A fase pré-carnavalesca foi marcada por uma mudança na presidência da Liga Independente das Escolas de Samba, a Liesa, ainda no fim de 1998. Com o falecimento de Djalma Arruda, o cargo ficou com Luizinho Drumond, patrono da Imperatriz Leopoldinense.

Depois do título dividido entre Mangueira e Beija-Flor, o critério de julgamento foi mudado pela enésima vez. O número de julgadores por quesito passou de cinco para três, e nenhuma nota seria mais descartada. O objetivo era reduzir o risco de empates.

As duas campeãs, como sempre acontece, viraram o centro das atenções na preparação para 1999. E uma novidade para tentar alavancar as vendas dos CDs de sambas-enredo, se ajudou a aumentar ainda mais a popularidade das agremiações naquele período, também rendeu críticas.

Os cantores Alexandre Pires e Belo, que viviam o auge da fama com seus grupos de pagode Só Pra Contrariar e Soweto, foram convidados para cantar ao lado de Jamelão e Neguinho nas faixas de Mangueira e Beija-Flor. Para muitos na época, deveria valer a frase “cada macaco no seu galho”. Na avenida, Belo também cantou com Neguinho, mas na Mangueira Alexandre não esteve carro de som.

De qualquer forma, as duas escolas tinham os dois melhores sambas do ano (ao lado da Mocidade). A Mangueira teria como enredo “O Século do Samba”, numa homenagem ao gênero musical mais popular do Brasil e aos seus grandes nomes. Já a Beija-Flor faria uma viagem à cidade mineira de Araxá.

Quem também falaria sobre Minas Gerais seria a Portela, enquanto a Imperatriz Leopoldinense voltaria a adotar uma temática histórica, ao lembrar o trabalho de pintores holandeses no Brasil do século XVII. Já a Viradouro prestaria uma homenagem a Anita Garibaldi e a Mocidade, a Villa Lobos, também com um grande samba, além da volta de Mestre Jorjão.

Vila Isabel e Salgueiro fariam enredos sobre cidades nordestinas: João Pessoa e Natal. Grande Rio e União da Ilha homenageariam duas personalidades da comunicação brasileira: Assis Chateaubriand e Barbosa Lima Sobrinho. O enredo da Caprichosos seria sobre o cirurgião plástico Ivo Pitanguy e a busca do ser humano pela beleza.

Completavam o Grupo Especial de 1999 a Tradição, com enredo sobre o bairro carioca de Jacarepaguá, e as duas escolas que subiram do Acesso: Império Serrano, que contaria a história dos brasileiros que tentavam ganhar a vida em Nova York, e a São Clemente, com homenagem a Rui Barbosa.

OS DESFILES

A escola da Zona Sul não fez uma boa apresentação ao contar a vida do advogado, jornalista e político. Além de o samba não dos mais comentados, o intérprete Serginho do Porto assumiu o posto de cantor principal no lugar de Márcio Souto só depois da gravação do CD. De qualquer forma, a escola não esteve bem nos quesitos de pista como harmonia e evolução.

Já a bateria assistiu de perto ao embate entre as madrinhas Nana Gouvêa e Solange Gomes – segundo os jornais da época, por pouco ela não chegaram às vias de fato.

Sem grandes recursos, a escola não pôde ousar nas alegorias, que também apresentaram problemas de acabamento. O segundo carro, por exemplo, tinha danos consideráveis na principal escultura. De cara, surgiu uma candidata forte ao descenso.

União da Ilha 1999 - comissão de frenteSem o intérprete Rixxa, que foi deixou a escola depois da gravação do CD, a União da Ilha enfrentou outras dificuldades para colocar na avenida o enredo sobre Barbosa Lima Sobrinho. A um mês do desfile, a escola enfrentou um incêndio e, depois, uma enchente, o que prejudicou o barracão. Tudo foi refeito às pressas em regime de mutirão.

Além dessa questão operacional, que já comprometeria o conjunto visual da escola, recebeu críticas a comissão de frente (foto), formada por drag queens “grávidas”. Explicou o carnavalesco Milton Cunha: “É o Brasil moderno, grávido de Justiça. São drags politizadas, que leem jornal, produto do século vivido por Barbosa”.

O samba, defendido pelo compositor Maurício 100 e pelo cantor Roger Linhares, era agradável e empolgou o público, além de ter sido muito bem cantado pelos componentes. O jornalista, mesmo lúcido aos 101 anos de idade, preferiu não participar e viu emocionado o desfile pela TV.

