(por Fellipe Barroso)

A atual Série B (na prática a terceira divisão das Escolas de Samba cariocas) já foi o Grupo de Acesso C (Quarta divisão) antes de a LIERJ surgir fundindo os também Grupos de Acesso A e B.

O antigo Grupo de Acesso B desfilava no sambódromo na terça-feira de carnaval. Atualmente neste dia desfilam as Escolas mirins. Antes elas desfilavam na sexta-feira, e o antigo Grupo de Acesso A (Com 10 escolas) apenas no sábado.

As diferenças entre as Agremiações de Sábado e de Terça eram enormes! A campeã de sábado ascendia ao Grupo Especial, elite do samba carioca. A campeã de Terça subia para o sábado, podendo passar alguns longos anos de estágio probatório até estar apta ao Grupo Especial – ou retornar à terça-feira sem muito prejuízo.

Difícil mesmo era cair do Acesso B. Isto representava deixar de desfilar na Marquês de Sapucaí em dia muito confortável para diversos espectadores; e passar a desfilar na Estrada Intendente Magalhães em pleno Domingo de carnaval, perdendo covardemente a concorrência para as Grandes Escolas de Samba.

O fato é que, por mais que se tenha criticado, a Série A já é uma realidade há quatro carnavais, e a última colocada deste Grupo abandona os desfiles na Sapucaí para a já mencionada Intendente Magalhães, sem mais uma “etapa” como era antigamente.

Desfilar na Intendente pode ser um duro golpe em uma Agremiação. Por menos público que a Sapucaí tivesse na terça-feira gorda de carnaval, ainda era o grande palco das Escolas de Samba, com toda uma estrutura já pronta de grande cobertura para qualquer veículo que ali estivesse de bobeira e quisesse tecer algumas notas sobre os divertidos desfiles de fim de carnaval.

Já no improvisado sambódromo do Campinho, ainda que a imprensa especializada e foliões mais esclarecidos compareçam em peso, para o grande público soa como decadência. Triste.

Se por um lado ascender da Intendente Magalhães direto para o Grupo que poderá levar a campeã para a elite das Escolas de Samba é um desafio hercúleo, por outro, sair da Sapucaí deste mesmo grupo intermediário direto para uma passarela improvisada tornou-se um desafio ainda maior não para a Escola recém chegada, mas para quem já estava lá.

Sim! A Escola chegada aparece (Com alguma exceção tipo a Caprichosos de Pilares este ano) magoada, mordida, com vontade de se reerguer, e com sua estrutura recém desmontada da Sapucaí, ou seja, bem maior dimensionada do que o aperto que a Intendente suporta. Ela é forçada a diminuir, encolher, enquanto as outras “se sentem forçadas” a crescer para acompanhá-la.

Sem querer, a Série B foi se tornando grande; e a Intendente, pequena para ela.

Escolas como Jacarezinho, Cabuçu, Tradição e a Campeã de 2017, Unidos de Bangu, apresentaram dificuldades de locomoção na estreita (e curva!) pista de desfiles. Como o desfile não acaba na linha que marca o “Final”, a dispersão das Escolas é ainda mais complicada no retorno das alegorias aos seus barracões.

Na verdade, boa parte delas se instala em um barracão ÚNICO ali por perto, pelas estreitas e despreparadas ruas do bairro do Campinho.

O fenômeno de crescimento da Série B pode se alastrar para todas as outras divisões inferiores que lá desfilam, e deixo o questionamento para quem puder refletir sobre talvez já ter passado da hora de estes grupos merecerem um lugar mais apropriado aos seus desfiles e o devido reconhecimento dos amantes das Escolas.

Não são Instituições decadentes. São Instituições vivas experimentando novas formas de dura sobrevivência de suas (muitas vezes) antigas bandeiras para representar suas comunidades.

É sabido que o samba agoniza, mas não morre. Agora é preciso entender que ele se ressuscita, reinventa-se, e volta ainda maior para dizer que está vivo.

Imagens: Ouro de Tolo

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18 Replies to “Uma Casa Nova Para Quem Não Brilha na Sapucaí”

  1. Acho que a Série B deveria voltar à Sapucaí, às terças. Escolas mirins desfilando na quinta-feira anterior ou mesmo no teste de luz e som da Passarela. Mas o argumento é, como sempre, financeiro. O prejuízo de se abrir o Sambódromo para um público diminuto e a necessidade de adaptação da Praça da Apoteose para a apuração da quarta de Cinzas. Acho argumentos contornáveis em benefício dessas escolas tão tradicionais quanto importantes para nosso carnaval.

    1. Quinta-feira seria ótimo, pois já foi assim durante muito tempo.
      Acho muito conveniente como as autoridades reclamam de problemas no trânsito ou coisas do tipo ao mesmo tempo em que intitulam os desfiles como “O maior show da Terra”.
      Contraditório engrandecer tanto a festa em palavras, e não valorizá-la na prática.

      No mais, usar na quarta-feira de cinzas seria uma ótima saída, mas acho que muita gente vai querer comemorar o título de sua Escola, principalmente o elenco “adulto” de muitas agremiações mirins.

      Já dirigi alegoria em Escola mirim (Pois é…acontece!).
      Lembro-me de não ir até o final da pista, fazendo a curva de saída na Avenida Salvador de Sá. Com carros menores, é possível retornar aos barracões por ali. Ou seja, também seria muito viável aproveitar o teste de luz e som para estes desfiles, principalmente porque nos últimos dois anos as caixas já estão sendo ligadas no sábado (Imperatriz agradece!).

