Esse semana vi na arquibancada de um jogo da Eurocopa um homem que devia ter seus trinta e poucos anos, sem blusa e com uma enorme tatuagem nas costas. O desenho fazia menção a uma região da Polônia e havia uma data: 1369.

Fiquei curioso, consultei Pai Google de Oxóssi e vi que era uma dessas batalhas sangrentas da Idade Média que resultaram na conquista de um pequeno território que, hoje, faz parte de uma grande aldeia global chamada Europa.

Aquilo me chamou a atenção porque é um retrato em polaróide (alguém lembra o que era isso?) da mentalidade de uma camada crescente da população europeia que sonha com “glórias” passadas na falta de perspectivas futuras. Uma sementinha de fascismo no coração do Velho Mundo.

Também fiquei imaginando se haverá, em Terra Brasilis, alguém tatuado com uma cena que retrate os inconfidentes mineiros, os farrapos gaúchos, os confederados do Equador em Pernambuco, além do próprio Frei Caneca. Alguém já tatuou Frei Caneca nas costas?

frei canecaNão é querer cair no velho estereótipo de que o brasileiro não conhece a própria história. Até porque, estando aqui na Europa, você percebe que também não passa de ilusão e complexo de inferioridade esse papo de que todo europeu sabe tudo sobre a história de seu país, seu continente. Cidadãos como o tatuado polonês não são sociólogos, antropólogos, historiadores e hooligans só nas horas vagas.

Há, na verdade, grande massa de manobra usada por extremistas para espalhar ideias racistas de supremacia. Incutindo nessa massa o sentimento de pertencimento, de, vá lá, orgulho, por ser descendente de um grupo que empalou e esquartejou seus inimigos numa batalha qualquer do século XIV.

O lado ruim de não sermos tão ligados assim a fatos históricos relevantes da nossa história (quantos debatem, tomando um café ou açaí, a importância que a Inconfidência, Confederação do Equador ou Farroupilha tiveram em nossos processos de Independência ou queda da monarquia?) é por demais óbvio. Um lado bom dessa falta de apego pode ser a fraqueza de qualquer movimento separatista ou xenófobo no Brasil. Pelo menos por enquanto, vai saber.

Adoramos copiar modelos que não deram certo no exterior.

Já na Europa, o discurso do pretenso conhecimento da própria história serve de alicerce para grupos terroristas como os pseudotorcedores russos que programaram uma emboscada aos ingleses em Marselha, no dia 11 de junho. Jovens bem treinados, determinados, com formação paramilitar, dispostos a atacar e “provar” sabe-se lá para quem que eles formam o “verdadeiro” pelotão de hooligans europeus, uma espécie de tribo medieval que conseguiu subjugar os antigos donos do pedaço, os britânicos. É ou não é muita vontade de criar um Game of Thrones da vida real? Neste caso, sem mocinhos, só vilões.

torcida croataA bela e idílica Croácia conta com uma turminha barra pesada que leva cruzes de referência nazista e outros símbolos de apreço ao genocídio estampados em bandeiras. Há, até, uma espécie de guia dos estigmas e símbolos proibidos que os agentes de segurança franceses recebem como apostila do antifascismo. O sujeito pendurou sua bandeira na arquibancada com algo que lembre algum daqueles símbolos? Pode arrancar e deter para averiguação. Claro que às vezes os seguranças pegam pelo pescoço um garoto que só exibia o brasão de sua cidade ou de seu clube desconhecido da segunda divisão eslovaca. Desolèe, monsieur e segue o jogo.

Segue um jogo em que essas manifestações nacionalistas acabam sendo uma resposta estúpida a atos estúpidos do terror que vem de fora, do desconhecido e cada vez mais odiado Islã. O tempo passa, a roda gira e a Idade Média é aqui e agora. Com jovens lutando por pequenos territórios escondidos no interior do interior dessa aldeia global chamada Europa. Feliz Ano Velho. E bem vindos a 1370.

Curtas

Em campo, muito equilíbrio. Se não grandes equipes, grandes jogadas, muita competição, muita disputa até o fim, gols nos acréscimos e emoção. Espanha mostrando querer recuperar a auto estima. França deve chegar por ser dona da casa, ter mãozinha da arbitragem (como no pênalti não marcado a favor dos suíços), mas ainda não teve grande exibição? Alemanha é outra que ainda não me convenceu. Itália… vai saber. É a Itália. Gostei mesmo foi de ver o País de Gales jogando. Troca de passes, enfiadas de bola, um grande jogador, que é o Bale, dando a alma pela sua seleção.

ordem de desfile 2017E no carnaval…

Sorteio do Grupo Especial. Acompanhei de longe. Destaque, claro, para a reedição da tabelinha Portela-Mangueira. Agora desfalcados do Salgueiro na segunda-feira. Sal volta ao seu habitual domingo dos últimos anos. Boa posição da Beija-Flor e seu enredo que promete. São Clemente fez o certo ao trocar com a Mangueira. É besta de querer correr riscos?

Posição desfavorável mesmo eu só vi para a Grande Rio. O horário pode até comprometer a presença da própria Ivete, que deve ter algum trio para animar em Salvador no domingo à tarde. Nada que um jatinho particular não resolva. Depois eu me aprofundo no tema dos desfiles do Especial.

Au revoir. À bientôt.

Imagens: SporTv, O Globo e Site Carnavalesco

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One Reply to “O samba da Europa doida”

  1. Ótima descrição desses animais que infelizmente mancham a Euro, Carlos, e que mostram o perigoso crescimento do pensamento ultraconservador na Europa. Felizmente, imagens como a dos torcedores do País de Gales chorando emocionados com sua seleção e a cantoria da torcida da Irlanda do Norte nos fazem crer que esses neonazistas são (ainda) minoria. Mas também é interessante constatar que algumas pessoas que estão no meio dessa porradaria toda são as mesmas que ficam de mimimi de vir para as Olimpíadas por medo do Brasil… E lembrando: equipes da Bandeirantes e do Esporte Interativo foram agredidas fisicamente e verbalmente pelos animais travestidos de torcedores.

    Mas, sobre a parte boa da Euro: Os jogos têm me surpreendido bastante, de tão impressionante que é o equilíbrio, seleções consideradas de “segunda linha”, com um forte sistema de marcação, e sem abdicar do ataque, conseguem fazer frente as poderosas Alemanha e Espanha, por exemplo. Interessante também que, como alternativa para furar essa barreira, as grandes seleções ataquem com cada vez mais jogadores, como os laterais, que posicionam-se quase na linha lateral, bem abertos. Acredito que essa Eurocopa mostra o que será o futebol daqui para a frente, que é o time ser realmente um time, com praticamente todos os jogadores atacando e TODOS defendendo, com muita velocidade e inteligência. E nada de perder gol feito…

    Sobre o sorteio do Carnaval: Encerramento de domingo com Salgueiro e Beija-Flor já impressiona, mas encerrar a segunda-feira com Tijuca, Portela e Mangueira? Haja coração!

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