Hoje marca a data redonda de um mês para a Cerimônia de Abertura dos Jogos Olímpicos Rio 2016. Um mês que não são 30 dias, já que julho tem 31 dias, mas isso é um detalhe.

Sendo esta coluna a que há mais tempo devota a acompanhar o andamento das obras visando tal evento (a  Made in USA direcionada para o tema data ainda de 2012), quero aqui fazer um breve encerramento de toda essa jornada de acompanhamento relatando o que já está pronto e o que ainda preocupa nas obras para os Jogos Olímpicos.

Instalações Esportivas

Até que na área de instalações esportivas, apesar do sufoco forte que o Velódromo nos deu, não tivemos muitos problemas de correria. Pelo menos tivemos bem menos do que eu imaginava em 2012. Há 4 anos atrás eu imaginava que estaríamos com umas 10 obras atrasadas, correndo a todo vapor e rezando por um milagre todos os dias, mas o resultado final ficou bem longe disso. A única obra que realmente demandou rezas foi o Velódromo, uma área que eu alertava desde 2013 que não estava indo a contento.

Com a entrega do velódromo na semana passada, quase todas as instalações esportivas já estão entregues para o Comitê Rio 2016 fazer as obras temporárias para os Jogos Olímpicos. Só falta uma: o Centro Nacional de Hipismo, em Deodoro.

ZonaCEssa foi outra obra bastante complicada, com duas paralisações de obras mais sérias nos últimos anos e que por várias vezes teve seu sinal vermelho ligado. A entrega do último prédio estava marcada para ontem (como escrevi esse texto ontem pela manhã, ainda não tive notícias dela) e faltam apenas os serviços de paisagismo e a construção das arquibancadas temporárias, que já estão sendo feitas pelo Comitê organizador.

Apesar de ainda não estar completa não é uma obra que preocupa; afinal, se necessário, daria para ter competição do jeito que está hoje. Não seria bonito, ficaria faltando o “belezol”, mas a estrutura necessária já está pronta e por isso não preocupa.

Portanto, no tópico “Instalações Esportivas”, tudo limpo. A única coisa que preocupa são as construções temporárias a cargo do Comitê Rio 2016. Isso envolve arquibancadas temporárias e estrutura para abrigar a imprensa, entre outros serviços que só funcionarão durante os 17 dias de competições. Como o Comitê decidiu receber as obras mais próximos dos Jogos Olímpicos, para economizar dinheiro para manutenção de estruturas e para aluguel de cadeiras temporárias, a quantidade de obras temporárias simultâneas é gigante, inclusive na Vila Olímpica.

Mas, ao mesmo tempo, tal estratégia já fora decidida há 1 ano atrás e o Comitê se preparou para fazer essas várias obras pequenas ao mesmo tempo. Nenhuma delas preocupa também.

Ressalte-se também que após todas as emoções que o Velódromo reservou, sendo inclusive o único evento teste cancelado, ele não foi entregue com 100% das obras concluídas, já que ficou faltando apenas a fachada. Visando apenas aos Jogos Olímpicos, isso não é problema pois fachada não atrapalha em nada os atletas, o desempenho esportivo ou conforto da instalação. Só ficam feios os dutos de ar-condicionado aparecendo e o acabamento com uma espécie de feltro, claramente improvisado.

20140304_051638Mas para as tomadas externas do Parque Olímpico durante o evento, isso será resolvido da maneira mais carioca possível: joga panos bonitos para todos os lados com o layout dos jogos, tapando a visão da fachada do Velódromo. Nada que nós amantes do carnaval não vejamos ano sim, outro também nas escolas de samba que atrasaram seus carros alegóricos. Alias, às vezes o plotter fica até menos feio do que o projeto original do carnavalesco, especialmente se este último tiver uma capacidade duvidosa.

Por mais que não preocupe para os Jogos Olímpicos, eu espero que a prefeitura não abandone a obra e após os Jogos Olímpicos conclua a reforma, porque, mesmo que não afete os Jogos, a fachada do jeito que está a longo prazo facilitará a deterioração do Velódromo e encarecerá bastante sua manutenção. Como o Parque Olímpico deve ficar fechado entre 12 e 18 meses para a desmobilização das estruturas após os Jogos Olímpicos, tempo não faltará para tal serviço.

