Hoje é o dia do quesito Evolução na Justificando o Injustificável. Esse quesito tem um crônico problema de confusão, inclusive entre os julgadores, com relação ao que deve ser julgado no quesito Harmonia. Porém, como vocês verão abaixo, essa confusão foi aumentada esse ano de forma que antes da divulgação das justificativas parecia inacreditável.

Lembrando que a evolução cuida apenas da dança dos componentes e da compactação do desfile da escola.

Módulo 1

Julgadora: Fabiana Sobral

Notas

  • Tuiuti – 9.7
  • Grande Rio – 9.9
  • Imperatriz – 10
  • Vila Isabel – 9.8
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 9.8
  • São Clemente – 9.9
  • Mocidade – 10
  • Unidos da Tijuca – 9.8
  • Portela – 10
  • Mangueira – 10

Aqui aparece de forma mais forte outro problema antigo desse quesito: a falta de dosimetria nos descontos.

A Vila Isabel, segundo a julgadora, teve alas muito espremidas, dificultando a evolução. Apesar do plural, ela só deu o exemplo da ala Techno (15) e citou invasões de alas, sem sequer especificar quais alas embolaram. Nota: 9,8

A Unidos da Tijuca sofreu com um buraco crônico enorme por causa do problema na alegoria despencada; as alas se espremiam na lateral da alegoria e batalharam muito para cobrir o espaço entre o resto da escola e a alegoria estacionada.

Após um “freio de arrumação”, que parou a escola por algum tempo, a escola continuou em ritmo bem lento até a regularização da alegoria, quando então a escola ligou a 8ª marcha. Ou seja, a situação foi altamente crítica no módulo 1, local no qual eu assisti o desfile.

Mesmo que de forma mais simplificada, a julgadora relatou tudo isso. Nota da Unidos da Tijuca? O mesmo 9.8 dado a Vila Isabel por problemas infinitamente menores.

A Ilha, que realmente teve um buraco considerável na frente do 5° carro e depois deu uma corrida, mas muito menor do que a da Tijuca, também ganhou o mesmo 9.8.

É justo igualar a nota dessas três escolas? Não consigo conceber isso.

Outro problema é a falta de equidade. Grande Rio perdeu um décimo porque as alas 17, 18, 20, 21, 25, 26 e 27 teriam passado “apressadas demais” e um dos décimos da Tuiuti foi embora só por causa de embolação de alas.

Se for levar em conta o mesmo rigor, a Mangueira nunca poderia ter levado dez no módulo 1. Houve vários pequenos problemas de evolução da Mangueira nesse 1° módulo, tais como 2 pequenos buracos e uma “ala de diretoria” formada logo após o carro 4 (acima), tamanha a quantidade de diretores atrás desse carro, além de um para-e-anda muito pior do que esse despontuado pela Grande Rio.

Ao menos a nota da São Clemente, que também abriu um pequeno buraco por problema em carro, foi bem justificada.

Módulo 2

Julgadora: Edileuza Batista de Aleluia

Notas

  • Tuiuti – 9.7
  • Grande Rio – 10
  • Imperatriz – 9.8
  • Vila Isabel – 9.8
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 9.8
  • São Clemente – 9.8
  • Mocidade – 10
  • Unidos da Tijuca – 9.9
  • Portela – 10
  • Mangueira – 9.9

Esse é um daqueles cadernos que dá muita raiva só de ler: nem sei por onde começar. Mesmo nesse ano desastroso, esse caderno da Sra. Edileuza é o pior de todos até aqui com muita folga.

Edileuza foi por muito tempo julgadora de conjunto. Com o fim do quesito ficou um tempo afastada e ano passado voltou a ser reaproveitada em evolução. Só que esqueceram de dizer a ela que ela mudou de quesito.