Uma neta e um bisneto representaram Barbosa numa alegoria, e havia um rosto do jornalista formando a bandeira nacional. Pena que a evolução da escola ainda tenha sido prejudicada pelo desmaio de uma baiana, o que abriu um grande espaço na pista.

Depois do quarto lugar de 1998, havia boas expectativas para o desfile da Portela, que escolheu o enredo “De volta aos caminhos de Minas Gerais”. Mas a Azul e Branco desta vez decepcionou e não fez uma apresentação à altura das suas tradições.

Para começar, o samba-enredo, embora tivesse letra e melodia corretas, não estava entre os melhores do ano, o que é sempre surpreendente em se tratando de Portela.

Além disso, na sua volta à escola, o carnavalesco José Félix não conseguiu surpreender nas alegorias, embora algumas tivessem bom efeito, como o abre-alas com a águia e o carro da Maria Fumaça. As fantasias estiveram superiores, agradaram muito as que representavam a culinária mineira.

Mas as grandes falhas da Portela ocorreram justamente em dois quesitos em que normalmente a escola é forte: Harmonia e Evolução. Em dois momentos distintos, houve uma ala que praticamente ficou dividida em duas e, em outro, alas se embolaram. Foi um desfile confuso e com cara de meio de tabela.

salgueiro99A quarta escola a desfilar foi o Salgueiro. No esquenta, o intérprete Quinho cantou por sugestão dos filhos o sucesso “Erguei as mãos” do Padre Marcelo Rossi, mesmo com informações de que um pedido de liminar impetrado pela Igreja poderia impedir a iniciativa. De qualquer forma, o esquenta ajudou a levantar o público, que, pelo menos no começo do desfile, cantou com a escola o samba-enredo.

Com o tema “O Salgueiro é sol e sal nos 400 anos de Natal”, a escola fez uma boa apresentação na homenagem à capital do Rio Grande do Norte. As fantasias eram de ótimo gosto e contavam bem o enredo. Agradou muito a ala de baianas, com roupas brancas simbolizando a espuma do mar de Natal.

O carnavalesco Mauro Quintaes, estreante na escola, também obteve êxito nas alegorias, a maioria muito criativas. Um princípio de incêndio num dos carros assustou (foto acima), mas não rendeu grandes problemas. Mas o Salgueiro, como de costume, desfilou inchado, e o excesso de “componentes” com camisas de diretoria, apoio, etc, atrapalhou a evolução.  No fim, as últimas alas tiveram de correr, e o público estava mais frio do que no começo do desfile.

A Unidos de Vila Isabel também fez o que hoje se chama de “enredo CEP” e homenageou João Pessoa. Mas a simpática escola do bairro de Noel não tinha os mesmos recursos do Salgueiro e precisou recorrer a materiais mais baratos nas alegorias e fantasias. Com isso, o conjunto visual foi irregular e teve como destaque o abre-alas, com duas grandes e bem acabadas esculturas de índios.

O samba, embora correto e muito bem cantado pelos componentes, não empolgou a arquibancada. De qualquer forma, foi uma apresentação digna, com destaque para a bateria de Mestre Mug, que imprimiu bom andamento ao samba.

Em seguida, lamentavelmente o Império Serrano decepcionou na volta ao Grupo Especial. No enredo “Uma rua chamada Brasil”, sobre os brasileiros que viviam em Nova York, aspectos como a Rua 46 e o sucesso de Carmen Miranda nos Estados Unidos foram abordados.

Mas a escola não tinha grandes recursos e passou mal, principalmente nos quesitos plásticos, com fantasias nada luxuosas e alegorias que despencavam. Para piorar, houve sérios problemas em harmonia e evolução e o samba não rendeu.

Para uma escola tradicional como é o Império, confesso que achei muito estranho o abre-alas com um super-homem segurando a coroa imperial, embora isso estivesse de acordo com a proposta do enredo. Agradou mais o último carro, que tinha a velha guarda representando os brasileiros que voltavam ao país após a aventura na América.

viradouro1999A Unidos do Viradouro de Joãosinho Trinta foi a última agremiação a se exibir no domingo. E foi, sem dúvida, a melhor apresentação da noite. O enredo “Anita Garibaldi, a heroína das sete magias” rendeu polêmica antes do desfile, pois habitantes da cidade natal de Anita (Laguna-SC) protestaram pela forma como o carnavalesco prometia desenvolver o enredo, usando a personagem como fio condutor para abordar os aspectos da natureza e lendas da cidade.

