Nesta quarta, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, encerra sua série de colunas olímpicas com um painel sobre o andamento das obras necessárias às Olimpíadas de 2016.

Rio 2016: Panorama das Obras e Instalações

Para não mais encher a paciência dos leitores de Ouro de Tolo, encerro essa série de colunas olímpicas (admito que o número de textos dedicados ao tema ficou maior do que eu imaginara inicialmente) virando os olhos para nós cariocas. Como prometido lá em maio ainda, hoje é dia de mostrar em que pé estão as obras para a próxima edição.

Afinal de contas, quando o mundo esportivo se reunir de novo daqui a aqui anos será aqui em pleno solo sagrado do Rio de Janeiro. Não podemos fazer feio e, de preferência, nem na correria como foi no Pan. Correria no Brasil é sinônimo de alta corrupção.

Comentarei aqui sobre as áreas mais complicadas para o Rio: transportes e instalações esportivas. Já alerto aos leitores que quatro lugares me preocupam demais.

Para variar, caso contrário não estaríamos no Brasil, o primeiro deles é o aeroporto do Galeão. O segundo é o Parque Olímpico que será construído na área do antigo autódromo. Os outros dois ficam em Deodoro e nem a imprensa especializa está se lembrando deles.

Vamos a um resumo um pouco mais detalhado de cada área. Lembrando que toda avaliação contida a partir daqui leva em conta apenas a data de 5 de agosto de 2016, abertura dos Jogos Olímpicos. Não farei avaliações para eventos anteriores.

Transportes: as intervenções aqui são as quatro linhas de ônibus rápido, ou BRTs: Transoeste, Transcarioca, Transbrasil e Transolímpica. Além disso, estão previstas a construção da nova linha de metrô entre Ipanema e a Barra da Tijuca, a renovação e ampliação do aeroporto do Galeão e a renovação das frotas de trens e metros urbanos.

A renovação dos trens já está a todo vapor e quem utiliza esse meio já percebeu o aumento de viagens em trens novos, sejam eles da safra coreana, de 2005-2006, ou da chinesa, safra atual que deverá dominar os trens até o fim de 2014. Sem problemas aqui.

Já os novos metrôs começaram a circular semana passada, com um atraso fenomenal de dois anos. Ainda tivemos problema com a largura dos novos trens, que provocou a diminuição da plataforma de algumas estações. Mas será que ninguém pensou nisso na hora de encomendar o vagão? A incompetência do Metrô Rio parece ficar maior a cada dia. Como ainda faltam quatro anos para os jogos, acredito que também não teremos problemas aqui – apesar do Metro Rio.

Dos 4 BRTs, a Transoeste (Barra-Santa Cruz-Campo Grande) já está funcionando a pleno vapor. Os problemas de acidentes que estão ocorrendo nela, principalmente na Av. das Américas, é mais fruto de um péssimo comportamento do carioca do que uma falta de planejamento em sua elaboração. Um programa de conscientização e alguns sinais de trânsito resolverão.

A Transcarioca (Barra-Penha-Galeão) está com as obras da 1ª fase prontas ou quase prontas, principalmente na área de Madureira, e a 2ª fase, na qual se inclui a ponte para a Ilha do Governador, em pleno vapor. Tenho apenas um receio quanto à parte da obra perto do Mercadão de Madureira, que será um trecho complicado.

O trecho Barra-Madureira deveria ficar pronto em 3 meses, o que já está claro que não ocorrerá. Mas não há motivos para não acreditar que a linha esteja pronta até março de 2014. Também não será problema para 2016.

A Transolímpica (Barra-Deodoro) começou a ser construída no início de julho. É o BRT que mais terá vias novas, por isso é um tanto preocupante. Mas as obras estão, apesar de recentes, em bom caminho e dentro do cronograma, que prevê o final para o 2° semestre de 2015. Sinal verde aqui também.

Por fim, já saiu o financiamento da Transbrasil (Deodoro-Centro) e estamos em processo de licitação. As obras devem começar até o fim do ano. Em tese, esse é o BRT é o mais fácil, pois as vias já estão abertas em mais de 90% do trajeto. Mas, principalmente na região entre o Caju e o Centro, serão exigidas fortes transformações que me preocupam.

É o BRT com o prazo mais apertado, com fim previsto em março de 2016 e não admitirá qualquer atraso. Coloco aqui sinal amarelo por causa da falta de lastro temporal, mas as obras estão dentro do cronograma.

A obra da linha 4 do metrô está a todo vapor em 2 turnos, até porque também tem um prazo apertado: janeiro de 2016. Até onde sabemos, a obra está correndo como esperado. Mas fico com uma pulga atrás da orelha na demora em sua liberação operacional graças à falta de confiança que tenho no Metrô Rio. Sinal amarelo aqui pelo mesmo motivo da Transbrasil.