Resultado: ela continuou tirando ponto de fantasia, acabamento, canto e outras coisas sem nada a ver com evolução! Pior, quando finalmente ela se ateve ao que deve ser julgado no quesito, ainda sim justificou de forma que pareceu uma retirada arbitrária de pontos, daquelas que a julgadora ficou caçando um motivo qualquer para tirar ponto.

Primeiro vamos as aberrações. Tuiuti perdeu ponto porque as “fantasias aquém dos desenhos propostos causando dificuldade de entendimento”. O que fantasia tem a ver com evolução????? A escola pode vir sem fantasia: se desfilar dançando e coesa, é 10 em evolução, nem há o que discutir.

Na Vila, “faltou mais capricho em alguns acabamentos causando desconforto visual”. Acabamento, desconforto visual??? Isso é evolução, senhora! De onde saiu essa justificativa? O que isso atrapalhou o andamento e a dança da escola?

Por fim, aquele caso clássico de confusão entre evolução e harmonia. Ilha e Tuiuti perderam pontos porque “alguns componentes sem cantar o samba”! O seu quesito é evolução, dança! Canto é para ser avaliado em harmonia!

O componente se esbaldou de dançar mas passou calado? É para nota dez em evolução!

Por fim, mesmo quando se ateve ao quesito, a julgadora ainda descontou pontos sem muita justificativa, ou pelo menos uma justificativa capenga. Vamos a algumas.

Imperatriz: “As alas 3, 4 e 5 ficaram muito tempo paradas causando desconforto visual. Alguns defeitos quebraram o andamento da evolução na apresentação do desfile”.

Quais foram os problemas? A justificava nem passa perto de dizer. Ainda mais em um caderno louco como esse, fica aquela sensação que a julgadora inventou qualquer justificativa só para tirar décimo da escola. E nem me alongarei na insistência em escrever “desconforto visual”, algo que não tem muito a ver com o quesito.

Vila Isabel: “Na apresentação das alas 9, grupo de marionetes, 10 e 11, houve uma demora para que se desse uma continuidade na evolução.” Só por isso a escola perdeu um décimo inteiro, guardem isso.

Ilha: “Desfile arrastado e pesado causando dificuldades de evoluir.” Até concordo que o desfile da Ilha foi pesado visualmente, mas isso em nada comprometeu a dança, evolução do componente. Alias, a Ilha era uma das escolas mais dançantes e felizes do ano.

E aí vem as duas aberrações finais para, mais uma vez encerramos com “chave de latão”.

A primeira é a da Unidos da Tijuca: “As alas 2, 3 e 4 permaneceram tempo demais paradas”. Nota 9.9. Até aqui, tudo certo. As três alas ficaram muito tempo paradas para tentar resolver o buraco deixado pelo carro quebrado lá no setor 1 ainda.

Só que, mesmo depois que a escola andou, ela andou bem lentamente enquanto o carro não saiu do lugar (o que demorou uns enormes 20 ou 30min). Aí, de repente, quando o carro saiu, a escola começou a correr de forma louca. Uma das maiores correrias que a Sapucaí já viu, alias. Alguma letra sobre essa correria? Não, nada.

Se essa correria já foi bastante sentida no módulo 1, no inicio da avenida, imaginem no meio da avenida – onde estava a julgadora em questão.

Então a Unidos da Tijuca ganha a mesmíssima nota da Imperatriz? Perde o mesmo 1 décimo que a Vila perdeu só porque 3 alas “demoraram muito”? Perde o mesmo décimo da Ilha que apenas teve um “desfile arrastado e pesado”? Não tem como aceitar essa dosimetria.

A segunda aberração é a da Mangueira, que também ganhou a mesma nota 9.9. A justificativa é a óbvia: aquela mostrada ao vivo pela TV Globo (alias, nesse caso, parabéns Globo por mostrar ao vivo) do buraco gigantesco causado por um carro parado em frente ao módulo duplo.

O buraco da Mangueira foi gigantesco como mostram as imagens da Globo, coisa de um setor inteiro. E por esse buraco enorme ela perde o mesmo decimozinho que a Vila e a Imperatriz perderam por causa de 2 ou 3 alas ligeiramente mais arrastadas?