Se de fato o foco do enredo acabou um tanto diferente do que poderia, o acabamento e visual da escola foram caprichados, principalmente na divisão cromática, adotando, além do vermelho, cores próximas como lilás, roxo e laranja. Nas alegorias, os destaque foram os carros “Em busca do Oriente” e “A magia dos índios Carijós”, de concepção e acabamento belíssimos. João também colocou nas alas diversas alegorias de mão.

As fantasias também estavam muito luxuosas e bem acabadas, sobretudo a da ala das baianas, representando pétalas. Por outro lado, outros figurinos, sobretudo o da porta-bandeira Patrícia, se mostraram um tanto pesados, dificultando a evolução de algumas alas.

Já o samba era vibrante e foi muito bem cantado por Dominguinhos, que reencontrou um velho parceiro dos tempos de Estácio: Mestre Ciça, que assumiu a bateria da Vermelho e Branco de Niterói e de cara imprimiu seu estilo, com um andamento rápido, mas muito firme, e paradinhas criativas e bem executadas. Além disso, os ritmistas em determinados momentos levantaram os surdos e taróis como grupos baianos, tendo à frente a rainha de bateria Luma de Oliveira.

Sem sobressaltos de evolução e com um desfile quente do começo ao fim (embora não tão vibrante como em 1997 e 1998), a Viradouro se credenciou a, na pior das hipóteses, voltar no Desfile das Campeãs.

A Tradição iniciou os desfiles de segunda-feira com “Nos braços da história, Jacarepaguá – Quatro séculos de glórias”. Foi uma apresentação chocha, pois o samba, a despeito de ter sido cantado pelo ótimo Wantuir, não era dos melhores, e a escola claramente tinha poucos recursos, com um conjunto visual que decepcionou.

Por exemplo, o último carro representava o autódromo de Jacarepaguá e não agradou na concepção, pois tinha um carro de Fórmula 1 estilizado com sandálias (?!) nas laterais… Por outro lado, a ala de crianças levava carrinhos de corrida e agradou.

Para piorar, a presença da modelo Susana Alves, a Tiazinha, como uma das rainhas da bateria, causou alvoroço na pista e uma briga entre seguranças, cinegrafistas e fotógrafos. A evolução, claro, foi comprometida e, pelo conjunto da obra, a escola corria risco de rebaixamento.

Já a Acadêmicos do Grande Rio fez uma exibição de muita qualidade para defender o enredo sobre Assis Chateaubriand. O carnavalesco Max Lopes voltou a mostrar categoria na concepção de alegorias e fantasias, mas foi um desfile marcado por dois sustos.

O abre-alas, chamado “Nascimento do Jagunço” desacoplou pouco antes da entrada e as correntes precisaram ser substituídas por cordas de sisal. Na alegoria “A Era Cibernética”, fogos de artifício acabaram resvalando em pedaços de papel na pista e causaram princípio de incêndio numa escultura – o fogo foi logo debelado.

Isso não atrapalhou o conjunto da escola, que passeou pela vida do comunicador, político e embaixador. As tradições e aspectos típicos nordestinos que o homenageado tanto amava não faltaram no desfile. Os destaques foram uma ala muito criativa representando Lampião e Maria Bonita com grandes adereços de mão, e as alegorias “Festa Junina”, que também tinha fogos de artifício, e “Maracatu”.

O desfile ainda lembrou a participação de Chatô na consolidação de meios de comunicação como jornal, rádio e televisão no Brasil, também com alegorias interessantes, e ainda a entrada dele na Associação Brasileira de Letras (a beca dos imortais da ABL era representada nas fantasias da bateria).

O samba, que não era dos mais cotados na fase pré-carnavalesca, rendeu bem no desfile, e a bateria de Mestre Odilon voltou a brilhar. A Grande Rio encerrou sua apresentação sob aplausos, mostrando que continuava melhorando a cada ano.

Outra surpresa positiva foi o desfile da Caprichosos de Pilares. Curiosamente nem tanto pelos quesitos plásticos num enredo que falava da preocupação com a beleza, mas pela incrível empolgação de seus componentes e a atuação do saudoso intérprete Jackson Martins, que levantou um samba apenas razoável e embalou o público.

