Excepcionalmente nesta segunda feira, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, faz um balanço da primeira semana dos Jogos Olímpicos.
Lembro aos leitores que o post foi escrito na noite do último sábado.
Balanço Olímpico – Semana 1
Eis que chegamos ao fim da primeira semana de Jogos Olímpicos. Para quem não sabe, existe na programação dos Jogos Olímpicos esportes que são realizados inteiramente na primeira semana, liberando a segunda semana para outros esportes – que começam mais tarde suas atividades. De modo geral há uma maior concentração de esportes individuais na primeira semana, a fim de liberar espaço e atenção para as finais dos coletivos que ocorrem na segunda semana.
De modo geral a divisão fica assim:
Primeira semana: natação (o maior exemplo de esporte de primeira semana), judô, esgrima, remo, ginástica artística, ciclismo de estrada, tiro com arco, tiro esportivo, levantamento de peso, badminton, tênis de mesa e tênis
Segunda semana: atletismo (também o grande exemplo aqui), taekwondo, luta olímpica, canoagem, ciclismo de pista e off-road, saltos ornamentais e nado sincronizado.
Os esportes não citados aqui costumam ter atividade nas duas semanas.
Farei aqui então uma rápida avaliação da primeira semana olímpica, com foco maior nos esportes que interessam ao Brasil.
Obs: escrevo isso no sábado à noite. Então, apesar da coluna só ir ao ar na segunda, escrevo no escuro sobre os resultados de domingo.
Judô: o Brasil pode sair de cabeça erguida aqui. Fiz um desafio ao judô no Ouro de Tolo há um mês e disse que qualquer coisa abaixo de duas medalhas com uma final seria uma decepção.
O judô não brincou e entregou isso já no 1° dia de competição com o ouro da Sarah Menezes e o bronze de Felipe Kitadai. Depois vieram alguns dias decepcionantes sem medalhas, até a Mayra Aguiar e o Rafael Silva entregarem mais dois bronzes nos dois últimos dias.
A meta da confederação brasileira era essa: quatro medalhas, sendo uma de ouro. Mesmo concordando que algumas lutas foram decepcionantes e poderíamos ter arrancado mais duas ou três medalhas, a meta foi cumprida e o judô fez um excelente trabalho.
Melhor até assim, já que uma campanha fantástica do judô em Londres aumentaria demais a pressão na equipe para o Rio em 2016, que já é alta. O COB não esconde de ninguém que espera pelo menos seis medalhas (em 14 possíveis) do judô em 2016 sendo pelo menos duas de ouro, o que é difícil. Mas não é impossível: nossos judocas crescem demais lutando em casa.
A equipe feminina brasileira é bastante jovem e todas as sete judocas tem idade para estarem em 2016. O mesmo já não posso dizer da equipe masculina, que está com uma média de idade alta, e pelo menos três dos sete nomes (Camilo, Guilheiro, Correa) não tem como continuar.
Porém não faltam peças de renovação (cada categoria tem dois ou três) e é até bom que ela ocorra. Os dois melhores resultados do judô masculino vieram justamente dos dois nomes quase certos para 2016: Kitadai e Rafael Silva.
Do judô como um todo, fiquei triste. A zebra correu solta todos os dias e, principalmente, o judô-força venceu como nunca.
Nem o Japão, reino da técnica, se salvou e ficou apenas com um ouro, três pratas e quatro bronzes. Para um país que reclamou bastante de ter ganho “apenas” quatro ouros em Pequim 2008, isso é uma crise sem tamanho.
Só se salvou a Rússia, justamente a segunda capital do judô-força, que conseguiu três ouros e uma prata, todas no masculino. Os outros países a conseguir mais que um ouro foram a Coréia do Sul, com 2O e 1B, e a França, grande capital do judô-força, com 2O e 5B – os dois únicos favoritos que ganharam, inclusive.
