Indianápolis, 23 de Agosto de 1987.

Dizem que toda história tem um marco inicial. A que irei contar hoje tem diferentes versões, mas o marco inicial a meu ver é a data acima. O dia em que ao mesmo tempo os EUA pela primeira vez na história levaram mais de 100 pontos e foram derrotados dentro de casa.

Aquela final dos Jogos Pan Americanos, obviamente, é muito mais lembrada aqui no Brasil que nos EUA. Mas foi o primeiro sinal de que algo estava fora da ordem na ordem mundial do basquete. No ano seguinte, o time universitário americano sequer chegou à final das Olimpíadas de Seul, derrotado na semifinal pela União Soviética – que venceria a Iugoslávia e levaria o ouro.

Naquele momento, os jogadores profissionais da liga americana de basquete, a NBA, não podiam disputar Olimpíadas. O argumento é de que os jogadores eram “profissionais” e portanto feriam o “ideal olímpico”. Obviamente, um argumento bastante contestável naquele momento, haja visto que nos demais países do mundo ocidental – para se dizer o menos – os jogadores recebiam salários para jogar.

https://www.youtube.com/watch?v=gyu22Afr0xE

Vale contextualizar, também, que a NBA experimentava um aumento de popularidade naquele momento. Em 1989 os iugoslavos Vlade Divac e Drazen Petrovic foram jogar em equipes da liga americana, que experimentava uma expansão mundial. Eu mesmo, para o leitor mais novo ter uma ideia, comecei a acompanhar a categoria por volta de 1990, nas transmissões em tv aberta da Bandeirantes.

Então, se juntaram dois movimentos paralelos: o início da expansão internacional da NBA, por um lado, e a perda da hegemonia americana a nível de seleções, que havia sido absoluta até 1987. Em 17 de abril de 1989 a Assembleia da FIBA (Federação Internacional de Basquete) autorizou a participação dos profissionais em suas competições.

Entretanto, no Campeonato Mundial de 1990 os EUA levaram ainda uma equipe universitária, sendo derrotados pelo grande time iugoslavo na semifinal. Time este que alcançaria seu apogeu e seu fim naquela final, conquistando o título – contei esta história semana passada.

Em 1991 começaram as tratativas para se levar aquele que seria a primeira seleção americana formada por profissionais aos Jogos Olímpicos. A primeira atitude foi convencer Michael Jordan, que era a estrela ascendente da NBA naquele momento, sucedendo os astros Magic Johnson e Larry Bird.

https://www.youtube.com/watch?v=a1NWP4d5dxg

Jordan a princípio ficou reticente, pois já tinha a medalha olímpica de ouro (1984, Los Angeles), então o Comitê Americano optou por outra estratégia: ir montando o time e, ao final, convencer Jordan a jogar. Aos poucos, os melhores jogadores daqueles tempos iam se juntando ao grupo; então Jordan optou por também fazer parte daquele time.

Dentre os melhores, a única ausência sentida foi a de Isaiah Thomas, ídolo e principal jogador do time do Detroit Pistons bicampeão em 1989 e 1990. Time conhecido como “Bad Boys”, pela brutalidade de sua defesa, o que levou Thomas a algumas inimizades com outros jogadores – entre eles Magic Johnson e Jordan.

Entretanto, os “Bad Boys” tinham sua parcela neste time que estava se formando. Chuck Daly, o técnico dos Pistons, foi escolhido para dirigir o que já se chamava de “Dream Team”, auxiliado por nada menos que o lendário “Coach K” – hoje técnico da seleção americana.