As “mini-reformas” do Maracananzinho e da Arena Olímpica também deverão ficar prontos essa semana ou semana que vem e estão tranquilas. Afinal, também não exigia nenhuma intervenção mais forte, apesar dos problemas no teto da sede do vôlei.

Quanto aos esportes, todos deverão ocorrer sem problemas.

20160221_093633Transportes

Aqui temos preocupações fortes. Para começar, a linha 4 do metrô. Já mostrei em texto da semana passada o quão primordial ela será nos Jogos Olímpicos para ligar o Centro e a Zona Sul à Barra, porém sua conclusão para os Jogos Olímpicos continua um drama. A previsão hoje é que ela será inaugurada no dia 1º de agosto, a meros 4 dias da Cerimônia de Abertura. Para isso, a correria na obra é imensa e o prazo para imprevistos é zero.

Porém, mesmo que tudo dê certo, ainda fica a preocupação da falta de testes. Por mais que alguns testes estejam sendo feitos há 3 semanas, é pouco para uma obra da complexidade de um metrô subterrâneo. Mas, pela falta de tempo, a obra será entregue na cara e na coragem mesmo. Ontem o “Bom Dia Rio”, da Rede Globo, mostrou ampla matéria sobre estes testes.

É justamente pela falta de testes que, para usar a linha 4 durante os Jogos Olímpicos, será necessário apresentar o cartão especial de transportes para os Jogos Olímpicos (com preços absurdos) e mostrar o ingresso do dia ou a credencial de trabalho do Comitê Rio 2016.

Mesmo após os Jogos Olímpicos, a linha 4 não será aberta ao público e será novamente fechada para a conclusão dos testes e o término da ligação entre a linha 4 e a linha 1, que inexistirá durante os Jogos Olímpicos. Por isso, a previsão de abertura ao público em geral está previsto apenas para setembro. Considerando a crise financeira e de gestão no governo estadual, responsável pelas obras, quem sabe a linha 4 fique pronta a tempo das eleições de 2018…

Inauguração da Via TransolímpicaOutra obra um tanto preocupante é a Transolímpica. A linha de BRT que fará a ligação do Parque Olímpico com as instalações esportivas de Deodoro ainda não foi inaugurada. Neste fim de semana, o prefeito Eduardo Paes anunciou que a mesma está marcada para o próximo domingo, dia 10.

Porém, a Transolímpica funcionará para os Jogos Olímpicos no mesmo esquema do metrô: só quem tiver o cartão olímpico de transporte e um ingresso do dia ou credencial na mão é que poderá usar a Transolímpica. Sequer as 4 faixas dedicadas aos carros de passeio comuns, paralelas às linhas de BRT estarão liberadas ao grande público – somente aos veículos autorizados.

Vale lembrar que a estação terminal para os serviços especiais de BRT não será a localizada em frente ao Parque Olímpico, mas sim a existente a cerca de 800 metros da entrada.

Ao menos aqui o problema não é falta de testes, e sim facilitação do esquema olímpico de trânsito. A boa notícia é que, diferente do metrô, assim que terminarem os Jogos Olímpicos a Transolímpica continuará a funcionar, tendo sua implantação completa sendo de forma gradual ao longo de 6 meses, da mesma forma como ocorreu com a Transcarioca ao fim da Copa do Mundo.

Inauguração da Via TransolímpicaJá as faixas de carros de passeio deverão ser liberadas assim que terminarem as obras de operação da praça de pedágio da Transolímpica, além de outras questões burocráticas ainda relacionadas ao acabamento de obras de vias de acesso intermediárias.

Outra preocupação, mesmo que menor que as duas primeiras, é o VLT. Por mais que ele esteja funcionando há quase 1 mês, ele até agora não faz o percurso completo da linha 1. Até o momento ele continua indo apenas do Aeroporto Santos Dumont até o cais dos navios Transalânticos. Ainda falta o VLT percorrer um trecho de 3km até a Rodoviária Novo Rio. Se o VLT não chegar a Rodoviária a tempo dos Jogos Olímpicos, a vida de quem chegar por lá na cidade será um inferno.

