Bom, como prometido semana passada, hoje ao invés da já tradicional “Samba de Terça” conto algumas curiosas histórias de bastidores dos desfiles.
1 – O macacão do negão

Essa me contaram semana passada.
Portela, desfile de 2009. O destaque que viria no carro da dupla sertaneja Zezé di Camargo e Luciano simplesmente deu “piti” e, alegando ter uma queda de pressão, disse que não subiria no carro.
Estabelece-se um impasse na concentração. Sugere-se colocar uma das composições no alto do carro, mas prontamente se descarta a idéia – a escola perderia pontos.
Eis que surge um baita de um negão, daqueles armários três por quatro, com o macacão da “ala da força” – como são chamados os empurradores de carros. Ele vira para o destaque e ordena:
 – Você vai subir ?
 – Não sei, eu to com uma queda de pressão..
 – Então me dá a tua roupa que eu vou desfilar no teu lugar. Perder ponto é que a escola não pode.
 – Mas…
 – Me dá !
Feito isso, o componente da ala da força simplesmente tirou o macacão dos empurradores na frente de todo mundo e ficou nu ali mesmo para vestir a roupa do destaque.
Foi um “Deus nos acuda”: a mulherada e a turma homossexual ficaram em polvorosa querendo avançar nele. Até Zezé di Camargo, vendo o tumulto que se formava, chegou perguntando o que se passava.
 – Me dá a roupa ! – ordenava, nu em pelo
 – Mas…
 – Mas nada ! Você não passou mal ?
O destaque pegou a roupa e entregou ao agora ex-empurrador, que vestiu e desfilou feliz da vida.
No final do desfile soube-se que ele viera de Brasília para desfilar e, na falta de fantasias, acabou pagando por uma roupa de empurrador. E desfilou como destaque de luxo…

2 – “Eu sou Boi ! Eu sou Boi !”

Desfile do Grupo de Acesso B, terça feira de carnaval, Marquês de Sapucaí.
O Boi da Ilha do Governador – agremiação do qual hoje sou diretor licenciado – como o próprio nome indica possui um simpático boi como seu símbolo. Entretanto, os torcedores e simpatizantes da escola são chamados de “boiadeiros” – até para evitar a incômoda relação com o termo “boi”, associado a cornos.
Pois é. As frisas neste desfile normalmente são ocupadas por uma turma que fala de carnaval oi ano inteiro, principalmente via internet. Mais alguns agregados e dirigentes ou associados das escolas. É uma grande confraternização.
Eis que antes do desfile da agremiação insulana um cidadão, camisa da escola, enche o peito e começa a gritar repetidamente, batendo no símbolo da escola em seu peito:
 – Eu sou Boi !!!! Eu sou Boi !!!!!! E quem não é ?????
Há testemunhas.

3 – O desfile para a Candelária

Esta também ocorreu no mesmo desfile do Boi da Ilha.
A Ala do Cacique de Ramos (foto, ao fundo) foi quase toda distribuída para membros de uma das listas de discussão por e-mail.
Só que faltaram alguns pares de sapato.
Um dos cidadãos da lista foi para a concentração de tênis e não havia sapato para ele. Resolveu não desfilar e, ao invés de acompanhar a escola, resolveu dar a volta por trás da Sapucaí.
Só que ele havia esquecido do canhoto do ingresso. Resultado: teve de dar uma volta de mais de três quilômetros, descalço, sobre asfalto, pedras e urina. Com a quarta feira amanhecendo, deu uma longa caminhada pela Presidente Vargas, direção Candelária, até voltar às frisas.
Só que tinha outro problema: ele estava sem o canhoto do ingresso. Precisou que uma boa alma fosse lá e o resgatasse.
A situação foi tão patética que chegou a dar entrevista a um mendigo, que perguntou se o Cacique de Ramos ainda sairia naquela manhã de Quarta Feira de Cinzas…

4 – Harmonia ou Flanelinha ?

Essa é do mesmo ano de 2009, mas é da União de Jacarepaguá, também do Acesso B.
Eu havia conseguido junto a meu concunhado uma camisa de “Apoio”, que na prática é uma forma de um “bicão” desfilar sem ter de usar fantasia. O homenageado do enredo era o grande Paulinho da Viola.
Eu estava no Setor 1 esperando a ala onde estavam minha cunhada e o dito cujo em questão para acompanhá-los quando, umas três alas antes, uma diretora da escola vira pra mim e fala:
 – Ei você ! Tá vendo esta ala aí ? Faz a Harmonia dela e não deixa embolar com a ala da frente !
Para quem não conhece, “Harmonia” é o setor da escola que prima pelo canto da escola e pela organização das alas.
Pois é. Eu nunca havia desfilado como Diretor de Harmonia antes, mas até que dei conta do recado – apesar do lesado que, não sei porquê, colocaram na ponta da fila. Entretanto, o gestual exagerado de que me utilizei para me fazer entender pelos componentes parecia que tinha saído diretamente do primeiro ano da faculdade de flanelinhas…
A escola ainda salvou um sétimo lugar.
P.S. – O desfile foi delicioso, a propósito.

5 – Remédio para insônia

No mundo do samba, a Acadêmicos de Santa Cruz já possui o folclore de sempre fazer desfiles muito chatos, tendendo ao sono.
Ano passado, no Acesso A, com o atraso do desfile a escola, penúltima a desfilar, entrou na avenida já com o dia claro.
À medida em que a escola passava – em especial após a rainha de bateria de então, Renata Santos – as pessoas nas frisas iam sucumbindo a Morfeu e cochilando, dormindo… Diria que mais da metade dos bravos resistentes dormiu a sono solto quando da passagem da escola.
Eu ainda tinha a desculpa de ter passado mal no dia anterior e praticamente não dormido, mas vi muito “rato de quadra” dormir embalado ao som de “vaaaaaaaai meu saaaaaaamba…”
Este ano a escola é de novo a nona a desfilar. E sem Renata Santos, agora na Mangueira. Vai ser melhor que Lexotan.

(Fotos: Fabrício Gomes, Sambanet e Waleska Migão)

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