Boa notícia: a respeitada Revista de História da Biblioteca Nacional, que tem em seu conselho editorial craques como Alberto da Costa e Silva, João José Reis, José Murilo de Carvalho, Laura de Mello e Souza e outras feras, publicou em seu mais recente número uma resenha, feita pela Carolina Rocha, do Samba de Enredo – História e Arte, o livro que escrevi com Alberto Mussa.
Os livros indicados pela revista recebem, além de pequenas resenhas, cotações a partir dos critérios de relevância acadêmica, consistência historiográfica, acessibilidade e interesse para o grande público. O nosso trabalho recebeu a cotação máxima – foi classificado como altamente recomendável.
Nada melhor, portanto, que festejar a boa recepção com um samba de enredo das antigas. Um dos meus sambas prediletos é o clássico Brasil, flor amorosa de três raças, hino da Imperatriz Leopoldinense em 1969, dos craques Matias de Freitas e Carlinhos Sideral. O enredo é baseado no belíssimo Música Brasileira,  poema de Olavo Bilac sobre os ritmos do Brasil e a mestiçagem de nossa gente.
O soneto do bom e velho Bilac é esse:
Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa

Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.


És samba e jongo, chiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:


E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.

O samba, em sua gravação original com as pastoras da escola de Ramos [adianto que é comovente], vai logo abaixo da letra:

Vejam de um poema deslumbrante
Germinam fatos marcantes
Deste maravilhoso Brasil
Que a lusa prece descobria
Botão em flor crescendo um dia
Nesta mistura tão sutil
E assim, na corte os nossos ancestrais
Trescalam doces madrigais
De um verde ninho na floresta
Ouçam na voz de um pássaro cantor
Um canto índio de amor
Em bodas perfumando a festa
Venham ver o sol dourar de novo esta flor
Sonora tradição de um povo (bis)
Samba de raro esplendor
Vejam o luxo que tem a mulata
Pisando brilhante, ouro e prata, a domingar
Ouçam o trio guerreiro das matas
Ecoando nas cascatas a desafiar
Ó meu Brasil, berço de uma nova era
Onde o pescador espera
Proteção de Iemanjá, rainha do mar
E na cadência febril das moendas
Batuque que vem das fazendas
Eis a lição
Dos garimpos aos canaviais
Somos todos sempre iguais
Nesta miscigenação
Ó meu Brasil
Flor amorosa de três raças (bis)
És tão sublime quando passas
Na mais perfeita integração

Coisa linda!

9 Replies to “A BOA AVALIAÇÃO DO LIVRO E UM SAMBA COMOVENTE”

  1. o samba de enredo é a culminância do gênio poético brasileiro.
    É impressionante perceber que o samba de Matias e Sideral supera o nada menos genial poema de Bilac, poeta hoje maldito, mas que foi, no seu tempo, um grande bebedor de cerveja crua.
    abração
    mussa

  2. DANIELE, valeu!

    BETO, eu também acho. Não são poucos os sambas que superam as obras que os inspiraram. Abração!

    EDUARDO, meu camarada, valeu a força.

    MONICA, obrigado pela força!!

  3. Grande Simas,
    quanta sabedoria, no poema do Bilac e no samba magistral!
    Parabéns pela cotação do teu livro, mais que merecida.
    Abração,
    Mauricio

  4. Nossa…tinha me esquecido desse samba! Maravilhoso! Desses pra gente cantar todos os dias, com um sorriso no rosto e muito orgulho no peito! Né, não? O samba é minha vida e por ele tenho verdadeira paixão! Conheci seu blog recentemente e estou amando, parabéns! Me tornei sua fã.
    Um abraço,
    Andrea Charbel

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