*Gabriel Pessoa é engenheiro e tem 18 anos de desfiles pela Grande Rio, sendo 15 na Bateria, tocando tamborim

Antes de tudo, obrigado pela oportunidade de escrever sobre a minha escola do coração no Ouro de Tolo. Para uma escola tão jovem, escolher dez grandes sambas é uma honra e isso mostra a força da comunidade caxiense. Mas vamos à lista!

10 – “Ei, Ei, Ei Chatô é nosso Rei” (1999)

Classifico este samba como um dos favoritos mais por um lado emocional do que por um lado de qualidade da obra. Esta foi a trilha sonora para a realização do sonho de uma criança, que todo domingo assistia à Grande Rio fazer seus ensaios na rua onde morava. Aos 14 anos de idade, eu fazia meu desfile pela escola e de la pra cá a paixão só aumentou. Falando do samba em si, o considero regular. No entanto serviu perfeitamente para embalar mais um grande carnaval do competente Max Lopes. Ao final empatamos com o Salgueiro em quinto, mas no quesito Bateria, que serviu para desempate, acabamos ficando em sexto, adiando por mais um ano o retorno ao sábado das Campeãs. Neste ano, intérprete e bateria foram premiados com o Estandarte de Ouro.

“Brilhou ô ô ô uma luz lá no agreste
Vem meu povo ver de perto
O cabra da peste que na Paraíba nasceu”

9 – “Gentileza, o profeta do Fogo” (2001)

Além da beleza deste samba, este ano foi marcado pela grande expectativa da estreia do grande mago do carnaval Joãozinho Trinta em nossa escola. Com um enredo poético sobre o profeta Gentileza, a Grande Rio foi a última escola a desfilar, apresentando um carnaval imponente e luxuoso, bem nas características do seu criador. Como não lembrar do “homem voador” cruzando o céu da Marques de Sapucaí, fazendo com que a escola virasse noticia em todos os meios de comunicação, o que de fato não era comum. A reação do publico e inclusive de nós, componentes (afinal para nós também era surpresa), foi de espanto e euforia. Enfim, Joãozinho sendo Joãozinho e escrevendo mais uma página no seu vasto livro do carnaval.

“Com a sabedoria universal
Pregava contra o mundo desigual
Gentileza gera perfeição
Violência não”

8 – “Y-jurerê Mirim – A Encantadora Ilha Das Bruxas (Um Conto de Cascaes) (2011)

Apesar da grande tristeza que tivemos neste ano, classifico este samba como um dos melhores, tendo como base a seguinte palavra: superação!!! Em um primeiro momento, eram olhares de desespero, que com o passar do tempo se encheram de esperança e, por fim, orgulho. Poder ter participado como voluntário na reconstrução do carnaval da minha escola, poder chegar na concentração e ver que a Grande Rio estava lá, humilde mas pronta. Por fim, sob uma chuva torrencial receber o carinho de todos que estavam na Sapucaí faz com que este desfile e por consequência o samba tenham um espaço muito especial guardado na memoria e no coração de cada componente da escola.

“Rezei forte nesse chão
Sai pra lá assombração
Já peguei meu patuá”

7 – “Alimentar o corpo e a alma faz bem” (2005)

Dos quatro sambas que fizeram parte da final deste ano, três composições foram utilizadas para elaboração deste samba. Após a saída de Joãozinho Trinta, Roberto Szaniecki retornava à escola para desenvolver o enredo sobre a alimentação, e junto dele uma grande desconfiança por parte de todos os segmentos. No entanto, a escola apresentou mais um desfile grandioso, que nos credenciou mais uma vez desfilar entre as campeãs. Mas o que mais marca neste ano foi o fato de Mestre Odilon e seus ritmistas terem conquistado TODOS os prêmios de Melhor Bateria da imprensa especializada. Fazer parte de tudo isso foi muito especial.

“A Mensagem de paz Grande Rio nos traz
A verdade da vida, o prazer de viver
Alimentar o corpo e a alma faz bem, meu bem querer”

6 –  “O Nosso Brasil que Vale” (2003)

Como toda primeira vez a gente nunca esquece, este samba torna-se um dos favoritos por ter sido a trilha que marcou nosso primeiro desfile junto às campeãs, o que para toda comunidade foi um motivo de muita comemoração. O mestre Joãozinho Trinta assinava seu terceiro desfile pela escola e desenvolveu um carnaval grandioso e repleto de luxo. Outro ponto que tornou marcante, principalmente para mim, foi poder ouvir este samba cantado pelo Vander Pires, de quem sempre fui fã e fazia sua estreia como interprete da escola.

“O orvalho molha as flores
Pro Vale do Rio Doce eu vou
Os passarinhos voando, entoam um canto de paz
Enquanto danço com índios em Carajás”

5 – “Águas Claras para um Rei negro” (1992)

Embora com apenas sete anos de idade, minhas primeiras lembrança de um desfile da Grande Rio foram do desfile de 92. A escola, que voltava para o Grupo de Acesso após o rebaixamento no ano anterior, fez um desfile arrebatador, digno de uma grande escola, e acabou levando o titulo e conquistando novamente a vaga para desfilar entre as escolas do Grupo Especial. O samba preferido para a maioria dos componentes da velha guarda da escola.