O homenageado Ivo Pitanguy também recebeu a ovação do público, mas a evolução da Caprichosos foi descompassada. Muitos buracos foram abertos e a escola apertou o passo desnecessariamente, tanto que teve de parar por alguns minutos para não encerrar o desfile antes do tempo mínimo exigido.

De qualquer forma, foi uma apresentação bastante simpática e, com os desfiles mais fracos de São Clemente, Império Serrano e Tradição, o risco de rebaixamento era muito pequeno, para não dizer inexistente.

mangueira99Aguardada com grande expectativa, a campeã Estação Primeira de Mangueira fez um desfile emocionante, mas pecados acabaram comprometendo irremediavelmente a disputa pelo bicampeonato. Por outro lado, a comissão de frente que apresentou o enredo “O Século do Samba” foi simplesmente histórica e inesquecível (acima).

Depois de muito mistério nos meses anteriores ao desfile, o coreógrafo Carlinhos de Jesus revelou na avenida a grande surpresa: os integrantes eram nada mais nada menos do que Cartola, Candeia, Clementina de Jesus, Mestre Fuleiro, Clara Nunes, Noel Rosa, Pixinguinha, Donga, Sinhô, Nelson Cavaquinho, Ismael Silva, Natal, Tia Ciata e Carmen Miranda.

Mangueira - comissão de frente - 1999De que forma? Para começar, Carlinhos encomendou ao artista Vavá Torres a produção de máscaras de látex fieis às feições dos artistas. Depois, treinou com os componentes as coreografias de forma que os personagens tivessem seus maneirismos reproduzidos à perfeição. Por fim, os figurinos típicos dos artistas foram recriados por Luiz de Freitas. O requinte era tão grande, que o integrante fantasiado de Cartola usou emprestados de Dona Zica os óculos originais do grande compositor.

O resultado foi espetacular, e quem estava na Sapucaí viu os saudosos sambistas “baixarem” na pista. Uma abertura de desfile emocionante, até porque o samba era dolente e de letra impecável, o que ajudou a contagiar a escola e o público no início. O carro abre-alas também causou grande emoção, pois reunia grandes nomes vivos do samba, como Zé Kéti (que morreria naquele mesmo ano), Dona Ivone Lara, Zeca Pagodinho, Moreira da Silva e Martinho da Vila.

Mas o sacode de 1998 acabou não se repetindo, pois a escola, inchada como de costume, e talvez pela grandeza da apresentação da comissão de frente, evoluiu com lentidão no começo e precisou correr no fim do desfile. Houve grandes buracos, o que certamente causaria perda de pontos.

Infelizmente a saia da grande porta-bandeira Giovanna se soltou no meio da pista, o que atrapalhou não apenas a sua própria apresentação, como também causaria problemas na já complicada evolução da escola.

Além disso, as alegorias, embora contassem bem o enredo e preservassem as cores da escola, tiveram alguns problemas de acabamento. Já as fantasias, embora leves e mais bem acabadas, eram um tanto mais genéricas. A escola continuou cantando o samba até o fim, embalada pela excelente bateria, mas, pelos problemas apresentados, ficou um gosto de quero mais.

mocidade99Em seguida, a Mocidade Independente de Padre Miguel se recuperou do desempenho abaixo do esperado de 1998, e fez uma apresentação arrebatadora do começo ao fim. O enredo “Villa-Lobos e a apoteose brasileira”, do carnavalesco Renato Lage, contou com brilhantismo a trajetória do homenageado, com alegorias de belíssimo gosto e fantasias excelentes.

Se em anos anteriores, o grande carnavalesco foi considerado o rei do high tech, em 1999 ele concebeu os carros de uma forma clássica como o enredo pedia, com excelentes – e elegantes – efeitos de iluminação e uma divisão cromática perfeita, tanto nas alegorias como nas fantasias, valorizando as cores das belezas naturais tão presentes na vida e obra de Villa Lobos e adotando tons mais suaves em outros quadros do enredo.

mocidade99cLogo de cara, a comissão de frente surpreendeu, com seus integrantes fantasiados com um verde muito forte representando os sapos cururus na beira do rio. Era um prenúncio da adoção de cores bem fortes nos figurinos, sem, entretanto, que o visual ficasse pesado.

mocidade 1999 aUm dos carros alegóricos mais comentados do desfile foi o que representava uma orquestra, com o ator Marcos Palmeira fazendo o papel de Villa Lobos (foto abaixo). Havia ainda um trem caipira dando voltas e um painel com o rosto do homenageado. A ala que mais me agradou foi a de bonecões que retratavam o bloco “Sôdade do Cordão”, idealizado pelo compositor para resgatar as tradições dos antigos Carnavais.

