(Por Rodrigo Vilela, radialista e jornalista)

Ensaiei muito para escrever este texto, muito em conta pelo misto de emoções que tomou conta deste Carnaval. Mas seria imperdoável de minha parte se eu não tecesse algumas linhas sobre o renascimento da Mocidade Independente como escola que briga por títulos.

A emoção tomou conta, sim, de mim. Afinal, passei a gostar de Carnaval com quatro anos de idade e me tornei verde e branco antes mesmo de saber o que era futebol!!!

Mas não vou falar de tão antes. Vou partir de 2003. O nosso último ano marcando presença no Desfile das Campeãs, com um quinto lugar (que deveria ser segundo ou terceiro), quando a escola fez o tenebroso samba e o enredo duvidoso sobre doação de órgãos dar certo na avenida.

De lá pra cá, o torcedor verde e branco sentiu na pele as agruras de uma péssima administração, que fez a escola afundar, chegando ao momento mais dramático em 2009, quando a escola se salvou do descenso (aliás, deveria ter caído) por 0,8 pontos.

Um desfile bem solto em 2010, outro samba terrível em 2011, uma apresentação irregular em 2012, mais uma problemática em 2013… Parecia o canto do cisne.

Chega 2014. O antigo presidente é retirado, uma nova diretoria assume, correria para, ao menos, colocar um desfile digno na avenida, todo mundo a tratando como rebaixada certa… E um nono lugar redentor (e, claro, com muitas notas absurdas, porque merecíamos mais posições acima).

Ali parecia que a Mocidade estaria de volta. Engano.

Não preciso esconder de ninguém, porque algumas críticas que, confesso, fiz à escola em 2015 e 2016 estão em meu blog; fui contra, por variados motivos, à atenção em demasia dada à questões de exposição da marca e marketing, em que pese respeitosamente os motivos para tal, com certeza foram válidos de alguma forma naquele momento – mas, para não puxar pela memória, fica resumida especificamente na nomeação inacreditável de Claudia Leitte como rainha de bateria nestes dois anos.

A escola chegou, na minha opinião, no fundo do poço em 2016. Uma única nota 10 foi de doer. Eu me lembrei do Migão quando ele diz que o pior momento da Portela, pra ele, não tinha sido em 2005, e sim, em 2011.

Parecia que a escola não tinha salvação, por mais que todos se esforçassem, era questão de tempo pra ser rebaixada e não voltar mais, como tantas. Era o pensamento de muitos.

E aí veio o planejamento para 2017. Era hora de a escola voltar a ser grande de verdade, na avenida, nos resultados.

Inovação nas redes sociais para saber dos torcedores qual era o melhor enredo, quem deveria ser o novo intérprete… As duas “respostas” geraram críticas aos montes: “a gente precisa reagir e vão falar do Marrocos?”, “o Wander Pires não canta mais nada desde o atraso na Grande Rio em 2008” foram algumas.

Do jeito que tem que ser, com trabalho e dedicação, pés no chão e a casa em ordem, tudo foi se transformando em esperança: o enredo muito bem definido, a sinopse bem escrita e o maravilhoso samba. Enfim, um grandíssimo samba. Os problemas das administrações passadas sendo sanados um por um, reforma no barracão da Cidade do Samba, quadra recebendo vários shows. Passo a passo para voltar a figurar nas cabeças.

Dá pra voltar nas Campeãs. Tem que dar! É o objetivo: precisamos ver a cara do sábado – mas do jeito positivo.

A resposta a tudo isso veio hoje, na apuração. Perder o título na última nota?? Nada disso!! A conquista da Mocidade foi mais que atingida. Voltar a figurar no Desfile das Campeãs. Resgatar o orgulho do torcedor. Mostrar um belíssimo caminho para o futuro.

Para que o vice-campeonato de hoje não seja um acidente de percurso, e sim, a volta definitiva à disputa por títulos que, mais dia menos dia, virá. Quem trabalha sério sempre colhe resultados positivos!

Hoje é dia de comemorar!! Dia de bater no peito com orgulho e dizer: “a campeã voltou”!

Imagens: Ouro de Tolo

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8 Replies to “O sonho se tornou real”

  1. Perfeito.
    Resumiu bem, aliás muito bem, os sentimentos que todo torcedor da estrela guia colocou para fora. A Rede Esgoto de Televisão (Globo) há mais de 13 anos não mostrava nossa quadra (e nossa torcida na quadra) para o Brasil inteiro. E por quê mostrou??? Mostrou porque fomos gigantes nesse carnaval. Lideramos quatro quesitos isolada na frente. Que saudade de ver o narrador ficar aguardando a nossa nota. Chegava na BF e na hora de virar a página vinha o “atenção as notas de Mocidade e Portela”. Coisa linda.