“Para ser livre
Nunca é tarde demais (bis)
Onde há fé e esperança
A crença não se desfaz “

4 – “O Cavaleiro da Esperança” (1998)

A ousadia e a coragem de levar um tema político serviram como um divisor de águas para a Tricolor de Caxias. O carnavalesco Max Lopes, que assinava deu primeiro carnaval pela Grande Rio, apresentou um grande desfile, e o público reagiu de forma bastante positiva, fazendo com que a escola deixasse a Sapucaí aos gritos de “é Campeã”. Apesar do “ah eu ‘tô’ maluco amor”, que acabou ferindo a poesia do samba, ainda sim podemos classificá-lo como uma grande obra. O trecho “Sonhos de P de Coragem, cheios de C de Paixão” sempre me chamou atenção pela forma que os compositores encontraram para fazer referencia ao Partido Comunista em sua obra. Neste mesmo ano, surge uma das melhores baterias do carnaval, sob a regência de mestre Odilon.

“Luiz do proletário carleando a nação
Enfrentou adversários
Fez do verbo o seu canhão
Sonhos de P de coragem
Cheio de C de paixão.”

3 – “Madeira Mamoré, a volta dos que não foram lá no Guaporé” (1997)

Uma obra prima! É assim que vejo este samba, e por este motivo o classifico nesta posição. Ainda não desfilava pela escola, mas tenho lembranças de criança, acompanhando todo os domingos o ensaio de rua, que aconteciam justamente onde eu morava. A escola apresentou um belo enredo, samba e plástica, no entanto de um modo geral foi um desfile bem regular, suficiente para se manter no grupo. Mas nem isso maculou esta linda obra, que sempre é cantada em nossos ensaios.

“Olha o índio no caminho, é caçador
Meu cavalo é de fogo, eu vou que vou
Se a selva é perigosa, meu amor
Rondônia é alegria, esqueça a dor.”

2 – “Os Santos que a Africa não viu” (1994)

Com um enredo sobre a Umbanda, a Grande Rio possuiu, sem dúvida, um dos sambas mais bonitos do ano de 94. Apesar do excelente enredo e a magnifica interpretação do Nêgo, ambos ganhadores do Prêmio Estandarte de Ouro, a escola apresentou vários problemas em seu desfile, que a acabou levando às últimas colocações. No entanto, mais uma vez conseguiu se manter no grupo de elite do Carnaval. Apesar do desfile regular, ate hoje este samba é cantado na quadra da escola, sendo o xodó da maioria na ala das baianas da escola. É um grande legado deste carnaval.

“Quem sou eu… Quem sou eu?
Tenho o corpo fechado
Rei na noite sou mais eu!!!”.

1 – “No mundo da Lua” (1993)

Sem sombra de dúvidas é o samba mais popular da Grande Rio. Com um enredo que exaltava a Lua, a escola fez um grande desfile que a levou ao nono lugar, fazendo com que permanecesse dentre as escolas do Grupo Especial. Poucos talvez saibam, mas este samba é resultado de uma fusão de três obras realizada pelo então diretor de carnaval Laíla e tinha como compositores Nêgo, G. Martins, Adão Conceição, Carlinhos P2, Dicró, Jacy Inspiração, Juarez Dy Galvoza, Mais Velho, Rocco Filho e Ronaldo. Devido à sua grande popularidade, durante muito anos foi utilizado como samba para o “esquenta” dos desfiles da escola na Marquês de Sapucaí.

“Salve Ogum D’Ylê
Na imaginação de um guardião
É lindo ver a tua imagem
Encantando a multidão”

9 Replies to “TOP 10: Grande Rio (por Gabriel Pessoa*)”

  1. Lista interessante Gabriel, você procurou equilibrar as duas fases da escola no Especial. até 2003 e após 2003. Porém não aprecio os sambas de 2003 e 2005, os substituiria por 1996 (Na Era dos Felipes o Brasil era Espanhol), que gerou um alusivo que eu adorava ver nos sambas da escolas (“Imponho sou Grande Rio, amor, dando um banho de cultura, eu vou”) e 2006 (Amazonas, o Eldorado é aqui), que poderia inclusive ser o maior samba da história da escola, caso tivessem optado pela grande obra de Cláudio Russo para aquele Carnaval.

    Uma questão interessante da Grande Rio é que, pelo menos na minha visão, conforme mais a escola foi ficando competitiva e melhorando seus resultados, mais o nível dos seus sambas foi caindo. Por que essa diferença? Será que não dá para voltar a escolher bons sambas sem perder o alto padrão de desfile que a escola tem hoje? A meu ver, quando conseguir encontrar esse equilíbrio, aí sim a Grande Rio estará com todas as condições de realizar o sonho de sua comunidade e ser a grande campeã do Carnaval, sem contestações.

    1. Pois é, vim seco pra ver esse samba aqui!! Se a lista fosse minha, caiam fácil 2001 e 2005. E entrariam 1992 e 1996.

      Mas o pódio está perfeito!! “O mundo da lua” está para a GR, como alguém já disse, como o “Ita” está para o Salgueiro!!

  2. Bom texto e boas escolhas, se bem que, pra mim, entrariam fácil 1996, 2008 e 2009 nos lugares de 1999, 2001 e 2005.

    Mas o teu pódio ficou ótimo!! “O mundo da lua” é um sambaço!! Uma pena não estar no disco oficial de 1993!!

  3. Falha imperdoável, na minha opinião, é não ter o excelente “Na Era dos Felipes, o Brasil era Espanhol”, melhor que muito samba aí.

    Para mim, o melhor da história da GR, com o samba de 1994 em segundo e o de 1993 em terceiro. Mas opinião é opinião…

  4. Como assim não tem o samba de 96 nessa lista? Sequer uma citação por parte do autor!
    Desculpe-me dizer isso, mas você deve ter tomado vinagre com limão no carnaval de 96 pra não ter gostado desse samba.

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