Daly foi escolhido por sua capacidade de trabalhar com estrelas. Nas palavras de Charles Barkley, “se ele conseguiu trabalhar com aqueles filhos da puta dos Pistons, ele consegue trabalhar com qualquer time”. Daly se utilizou de algumas artimanhas para ganhar o grupo, como perder de propósito o primeiro treino contra uma equipe de universitários e sair para jogar golfe com Jordan.

https://www.youtube.com/watch?v=7aPvNA0tPWY

No final o time foi formado com 11 jogadores da NBA e um universitário. Foi escolhido Christian Laettner, líder do time da universidade de Duke bicampeão nacional entre 1991 e 92. A outra opção considerada foi ninguém menos que Shaquille O´Neal…

Entre os NBA, o elenco se formou com: Jordan, Johnson, Bird, Ewing, Barkley, Malone, Stockton, Pippen, Drexler, Chris Mullin e David Robinson. Nada menos que 9 dos 10 melhores jogadores da NBA à época estavam na equipe, que imediatamente ganhou o apelido de “Dream Team” – Time dos Sonhos. Vale lembrar que todos os 11 integrantes desta equipe fazem parte do “Hall of Fame” do basquete.

Como perdera o Campeonato Mundial, os Estados Unidos precisaram jogar o Torneio Pré Olímpico, que foi disputado em Portland. No meio dos massacres, cenas curiosas como jogadores do time de Cuba posando para fotos e pedindo autógrafos durante as partidas. Algo que se repetiria.

Vaga conquistada, a equipe passou por um período de treinos em Mônaco antes de chegar à Barcelona. Um misto de treinamento e férias, digamos assim. Treinos marcados de forma a não atrapalhar as partidas de golfe envolvendo Daly e Jordan, cervejadas lideradas por Bird e muitos banhos de piscina. Aliás a cerveja era liberada a todo momento durante a concentração do time.

Também é digna de nota a “disputa” entre Johnson e Jordan. O rei da década de 80 e da década de 90. Vale lembrar que Johnson e Bird estavam se despedindo do basquete naquela ocasião – Johnson ainda retornaria para 32 jogos em 1996 e de certa forma o Dream Team marcou uma espécie de “passagem de bastão” dos dois para Jordan. Curiosamente, as melhores médias de pontos foram de Charles Barkley, tanto no Pré Olímpico como em Barcelona.

Parêntese: meu preferido naquele time era Patrick Ewing, que jogava no New York Knicks, time pelo qual torço desde aqueles tempos. Fecha o parêntese.

Em Barcelona, o time ficou hospedado em um hotel, fora da Vila Olímpica, por questões de segurança. Ainda assim Barkley e Stockton saíam misturados à população que viera a Barcelona para acompanhar as Olimpíadas, em diversas ocasiões.

Contudo, em uma época sem internet e redes sociais, o tratamento que a equipe recebeu era digno de superstars. Centenas de pessoas aguardavam na porta do hotel, do ginásio ou dos locais de treinamento a fim de simplesmente ver os jogadores. Eram manifestações dignas dos Beatles ou Rolling Stones.

Dentro de quadra, foi um massacre atrás do outro. O único time que opôs, digamos, alguma resistência foi a recém nascida nação independente da Croácia, com três dos jogadores campeões mundiais pela Iugoslávia em 1990 – Radja, Petrovic e Kukoc, que sentiria a ira de Michael Jordan no primeiro jogo entre as equipes. Ainda assim, o Dream Team ganhou todas as suas partidas por mais de 30 pontos de vantagem – inclusive a decisão contra o próprio time croata.

Contudo, fica uma dúvida que jamais será respondida: o time completo da Iugoslávia pré Guerra Civil seria um oponente de peso em uma eventual final olímpica? Minha opinião: perderia o jogo, mas daria um calor imenso nos americanos.

Uma coisa é certa: jamais houve algo parecido. Nunca se reuniu tanto talento, e mais, tanto talento comprometido com um objetivo em uma única equipe. Quem viu, viu.

O maior time de todos os tempos.

https://www.youtube.com/watch?v=PbS11n1JUzI

3 Replies to “Semana Olímpica: “O Maior Time de Todos os Tempos””

  1. Quem jogaria naquele time , fora Thomas? pra mim .. Lebron James seria até titular… bem melhor que Pipen por exemplo e que Charles… Kobe também estaria fácil nesse timaço… alguns são postulantes… mas esses dois estariam , pra mim

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