    Achei o vice e a briga por título exagerada, mas que viríamos para brigar de 4º a 6º lugares nunca duvidei. Sabia que voltaríamos no sábado. Contudo a briga pelo título me surpreendeu muito positiva. Renascemos. Acompanhei de longe, de Sampa, a preparação da escola com notícias nas redes sociais (no twitter enquetes e notícias) e no face (notícias e vídeos). Um show. Isso é modernismo. E fico triste da minha outra escola, a de São Paulo, não faça trabalho parecido. A Vai-Vai manda bem no face… mas faz um trabalho péssimo no twitter. Tem que aprender com a Dragões.

    Parabéns para nós torcedores independentes de Padre Miguel.

    PS: Sou Mocidade desde 1989. Com sete ou oito anos torcia pela Vila Isabel (nasci em 1980), mas me apaixonei pela verde e branco em 1989. Simpatizo as Vilas (Isabel e Maria – sampa, pois nasci, cresci e vivo no bairro -) e Camisa Verde e Branco (até 89 era camisa… mas me apaixonei pela Escola do Povo que é diferente de tudo).

    Rodrigo mandou bem no texto/desabafo (embora o Fred tenha escrito).

    1. Muita coisa eu discordei dos jurados, também achei que seríamos sexto lugar “por pena”. Mas quando passou o quinto quesito e as outras foram realmente punidas onde tinham que ser, acreditei no pódio.

      Acho que estou feliz da vida porque eu sabia que, a qualquer instante, a Portela assumiria a ponta e venceria, tanto que a arte que montei para a webrádio que atuo já estava pronta com o “Parabéns, Portela!” há umas duas semanas.

      E tanto esse vice da Mocidade foi brilhante que no Facebook da Mocidade a foto de capa é um VICE CAMPEÃ 2017 bem legível! Quanto orgulho!

      1. Sim. Vi o wallpaper lindo também.
        Orgulho é pouco. Loguei lá só para num post qualquer digitar “te amo”.

        KKKKKKKKKK… agora é focar para 2018 com a mesma seriedade de 2017.

  2. Fôra, junto com a Portela, quem menos errou. Harmonia e evolução das escolas este ano foi péssima. Ficava nas campeãs sem dúvida. Mas não ano irregular os jurados deram crédito a quem se planejou melhor mesmo que arriscando menos (Paulo Barros/ Portela e Mocidade)

    1. As duas (Portela e Mocidade) foram as mais equilibradas. Nenhum erro grotesco (a Mocidade num degrau mais abaixo, claro, da Portela).

      O Salgueiro entraria nessa, mas o nivelamento, a meu ver, foi mais abaixo da escola, que passou sem empolgar tanto.

      1. Salgueiro perdeu no samba.
        Num dos tópico aqui do Ouro de Tolo eu comentei que “achava a Mangueira a melhor escola de 2017, porém, no quesito a quesito, a briga seria da Tabajara contra a Academia e a Manga vindo por fora – dependendo dos ‘olhos fechados’ dos julgadores -.”

        Ainda postei no meu face que a briga estava equilibrada, porém tinha dois quesitos que poderiam fazer a diferença. Portela com melhor samba-enredo e fantasias (Salgueiro foi bem monocromático para mim – muito vermelho nos primeiros setores e muito branco no final -) e Salgueiro melhor em enredo (PB viaja e ainda não entendi a chuva de dez para ela em enredo) e harmonia (Salgueiro passou “gritando” pela Sapucaí e como sabemos Mestre Marcão sempre dá show em bateria – e resolveram o seu maior problema em anos que foi a evolução -).

        Irônico… pois justo no ano que o Salgueiro resolve o problema no seu “calcanhar de aquiles” ele perde para um conjunto um pouco melhor que ele. Título justo da Águia de Madureira (ao menos para mim).

  3. Bom dia!

    Prezado Rodrigo Vilela:

    Pode gritar sim! Pode gritar muito! Comemorar bastante! Todos os independentes merecem!
    Para quem gosta das Escolas de Samba, é muito bom ver um ressurgimento. Melhor ainda quando vem em dose tripla!
    2017 foi o renascer de três Escolas:
    – A Portela sagrou-se campeã;
    – A Mocidade retornou ao desfile das campeãs;
    – O Império Serrano desfilou com o que sabe fazer, e venceu muito bem a Série A.

    Apesar de, em um primeiro momento, achar a segunda colocação um tanto exagerada, ainda preciso verificar o quadro de notas para entender como isso aconteceu (Não assisto apuração).
    No mais, aquele mês de descanso, e a Estrela Guia deve recomeçar os trabalhos para manter o gás e, quem sabe, vencer em 2018.

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  4. Bom ver a escola que me “apresentou” ao carnaval, voltar as campeãs e principalmente, dar a ela um gás novo para os próximos anos.

    Brilha Estrela-Guia de Padre Miguel!!!

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