  2. Também não compreendo o motivo de não passarem esse desfile para o sambódromo. Já abrem a sapucaí pras escolas mirins, além dos vários dias de ensaios técnicos, que diferença faz abrir também para a série B, nem que seja metade dos setores? Será que seria tão caro assim?

    Baita artigo!
    Abraço!

    1. Em alguns ensaios, como Portela e Mangueira, o sambódromo é todo aberto sem cerimônia simplesmente porque há demanda de público.
      Assim sendo, que se abra mais um dia para receber as crianças, e aumentar a festa em mais uma semana!

    1. Sexta das campeãs é uma possibilidade que nunca me tinha aparecido!
      Acho boa. Muito boa!

  3. Por mim todas as escolas desfilariam no sambódromo… Os grupos menos poderiam desfilar uma semana antes e/ou uma semana depois do Grupo Especial e da Série A. O sambódromo é um local estratégico, tanto para o público que assiste, quanto para os desfilantes… Sem contar a estrutura…

  4. O Grupo B precisa retornar para o Sambódromo na Terça de Carnaval, isso é fato. As escolas mirins poderiam perfeitamente desfilar sábado e domingo anteriores ao carnaval, até como teste de som e luz, como foi dito anteriormente. Aliás, como o amigo disse no comentário acima, o ideal, apesar da prazerosa festa popular que acontece na Intendente, seria dar um jeito de todos os grupos desfilarem no Sambódromo. Poderiam jogar o C para a quinta-feira anterior ao Carnaval, com o D e o E para a Quinta e a Sexta após a Quarta-Feira de cinzas. Manteria a Intendente para o Grupo F. Sim, Grupo F, pois é um absurdo sete, oito, nove escolas “rebaixadas” esse ano do Grupo E ficarem dois anos sem desfilar, chegando muito perto da extinção. As escolas de samba, em qualquer grupo, merecem respeito.

  5. Permita me discordar dos amigos. Acompanhei o desfile do Grupo B quase na íntegra. Cada um no seu quadrado. Seria a mesma coisa de voce colocar no Maracanã América X Bangu. São realidades diferentes. E qual o problema desses desfiles menores serem na Intendente?

    Historicamente as escolas menores nunca desfilaram na Sapucaí, já foi na Av. Rio Branco, Av. Graça Aranha, Cardoso de Morais em Bonsucesso… Acho que o subúrbio tem que ter desfile sim? Vocês já pensaram na logística do Centro da Cidade ter diversos desfiles ou antes ou depois do carnaval? A cidade não é só carnaval. Você vai bloquear parte das vias durante mais de uma semana. Uma coisa é ensaio técnico que não tem alegoria, as pessoas não precisam se concentrar horas, etc e tal..

    A Intendente não está mais dando conta? Então vamos procurar um outro local no suburbio para realizar o desfile. O desfile do B,embora eu tenho gostado bastante ainda é muito pequeno para a Sapucaí.

    E finalizando. Respeitando a opinião das colegas, sou visceralmente contra esse desfile do Grupo E no sábado pós-carnaval, por mim nem existiria este grupo . Carnaval tem que ser dentro do carnaval. Senão vira overdose.

    Como todo mundo deu pitaco, vamos lá

    De cara, só teriam 30 escolas na Intendente ou outra avenida (Exceto Sapucaí)

    Seriam três dias de desfile, mas acabaria com essa coisa de GRUPO B, C, D..

    Viraria um grupo único e misturaria as escolas entre os antigos grupos e isso que vou escrever não vai acontecer que é utopia (Subiriam 3 da Intendente e desceriam três da Série A). Pois acho que num universo de 30 escolas poderiam subir 3 . O espetáculo seria mais competitivo, com 30 escolas teria mais recursos para elas e seria mais “rico” de assistir.

    Esse festival de escolas na Intendente tem que acabar. Se não tem condição, enrola bandeira, vira bloco e desfila no bairro de origem e acho que a Riotur teria que intervir.

    É o que eu acho

    1. Fernando, esse grupo era o antigo B que desfilava na Sapucaí na terça feira até 2012.

      Sinceramente, o desnível entre estas escolas e o Acesso A a cada dia é maior. Sou a favor de voltar estas escolas na Sapucaí na terça feira, nem que seja até o Setor 11.

      Quanto ao elevado número de escolas na Intendente, concordo. Mas com esta atual direção da Liesb não tenho esperança de mudanças a curto e médio prazos.

  6. Completando o raciocínio. Trinta escolas na Intendente. Dez em cada dia (domingo, segunda e terça)

    1. Pedro Migão, Nenhuma Liga, Instituição ou Associação que comandam os desfiles da Intendente querem a melhora. Eles querem essa situação vigente, pois é interessante manter esse mundaréu de escolas inexpressivas.

      Aceitaria o desfile do B se fossem poucas escolas. 8 no máximo. Eu assisti o desfile desse ano na Intendente do Grupo B quase na íntegra. Com boa vontade Tradição, Bangu, Cabuçu, Em Cima da Hora e Arame de Ricardo teriam condições honestas de desfilar na Sapucaí.

      E com o desfile do Grupo B na Intendente você direciona a atenção da mídia carnavalesca para lá na terça-feira de carnaval

      1. Eu estou com um texto pronto sobre isso, para subir na segunda feira, que explicita melhor meu pensamento. A diferença pra Série A hoje é grande demais.

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