Por fim o Galeão. Era de conhecimento de todos que o Galeão é deficiente e precisa, além de uma modernização, de uma ampliação de pelo menos 50% para suportar o tráfego que teremos na época dos Jogos Olímpicos. Também sabemos que o Rio irá sediar os jogos desde o dia 2 de outubro de 2009. O que foi feito desde então? Nada, absolutamente nada. A Infraero age como se nada tivesse ocorrido.

[N.do.E.: coloquem neste balaio também a Lei 8.666, de Licitações, que é ineficiente e por si só está atrasando o cronograma de obras no aeroporto.]

A Dilma iria anunciar a privatização da operacionalização do Galeão, mas já recuou ao dizer que a Infraero ficaria deficitária sem o aeroporto carioca. A tentativa será fazer uma Parceira Público-Privada com alguma grande operadora internacional, que não terá a mesma efetividade e eficácia da privatização, já que a meu juízo a ineficiente Infraero continuará no comando.

Já estamos quase em 2013 e não há nem sinal de alguma movimentação. Não à toa, a primeira bronca que a Rio 2016 tomou do COI, na semana passada, foi exatamente por causa desse ponto. Sinal vermelhíssimo.

Usar o aeroporto de Santa Cruz para receber vôos fretados me parece inevitável. Mas como ele fica longe de tudo, até da estação de trem de Santa Cruz, teremos problemas na locomoção interna de quem chegará por lá.

A situação é extremamente caótica e todos continuam sentados sem concordar nem por onde começar. Não tenho a menor esperança de que tenhamos uma solução. Quem quiser que desça em Belo Horizonte e venha de ônibus, será mais fácil.

Instalações esportivas: as locações são divididas em quatro zonas: Barra, Deodoro, Maracanã e Copacabana.

Zona Barra: essa zona será o coração dos Jogos. Além da Vila Olímpica, do Centro de Mídia e de uma das vilas para jornalistas, a Barra terá o Parque Olímpico e várias modalidades serão disputadas no Riocentro.

O Parque Olímpico, no lugar do antigo autódromo terá cinco arenas polivalentes (uma é o já existente HSBC Arena), duas piscinas olímpicas, velódromo e tênis – além do Centro de Mídia. Uma obra de altíssimo vulto e que por problemas com a Confederação de automobilismo e com o plano diretor, só começou no mês passado.

Para piorar, a federação internacional de ciclismo modificou suas exigências mínimas após os Jogos de Pequim 2008 e com isso o velódromo já existente na área não servirá para 2016. A estrutura atual irá para Goiânia e teremos que construir uma nova.

A obra já está atrasada em 6 meses e só agora ganhou velocidade. Ainda sim, é aqui que coloco o segundo sinal vermelho. Assim como no Pan, acredito que na área do autódromo passaremos sufoco extremo com os prazos.

Não é a toa que o hóquei na grama, que inicialmente estava planejado para a Barra, com dois campos novos, deve passar para Deodoro no centro já existente do Pan.

O Riocentro já existe e o que será feito para os Jogos será temporário. Essas obras só devem começar em 2015 e não me preocupam. O que me preocupa é a falta de estacionamento lá para os eventos previstos para 2015 e no primeiro semestre de 2016, já que um pavilhão temporário será construído no meio do estacionamento do local.

A Vila Olímpica já começou a ser construída e acho que o Rio será a primeira sede em muito tempo a não ter qualquer preocupação em sua Vila. Sinal verde.

Enquanto isso, o Rio, sempre de cabeça para baixo, pode ter problemas no Centro de Mídia, integrado ao parque olímpico, onde normalmente não se tem.

Zona Maracanã: Aqui estão as grandes construções já prontas, mas que precisam de reforma que são o Maracanã, Maracanãzinho, Engenhão, Sambódromo e São Januário.

Também é nessa zona que se situa a zona do porto, mas essa será alvo do Porto Maravilha, que não comentarei aqui por problemas de espaço. É um ponto interessante para uma coluna futuramente, quem sabe.

O Maracanã vai muito bem obrigado e não há porque imaginar que ele não ficará pronto no prazo de fevereiro de 2013. Se atrasar, será apenas um ou dois meses. Para 2016 é total certeza. Luz verde.

O Maracanãzinho já passou por uma grande reforma no Pan, mas precisará passar por outra para 2016 para resolver problemas pontuais. O principal é em relação à área de aquecimento das equipes. São problemas simples que não demandarão muitos esforços. Devem ser feitos entre 2014 e 2015 sem correria.

O Engenhão, onde será o atletismo, precisará ser fechado para reformas e ampliação para 60 mil lugares e o deve ser no 2° semestre do ano que vem, assim que o Maracanã puder receber jogos.

