Na última semana, o canal de TV por assinatura SporTv transmitiu a final do basquete nos Jogos Olímpicos de 1992 em Barcelona, dentro da série que relembra grandes momentos da história olímpica como prévia para a Rio 2016. Aquele time era conhecido como “Dream Team”, por ser a maior reunião de talentos disponíveis na história em uma equipe de esportes coletivos.

De lá para cá os Estados Unidos têm trazido equipes com jogadores profissionais da NBA para os Jogos Olímpicos. A prévia para a competição do Rio de Janeiro indica que os melhores da liga devem estar aqui, mais uma vez – à exceção de Anthony Davis, do New Orleans Pelicans, que se submeteu a cirurgias no joelho e no ombro.

De 1936 – quando os Estados Unidos passaram a disputar os Jogos Olímpicos na modalidade – até a entrada dos profissionais em 1992, os americanos só haviam perdido duas partidas na história: a final de 1972 e a semifinal de 1988, ambas para o mesmo adversário – a União Soviética. A primeira em um final bastante polêmico, é bom que se diga – os americanos até hoje não receberam a medalha de prata daquela ocasião.

O objetivo deste artigo é refazer a trajetória dos times de basquete norte americanos nas Olimpíadas após a liberação dos jogadores da NBA. Iniciaremos por 1996, haja visto o Dream Team de 92 já ter sido abordado em post anterior.

Nas Olimpíadas de Atlanta, em 1996, a equipe americana contava com cinco remanescentes do Dream Team original – Barkley, Malone, Pippen, Stockton e Robinson. Jogando em casa, a equipe manteve os 100% de aproveitamento, com oito vitórias.

Entretanto, a final contra a Iugoslávia – à época formada pela Sérvia, por Montenegro e pelo Kosovo – esteve longe de ser o passeio que observamos em 1992. A Iugoslávia, comandada por Vlade Divac, liderou praticamente toda a primeira etapa, e o jogo esteve equilibrado até a metade do segundo tempo, quando finalmente os americanos deslancharam.

O jogo também é marcado pelas “cenas lamentáveis” envolvendo Divac e Barkley, bem como Reggie Miller e o banco iugoslavo. As quartas de final contra o Brasil marcariam o início de um hiato de 16 anos sem participarmos da modalidade nos Jogos, bem como a despedida de Oscar da Seleção Brasileira em termos competitivos – o Brasil ainda disputaria o quinto lugar, disputa hoje abolida.

Em 2000, a seleção americana mesclava estrelas com jogadores que não eram do chamado “primeiro time” da NBA. Basta lembrar que não havia nenhum jogador do campeão Los Angeles Lakers nem do vice-campeão Indiana Pacers. Dos semifinalistas New York Knicks e Portland Trail Blazers, apenas um jogador de cada equipe: Allan Houston e Steve Smith, respectivamente.

Os principais jogadores eram Houston, Alonzo Mourning, Kevin Garnett (ainda no Minnesota Timberwolwes) e Gary Payton. Shaquille O´Neal e Kobe Bryant, estrelas do campeão, fizeram forfait.

Os Estados Unidos conquistaram o tricampeonato olímpico invictos, mas não se pode dizer que tenha sido uma campanha exatamente tranquila. Na primeira fase, vitórias por apenas 12 pontos sobre a França e por 9 sobre a Lituânia, ao contrário dos massacres das duas Olimpíadas anteriores.

Na semifinal, o grande susto. Uma vitória por apenas dois pontos sobre a Lituânia, decidida no segundo final e com três decisões ao menos muito questionáveis de arbitragem a favor dos americanos que influenciaram o resultado – como o leitor pode ver no vídeo acima. Na final, vitória por 10 pontos sobre a França, mas em uma partida que esteve sob controle praticamente o tempo todo.

Mas algo estava diferente. Além do susto na semifinal, os placares sempre centenários de 1992 se tornaram quase inexistentes: somente em três jogos desta campanha isto ocorreria. Uma curiosidade é que as três partidas da fase de mata-mata tiveram o time americano marcando o mesmo número de pontos: 85.

https://www.youtube.com/watch?v=GxO75ah-_q0

Até que veio 2004.

Os Estados Unidos optaram por uma seleção extremamente jovem para disputar as Olimpíadas de Atenas. Seis jogadores do elenco tinham menos de 23 anos e oito abaixo dos 25. Futuras estrelas como LeBron James, Dwayne Wade e Carmelo Anthony, ainda muito jovens, estavam neste time. Os mais velhos eram Allen Iverson com 29 anos e Tim Duncan com 28. Além disso pela primeira vez desde 1992 havia um jogador universitário no grupo, o pivô Emeka Okafor.

Além de levar uma equipe extremamente jovem, neste momento a internacionalização da NBA já era bastante ampla. Ou seja, a vantagem americana de ter quase o monopólio de jogadores da NBA em sua equipe havia se esfumaçado. Havia mais seleções fortes afim de disputar a medalha de ouro.

Ou seja, era uma equação formada por uma equipe muito jovem de um lado, países com suas melhores gerações de outro e um equilíbrio imenso na competição – a ponto de a Sérvia, campeã mundial, ter sido eliminada na primeira fase.

https://www.youtube.com/watch?v=-jHW2VR3ZBY

O resultado já se viu na estreia: uma derrota insofismável para Porto Rico, por 92 a 73. Era a primeira derrota de um time profissional americano na história dos Jogos Olímpicos e a primeira desde a semifinal de 1988. Mas sempre pode piorar: uma segunda derrota, para a Lituânia.

Os Estados Unidos saíram em um inimaginável quarto lugar na primeira fase, com três vitórias e duas derrotas. Eliminaram a Espanha, campeã do outro grupo, nas quartas de final.