Percebeu-se também que a decisão da federação internacional de proibir a “catada de perna” para diminuir a chance de lesão e aumentar o uso da técnica saiu pela culatra.
Além da força ter vindo com tudo com o fim da catada, tivemos uma grande quantidade de lesões (só a americana Harrison, primeira medalhista de ouro dos EUA no judô, lesionou três em seqüência, inclusive a Mayra Aguiar). Exatamente o oposto do pretendido. Hora de rever a mudança de regras.
Natação: aqui fico muito preocupado com o Brasil. Ficamos com apenas duas medalhas: prata inesperada para Thiago Pereira nos 400m medley e um bronze com gosto amargo para o Cielo nos 50m livre. A meta aqui eram três medalhas com um ouro do Cielo – e ela passou longe. Claramente o Brasil vem involuindo desde Atenas 2004 e eu diria isso mesmo com dobradinha do Cielo e do Fratus nos 50m livre.
Em Atenas fizemos várias finais, outras várias semifinais e saímos com muitas promessas das piscinas. Só como exemplo cito os, na época, adolescentes, Thiago Pereira e Joanna Maranhão, que nos deram muitas esperanças de medalhas em 2008 e 2012.
Pois bem, a exceção de Thiago Pereira que finalmente desencantou nesses jogos e conseguiu a prata inesperada nos 400m medley, nenhum desses nomes faz nada, seja em mundial seja em Jogos Olímpicos, e essa geração passou.
Observando que em 2004 Cielo era apenas conhecido dentro dos círculos mais íntimos da natação e sequer tinha ido para Auburn (EUA), de onde estourou para o mundo.
Pior, essa geração passou quase em branco e nem posso dizer que está vindo outra geração promissora. Isso é o que está me preocupando demais. A natação brasileira além de ter ido muito mal, quase não apresentou nenhum nome novo de quem possa se esperar medalha em 2016, nem apresentou sequer finais (apenas cinco em 2012 contra o já fraco número de seis em 2008) ou semifinais portentosas.
O “quase” acima fica por conta dos velocistas masculinos. Parece vir uma boa geração lideradas por Cielo e Fratus, seguido por Chierighini que pode nos render bons resultados nos 50m, 100m e 4x100m livre – e só.
No geral, destaque para a delegação Chinesa que veio do nada e conquistou 5O 2P 3B, contra 1O 3P 2B em casa há quatro anos. Ainda mais estranho é a chinesa Ye Swiwen, ouro nos 200m e 400m medley. Essa garota de 16 anos veio quase do nada para dominar as provas de medley, sendo que no nado crawl nos 400m medley nadou até mais rápido que o medalha de ouro masculino, Ryan Lochte (EUA).
Vindo da China, que já tem histórico longo de doping na natação, essa performance causou muitas suspeitas. Ainda mais que, até aqui, toda vez que uma mulher foi mais rápida que um homem depois se descobriu que a mulher estava com muito doping. Porém não há qualquer suspeita mais qualificada e não nos cabe prejulgar qualquer atleta antes do resultado positivo da contra-prova no teste de doping.
De qualquer forma, vimos um domínio total dos EUA mais uma vez, até maior do que em Pequim. Foram 12 ouros em 2008 contra 16 em 2012. Porém na disputa do quadro tudo igual, com 11 ouros de diferença para os EUA.
Já a Austrália, que sempre era a segunda colocada fácil no quadro da natação e tem esse esporte como seu grande motor no quadro de medalhas, saiu mal demais. Apenas um ouro, no 4x100m livre feminino, seis pratas e três bronzes. Em 2008 foram seis ouros, seis pratas e oito bronzes. Pesou a péssima competição do maior nome deles: James Magnussen.
Ginástica Artística: ainda escrevo antes da final de Arthur Zanetti nas argolas (marcada para essa 2ª feira às 10h da manhã). Mas até aqui tudo saiu exatamente como o previsto por mim aqui anteriormente. As meninas fizeram um último lugar sem qualquer final com um time bastante envelhecido, enquanto Arthur Zanetti se classificou bem para a final das argolas – e disputa medalha.

