A tarefa de recontar um ano inteiro de um clube de futebol é inglória; de recontar o ano de um time do tamanho do Flamengo é muito pior. Mesmo assim, assumi essa responsabilidade e resolvi escrever essa série que falará sobre o ano de 2016 do time da maior torcida do país. A partir de agora, é hora de dissecar o rubro-negro nesse período.

Para explicar o Flamengo-2016 é preciso voltar a 2015 e contextualizar tudo que viveu o clube no conturbado fim de Brasileirão. A campanha de 2015 no principal campeonato do país foi uma decepção. Óbvio, o time não era do mesmo nível dos principais daquele torneio, mas a sensação (verdadeira) era de que o elenco rendia muito menos do que podia por inúmeros motivos.

As escolhas de treinadores foram terríveis e o planejamento de 2015 foi muito ruim, devido à aposta no “bom e barato” no começo do ano e o investimento tardio em peças interessantes já no meio da temporada. Junte tudo isso a uma torcida que já vinha extremamente impaciente por tudo que o clube vinha passando (três anos e “apenas” um título relevante) e uma estrutura física de CT deficitária que era alvo de chacotas de todos os lados, e vemos os motivos que culminaram no verdadeiro caldeirão que era o Flamengo naquele período.

bondedastella1Além de todos os problemas do campo, o clube se vinha com problemas extra-campo. Em agosto, surgiu na imprensa o caso denominado “Bonde da Stella” envolvendo cinco jogadores do time flagrados numa noitada após mais uma das 19 derrotas do time no campeonato. O quinteto Pará, Everton, Alan Patrick, Paulinho e Marcelo Cirino foi duramente criticado após o flagra. Muitos torcedores nas redes sociais pediam desde o afastamento do grupo até a sua demissão por justa causa. Além dos (muitos) problemas na parte de futebol, a administração do clube se via em xeque.

O rubro-negro vivia um período eleitoral que determinaria a administração nos próximos três anos com a eleição do novo presidente. Apesar de todos os problemas do ano e das mais variadas críticas à gestão, a reeleição de Eduardo Bandeira de Mello como presidente era um desejo da torcida, já que fora do campo ironicamente, o time ia muito bem. Com uma administração pé no chão, as notícias negativas de gestão financeira do clube sumiram da mídia. Com isso, também desapareceram as piadas sobre atrasos salariais e derivados. Só que paralelo ao desejo pela reeleição do presidente existia um desejo tão grande ou até maior pela construção de um time forte.

O clube que passava – ainda passa – por uma intensa reestruturação financeira tinha sua gestão questionada justamente por teoricamente priorizar a parte financeira a esportiva por torcedores mais críticos. Tudo isso pesava no ambiente e no planejamento do rubro-negro para o ano seguinte, afetando diretamente o que aconteceu ao longo deste ano. Após três anos de política de austeridade recuperando o financeiro do clube, era hora de o Flamengo finalmente investir para reconquistar o que era mais importante: o seu próprio torcedor.

Explicado o contexto, passamos a falar diretamente de 2016. A reeleição da gestão aconteceu e, com ela, veio a promessa de que o Rubro-Negro passaria a investir fortemente no carro-chefe do clube, ou seja, no futebol. Partindo deste ponto, o clube, ainda em 2015, anunciou acordo com o experiente treinador Muricy Ramalho, que vinha se recuperando de problemas de saúde que o deixaram por nove meses longe do futebol ao longo de 2015.

A contratação do treinador, que tinha uma carreira marcada por vitórias e títulos, mas especialmente por trabalho e comprometimento, era uma forma demonstrar ao torcedor que as coisas no 2016 rubro-negro seriam diferentes. Que o trabalho seria em busca de vitórias, e o comprometimento com o time seria essencial. O elenco, que era duramente criticado pela torcida, foi bastante reforçado na preparação para a temporada.

Ainda em 2015 foi anunciado o lateral-direito Rodinei, que custou 3,5 milhões de reais vindo de excelente campeonato pela Ponte Preta. Além dele, também chegaram o zagueiro Juan, de volta ao clube após 13 anos, e o excelente volante Willian Arão, que chegava após o fim de contrato com o Botafogo, além de acertos com o zagueiro Antônio Carlos, vindo do Avaí, e de Arthur Henrique, que veio do América de Natal.

mancuello2016Na primeira semana de 2016, foi a vez de Alex Muralha deixar o Figueirense rumo ao Flamengo pela bagatela de 2 milhões de reais. Chiquinho, após fim de contrato com o Santos, também chegou por empréstimo junto ao Coimbra (clube-empresa). Só que a principal contratação da temporada só chegou dias depois. Após longa novela, Federico Mancuello, de 27 anos, desembarcou no Ninho do Urubu após o clube carioca pagar 12 milhões de reais de maneira parcelada ao Independiente.

No fim de janeiro, após uma intensa e frustrada tratativa com o volante titular da seleção chilena Marcelo Díaz, o Flamengo fechou a primeira leva de contratações com a aquisição de Gustavo Cuéllar, volante vindo do Deportivo Cali por 8 milhões de reais. Tudo isso quase completava uma promessa do vice-presidente de futebol Flávio Godinho ainda no fim de novembro após derrota por 3-0 para o Atlético Paranaense. Na fala, ele dizia que o rubro-negro faria “contratações nível A” para as seguintes posições: goleiro, lateral-direito, zagueiro, volante e meia.

O que impediu a conclusão da promessa foi a não aquisição do zagueiro “Nível A” prometido. Mesmo com inúmeras tentativas pelos mais variados zagueiros, (Alejandro Donatti do Rosário Central – do qual falaremos mais em textos subsequentes -, Luciano Lollo do Racing, Henrique do Napoli, que acabou no Fluminense, Cléber do Hamburgo, Anderson Martins do Al-Jaish, Hernán Menosse do Once Caldas, Victor Cuesta do Independiente foram alguns dos nomes tentados…) o clube não conseguiu encontrar a peça que desejava para iniciar a temporada.

No entanto, as mudanças não se limitavam ao time dentro de campo, ao mesmo tempo em que a comissão técnica trabalhava para melhorar o elenco, a gestão buscava transformar a estrutura do clube para aumentar a eficácia na preparação do elenco. O Ninho do Urubu, antes alvo de chacotas, era intensamente reformado para se transformar num CT de primeira grandeza.

A EXOS (empresa especializada em prevenção de lesões) foi contratada para cuidar da parte física do elenco rubro-negro. A ideia da diretoria era que o elenco pudesse ter o máximo possível de qualidade para render o seu máximo dentro de campo. Não deixa de ser sintomático, caso voltemos ao início desse texto onde víamos um time e torcida que tinham a nítida sensação de não conseguir render seu máximo.

Passada a preparação e o processo de montagem do elenco, finalmente era hora de vermos como a versão do Flamengo 2016 se comportaria em campo, mas isso você verá na próxima parte do Dissecando o Flamengo-2016 que falará sobre os dois primeiros meses de temporada rubro-negra. Ate lá!

3 Replies to “Dissecando o Flamengo 2016 – Parte I”

  1. Excelente, Malta. Fla-2015 foi terrível. Acho que sou o único que achava que o Antônio Carlos deveria ser testado. Ele e o Artur só vieram “de passagem”. Mas enfim, a série só está começando.

    1. Antônio Carlos merecia o teste sim, especialmente pelos problemas da zaga do time no primeiro semestre. O Fla-2015 foi problemático devido as escolhas de treinadores que foram calamitosas e seriam repetidas por outro time que vive péssima fase em 2016. Mas enfim, tá começando e tem muita coisa pra contar ainda.

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