Parafraseio o Migão mais uma vez aqui: o que será então necessário para uma escola ganhar 9.5 em evolução? Um buraco do tamanho da avenida inteira? Ou nesse caso a escola só perderá 1 décimo porque só abriu um buraco? Não dá para aceitar esse julgamento tão “cara-crachá”, para dizer o mínimo!

Alias, já é o 2º ano que essa julgadora não entende o que ela tem que julgar em evolução. É outra que merece atenção redobrada, triplicada até.

Módulo 3

Julgador: Edilberto Fonseca

Notas

  • Tuiuti – 9.8
  • Grande Rio – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 9.9
  • Ilha – 9.8
  • São Clemente – 9.9
  • Mocidade – 10
  • Unidos da Tijuca – 9.7
  • Portela – 10
  • Mangueira – 9.8

Aqui um detalhe interessante. Todas as justificativas foram escritas com caneta azul; porém na justificativa da Mangueira, o julgador riscou o nome do carro que deu problema com a caneta vermelha e abaixo escreveu uma correção com a caneta vermelha de que o problema não fora com o abre-alas como anteriormente escrito, mas com o carro 2 (o que é verdade).

A folha não apresenta indícios de rasura ou modificação forçada, mas fica apenas a indicação dessa situação diferente. Alias, cá entre nós, confundir o carro 2 com 3, o 3 com 4 até vai; mas confundir o abre-alas com o carro 2?

Passando às justificativas em si, logo me salta a vista a justificativa da Unidos da Tijuca. Aqui, o julgador descreveu direitinho, até de forma resumida, o “efeito sanfona” que fora indicado por mim no comentário do módulo acima e que também foi indicado pelo módulo 1.Qual era então a dificuldade da Edileuza, que estava ao lado de Edilberto no módulo duplo, em ver e despontuar a complicação que foi a evolução da Unidos da Tijuca?

De forma geral ele detalhou bem as justificativas, mas a da Imperatriz me chamou a atenção porque ele disse que a escola “precisou correr” após o carro 5º, não dando tempo para a apresentação do 2º casal de mestre-sala e porta-bandeira. Mas onde está que o 2º casal tem que se apresentar?

Em lugar nenhum porque o 2º casal simplesmente não precisa se apresentar, só o 1º casal! Aí fica a pergunta: a escola realmente correu a ponto de perder o ponto ou ele acabou tirando ponto de algo que não poderia em relação ao 2º casal?

Particularmente, no módulo 1 não lembro de ter visto nenhuma correria da Imperatriz. E se ela correu no módulo 3 e não correu no 1, ela deveria abrir um buraco em algum ponto do meio do caminho, o que claramente não houve.

Outra justificativa que me incomodou foram dois “faltou maior aproveitamento coreográfico da temática do enredo”, descontando assim um décimo da Tuiuti e outro da Vila.

O que o julgador quer, mais alas coreografadas? Agora irá se analisar quantidade de alas coreografadas na escola? É tudo o que o Carnaval não precisa.

Outra, a Vila não aproveitou a temática coreográfica do enredo? Basicamente todos os carros da Vila foram calcados nessas danças dos diversos ritmos do enredo! Alias, era o que salvava na escola, já que a parte plástica estava muito sofrível. Aqui sou obrigado inclusive a discordar não só do conceito, como da opinião do julgador.

De resto, apenas volto a repetir a ladainha da falta de critério para a dosimetria. Buraco de um setor inteiro da Mangueira: perda de dois décimos. Falta de “aproveitamento coreográfico” e “algum tempo” parada de uma ala da Vila: os mesmos dois décimos. São problemas iguais? Não consigo conceber mais uma vez.

