Após passearmos por vários esquentas de escolas do Especial, não podia deixar de fora o “Pavilhão do Amor” da Estácio de Sá, que estaria no Grupo Especial se eu escrevesse a coluna quando pensei nela, ano passado.

Aproveitando a deixa,  fiz essa coluna extra com os sambas de esquenta de 5 escolas que hoje estão fora do Especial, mas que por um motivo ou outro são bastante interessantes.

Estácio de Sá

Quando pensei nessa coluna, ano passado, seria este o samba que abriria a coluna, já que a Estácio estava no Especial recém chegada da Série A. Porém a escola foi rebaixada e hoje “Pavilhão do Amor” é, de longe, o samba de esquenta mais conhecido fora do grupo Especial. Sem dúvidas é um dos mais bonitos, com uma letra lindíssima.

O vídeo abaixo é do canal do Carnaval Carioca e é do esquenta do desfile de 2010 da Estácio da Sá na nada saudosa LESGA. A 1ª voz deveria ser do Serginho do Porto; mas, como perceberão, o carro de som inteiro canta em coro com cacos de Dominguinhos do Estácio.

Pavilhão do Amor

(Jair Guedes, Toninho Gentil, Soneca, Jorge Magalhães, Marcelo Luiz)

A saudade apertou
E eu voltei, e eu voltei
Pra ficar ao teu lado (oba, oba)
Dá um nó na garganta
Meu peito se zanga
É sentido calado (pois é, pois é)

Mas corre nas veias
Esse sangue vermelho
Que me faz explodir (que me faz, que me faz)
Seu branco é encanto (bis)
Eu visto esse manto
E vou por aí (a Estácio é isso aí).

A esperança continua
Amor, amor, amor
Sou seu poeta pelas ruas
O meu coração se abriu em flor (bis)
Tu és o pavilhão do amor!

Unidos de Padre Miguel

Um caso interessantíssimo. A Unidos de Padre Miguel adotou como samba de esquenta um samba trazido pelo próprio Marquinho Art’Samba quando ele era a 1ª voz da escola, que todos acreditavam ser um samba sobre Xangô.

O que ninguém na UPM sabia – e quem disse isso ao presidente da escola foi o Editor Chefe – é que na verdade esse samba é um samba-enredo clássico de São Paulo, de 1981, cantado por uma escola já extinta chamada Cabeções da Vila Prudente. Seu compositor é Dom Marcos, que também se notabilizou como um excelente intérprete na Terra da Garoa.

Outro detalhe interessante é que além dessa história o outro esquenta da escola, aquela música que começa com “Eu sou Unidos, amor”, não é samba-exaltação. Mas sim o samba-enredo campeão da Serie D (hoje C) em 2005.

Vamos ao samba da Cabeções na voz de Marquinho Art’Samba no esquenta do ensaio técnico de 2014.

“Do Iorubá ao Reino de Oyó”

(Dom Marcos)

Contam os antigos rituais
Que Xangô foi rei e um belo dia
De Obatalá seu pai
Poderoso encanto recebia
Oyá dama prendada de riqueza
Ofertava todo seu calor
Roubando do encanto da nobreza
Contrariou a tradição do amor

Xangô ô ô, ô ô
Xangô ô ô, ô ô
Valei-me meu pai, valei-me Xangô
Valei-me meu pai, valei-me Xangô

Oyó o reino da beleza
Tendo em Xangô o seu senhor
Que já cansado com certeza
O solo em moradia transformou
E hoje como herança
Cabeções canta em seu louvor

Aganjú, kaô e laira
Baiani, afonjá e agadô

Bambaquerê
Bambabará
Oi no bangulê
Deixa o corpo se arrastar.

União de Jacarepaguá

A União é uma escola pequena que hoje, de forma totalmente injusta, está na Serie C do Rio de Janeiro. Até pela proximidade de Madureira, tinha tradição de fornecer muitos talentos para a Portela. O mais famoso deles é, sem dúvidas, Paulinho da Viola.

Em 1978 ele resolveu gravar em seu álbum um lindo samba-exaltação de Catoni e Jorge Mexeu para a União de Jacarepaguá: “Cenários”. A música fez bastante sucesso e há algum tempo a União de Jacarepaguá adotou para seu esquenta.

Catoni por sua vez também foi cria da União de Jacarepaguá e veio para a Portela em 1966, compondo os sambas-enredo para os desfiles de 1967, 1970 (reeditado em 2004) e 1977.

Vamos à música, no vídeo na versão do LP Paulinho da Viola de 1978. Infelizmente não achei gravações desse samba em avenida.

Cenários

(Catoni e Jorge Mexeu)

União de Jacarepaguá
É uma agremiação que saúda de coração
Império do Marangá
Aprendizes de Lucas
Capela, Unidos da Tijuca
Mocidade Independente
Cartolinha de Caxias
Império Serrano com muita gente
Acadêmicos de Vaz Lobo, União do Centenário
Oswaldo Cruz, sabem apresentar cenários

Portela, vive de glórias em Madureira
Começa o romper da Aurora, o samba lá em Mangueira
Acadêmicos do Salgueiro, Bento Ribeiro e outras mais
São orgulho do samba brasileiro

Cubango

Outro samba de esquenta muito famoso na Serie A é o da Cubango. Não é tão antigo, já que é do compositor Sardinha que ainda compõe atualmente na escola. Inclusive vários dos últimos sambas da escola levam a assinatura dele. Porém é outro samba forte e de fácil assimilação que caiu nos braços da comunidade e também se tornou quase obrigação nos esquentas da escola.

