Ao contrário dos anos anteriores, não farei nesse texto um “escola a escola”, até porque, pela primeira vez desde 2008, assisti ao desfile pela televisão – e esta não dá a visão precisa do que realmente ocorreu, apenas ideias gerais. Ainda mais em uma transmissão que deixou bastante a desejar.

A ideia é refletir sobre alguns pontos que me chamaram a atenção e jogar para o debate dos leitores na área de comentários.

Sobre resultado, acho o Salgueiro o grande favorito, com a Mangueira (mais) e a Portela (menos) correndo por fora. Para mim Beija Flor e Grande Rio fizeram os piores desfiles do ano, mas eu corro nu e “armado” pela Ilha do Governador se uma delas for rebaixada.

Primeiro, o Império Serrano. Eu sinceramente não consigo entender como a escola fica oito anos afastada do Grupo Especial e, quando retorna, faz um enredo sobre a China. E pior: sem assinar contrato de patrocínio. Só reforça uma opinião que tenho há pelo menos três anos: o Império precisa de um choque de gestão como o que foi realizado na Portela.

Segundo, a Vila Isabel. A meu juízo, ficou claro que o trabalho do carnavalesco Paulo Barros funciona melhor quando encontra algum tipo de limite em seu trabalho, negociando passo a passo. Tal qual na Portela e na Unidos da Tijuca. Ainda assim, acho que a Vila Isabel pode beliscar uma vaga no Desfile das Campeãs.

Terceiro, o Tuiuti. A escola sabia que não tinha muito a perder e fez uma aposta bastante arriscada, que acabou dando muito certo. O enredo sobre a escravidão teve ótimas sacadas e permitiu ao Tuiuti seu melhor desfile na história. Deveria voltar no Sábado das Campeãs, mas vai se contentar com a manutenção no grupo.

Quarto, a Grande Rio. A chamada “Maldição do Chacrinha” atacou de novo e, com os problemas, deveria ser a última colocada. Mas não será – no máximo, abrirá segunda feira em 2019.

Quinto, a Portela. O trabalho do grupo Portela Verdade na diretoria, do qual faço parte, não somente trouxe a Portela de volta à briga pelos primeiros lugares como estabeleceu uma regularidade que sempre a torna candidata ao título. E isso em um desfile onde, por exemplo, o abre alas quebrou no transporte à avenida e a decoração precisou ser refeita na concentração.

Penso que pequenos ajustes precisam ser feitos e comentarei isso internamente, mas uma coisa escrevo aqui: está na hora da nossa diretoria fazer um enredo que toque profundamente a emoção do portelense. Chegou a hora.

Sexto, o Salgueiro. Vale um pouco o que escrevi acima sobre regularidade e, em um ano onde tudo deu certo, se torna a grande favorita ao título. E com um enredo que toca na tradição salgueirense e isso torna as coisas mais fáceis.

Sétimo, a Imperatriz. Não gosto de criticar diretamente pessoas, mas neste caso não dá. Ciclo de Cahê Rodrigues na escola se encerrou. Uma mudança de ares faria bem a ele e à agremiação, porque o que se viu ontem foi uma plástica aquém das tradições da Imperatriz.

A comissão de frente me lembrou bastante a do Império Serrano de 2015, embora esta tenha sido um pouco mais simples – acima.

Finalizando, a Beija Flor. A escola, cujo carnavalesco de fato foi o então coreógrafo da comissão de frente Marcelo Misailidis, fez uma crítica social mas sob um viés ideológico de direita, repetindo muitos dos conceitos que grupos como o MBL e mesmo partidos políticos como o PSDB reproduzem.

Além de colocar o FGTS e a aposentadoria como “problemas do Brasil” em alas, repete o discurso de que a pobreza e os problemas sociais são culpa exclusivamente da corrupção de esquerda e que somente a meritocracia resolve esta questão. Uma abordagem claramente alinhada às políticas do governo atual, a meu ver.

Aliás, como economista que sou me soa extremamente insólita esta versão das “causas da pobreza e dos problemas sociais” que a agremiação apresentou em seu desfile. Sem contar que, ainda dentro da proposta de ser algo menos luxuoso, a concepção de alegorias e fantasias deixava bastante a desejar. Para mim, o pior desfile da Beija Flor nos últimos 30 anos e com muita folga.

Em resumo, tivemos um desfile como um todo melhor do que as prévias pré carnaval, premiando as escolas mais regulares e que contam com melhores gestões ou com artistas geniais – sim, é de Leandro Vieira que falo.

Pessoalmente, é mais um ano que tenho a sensação de dever cumprido em relação à Portela. E isso não tem preço, especialmente depois de um pré carnaval extremamente conturbado como foi o meu este ano.

Imagens: Ouro de Tolo e Pedro Ivo Almeida (Salgueiro)

[related_posts limit=”3″]

10 Replies to “Algumas Reflexões sobre o Grupo Especial”

  1. Otimo texto. Acho qye a Portela tem que apostar em carnavalesco maus jovens. O estilo da Rosa funcionou na decada de 90 e unicio dos 2000. Essa aguia ficou muito feinha sem impacto nenhum. O Joao Vitor da UPM é um grande talento. Ja tivemos ele como figurinista em 2016 e apostaria nele como carnavalesco. O resto aí é com vocês. Abs

  2. Concordo totalmente que a Beija-Flor apresentou um enredo Lava-Jato. Mas como salgueirense, não dá pra engolir black face em pleno século XXI e num enredo sobre mulheres. Na melhor das hipóteses, um desconhecimento das tradições do Salgueiro com Palmares, Xica da Silva, Candaces etc.

    1. Luiz, me incomodou muito esta questão também, mas em tempo real algumas pessoas me explicaram que, se houve contextualização histórica, é admissível. Mas eu não teria feito.

Comments are closed.