[N.do.E.: conforme antecipado dia 27/06 pelo colunista, Zanetti conquistou a medalha de ouro. Atualizado às 10:57hs]

A se lamentar a queda de Diego Hypólito no solo, mas o pé dele ainda está muito mal (e não sei se um dia ficará bom) e nem era para ele ter ido aos jogos. Mas fica a esperança da ginástica masculina.
Sergio Sasaki e Arthur Zanetti fizeram ótimas performances e são jovens demais, estarão no ponto para 2016. Diego Hypólito, caso resolva o pé, também não estará velho para a ginástica masculina. Ainda temos o Petrix Barbosa na equipe de jovens, que deverá estar bem para 2016. Isso dará uma senhora equipe masculina para 2016.
Já a equipe feminina é praticamente a mesma desde 2006 e precisa de renovação urgente. Já não sei sequer se a própria Jade Barbosa (que não foi a Londres) estará em condições de competição em 2016. A má notícia é que eu não vejo ninguém com potencial para isso. Problemas à vista.
Remo: aqui o Brasil, como já esperado, nem deu para o começo: nem semifinal nossa delegação fez. Mas abro aqui um tópico para fazer uma pergunta que me incomoda demais. Como o remo, esporte tradicional e forte tanto aqui no Rio com Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense quanto no Recife há milênios não consegue produzir um mísero atleta de ponta em todos esses anos?
Até hoje nossas melhores campanhas ainda foram na época dos boicotes de 1980 e 1984, com os irmãos Carvalho.
Era para sermos uma potência nesse esporte tal qual hoje o somos no judô. Porém, mal engatinhamos e tomamos pancada até dos argentinos. Alias, muitos desses argentinos são contratados exatamente pelos quatro grandes do Rio de Janeiro…
Esgrima: o Brasil perdeu nas lutas iniciais, como esperado. Pelo menos vi um novo esgrimista do qual gostei bastante, Guilherme Toldo no florete. É jovem e está sendo preparado para 2016. Ficarei mais de olho nele a partir daqui.
Mas a principal intenção de abrir esse tópico sobre a esgrima é ressaltar um fato histórico: o venezuelano Rubén Limardo ganhou o 1° ouro latino-americano da história olímpica na esgrima – na modalidade espada. A Venezuela ainda colocou outro esgrimista nas quartas de final da mesma. É a prova que com um trabalho bem feito qualquer país pode conseguir bons resultados na modalidade.
Aqui também temos o ocaso de uma potência. A França, que com a Itália sempre dividiu o título de país da esgrima, saiu de Londres sem qualquer medalha em nenhuma das 30 disputadas. Enquanto isso, Venezuela foi ouro e até o Egito foi prata (e com uma belíssima esgrima).
Tênis de Mesa: todos os mesa-tenistas brasileiros caíram em seus primeiros confrontos, assim como no torneio de equipes tanto a masculina como a feminina perderam na primeira rodada por 3 a 0.
Aqui temos o epíteto da falta de renovação, pelo menos no masculino. Há três edições nossa equipe olímpica é Gustavo Tsuboi, Thiago Monteiro e Hugo Hoyama. Nem falarei de Hoyama que já deve estar em sua sexta olimpíada, sendo a quinta como n° 1 do Brasil, desde a morte do grande Claudio Kano em um acidente de moto pouco antes dos Jogos de Atlanta 96.
Estamos comentando sobre um esporte que tem certa base, já que é privilegiado por todas as escolas que tenham um trabalho forte em esportes. Não é possível que se tenha tanta dificuldade em renovação. Não sou profundo conhecedor de nossas categorias de base no tênis de mesa, mas não conheço ninguém que esteja em posição de ameaçar os três. Bastante capaz de chegarmos a 2016 com a mesma equipe pela quarta vez (12 anos depois da 1ª vez).
