Semana passada falei do Paraíso do Tuiuti e de seu samba-enredo maravilhoso, que com certeza impulsionou a agremiação ao seu histórico vice-campeonato.

Hoje falo de outro grande samba-enredo, o da Beija-Flor de Nilópolis.

Eu não tenho dúvidas em afirmar que o samba deu o título à Beija-Flor e fico muito feliz com isso. Eu sou um defensor nato do samba-enredo, sempre serei e na apuração todos os anos eu torço pelas escolas que tem samba, até porque o nome dessa brincadeira é escola de samba, não escola de alegoria ou escola de led.

Não foram poucos os que não queriam que o título fosse para Nilópolis e esse grupo podemos dividir em três: O grupo que antipatiza com a escola e sempre torce contra ela, o grupo que assim que viu o carro com os ratos na Petrobras automaticamente começou a detestar tudo que ela apresentou, e o terceiro, e mais coerente, que não gostou das alegorias e fantasias da escola.

Não vou debater com quem antipatiza de cara com uma agremiação ou quer fazer patrulhamento político em cima dela. Tentaram fazer da Beija-Flor um Wilson Simonal do terceiro milênio, mas com a turma de Anísio e Laíla o buraco é mais embaixo.

Mas entendo e respeito os que não misturaram política com samba e mostraram fatos contra a Beija-Flor. Apesar de achar que escola que traz o tema que a agremiação trouxe não pode usar luxo para contar sua história, aceito que nos dois quesitos a agremiação deixou a desejar e até que perdeu poucos décimos. Podia e devia ter perdido mais.

Mas e o samba? E os quesitos de chão? Uma coisa que acho um absurdo no carnaval é que sempre que contestam um campeão falam em carro apagado, fantasia de pouca qualidade, buracos na avenida e ninguém fala no samba. Todos nós já aceitamos a lavagem cerebral imposta que o desfile tem que ser luxuoso e vertical.

Anos atrás o Salgueiro quase foi campeão fazendo 40 pontos com um fraco samba sobre comida mineira e muita gente contestou a perda do título dizendo que a agremiação estava perfeita. Como podia estar perfeita se desfilou com samba fraco? Ah, mas samba é um pequeno detalhe para esses analistas.

Se a Beija-Flor merecia ter perdido mais uns três ou quatro décimos em virtude de seus quesitos plásticos ela e o Tuiuti tinham que tirar pelo menos meio ponto a mais que todas as outras em samba-enredo. Mocidade desfilou com um belo samba também, mas não rendeu. Beija-Flor e Tuiuti sobraram no quesito e mesmo assim sambas muito inferiores tiraram 39,9 e ninguém reclamou.

O samba-enredo voltou a mostrar sua força desde “Madureira sobe o pelô” em 2012, decidiu carnaval em 2013 e desde então os grandes sambas vêm sobressaindo. O samba definiu título e segundo lugar em 2018 e definiu o rebaixamento da Grande Rio.

Como eu disse, o samba do Tuiuti é lindo, mas o samba da Beija-Flor é de fazer chorar. O samba é bonito, é poético, mas é um samba carregado de mágoas, de dor e que nos faz refletir sobre a vida e o mundo em que vivemos. Todos os versos são perfeitos, colocados em seu devido lugar, o refrão do meio é magistral e o fim da segunda e seu refrão principal estão entre os versos mais bonitos escritos na nossa música.

A coisa está tão dividida aqui com crítica de esquerda, crítica de direita que a ideologia não permite ver que é uma dor de todos, tanto a passada pelo Tuiuti quanto da Beija-Flor. Um grande samba ultrapassa ideologias e lava a alma como esse samba da Beija-Flor que já está na história do carnaval e muitos não admitem por antipatia.

Não foi um desfile perfeito, longe disso, mas eu nunca me esquecerei do samba campeão do carnaval 2018 e se não fosse da Beija-Flor ou Tuiuti eu já teria esquecido o samba campeão oito dias após as campeãs.

Os filhos dessa pátria amada realmente não aguentam mais.

Obrigado, Beija-Flor.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

Fotos: Ministério da Cultura e Arquivo Ouro de Tolo

2 Replies to “Obrigado, Beija-Flor”

  1. Olá Aloisio,

    Belo texto. Eu faço parte do grupo que não ficou contente com a “não-carnavalização” apresentada pela escola. No entanto, conforme você bem menciona no texto, o samba elevou, segurou e sacramentou a vitória da escola. Tendo a comunidade que tem, o hino cresceu e reverberou de uma forma que suas “ondas poéticas” foram sentidas aqui de ondo moro, São Paulo.

    Espero que as escolas tomem como lição este princípio de valorizar este quesito as vezes colocado em terceiro plano. Que autores e não escritórios sejam valorizados nas escolhas, que as comunidades sejam ouvidas e que egos sejam deixados de lado.

    Valeu amigo!!!

    Ladislau Almeida

  2. Também sou da ala que não gostou da “não-carnavalização” da Beija.
    Temo que ano que vem isso seja imitado por várias escolas.
    O que ameniza a sensação de injustiça pela vitória de um desfile com 3 péssimos quesitos – alegorias, fantasias e enredo, além da comissão de frente que já revi duas vezes e não entendi – é o sambaço. E sempre vou me sentir mais aliviado quando a discordância de um resultado privilegiar um grande samba. Ele tem que ser prioritário sempre.
    Mas não concordo que há diferença de meio ponto destes 2 sambas para os de Mocidade, Mangueira e Imperatriz.
    Sobre política, nem discuto. O enredo pode ser político, só não pode ser avaliado com olhar político.
    Abraço!

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