No vídeo abaixo temos o esquenta do ensaio técnico de 2014. A voz principal é de Marcelo Rodrigues, que hoje saiu da Cubango, mas continuou em Niteroi na Sossego.

Aconteceu

(Sardinha)

Aconteceu
E novamente estou aí
Sou a Cubango
Alegre e solta na Sapucaí
Não tem tempo ruim
E qualquer hora é hora
Eu vou cantar e sambar agora
Sou a verde-e-branco lá de Niterói
Tenho as cores da esperança
E da paz n’uma só voz

Viva eu… sim
Pra alegria de vocês
Pra ser Cubango
Não se conta até três

Caprichosos de Pilares

Não poderia encerrar essa série sobre sambas de esquenta sem lembrar da Caprichosos. Mesmo ela estando em processo de auto-destruição e às portas da Série C, ela tem um samba-exaltação muito caro a comunidade de Pilares. Mesmo não sendo muito usada na Sapucaí, porque não era nada conhecida do grande público, “Tio Juca” (ou “Deixa Serenar” para os mais íntimos) era bem lembrada na quadra. Inclusive não são poucos os sambas-enredos da Caprichosos que fazem alusão ao “deixa serenar” tão indefectível desta exaltação.

Até pela falta de esquentas na Sapucaí com essa samba, termino essa coluna muito musical com duas homenagens. Uma à própria Caprichosos, fazendo votos de que ela ainda encontre forças para se reerguer. A outra, àquele que seria talvez hoje o maior nome musical do carnaval carioca se não tivesse sido assassinado tão cedo: Jackson Martins. Assim, termino essa coluna com Jackson Martins cantando “Tio Juca”.

Tio Juca

(Almir de Araújo)

Um sorriso bailando no ar
Todo um toque de princesa
Uma cerva gelada no bar
Todo encanto da leveza
Conta história Tio Juca
Tô aqui pra te escutar

Meu respeito à Velha Guarda
Teu primeiro caminhar (bis)

(E como brilha)
Brilha a minha azul-e-branco
Num cintilar total
Na ginga desse teu balanço
Brilha no meu carnaval

É Pilares, (oi)
No grito da geral

Deixa serenar, ô ô
Que eu te aqueço
No calor do meu amor

Imagem: Ouro de Tolo

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17 Replies to “Esquentas Famosos de Escolas que não estão no Especial”

  1. Rafael,

    Muito legal a matéria. Na minha opinião os esquentas das escolas são um momento em que o componente começa a “armazenar” aquela energia que vai ser despejada durante o desfile. Aprecio as escolas que mantém essa tradição de respeitar a emoção e essência da escola.

    Gostaria de fazer uma correção. No esquenta da Unidos de Padre Miguel, Onde você diz “… cantado por uma escola já extinta chamada Cabeções da Vila Prudente…”. Na verdade a Cabeções voltou a atividade depois de um hiato nos desfiles de São Paulo.

    Hoje a escola tem sede embaixo de um viaduto, na Avenida Henry Ford, 2000, no tradicional bairro da Moóca. Em 2017 ela desfila pelo Grupo 4 da UESP (equivalente ao Grupo E do Rio de Janeiro) e traz o enredo “Bahia de todos os santos por todos os cantos”.

    Abraços e até!!!

  2. Linda lembrança do saudoso Jackson Martins, voz marcante e inconfundível, faz muita falta…

    Gosto muito do samba exaltação da Viradouro, apesar de recente, o Gustavo Clarão utilizou a melodia de seu lindo samba concorrente para o Carnaval 2008, e que foi injustamente cortado ainda nas fases eliminatórias. O Zé Paulo cantando esse samba no esquenta do desfile de 2015, no Especial, debaixo de muita chuva, foi muito emocionante…

      1. Eu ouvi tranquilão, de capa ensopada e tudo, achei emocionante pela beleza da música, a garra do Zé Paulo e todo o contexto, a volta (infelizmente rápida) da escola ao grupo Especial, com tudo aparentemente condenado a dar errado com aquele temporal, tinha um torcedor da escola perto de mim e ele chorava copiosamente… Tem um vídeo do início do desfile no youtube que mostra esse momento, que infelizmente só aproveita quem vai ao Sambódromo.

  3. Muito bacana a matéria. Só discordo do “um samba clássico da Cabeções”. É “só” o maior samba-enredo paulistano de todos os tempos pra sempre!! =D

        1. Pra mim é o 3º. A “prata” vai para Colorado do Brás 1988.

          E aí, do quarto pra baixo, as listas de muita gente variam. Eu completo meu top-5 com nenê 1997 e Peruche-1998. Mas isso muda constantemente!! A lista é gigante de sambas que podem entrar em quarto ou quinto!!

          1. Está no meu top-10. É o melhor da escola, pra mim, e ficou muito mais bonito em uma versão gravada pela escola (um CD promocional de 10 anos da Gaviões), na voz do Royce do Cavaco!

      1. Apenas bom-gosto diferente! Hehehehehehe… acho o da Cabeções mais cara de “Aquarela Brasileira” e Babalotim mais com cara de “Ita”.

        Aliás, o desfile da Leandro, em 1989, foi tão absurdo positivamente que as arquibancadas chegaram a abafar a voz da Eliana de Lima!!!

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