Deverá ficar todo 2014 em reformas para ampliação das arquibancadas com o fechamento do anel superior, sendo reaberto no meio de 2015. Ao final o estádio terá capacidade para 60 mil lugares. Como desde o início o plano era esperar o Maracanã reabrir, podemos dizer que o Engenhão ainda está dentro do prazo.

Enquanto isso o viaduto que fará a ligação direta do estádio com a Linha Amarela já está em construção, até certo ponto adiantada. Deve ficar pronto no início de 2013.

O Sambódromo já foi reformado e está pronto, apesar dos percalços enfrentados no carnaval desse ano. Mas para 2016 a preocupação é absolutamente zero.

Por fim, estamos no impasse do estádio de São Januário, que deverá(ia) ser a sede do rugby. O Vasco, dono do estádio, já deveria ter apresentado o plano de reforma do estádio e do entorno a prefeitura ainda em julho. O prazo já foi prorrogado 2 vezes e agora o ultimato é dezembro.

Se o plano não for entregue até lá, o rubgy deverá ficar no Maracanã, que por não abrigar o atletismo e só ter futebol na 2ª semana, poderia tranquilamente sediar o rugby na 1ª semana.

Alias, São Januário só está no plano olímpico graças à influência de Sergio Cabral e Carlos Osório, notórios sócios do Vasco, porque a necessidade é zero. Porém se São Januário fechar para reformas, deverá ser no mesmo tempo do Engenhão e os clubes de futebol terão problemas para sediar seus jogos até 2016.

[N.do.E.: lembrando que o Maracanã ficará fechado um bom tempo em 2013/14 devido às exigências da FIFA e outro período em 2016 para novas obras visando os Jogos Olímpicos.]

Zona Copacabana: nessa zona se concentrarão as competições de rua, que apenas exigem trabalhos temporários mais perto dos jogos, como ciclismo de estrada, maratona e triatlo. O vôlei de praia também será em uma arena temporária na praia de Copacabana.

As duas únicas obras nessa região são o estádio de remo na Lagoa Rodrigo de Freitas e a Marina da Glória, sede da vela. Ainda sim, boa parte das arquibancadas no estádio de remo serão temporárias e as obras de reforma necessárias já estavam previstas para começarem no fim de 2014.

A Marina está nas mãos do grupo empresarial de Eike Batista que já apresentou o plano de reestruturação da Marina. Só que, como sempre quando o assunto é a Marina, o plano é extremamente polêmico por causa do tombamento da mesma e o Ministério Público entrou com ação judicial contra o plano. Sinceramente acredito que, se aferrando no tombamento de algo que está ficando feio e defasado com o tempo, estão complicando uma obra que pode ser vital para a cidade.

A reforma já era para ter começado, com término ainda para a Copa de 2014. Porém com a ação do Ministério Público pendente, até onde sei ela ainda não começou. Como ainda se tem dois anos de lastro aqui, apenas coloco sinal amarelo, mas essa obra tem tudo para ser o quinto sinal vermelho do projeto.

Zona Deodoro: nessa zona temos algumas instalações já prontas do Pan : o stand de tiro e o centro de hóquei na grama. Ainda temos o centro de hipismo do exército que terá que ser ampliado para receber os Jogos Olímpicos, o que deve ser feito em 2014.

Porém aqui é onde estão minhas maiores preocupações, porque estão ocultas.

A Arena de Deodoro, que abrigará a Esgrima, já deveria ter sido finalizada em 2011 para os Jogos Militares e até agora, que eu saiba, sequer foi licitada. É uma construção simples, não demandará tempo. Mas fico preocupado pelo fato de que ninguém está se lembrando dela, nem que seja para cobrar. Sinal vermelho.

O estádio de canoagem slalom, uma obra cara, complexa e de difícil utilização pós-jogos, também já deveria ter começado em 2012 para terminar em 2015. Aqui mais uma vez, sequer não ouvi falar dela e como é um esporte desconhecido no Brasil, está passando desapercebido por todos. Para piorar, tempo não é luxo nesse caso. Para mim é o sinal mais vermelho de todos.

Como comparação, em Londres, que igualmente construiu um novo percurso artificial, essa obra foi a primeira instalação esportiva a ser entregue, ainda no início de 2011.

Por fim temos o mountain bike e o BMX. A complexidade aqui é bem baixa e não me preocupam.

Essas três últimas instalações comporão o Parque Radical, maior legado da área, que a prefeitura promete começar as obras em junho de 2013. Terão que acelerar bastante a construção do centro de canoagem.

Acredito que seja essa Zona de Deodoro que devemos fiscalizar mais seriamente porque ela tem a receita perfeita para dores de cabeça: esquecimento, descaso, complexidade e uma área menos visada da cidade.

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