Em mais um texto da cobertura especial do Ouro de Tolo para o Carnaval-2014, o professor e doutorando em História Fabrício Gomes aborda um tema cada vez mais recorrente: o exagero de tamanho dos blocos de rua do Rio de Janeiro.

Carnaval de rua no Rio: o gigantismo e modismo dos blocos

Anteontem curti o sábado de Carnaval no esquenta pré-bloco no Carioca da Gema, na Lapa. Foi muito legal, pois lá encontrei vários amigos. Depois parti para o Exalta Rei, que desfilou pelas ruas do Castelo. O Exalta toca músicas do Roberto Carlos durante todo o percurso do bloco.

Uma coisa que tenho reparado é o gigantismo dos blocos, cada vez mais crescente. Blocos com maior apelo midiático, como o Fogo e Paixão (música brega), que desfila parado no Largo de São Francisco, e o Bloco da Preta, que desfila na Avenida Rio Branco (e atraiu cerca de meio milhão de pessoas), não cabem mais no espaço destinado a eles. Não sei como será ano que vem (Preta Gil disse que vai solicitar à Prefeitura que saia da Rio Branco e vá para o Aterro).

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Blocos tradicionais como o Ansiedade (que toca frevo tradicional das ruas de Olinda e Recife), que sai em Laranjeiras, o Escravos da Mauá (Largo da Prainha e zona portuária) são, ao meu ver, os últimos bastiões, resistentes, à modinha do “vamos pegar um bloquinho?”, que caracteriza as pessoas que passam 364 dias no ano sem saber o que é carnaval e na ultima hora decidem “pegar um bloquinho” só porque é moda.

O Cordão da Bola Preta tornou-se, pra mim, inviável, no sentido de que não dá mais pra curtir com tranquilidade. Se olharmos sob o ponto de vista de ser um “ritual” a ser cumprido, concordo. Mas aí já não é mais carnaval. Discordo quando dizem que os blocos são desarticulados.

Pelo contrário: blocos como o Sargento Pimenta (que toca Beatles), o Fogo e Paixão, o Bangalafumenga e o próprio Monobloco (que começou como um conjunto de ritmistas que ensaiavam no Clube Condomínio, no bairro do Horto), possuem uma agenda disputada de shows durante o ano todo, com uma estrutura de músicos, parafernália de som e assessoria de imprensa. Se isso é bom ou ruim, não discuto com os tradicionalistas. Inclusive porque acho que há espaço para tradições e inovações. Vários blocos já gravaram CDs, por exemplo.

Acho que o gigantismo dos blocos deve ser repensado no que tange ao espaço público. Dever de casa para se repensar a folia – como conforto e espetáculo para quem quer curtir a festa.