do livro do MV Bill, que lembrou que em qualquer operação policial aparecem drogas e armas apreendidas, mas nunca dinheiro, porque a polícia, quando invade a favela, além de procurar bandidos, procura também as chamadas “trutas”, que são os sacos de dinheiro dos traficantes. 
Afinal, se as autoridades estão aí apregoando que queimaram o equivalente a mais de US$ 100 milhões, era de se presumir que pelo menos uns 10% ou 20% desse estoque estivessem naquilo que em contabilidade se chama de “ativo circulante” ou que o popular chama de dinheiro vivo. 
Mas vou pular o tema, porque nesses dias de euforia levantar qualquer aspecto negativo dos neo-heróis cariocas é motivo para angariar inimizades.
Fui ao cinema ver “A Rede Social”, filme que consta a história da criação do Facebook. Me senti em uma espécie de ‘mini campus party’, porque afora eu e minha esposa e mais uns poucos gatos pingados, o sistema estava coalhado de geeks de aspecto estereotipado. Fiquem tranquilos, meu texto está livre de spoiler, não vou contar uma linha sequer da história. Meu objetivo é outro.
Como são efêmeras essas ondas de empolgação com empresas do mundo digital. Me lembro que nos tempos da conexão discada, o máximo era se deslumbrar com a Amazon. Seu fundador, Jeff Bezos, parecia ter reinventado a roda, ao conceber uma empresa que quanto mais prejuízo acumulava, mais valor adquiria. 
Quem ousasse sacar da estante empoeirados manuais de administração que recomendavam a busca do lucro como a chave do sucesso da corporação era tratado como um ET, porque não percebia a relevância do mind share para o milênio que já se avizinhava. O milênio veio, a Amazon perdeu seu encanto e ninguém mais fala dela, ainda que seu site ainda esteja por aí.
Depois, o Netscape. O garoto genial que popularizara os navegadores iria destruir o império de Bill Gates. Quanto tempo durou a febre do Netscape? 4, 5 anos? Só pela memória, eu diria que menos. Em 1997 eu já usava Explorer. O que durou bastante foi o badalado processo antitruste. Demorou tanto que quando terminou, o Netscape já tinha praticamente saído de cena.
Teve o Linux também. Linus Torvalds, o gênio libertário que iria nos livrar desse incômodo do software proprietário. Pagar licença? Nem pensar! O Linux vai congregar todo o esforço de cooperação da comunidade de programadores e a cada dia que passa o programa vai se aperfeiçoando, até se chegar ao estado da arte. Quantas pessoas o caro leitor conhece que preferem economizar uns R$ 100,00 ou R$ 200,00 na hora de comprar um notebook novo que venha com Linux? Eu conheço duas, ambas profissionais de TI.
E o Yahoo? Toda revista de negócios que se preza em algum momento da sua história editou uma capa com uma foto daquele chinesinho que o idealizou. Estávamos, todos, imbuídos da certeza de que a porta de entrada da web era e seria para sempre o revolucionário mecanismo de busca.
Até que veio o Google. Adeus Yahoo. Adeus Altavista. Adeus Cadê?. Não está no Google, não está no mundo. O Google vai dominar o mundo, com o Google Docs, o G-Mail, o Google Calendar, o Google isso, Google aquilo. O chinesinho do Yahoo saiu das primeiras páginas para dar lugar aos novos popstars da tecnologia, Larry Page e Sergey Brin. Cresceram tanto que até os xiitas das bandas largas passaram a temer que o poder do Google o transformasse em uma espécie de Grande Irmão do mundo conectado, conhecedor das intimidades de todos nós.
Acabou a história? Não, é aí que entra o Facebook, atualmente o site mais acessado do mundo. Por razões estratégicas, o Facebook veta o acesso do Google nas suas páginas. E quem é do ramo e pensa um pouco além do dia-a-dia começa a se perguntar de que serve uma ferramenta de busca se ela não consegue atingir justamente a área de maior tráfego na rede.
Sem contar que o Facebook tem armas poderosas: como a Microsoft é uma de suas acionistas, um acordo entre ambas pode turbinar o Bing (o “google” da Microsoft) e ainda por cima colocar uma versão mais simples do pacote Office “na nuvem”, isto é, sem precisar estar instalado nas nossas máquinas. Isso transformaria o Google em mais uma empresa de glórias efêmeras. Até que um dia outro menino prodígio inventará algo melhor e dará ‘fatality’ no Facebook.
Com as ressalvas de que esse texto é fruto de meras observações de quem não entende muito do riscado, a única empresa que sobrevive inatingível é justamente aquela a que todos querem derrotar e que, a cada nova onda, é apontada por 9 entre 10 analistas como à beira da morte: a Microsoft.
Para mim, isso revela dois sintomas: a) a Microsoft é uma espécie de TV Globo, todo mundo que se julga esperto (a começar por mim) adora falar mal, mas não fica sem consumir seus produtos; b) a imprensa, por natureza, reflete pouco e é dada à empolgações passageiras, seja na favela, seja no que acontece em Wall Street.
Nota do Autor: Este texto foi escrito no Pages, em um Mac equipado com Mac OS X e enviado ao Editor-Chefe pelo Gmail. Mas eu não tenho nada contra a Microsoft, a não ser admiração por quem consegue sobreviver nessa selva predatória.
Nota do Editor: este texto foi editado e configurado no Google Chrome, que é infinitamente superior e mais leve que o Internet Explorer. Recomendo. Por outro lado, hoje as licenças do Windows e do Office baixaram muito de preço – estão na casa de R$ 150 cada um para micros novos – e isso se deve basicamente ao surgimento de alternativas mais em conta.


