Antes que os leitores perguntem: o livro sobre o petróleo está parado. Faltam umas duzentas páginas ainda…
No último feriadão tive tempo de ler este excelente “Cerveja e Filosofia”, coletânea de artigos que relaciona a “loura gelada” aos grandes filósofos – bom, nem sempre…
O livro é dividido em quatro partes, ou “rodadas”: “A arte da cerveja”, “a ética da cerveja”, “a metafísica da cerveja” e “a cerveja na história da filosofia”. O exemplar também conta com um prefácio à edição brasileira assinado pela sommelier de cerveja Cilene Saorin. São artigos variados, que mesmo quando se concentram na fabricação do produto ou na comercialização do mesmo buscam encontrar algum tipo de filosofia. 
Um dos que mais me chamou atenção foi o que questiona se as cervejas das grandes fábricas americanas podem ser chamadas como tal. Em sua maioria são produtos sintéticos, feitos com extratos de malte e lúpulo sintetizados, outros vegetais para fazer “render” a bebida (notadamente arroz e milho), carvão ativado e injeção artificial de gás carbônico. O autor do artigo se pergunta se a bebida resultante pode ser chamada de “cerveja” – tal como o ‘queijo’ americano que não leva leite: é apenas plástico comestível.
Outra discussão interessante é a que procura determinar o que significaria uma cerveja típica de cada país. Produtos, estilos, matérias primas: o que realmente determina uma cerveja clássica de uma região ou país? Também é interessante que outro texto defende que os “canecões” alemães de um litro só servem para facilitar a vida das garçonetes, sendo totalmente inadequados para se servir a bebida na temperatura e na apreciação adequadas.
Nesta seara ainda destaca-se o artigo sobre as restrições ao consumo e a venda de cerveja no Canadá, que seguem uma série de intrincadas regras e leis, buscando maximizar a receita de impostos das autoridades e restringir a competição às grandes fábricas. Até mesmo o transporte interestadual de cervejas para consumo próprio é bastante restrito neste país da América do Norte.
Há outros artigos mais puramente filosóficos, e um que tangencia a teoria econômica ao falar das preferências de consumidor, comparando o bebedor de cerveja em quantidade e em qualidade: quem fica mais satisfeito? Bom debate.
A miscelânea de artigos traça um panorama bastante interessante e que estabelece linhas de pensamento muito promissoras. A teoria filosófica pode explicar vários aspectos ligados à bebida, não somente ela em si como o que cerca o ritual de degustar uma cerveja.
Dois exemplos muito interessantes são o texto que fala das “amizades de copo” e o que indica o “índice de beleza, ou de menor exigência” de uma pessoa após beber. Neste último caso o argumento é de que a bebida diminui o grau de exigência de uma pessoa, e quando ela acorda – não raro ao lado daquela conquista noturna – percebe que seu índice se tornou mais rígido. Acho que todos nós já passamos por uma situação destas na vida.
No outro caso há o questionamento sobre as amizades reunidas em torno da bebida, se seriam laços profundos ou apenas reuniões ocasionais. A conclusão é de que se pode ter uma confraria com afinidades duradouras e firmes a partir daquela reunião.
Aqui no Brasil o livro foi lançado no Bar Brejas, palco do post da semana passada – o leitor deve ter reconhecido o lugar ao ver a foto apresentada. Abaixo a autora do prefácio à edição brasileira, citada no início desta resenha, aparece na noite em questão.
Não é exatamente uma leitura fácil, porque os conceitos apresentados da teoria filosófica demandam atenção. Mas é livro que pode ser lido, com cuidado, em um final de semana. Requer profundidade de análise e raciocínio, mas é bastante interessante. Recomendo.
Prosit!