Isso porque, por um problema crônico de falta de planejamento urbano, a Rodoviária fica completamente isolada de qualquer transporte público de massa. A única opção para quem quer sair da rodoviária e não quer sair de ônibus comum, que convenhamos não é nada fácil para quem vem de mala, é pegar um taxi. Só que, com o esquema de trânsito dos Jogos Olímpicos, até os taxis terão dificuldade de acessar a rodoviária e nem citarei aqui os problemas com os taxis que não respeitam as normas da prefeitura. Portanto é vital que o VLT faça o percurso completo a tempo dos Jogos Olímpicos.

túnel marcello alencar japãoPor fim, mas não menos importante, ainda falta a conclusão do Túnel Prefeito Marcello Alencar, o maior túnel subterrâneo do Brasil, com mais de 3km de extensão. Para quem ainda não associou, esse foi o nome dado ao túnel da via expressa do Porto Maravilha, que ligará, para carros de passeio e ônibus comuns, a Rodoviária ao Aeroporto Santos Dumont.

O sentido Rodoviária-Santos Dumont já foi inaugurado e está em pleno funcionamento, mas o sentido contrário continua fechado para obras. Quando o prefeito inaugurou o primeiro sentido, dia 19 passado, ele disse que em 3 semanas o sentido contrário também seria inaugurado. Porém duas semanas já se passaram e mais nada foi dito. A inauguração prevista para o próximo fim de semana, conforme escrevi acima, é a da Transolímpica.

Por mais que esse túnel não faça parte de nenhum projeto olímpico, ele ajudará bastante a cidade a suportar as mudanças e bloqueios de trânsitos gerados pelos Jogos Olímpicos.

Contas do Governo Estadual

A crise do Governo Estadual é tão forte que até o prefeito Eduardo Paes, que é do mesmo grupo político que controla há 10 anos o estado do Rio, perdeu a paciência no último final do governo e criticou os últimos governos. Resumindo, ele disse que “falta vergonha” ao governo do estado e que a crise financeira, mesmo que forte e inevitável, tem seus efeitos exponenciados por uma crise de gestão de longo tempo.

Quem acompanha os preparativos olímpicos desde o início sabe que a crise do Governo Estadual é longa e não é culpa dos Jogos Olímpicos. Ainda em 2011, o Governo Estadual já não estava cumprindo com suas obrigações e todas as obras em Deodoro, que inicialmente seriam de responsabilidade do governo estadual, acabaram passando para responsabilidade financeira do governo federal e executiva do governo municipal justamente porque o tempo estava passando e o governo estadual nada estava fazendo alegando falta dinheiro.

Exatamente por isso as obras em Deodoro começaram bastante atrasadas e preocupavam bastante entre 2013 e 2014, até que em 12 meses elas deram um salto incrível e voltaram para o cronograma.

20160612_090643Então, se a situação já estava no limite há anos incluindo polpudos recursos oriundos dos royalties do petróleo, imagina com a queda abrupta dessa rubrica de receita após a queda do preço do petróleo no ano passado e a crise econômica do país. Agora junta isso tudo a uma crise de gestão que já se arrasta há anos e temos a crise atual.

Olhando apenas para os Jogos Olímpicos, a crise não assusta tanto. As duas maiores necessidades operacionais para os Jogos vindas do estado serão segurança e saúde. A primeira foi resolvida com a doação de 3 bilhões feita pelo governo estadual semana passada e bastante noticiada na imprensa. Já a saúde é dividida com o governo municipal e os principais centros de referência públicos perto das zonas de competições estão sob responsabilidade municipal e não estão sofrendo com a crise estadual.

Então, a crise não deverá comprometer os Jogos Olímpicos, mas a população em geral já sofre bastante e deverá sofrer ainda mais, não basta ter poucos recursos, os poucos que se tem estão sendo mal gerenciados. Enquanto isso servidores ativos e inativos continuam com salários atrasados e tal atraso dificulta ainda mais a recuperação econômica do estado.

Zika Vírus

Essa já não é mais uma preocupação. Como já esperado, com a chegada do inverno, os casos de infecção caíram drasticamente. Apenas os golfistas estão usando a doença como desculpa fácil para dizer não aos Jogos Olímpicos sem ter que alegar a verdade: eles não irão atrapalhar a preparação para os playoffs do PGA Tour, com seus quase US$ 40 milhões em prêmios, para vir de graça a um torneio disputar apenas “uma medalhinha”.