Chegaram à semifinal dispostos a manter a hegemonia reconquistada em 1992. Só que cruzaram com a melhor geração argentina da história, comandada pelo hoje técnico da seleção brasileira Rubén Magnano. A seleção portenha saíra em terceiro de seu grupo, mas vencera os donos da casa nas quartas de final.

E o que se viu na prática foi a equipe argentina controlando o jogo o tempo inteiro até vencer por 89-81 e chocar o mundo. Pela primeira vez os Estados Unidos não levariam o ouro desde a entrada de seus profissionais na disputa. O bronze conquistado contra a Lituânia acabou soando como um amargo consolo, enquanto a Argentina confirmava o ouro vencendo uma surpreendente Itália na decisão.

As três derrotas em Atenas são uma quantidade maior de reveses que o restante da história olímpica do basquete masculino norte americano somado (duas, em 1972 e 1988).

Em 2008, o time americano voltou a contar com estrelas máximas em sua formação. Pela primeira vez enquanto profissional Kobe Bryant faria parte da equipe, já aos 29 anos, secundado por um ascendente a estrela máxima LeBron James e pelos já consolidados Carmelo Anthony e Dwyane Wade. Além disso, o elenco contava com coadjuvantes do nível de Chris Bosh, Dwight Howard e Chris Paul, entre outros. Uma vez mais, apenas jogadores profissionais da NBA compunham a equipe.

À exceção da final contra a Espanha, vencida por 118-107 e que em determinado momento do último quarto chegou a ter uma diferença de dois pontos, o time reconquistou a hegemonia sem sofrer grandes sustos. Com direito a uma revanche contra a Argentina na semifinal, vencida por confortáveis 101 a 81.

As olimpíadas de Pequim deixaram claro que, dado o desenvolvimento do basquete mundial desde a internacionalização da NBA, levar os melhores seria fundamental para manter a hegemonia norte americana no esporte. Ainda mais levando-se em conta a ascensão da Espanha e a sua melhor geração da história.

O torneio olímpico de 2012 mostrou que a internacionalização da liga profissional americana viera para ficar. Onze das doze equipes que disputaram o torneio olímpico tinham ao menos um jogador que fazia parte de um time da NBA – a exceção, curiosamente, era a Lituânia. Até mesmo a Grã Bretanha, sem qualquer tradição no esporte, naturalizou um jogador da NBA para sua seleção.

Os EUA responderam trazendo praticamente o que tinham de melhor. LeBron James, Kobe Bryant, Carmelo Anthony, Tyson Chandler, Kevin Durant, Kevin Love e Russell Westbrook, entre outras estrelas.

Na fase preliminar, na partida contra a Nigéria, a seleção americana bateu o recorde de pontos em uma única partida, com 156 – e um balaio de cestas de três pontos, em especial de Carmelo Anthony. O único susto foi com a seleção que nesta história que contamos é a “pedra no tênis” norte americano, a Lituânia – 99 a 94.

Na fase final, uma decisão da medalha de ouro em um jogo muito equilibrado, novamente contra a Espanha – aliás, muita gente jura que o país europeu perdeu de propósito para o Brasil na fase preliminar para “fugir” do time americano até a decisão. Mas com 107 a 100 os americanos alcançaram o bicampeonato olímpico.

Para 2016, como dito no início do artigo, a expectativa é de que os Estados Unidos tragam ao Rio o que tem de melhor. Além de Kobe Bryant, que se aposenta no próximo mês, a única ausência é a já citada de Anthony Davis. Entre os 30 pré selecionados estão os principais nomes como LeBron James, Stephen Curry (que já declarou que quer vir ao Rio), Chris Paul, James Harden, Carmelo Anthony, Kevin Durant, Klay Thompson e outros do mesmo naipe.

A FIBA (Federação Internacional de Basquete) divulgou os grupos e a tabela básica da fase preliminar, mas ainda sem a confirmação dos horários (embora especialistas do meio apostem que a ordem mostrada na tabela divulgada deverá mudar pouco).

Os Estados Unidos jogam dia 6 de agosto contra a China, dia 8 contra a Venezuela, dia 10 a Austrália, dia 12 e 14 equipes que virão dos pré olímpicos mundiais a serem realizados em julho. Ainda há ingressos para todos os jogos no site da Rio 2016.

A expectativa é de que a equipe americana mantenha a hegemonia, mas ao preço de mandar necessariamente o melhor que tem. Veremos na Arena Carioca 1.

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Imagem: Getty

4 Replies to “Uma história dos times profissionais de basquete americanos nos Jogos Olímpicos”

  1. Boa tarde Pedro, muito bacana o artigo!

    Onde eu poderia me informar mais sobre a tal ordem de jogos? Algum site (além deste) fez alguma análise sobre as possíveis mudanças? Quem seriam esse especialistas do meio que apontam numa tabela final parecida com a inicialmente divulgada?

    Muito obrigado, e desculpe a pentelhação haha, é que tenho tentado organizar minha grade e essa informação me ajudaria bastante, mesmo sabendo que nada é 100% certo.

    Um abraço!

    1. André, oficialmente a única informação é a constante no .pdf da FIBA de que “os horários estão sujeitos a modificações”. Mas aí a gente conversa com uma fonte aqui, outra ali e descobre mais algumas coisas que podem acontecer ou não.

      Se eu fosse apostar em alguma mudança seria a saída dos jogos do Brasil contra Lituânia e Espanha das 22:30, pelo menos um deles. Mas teremos de esperar a divulgação da tabela completa – eu também tenho uma série de ingressos redundantes esperando isso acontecer…

      Abraço

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