Estava eu terça de Carnaval a desfilar pelo simpático Arame de Ricardo quando comecei a ouvir o cantor da escola Nino Sambashow dizer o bordão que ficou famoso no futebol “ta de brincation uite me?” emendando com gritos de “Papai Joel chegou”.

O desfile não era na Marquês de Sapucaí, era na Intendente Magalhães pelo Grupo B do carnaval carioca. Um desfile mais pobre, mais humilde, e Papai Joel virou a figura mais popular do carnaval dela provocando grande alvoroço.

Onde ele passa é isso. Gritos de Papai Joel e do famoso bordão. Joel Santana, sim esse é o nome dele para quem não lembra, virou um personagem popular e lucrativo.

Para quem também não se lembra nas décadas passadas, principalmente entre as de 80 e a primeira do século, Papai Joel, ou Joel Santana, era chamado de “Rei do Rio” pela grande quantidade de títulos estaduais que conquistou.

Joel foi campeão carioca pelos quatro grandes clubes do Rio e se tornou um treinador popular por aqui. Seu jeito descolado e completamente carioca de ser acabou provocando discriminação em outros lugares, sendo pouco lembrado por outros grandes eixos. Apesar de ter treinado o Corinthians e o Internacional.

Mas, mesmo com o currículo vitorioso, Joel nunca foi cogitado para a Seleção Brasileira. Na verdade nem foi respeitado nos outros grandes centros, nos quais muitas vezes, por discriminação, preferiam um “professor Pardal” de fala empolada, que se vestia bem e tomava nós táticos a cada jogo.

Joel sempre foi paizão. Sempre foi popular.

joelfluminense1995Começou sua série de títulos nos anos 80 com o Vasco e em 95 com o Fluminense conquistou aquele que deve ser o maior título da sua vida. O histórico gol de barriga de Renato. Naquele mesmo ano, levou o Fluminense à semifinal do brasileiro.

Aquele período foi o auge da carreira de Joel Santana. No ano seguinte foi campeão carioca com o Flamengo de forma invicta e no único campeonato que Romário ganhou pelo clube em campo. Em 97 o tricampeonato, dessa vez com o Botafogo, num título inesquecível para o botafoguense com direito a gol de Dimba sobre o Vasco e dança da bundinha.

Nesse mesmo período, a fama de paizão de Joel foi revelada. Por ter um grupo que sempre gostava de trabalhar junto e fazer aniversário no dia de Natal, ganhou apelido de “Papai Joel”. O treinador ainda viveria grande momento na virada do século substituindo Oswaldo de Oliveira e sendo campeão brasileiro e da Mercosul pelo Vasco (esse em uma virada histórica). Mas ficou marcado por ser o treinador vascaíno na derrota para o Flamengo que marcou o tricampeonato do rival, com gol de Petkovic.

Com altos e baixos, com títulos e ostracismo, com ida pra seleção nacional africana e derrota inacreditável em jogo de despedida do Flamengo para o América do México, foi seguindo a carreira de Joel. Na seleção sul africana, em 2009, veio o momento que mudou sua vida.

Uma entrevista desastrada e engraçada misturando inglês com português. Uma publicidade em uma marca de shampoo e Joel Santana virava artista.joelafrica2009

Fez mais alguns trabalhos, mas sem sucesso. Fracassou comandando Ronaldinho Gaúcho e companhia no Flamengo e só conseguiu o terceiro lugar na Série B com o Vasco. Não vive seu melhor momento como treinador, mas vive o mais popular de sua vida.

Joel Santana, papai Joel, está em uma encruzilhada. Tentará resgatar a carreira como técnico ou aproveitar que virou um personagem para ganhar dinheiro e mídia? Não acredito que ele esteja feliz fora do futebol, não acredito que esteja triste sendo tão querido.

Joel Santana hoje é um “paizão” de todos, uma pessoa querida e não é mais chamado de burro pela multidão.

Aliás. Burro? Um cara com esse carisma e apoio popular considerado burro?

Ta de brincation uite me?

One Reply to “O dilema de Papai Joel”

  1. Não sei qual é o time do colunista, mas dizer que depois da entrevista fez alguns trabalhos sem sucesso e ignorar a conquista do Cariocão de 2010 com direito a cavadinha é imperdoável!

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