Módulo 4

Julgadora: Salete Lisboa

Notas

  • Tuiuti – 9.7
  • Grande Rio – 10
  • Imperatriz – 9.9
  • Vila Isabel – 9.9
  • Salgueiro – 10
  • Beija-Flor – 10
  • Ilha – 9.8
  • São Clemente – 10
  • Mocidade – 9.8
  • Unidos da Tijuca – 9.7
  • Portela – 10
  • Mangueira – 10

Chegou a hora da julgadora mais famosa do carnaval carioca: Salete Lisboa. Como sempre digo, o maior problema da Salete nem são os motivos ínfimos pelo qual ela gosta de tirar pontos das escolas, mas os grandes problemas que ela sequer vê e não justifica ou simplesmente dá nota dez.

Mas, especialmente para os padrões “salesísticos”, seis notas dez em 12 é até um número pequeno e a quantidade de 12 décimos retirados talvez seja um recorde pessoal.

Aí você percebe o quão complicado foi o ano quando o julgamento da Salete ficou na média dos outros, mas ainda há aquele ponto de sempre que a justificativa dela pouco explica.

Tem aquele clássico “faltou empolgação em muitas alas” da Imperatriz e da Vila Isabel. Eu até concordo que as duas escolas deixaram a desejar em empolgação e dança, especialmente comparada com outras. Porém desse jeito simplista, sem citar alas, setores, tempo ou qualquer outra coisa que deixe mais claro a localização do problema, pode parecer um motivo inventado da cabeça só para tirar pontos, como já reclamei dela aqui em outros anos.

Outro detalhe interessante é na Mocidade. Ela disse que a partir dos 44min a escola começou a correr muito. Só que uma correria tão cedo no módulo 4 (com 40min o 2º setor da escola ainda estava na frente do módulo, provavelmente), é batata que haverá uma forte correria pelo menos no módulo duplo (talvez até no módulo 1 ainda), ou então a escola deixará um belo buraco em algum lugar no meio do caminho, o que sabemos que não foi o caso da Mocidade.

Só que, como vocês viram acima, todas as outras 3 notas da Mocidade foram 10. Daí só uma das conclusões é possível: ou a Salete viu uma correria que não existiu ou os dois julgadores do módulo duplo não julgaram corretamente a evolução da Mocidade. Ou uma, ou outra coisa, logo, alguém errou! Cabe a apuração desse erro para as futuras convocações.

Outra característica histórica da Salete é a exigência das baianas passarem rodopiando bem em frente ao seu módulo. Se isso não ocorrer, é certo que a escola perderá um décimo. Esse ano ela tirou décimo por isso da Mocidade (2º ano em 3 que ela tira ponto da Mocidade por isso), Ilha e Vila. Mesmo que isso até esteja dentro do quesito eu me pergunto se algo tão pequeno é o suficiente para se descontar um décimo inteiro e se não pode acabar servindo para tirar aquele “décimo arbitrário”.

Por fim, ela foi muito sucinta na justificativa da Tijuca, especialmente para retirar 3 décimos, mas todos sabemos a correria desenfreada que foi o desfile da Tijuca nesse último módulo e o 9.7 está entendido. É aquela nota que nem precisa de muita justificativa mesmo – alias poderia até ser menos.

Pelo menos nesse ano ela não inventou uma correria de uma ala apenas. Aí você percebe o quão complicado foi esse ano quando passa pela sua cabeça que, apesar disso tudo, o caderno da Salete é candidato a melhor do quesito…

Imagens: Ouro de Tolo

[related_posts limit=”3″]

3 Replies to “Justificando o Injustificável 2017 – Evolução”

  1. Esse Carnaval foi tão doido que a decisão oficial só saiu em Abril e Salete Lisboa pode ter sido a melhor julgadora de evolução. Só faltou Laíla e Paulo Barros cruzarem a avenida abraçados no sábado das campeãs.

    1. Laíla e Paulo Barros saírem abraçados é fácil, quero ver Paulo Barros e Milton Cunha (risos).

Comments are closed.