5 Replies to “Bissexta – "Nuvem Passageira"”

  1. Excelente, Walter.
    Mas ficou devendo a continuação do primeiro parágrafo. Ao que parece, alguns dos baba-ovos de primeira hora do “herois do Rio” já estão percebendo que o buraco (de bala) é mais embaixo.

  2. Alguns comentários:

    Na informática tudo é MUITO rápido. Há mais de 15 anos atrás quando estava na faculdade a onda era a chegada dos browsers, não havia sites comerciais. A linguagem Java (muito falada hoje) não existia. SOA era conjugação do verbo soar e não uma forma de colocar serviços para as empresas onde eles estiverem, desde que elas tenham acesso. Somos uma ciência muito nova, a engenharia e a medicina têm milhares de anos e a informática vai completar 60 ainda, se considerarmos como marco os primeiros computadores eletrônicos da década de 50. E ainda assim avançamos em uma velocidade de duplicar os transistores e a capacidade de processamento em 18 meses (Lei de Moore).

    O que ele chamou de “passageiro” são na verdade experimentos rápidos que se constroem e destroem na velocidade da luz. A Amazon.com existe e vai muito bem, obrigado, gerando lucro, sendo um experimento famoso e fazendo de seu dono um bilionário. O Google quer dominar o mundo e vai no caminho para isto ao focar os sistemas operacionais de celulares (Android), pois este parece ser o futuro: menor e mais rápido. Mas o Windows vai sobreviver nos micros enquanto não aparecer um sistema operacional que seja ao mesmo tempo mais rápido, mais bonito, mais fácil de instalar e que rode todos os programas hoje existentes de Windows sem problema.

    Este comentário foi digitado no Google Chrome. Que pode demorar mais a iniciar que o Internet Explorer, mas é muito mais rápido que este uma vez iniciado. Único problema é que alguns de nós de TI, por falta de conhecimento, acabam criando sites que têm visualização melhor no IE porque usaram comandos específicos deste. Até porque quando aprendem não têm a menor idéia de que são específicos. Querem fazer funcionar…

    Mea culpa, mea maxima culpa…

  3. Bruno, os sites comerciais são de 94/95, não ? me lembro que em 95/96 já acessava a internet na faculdade.

    Em 98, com muito esforço, coloquei internet discada em casa – acho que fui um dos primeiros não especialistas com internet em casa.

    e hoje tenho uma conexão de 10Mb muito mais barata…

  4. Em 1994 vim a conhecer os primeiros sites. Na faculdade estávamos loucos com a novidade dos browsers…

    Mas o marco dos sites comerciais foi a Amazon.com, em 1996. Ou seja, a Amazon.com foi uma das primeiras a vender através da Internet sem locais físicos para suportá-la. Antes os sites eram basicamente institucionais – comerciais eram só os provedores de internet, e neste caso o Ibase, do Betinho, em 1993/1994 foi o pioneiro – e os sites que vendiam tinham o suporte de lojas físicas como o Netbook, pai do atual Submarino.

    10 Mbps? Quase um sul-coreano! :D

  5. Tenho pra mim que a velocidade não alcance estes 10Mbps, mas foi uma evolução muito grande em relação ao que eu tinha da Velox.

    A ponto de comprar pela Net via download (oficial) o FM11 com 02Gb e baixar em 20 minutos…

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