No feminino a situação é um pouco melhor e nossa equipe foi composta por duas meninas bem novas, Caroline Kumahara e Gun Lin (chinesa que veio pequena para o Brasil e se naturalizou), que poderão fazer alguma coisa melhor para 2016.
Nada de medalhas, que é quase impossível no tênis de mesa dominado por chineses, mas, principalmente, Gun Lin, que terá 19 anos lá, pode fazer uma oitavas ou quartas, que já seria inédita para o Brasil no individual.
Quanto à participação brasileira: em relação ao número de medalhas, está dentro do que eu esperava. Esperava seis na primeira semana e doze na segunda, somando 18. Estamos com seis, indo para a sétima garantida no domingo com Scheidt/Prada na vela e acho que estamos em bom caminho para as 18 previstas.
Minha preocupação fica quanto ao número de ouros. Esperava fechar a 1ª semana com duas. Uma no judô e a de Cielo na natação. A do judô veio, mas não a de Cielo. Já fico preocupado se conseguiremos os cinco ouros que eu previ. Nem o Scheidt, que seria o “alternate”, conseguiu o ouro, ficando com o bronze.
Já no quadro geral de medalhas, ainda é cedo, mas já dá para dar alguns pitacos.
1° grande participação da Coréia do Sul que está conseguindo uma brilhante campanha com 9 ouros, conseguindo por hora um surpreendente 4° lugar;
2° após ficar 4 dias sem ouro, os britânicos mostraram sua força no remo e, principalmente, no ciclismo de pista e deslancharam. Já estão em 3° lugar com 14 ouros.
3° destaque também para a Coréia do Norte. A população de lá quase não come, mas sei lá como conseguiram três ouros no levantamento de peso. Com o ouro no judô, já são quatro e eles já dobraram o número de ouros de Pequim.
4° apesar da crise na esgrima, a França não veio para brincadeira. Já conseguiram 8 ouros. É um a mais do que o total de Pequim. Provavelmente eles voltarão para as cabeças no quadro e espantarão a crise.
5° Cuba só na 6ª feira já igualou o n° de ouros de 2008, dois. Continuo com minha previsão de cinco ouros para eles. Mas Cuba não mais voltará àquela época de 10-20 ouros por Jogos.
6° tudo indica que eu errei muito feio a previsão de maior concentração de ouros em poucos países. Até aqui esse tem sido um dos jogos mais desconcentrados da história.
7° já a Austrália… Mal na natação e sempre prata no ciclismo, perdendo para a Grã-Bretanha, a Austrália só tem um ouro até aqui e a natação já acabou. É minha aposta para “queda inacreditável” dos jogos.

2 Replies to “Made in USA – "Balanço Olímpico – Semana 1"”

  1. Eduardo, é claro que de cabeça eu não lembro, minha memória não chega a tento. Mas fui a Wikipedia para responder a sua questão. Foram 5 finais e outras 4 semifinais listadas abaixo.

    Perceba que em 2004 foram 5 finais com 8 atletas diferentes, a única que repetiu final foi a Joana (400m medley e 4x200m). Agora em 2012, apesar das 5 finais igualadas, foi tudo nas costas de Thiago Pereira e Cesar Cielo, com 2 cada, e uma para o Fratus na mesma prova do Cielo (diríamos uma meia final…).

    Finais
    Joana Maranhão 400m medley – 5° lugar
    Thiago Pereira 200m medley – 5° lugar
    Revezamento 4x200m feminino – 7° lugar
    Gabriel Mangabeira 100m borboleta – 6° lugar
    Flávia Delaroli 50m livre – 8° lugar

    Semifinais
    Joana Maranhão 200m medley
    Rogerio Romero 200m costas
    Fernando Scherer (Xuxa) 50m livre
    Rebeca Gusmão 50m livre

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