Essa semana acabou o BBB e sei que uma menina venceu. Não acompanhei o programa e nem tenho vontade de acompanhar e não é porque me acho intelectualmente superior a quem assiste. Nada disso, até porque eu assisti muito no começo, não assisto simplesmente porque a mim enjoou, encheu o saco.

Mas é evidente que não sou alienado, e quando digo alienado é no sentido de não me alienar ao que acontece a minha volta e o assunto nas últimas semanas foi o BBB, o fato de um cara quase ter metido a porrada da menina que namorava, que por sinal venceu o programa, diversas vezes. Rolou gritaria, dedo na cara, um monte de situações abusivas.

E pasmem, esse cara fez tudo isso e no dia seguinte das últimas atitudes venceu um paredão com quase 80% da aceitação do público. Seria finalista do programa se a polícia não tivesse se metido. Precisou que a polícia se metesse para evitar que um agressor de mulheres pudesse ganhar dois milhões de reais.

É um bom argumento para quem não gosta de BBB. Eu poderia dizer que, pelo menos nos programas que assisto, não me junto a outras pessoas para dar dois milhões ao vilão, mas seria um argumento raso perto daquilo tudo que essa situação proporciona. Claro que aceitando o fato de ter fãs que votam noite e madrugada toda para fazer um boçal desses vencedor (claro que isso existe, tem até gente que acampa  meses para ver Justin Bieber) dá para analisarmos o país em cima de um fato desses.

Isso tudo ocorreu apenas alguns dias depois da polêmica com o ator José Mayer, o fato de se tornar público o assédio sexual dele a uma figurinista, e que algumas das atrizes mais importantes da Rede Globo terem se juntado em uma campanha “Mexeu com uma, mexeu com todas”.

Todas elas e todos aqueles que lutam por uma maior igualdade se sentiram vitoriosos e acham que isso é uma demonstração que o Brasil está mudando. Até que alguns dias depois ocorre o fator BBB. Não acho que o país esteja mudando, melhorando.

O que acontece é que temos a mania de medir o mundo ou mesmo o país pelo ambiente em que vivemos e nessa situação mais moderna pelas redes sociais. Mas não é porque uma campanha viralizou no Twitter que reflete o pensamento de uma nação. O Brasil é muito maior do que o Twitter, que é minúsculo e mesmo entre as redes sociais não é das maiores.

Tem gente que acha que a carreira do José Mayer acabou. Cascata, acabou nada, e o que ocorreu no BBB mostra isso. Daqui um ano e meio, dois anos ele volta como se nada tivesse ocorrido porque não é o twitter que direciona as coisas, a grande maioria da população nem twitter tem e a dona de casa ou a adolescente que fica horas votando em BBB ou meses acampada está se lixando para opinião de redes sociais já que ninguém nessa rede queria que o casal vencesse.

O Brasil é um país ignorante e gosta de ser assim. É um país que vê, que conhece todos os relacionados na lava jato e reelegerá todos aqueles que não estarão presos e assim poderão se candidatar, um país de extremos porque ou ignora a corrupção ou decide votar no Bolsonaro só porque ele não é corrupto, como se ser corrupto fosse o único defeito possível em um político.

Não me espanta ter um agressor de mulheres no BBB, a criação latina é machista, as próprias mulheres são machistas em boa quantidade, o que poderia impressionar é o cara vencer um paredão com 80% dos votos. Mas quem conhece um pouco de Brasil nem com isso se espanta.

Porque o político, aquele que recebe milhões de propina da Odebrecht, faz parte da população, é um de nós eleito. O brasileiro não é contra a corrupção, é contra a corrução que ele não participa, assim como é machista, homofóbico, intolerante e gosta de se fazer de malandro, de ser do país do jeitinho.

Já ouvi uma vez que o Brasil é um país mau-caráter e não sei se chego a isso, mas com certeza é um país com problemas sérios como aquele jovem que faz um monte de arruaças devido à sua má formação. Sua independência veio de negociata, não teve nenhuma grande guerra em seu solo, nunca teve sua soberania ameaçada e suas revoltas populares foram locais, rápidas e facilmente dizimadas. O sofrimento, a luta moldam caráter e não passamos por isso, resumindo, faltou “chinelada” nesse jovem mimado.

Acho que por isso vemos quase toda nossa classe política nos roubar de forma passiva, por isso quase demos dois milhões a um agressor de mulheres, por isso o Bruno entra em campo carregando crianças. O brasileiro não tem pudor de fazer papel de bobo.

Talvez por isso o BBB faça tanto sucesso.

Ele é a cara do Brasil.

Twitter – @aloisiovillar

Facebook – Aloisio Villar

2 Replies to “A cara do Brasil”

  1. Tocou na ferida. E é isso mesmo. Não vejo exagero nenhum no texto. Pegando o mote do BBB, comentei com amigos que, se a edição do Jean fosse hoje, provavelmente seria eliminado com votação recorde e o doutor que liderava o grupo “do mal”, seria o vencedor do programa.

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