Moleque de calças curtas e encapetado, daqueles capazes de fazer o sujeito apoiar o rei Herodes,  eu estava no segundo ano primário quando minha professora, a inesquecível Tia Suely, pediu para que cada aluno da turma escrevesse o nome do brasileiro que mais admirava em todos os tempos. Tarefa difícil.

Me lembro perfeitamente que duas meninas, Carla e Karina, votaram, respectivamente, em Santos Dumont e D. Pedro I. Um outro garoto – não me recordo nem a cacete do nome do cabra – cravou Tarcísio Meira. Outros votados foram Pelé, Fantomas, Pedro Álvares Cabral, Emerson Fittipaldi e Elvis Presley.
Na minha vez de mostrar o caderno com o nome do brasileiro predileto, mandei de prima: Miron da Loteca. Tia Suely não gostou muito da opção, mas mantive, irredutível, a opção por Miron [acho que, no fundo, escolhi o Miron porque, à época, eu estava banguela, sem os dois dentes da frente, igualzinho ao sortudo da loteria]. Quem se lembra do cabra?
Miron Vieira de Souza, um matuto goiano da cidade de Ivolândia, acertou sozinho, em setembro de 1975, o teste 254 da loteria esportiva e ganhou algo equivalente a 3 milhões de dólares, o maior prêmio já pago pelo jogo da zebrinha em todos os tempos. Encheu a burra. 
Analisando hoje as treze partidas  que deram a fortuna a Miron, constato o seguinte: o cabra ganhou porque não entendia bulhufas de futebol. Fez a aposta mínima, não jogou um mísero duplo e cravou os resultados mais inusitados. Explico.
Esse teste 254 foi um passeio na savana; repleto de zebras. Para início de conversa, o Corinthians empatou com o Rio Negro de Manaus e o Palmeiras empatou com o Nacional, também da capital do Amazonas; um time que à época tinha cinco índios botocudos no elenco.  O resultado, porém, mais inusitado, que praticamente deu a Miron o prêmio sozinho, foi o do jogo entre o Vasco, campeão brasileiro do ano anterior, e o América de Natal, em São Januário. O América venceu por 1 a 0. O juiz do jogo – para coroar o absurdo – foi o hoje narrador esportivo Silvio Luiz.
Querem mais? Quando foi entrevistado, já na condição de milionário, sobre o fato de ter sido o único brasileiro a cravar a vitória do América potiguar sobre o bacalhau, a resposta de Miron foi magnífica:
– Ué? Achei que era o América do Rio. 
Acontece que o América do Rio enfrentou naquele fim de semana o Fluminense [ 2 x 0 pro tricolor ] e o jogo também fez parte da loteria. A explicação de Miron, com ares de filósofo dos gramados, foi mais incrível ainda :
– Eu bem que achei esquisito o América jogar duas vezes. Por isso é que eu botei ele ganhando uma e perdendo outra.
A imagem do novo milionário, abrindo um monumental sorriso desdentado, ganhou as primeiras páginas de jornais e revistas do mundo todo. Miron, um modesto empregado de mercearia, que ganhava salário mínimo e só sabia assinar o nome, virou fazendeiro – criador de gado de corte – e colocou uma dentadura cheia dos salamaleques, de garoto propaganda da Corega  Tabs. O sorriso banguela, porém, ficou consagrado como uma das imagens marcantes do século XX.
Ao buscar hoje mais informações sobre Miron da Loteca, o brasileiro da minha infância, o homem que fez uma geração de garotos perder a vergonha de ser banguela,  descobri algo bem recente : No dia 22 de fevereiro de 2010 [mês passado] um único apostador, do interior de Goiás, acertou a quina, ganhando a bagatela de R$  860.626,09. Quer saber quem foi? Clique aqui .

Abraços.

15 Replies to “VIRADO DE BUMBUM PRA LUA”

  1. De bobo, o Miron (virou Máiron, por uns tempos) não tinha nada. Aplicou, comprou terra e gado, educou os filhos e ainda fatura uma boladinha bem servida, de novo. Outros mega-ganhadores, considerados ‘ispertus’ faliram, perderam tudo, envolveram-se em falcatruas, levaram chifres, mataram e morreram.
    Esta sua opção de então, Simas, é bem justificada.

  2. “Eu bem que achei esquisito o América jogar duas vezes. Por isso é que eu botei ele ganhando uma e perdendo outra.”

    Com certeza esse é discípulo de Neném Prancha. Mesmo sem nem saber disso. Tamanha sabedoria não podia passar em branco! 3 milhões de dólares são pouco para tanta sapiência.

    E digo mais! As redes de tevê e rádio perderam a grande oportunidade de ter uma mesa-redonda que contasse com Miron da Loteca. Dá de 10 em muito cronista esportivo e “professor doutor” que a gente vê por aí nos programas esportivos.

  3. Rapaz, que coisa bonita de sorte que esse moço tem! Saúdo a ele, à família, aos vizinhos e a quem for de seu. Então, mas quase que o moço tem a lua no fundo [no sentido nordestino], numa relação íntima mesmo.
    Beijos

  4. O cabra que disse que o brasileiro que ele mais admirava era o Tarcísio Meira só pode ser o Szegeri. Você não se lembra porque ele ainda não tinha barba. É batata.

  5. Quase inacreditável… Sinceramente, se a fonte não fosse confiável (no caso o distinto autor do blog, pessoa que jamais contou uma mentira sequer…) eu diria que a criatividade do professor anda cada vez mais em alta!

  6. Hummm… Sei não. Tá me lembrando o velho deputado João Alves, “sortudo” que só, que ganhava na loteria toda semana. Depois da primeira, bróder, fica mais “fácil”…

  7. Caraca !!

    Sacana sortudo.

    Nunca vou entender o ser humano. O ganha uma bolada na loteria e continua jogando !!!

    Depois dessa fiquei sem argumento.

    Valeu a lembrança.
    Helvécio

  8. Ola pessoal algumas curiosidades do ilustre sortudo.

    Sempre vejo ele nas loterias com os bolsos cheios de cartelas pra registrar e tem um detalhe, ele sempre registra as mesmas, como aposta muito ele deixa as cartelas na loteria e dpois volta pra buscar.

    Em razão de tanta aposta, a grana da primeira vez que ele ganhou ja acabou quase tudo.

    Ele nega que ganhou novamente, mas todos ja sabem que foi ele mesmo.

  9. MIRON CONTINUOU RICO DEPOIS QUE GANHOU NA LOTERIA PORQUE ERA E AINDA É UM MATUTO DESCONFIADO QUE NAO ENTRA EM FRIA NEM FICA OUVINDO PAPO-FURADO DE ESPECIALISTAS. E TAMBÉM AO QUE PARECE NAO MANDOU O PÉ NA BUNDA DA AMÉLIA QUE TINHA DENTRO DE CASA, QUE NORMALMENTE É A PRIMEIRA PROVIDÊNCIA TOMADA PELOS NOVOS RICOS.

Comments are closed.