O post sobre o concurso do Departamento de História da UFF gerou certa polêmica. E hoje recebi um e-mail, de pessoa que pede para não se identificar – mas autorizando a publicação – contando sobre o procedimento em concurso da UFRRJ:

“Olá Pedro,


Sua resposta acabou me incentivando a redigir uma explicação completa sobre o caso. Lembrando que este fato aconteceu na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro há cerca de dois meses, em um concurso para o Departamento de Administração.


Normalmente, em qualquer concurso público para docente, é procedimento regular divulgar os nomes do inscritos com antecedência. Isso acontece por alguns motivos. Primeiramente, nós professores de ensino superior temos um registro de nossos currículos em uma plataforma internacional chamada Plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Com a divulgação dos nomes dos inscritos, temos como saber qual o nível dos concorrentes. Isso pode fazer com que eu, que atualmente moro em Minas Gerais, desista de participar do Concurso caso veja algum candidato com maior experiência.


O custo de deslocamento é alto e caso algum concorrente seja “muito gabaritado”, ele leva ampla vantagem na avaliação chamada “Prova de Títulos”. Pois bem, no concurso para a área de Marketing da Rural eles não divulgaram o nome dos inscritos. Isto causou certa estranheza, já que além de procedimento normal, TODOS os outros concursos realizados pela Rural tiveram o nome dos inscritos publicados no site oficial. Como você pode conferir no link a seguir, isto não foi feito (
http://www.ufrrj.br/concursos/av.adm-merc02_2009.htm).


Em segundo lugar, normalmente é feita uma “leitura pública” da prova. Normalmente, a prova de docência envolve o sorteio de um tema com realização de prova escrita com duração médioa de três horas. A leitura pública exime pequenas distorções na caligrafia ou utilização de termos técnicos e teóricos que podem decidir a avaliação. Este procedimento também foi retirado pela banca examinadora, que também revelou que o resultado da prova escrita seria informado via telefone. Um absurdo.


Agora a cereja do bolo é a seguinte: na data da prova, eu fui um dos três últimos a terminá-la. Como procedimento de praxe em concursos, você deve aguardar os outros dois candidatos terminarem a prova e todos deixarem a sala de provas em conjunto. Pois bem, isso foi feito. Agora, qual foi a minha surpresa ao descobrir, no fim da prova, que um dos candidatos trabalhava justamente no Departamento de Administração como Professor Substiuto. O Professor Substituto possui um contrato de dois anos apenas com as instituições de ensino. Resumindo: como não foram divulgados os nomes dos inscritos, somente eu e outro candidato soubemos do fato. No dia seguinte, recebi o telefonema informando de que não havia sido aprovado. Perguntei sobre as notas das avaliações e eles disseram que divulgariam no site oficial. Estou esperando minhas notas até hoje…

7 Replies to “Mais concursos universitários”

  1. Pedro, esse caso relatado é mesmo cheio de estranhezas… há vários por aí, eu mesmo conheço alguns – e não de ouvir dizer muito de longe, mas por gente que esteve no processo (como concorrente frustrado).

    Contudo, repito o que já disse antes, no tópico anterior. Não se pode banalizar!

    Antes de se falar em fraudes – que as há de fato – temos que observar outros aspectos:

    – o endogenismo (acho que era esse o termo usado numa caixa de discussão lá no Idelber) das universidades no Brasil, que tendem a absorver seus próprios formandos; e aí não é fraude mesmo, é um hábito ruim, que não estimula a diversidade, que não se abre para abordagens e leituras diferentes, etc.

    – os erros formais de comissões de organização ou mesmo da banca examinadora que têm sido mais explicitados com o aumento da judicialização dos concursos; tenho percebido que é necessário um apoio mais direto das procuradorias das IFES para uniformizar os procedimentos (relatórios, atas, divulgação de notas, etc.), em busca da transparência e da probidade do concurso, para não dar margens à suspeitas.

    – há também o que já relatei antes: há concurso que 1, 2 ou 3 ou mais nomes se destacam quando se vê a lista de inscritos deferidos e um deles acaba ganhado não porque tenha sido favorecido, mas porque confirmou porque era um forte candidato.

    – há, também, infelizmente, os direcionamentos de concurso, que são uma tristeza para quem pensar a carreira acadêmica como meritocrática (com possibilidade de acesso democrática); isso é comum? é! mas eu considero difícl afirmar que seja maioria, muito difícil mesmo.

    E, caro Fabrício, imagino que tenhas passado por uma experiência frustrante e isso nos faz mais pessimistas mesmos (eita, isso parece psicologia rasteira, hehehe), mas, cara, o que eu relatei não é de um “mundo de sonhos”, não; há vários programas que conheço que fazem bons processos seletivos, baseados no mérito, com avaliações pertinentes. Agora, claro, não há fórmula pronta, é preciso sempre refletir a cada ano, avaliar o que funcionou e o que não, se tais parâmetros são os melhores para aferir mérito, etc.

    Abraços a todos.
    George D.

  2. Caro George, não me sinto capaz de avaliar estes casos, mas você não concorda que a freqüência com que estes se repetem não exigiria, no mínimo, uma maior rigidez nas normas ?

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