Um dos efeitos mais detestáveis do resultado das eleições foi o aparecimento de algo que estava encoberto e que floresceu de maneira incontestável após a proclamação do resultado final: um ódio de classe beirando a xenofobia.
A imagem acima é um exemplo claro do que digo: eleitores de Serra, revoltados no Twitter, colocando a “culpa” pela derrota do candidato tucano nesta “gentalha” que vive no Nordeste, “bando de vagabundos que só recebem Bolsa Família”.
O clima de intolerância a que assistiu de forma gratuita tem a ver com o sentimento de exclusividade de classe – como escrevi antes mesmo das eleições – e com outra questão que é clássica na elite brasileira: democracia é bom, desde que meu candidato sempre ganhe.
Com a vitória de Dilma Roussef, explodiu a revolta pela derrota – que não deveria ocorrer, afinal de contas este povo é o “escolhido” – e logo se achou um bode expiatório para o resultado: a brava gente do Nordeste. Sentimentos difusos, com origem especialmente em São Paulo, revelaram-se com toda força.
No pensamento desta elite clássica, em especial a paulista, eles trabalham para sustentar vagabundos nordestinos que são parasitas e merecem a morte – afogados, como o internauta denunciado acima sugere. Esta classe se acha explorada, pensa que estando bem o restante pode estar perfeitamente morto e que estas pessoas são “ignorantes” – ou seja, não podem votar.
É um outro lado da história que escrevi aqui, que muitos moradores dos bairros de classe média alta reclamavam que “tinham de pagar um salário maior para suas empregadas pois senão elas arrumavam outro emprego”. É uma característica mesquinha, egoísta e perversa que sempre houve, mas que se encontra explicitada de uma forma nunca antes vista.
Cabe lembrar também o papel de setores da grande imprensa, que ao invés de aceitar a derrota de seu candidato procuraram desqualificar a grande vitória da candidata petista e iniciar, desde já, uma campanha se possível de impeachment ou, caso não seja possível, do candidato oposicionista em 2014.
Com esta postura de setores da imprensa, manifestações xenófobas, separatistas, fascistas e excludentes se sentiram respaldadas e descontaram nos nordestinos – e, em menor escala, nos nortistas – a frustração pela derrota de seu candidato – que devolveria o Brasil aos “áureos tempos da senzala”.
Lembro aos leitores que, ainda que apartássemos o Nordeste da votação presidencial, Dilma Roussef venceria o pleito com pouco mais de um milhão e trezentos mil votos de diferença. No somatório do Sudeste a candidata petista foi a vencedora, devido à expressiva votação no Rio de Janeiro e em Minas Gerais – e mesmo a vitória de Serra em São Paulo foi bem aquém da que era prevista por seus analistas. Os recalcados elitistas deveriam reclamar de Aécio Neves pela derrota de seu candidato, não dos brasileiros do norte…
Também discordo daqueles que acusam o Presidente Lula de ter “dividido o país”. Quem apelou para o ódio de classe, para o repúdio às diferenças, para o “nós contra eles” foi a campanha serrista. Quem se utilizou do extremismo religioso e da desqualificação dos que pensavam diferente foi Serra.
E, de mais a mais, Serra venceu nos estados da agroindústria monocultora e em São Paulo, onde foi governador.
Entretanto, penso que este episódio das eleições apenas explicitou algo que venho observando há tempos e que escrevi aqui anteriormente: existe um sentimento por parte da velha elite de que “os bárbaros estão chegando perto da gente” através da ascensão social possibilitada pelo crescimento da economia, do emprego e da renda.
Este fenômeno atinge no âmago do que é mais precioso para esta classe, o sentimento de “exclusividade”, de “escolhido”. Então apela-se para a irracionalidade, com teorias fascistas e até racistas. No fundo, a velha busca e manutenção de privilégios, nem sempre justos.
Na verdade, nossa sociedade cada vez mais tem ódio à diferença, à diversidade, a opiniões divergentes. Vive-se um “bovinismo” e um sentimento de egoísmo a cada dia maior. A sociedade brasileira que emergiu das urnas é conservadora e, muitas vezes, perversa.
Concluo aproveitando para dar um viva à brava gente nordestina, que com seu trabalho de sol a sol engrandece o país e ajuda a construir este Brasil que cada vez mais se afirma no cenário mundial. E repudiar profundamente estas lamentáveis demonstrações de xenofobia e ódio de classe.
Espero que o Judiciário brasileiro, tão injusto, possa infligir a punição necessária a estes indivíduos que manifestaram publicamente este tipo de opinião. Entretanto, não acredito. Abaixo temos várias provas que devem e precisam ser levadas à Justiça.

3 Replies to “Democracia, xenofobia e eleições”

  1. Você se cega quanto aos discursos do Lula…
    Espero que você esteja feliz no seu aniversário pelo menos.

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