O samba-enredo, que rivalizava com os de Beija-Flor e Mangueira como os melhores do ano, teve desempenho fabuloso na avenida, graças à sua rica melodia, letra fiel ao enredo e às excepcionais atuações do intérprete Wander Pires e da bateria, que tinha a volta de Mestre Jorjão. Aliás, a cadência foi simplesmente extraordinária, remetendo aos desfiles dos anos 80, na época em que o andamento de samba era fielmente respeitado.

Mas um pecado acabou prejudicando a escola. Houve dificuldade para a colocação dos destaques nos carros alegóricos, e um dos elementos demorou demais a entrar na pista, o que causou um grande buraco na evolução no começo da avenida. Depois, já na dispersão, a alegoria “Regozijo de uma raça” imprensou três componentes – um deles teve fratura exposta no antebraço.

Apesar do contratempo, a Mocidade deixou a avenida ovacionada pelo público, que gritou “é campeã”. De fato, a Verde e Branco fez a melhor apresentação até aquele momento, com tudo o que se exige para um bom desfile: requinte visual, vibração e correção na abordagem do enredo. Mas, com os problemas de evolução, a vitória estava em xeque, até porque restavam os desfiles de duas escolas fortíssimas.

Beija-flor 1999 - comisão de frentePenúltima escola a desfilar, a Beija-Flor de Nilópolis fez uma apresentação melhor do que a que lhe deu o campeonato de 1998 e se credenciou como grande favorita ao título ao cantar Araxá. Isso porque, não apenas esteve visualmente e conceitualmente brilhante, como não cometeu as falhas de suas principais rivais e ainda conquistou o público.

A comissão de frente tinha sete casais que representavam o passeio da corte portuguesa na chegada em 1808. Os figurinos estavam impecáveis (foto ao lado) e as coreografias, baseadas no minueto, eram bastante elegantes, com as mulheres segurando sombrinhas.

As alegorias foram maravilhosas. Um dos destaques foi abre-alas, representando o significado da palavra Araxá (lugar de onde primeiro se avista o sol), que dava nome a uma tribo de índios cataguases que chegou ao local onde é hoje a cidade. O carro era gigantesco e de cores bem fortes, além de ter esqueletos dos animais que habitavam a região.

Agradou muito também o carro “Aguas Milagrosas” que simbolizava uma cachoeira, com uma queda d’água, e tinha ótimo acabamento, com representação fiel de rochas, plantas e flores, além de belíssimas mulheres. A alegoria “Colonizadores”, com carruagens e construções históricas, também era lindíssima.

Beija-flor 1999 - baianasAs fantasias, classudas quando o enredo falava sobre o século XVIII e multicoloridas quando se referiam à natureza de Araxá, também eram perfeitamente adequadas ao enredo, com uma excelente divisão cromática.

O samba, que já era considerado um dos melhores do ano (ganhou o Estandarte de Ouro de “O Globo”), rendeu de forma impressionante, com um inspirado Neguinho com seus filhos Ângela e J.R. e Belo o auxiliando. A bateria comandada por Mestre Paulinho também esteve muito firme, e tudo isso levantou os componentes.

A comissão de Carnaval liderada pelo experiente Laíla aderiu à tecnologia, e os diretores de harmonia tinham rádios para se comunicarem ao longo da pista. Como resultado, a evolução da escola foi coesa e sem descompassos. Com justiça, a  Beija-Flor foi recebida na Apoteose com gritos de “bicampeã”.

imperatriz99A Imperatriz Leopoldinense encerrou o desfile com um enredo interessante, mas de nome complicado: “Brasil mostra a sua cara em… Theatrum Rerum Naturalium Brasiliae”. O tema remetia ao século XVII, quando pintores holandeses fizeram uma missão ao Brasil durante o governo de Maurício de Nassau em Pernambuco para retratar a natureza do país.