Se realmente a preocupação fosse com o Zika Virus, Rory McIlory, aquele que começou a debandada dos golfistas, não iria passar férias com sua noiva em Barbados em pleno abril, quando a epidemia estava com toda a força no Caribe.

Além disso, ninguém mencionou exames antidoping ainda…

(colaborou Pedro Migão)

Imagens: Brasil2016, Prefeitura do Rio e Arquivo Ouro de Tolo

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27 Replies to “A Rio 2016 a apenas Um Mês da Cerimônia de Abertura”

  1. Cada vez que vejo um atleta dizendo que não vem para a Olimpíada por medo da Zika, lembro daquele personagem da Praça é Nossa, dizendo “traduzindo: antidoping vai ser pesado, eu que não vou ser o novo Ben Johnson!”

    1. concordo 100%. Golfe não tem nada a ver com olimpíadas. Só voltou a fazer parte dos jogos por causa dos interesses dos patrocinadores

  2. Boa noite Pedro, parabéns à toda equipe pela excelente cobertura!

    Uma coisa me surpreendeu: Não será possível chegar a linha 4 do metro através da linha 1?? Quem mora no centro/tijuca, perto do metro, vai precisar pegar ônibus pra chegar em alguma estação da linha 4? Putz! Tava achando que teria baldeação ou algo assim.

    Abraço!

    1. André,

      Nâo sei de detalhes, mas haverá ligação direta.Apenas deveremos ter que trocar de carro em General Osório.

  3. Com relação à fachada do velódromo foram colocadas placas de metal definitivas que encobrem os dutos de ventilação, ficou até bonito, só não sei se vão pintar o teto que está parecendo um pouco sujo. Quanto a transolimpica parece que o funcionamento limitado dela durante as olimpíadas é proposital para atender especificamente aos jogos e não pelo fato de estar incompleta. No mais assino embaixo tudo que foi escrito

  4. Hola Migao! Escribo desde Argentina, por lo que entiendo la RioCard solo es necesario para Linha 4 y el BRT Transolimpica. En el resto de transportes no. Mi pregunta es, como se paga normalmente el transporte en Rio? Porque la RioCard me parece cara para, en mi caso, hacer dos viajes al día.

    Gracias.
    Saludos.

      1. O Riocard vale pro dia todo, não importa quantos modais usar no dia.

        Só tme lmite de 30 minutos pra passar, pra não usarem um so pra mais de uma pessoa.

    1. Martin,

      Dependendo de onde você ficará e para onde se moverá durante os Jogos, mesmo sendo caro, será inevitável escapar do cartão olímpico por causa da Linha 4 do Metrô.

    1. Olha, a ordem é essa. Se a Globo vai deixar o Brasil jogar de manhã e à tarde nas quartas e semis se for primeiro do grupo é outra história… Ainda mais lembrando que o presidente da FIVB é brasileiro e parceiro da emissora.

  5. Esse foi um dos melhores posts Migão! Fiquei com uma dúvida: chego na rodoviária NOVO RIO dia 05 por volta das 7 /8 horas. Você cita que haverá restrições no trânsito, inclusive quanto ao acesso dos taxistas, também no entorno da Rodoviária. É isso mesmo? Como pegarei um táxi até Copacabana? hehe!

    1. Acho que os táxis poderão chegar até lá, mas, sinceramente, não tenho certeza. Se não me engano há um ônibus “frescão’ que te deixa em Copacabana.

    2. Igor,

      Você chegará justamente no dia da Cerimônia de Abertura, quando são esperados trocentos chefes de estado. O trânsito tem tudo para ficar uma loucura com os batedores se sucedendo. Mesmo pegando taxi, você talvez demore o mesmo tempo que demoraria do que se fosse de transporte público.

      Se o VLT chegar na Rodoviária a tempos dos Jogos Olímpicos eu ainda recomendaria VLT + metrô para chegar. Especialmente nos dias 5, 6 e 7.

      1. O problema é a bagagem (vou ficar 18 dias no Rio) e um monte de ingressos nela! por isso pensei no táxi! Pensando em segurança!

  6. Vi que no judô há dois tatames, como em Londres, e é provável que os judocas lutem em apenas um deles nas finais. Vocês sabem qual deles será usado? O tatame do ponto 108 ou 119?

    Abraços

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