Em termos de concepção e divisão cromática, a carnavalesca Rosa Magalhães voltou a mostrar a capacidade de sempre, com uma bela reprodução dos quadros pintados e das riquezas retratadas pelos pintores. Mas desta vez houve problemas de acabamento em alegorias. Por exemplo, no carro abre-alas, que representava o barroco da época, havia partes de madeira expostas. Em outros carros, alguns materiais se soltaram.

Por outro lado, a comissão de frente liderada por Fábio de Mello (foto), mais uma vez esteve perfeita, representando a nobreza holandesa. Além de estarem impecavelmente trajados, os componentes fizeram lindas coreografias, uma delas formando o mapa do Brasil. No trecho do samba que falava “Brasil, mostra tua cara”, os integrantes lançavam tecidos em tons de verde e amarelo, o que também rendeu ótimo efeito.

Já as fantasias, embora estivessem muito luxuosas e contassem bem o enredo, eram grandes e pesadas. Foi possível ver diversos componentes evoluindo com dificuldade, pois tinham de segurar chapéus e esplendores. A ala de baianas, por sinal, estava lindíssima, representando borboletas, mas as senhoras fizeram evoluções mais tímidas com receio de alguma parte da fantasia cair – o que ocorreria do meio para o final do desfile com as costas da roupa.imperatriz99b

Falando em baianas, numa das diversas falhas da direção de harmonia da escola, a ala ficou muito separada do sempre impecável casal de mestre-sala e porta-bandeira formado por Chiquinho e Maria Helena. Quando a bateria entrou no recuo (de lado, algo inusitado), outro buraco se formou. E, com a evolução apressada da escola durante todo o desfile, as últimas alas foram obrigadas a parar para que a Imperatriz não passasse abaixo do tempo mínimo.

Outros dois problemas foram em samba-enredo e em bateria. Mesmo com Preto Jóia e Rixxa fazendo ótima condução, o samba não pegou, e parte do público deixou o sambódromo ainda no meio do desfile. Para piorar, a bateria (que tinha a grávida Luiza Brunet à frente) surpreendentemente não esteve no seu melhor dia, pois, além de ter imposto um andamento muito rápido, se embolou em algumas paradinhas e, em pelo menos uma vez, atravessou a ponto de os puxadores hesitarem – foi possível ouvir Rixxa recuperando a harmonia.

Falando em harmonia, talvez pelo excesso de peso das fantasias e pelo samba pouco vibrante, os componentes não cantaram como se deve e, principalmente, do meio para o fim do desfile, alguns evoluíram sem muito ânimo. Por essas e outras, a Imperatriz fechou seu menos brilhante desfile em anos sem passar a impressão de que brigaria pelo campeonato, já que foi uma apresentação muito irregular, e os pontos altos (que existiram) ficaram em segundo plano devido às surpreendentes falhas.

REPERCUSSÃO E APURAÇÃO

Após os desfiles, o favoritismo do público e da crítica ficou dividido entre três escolas: Beija-Flor, Viradouro e Mocidade. Pro meu gosto, a Mocidade fez o desfile mais agradável do ano, mas a vitória sem dúvida seria difícil devido aos problemas já citados. Diante disso, analisando também os quesitos, a Beija-Flor deveria ter conquistado com tranquilidade o título de 1999. Mas na apuração a história foi outra.

No primeiro quesito (Mestre-Sala e Porta-Bandeira), a Mocidade já perdeu 0,5 ponto em relação às adversárias. Já o quesito Fantasia pode ser considerado estranho: a Viradouro perdeu meio ponto porque, segundo o jurado, os figurinos dificultavam a dança dos componentes, o que de fato aconteceu, mas a Imperatriz, cujos componentes claramente tiveram fantasias ainda mais pesadas e evoluíram sem a mesma fluidez, levou três notas dez – e ainda houve o caso das roupas das baianas se desmanchando.

Em Alegorias e Adereços, apenas as três favoritas mais a Grande Rio levaram três notas dez. Mas surpreendeu que a Imperatriz, depois dos visíveis problemas que teve, foi punida por apenas um jurado em meio ponto.

Em Evolução, a Mocidade, que ainda não estava tão descolada das três primeiras apesar de já ter perdido pontos, acabou levando um 7,5 que acabaria irremediavelmente com as poucas esperanças de título. No quesito Harmonia, mais três dez para a Imperatriz, cujos componentes passaram de forma mais tímida ao cantarem o samba, enquanto Viradouro e Beija-Flor foram canetadas. Também em Samba-Enredo, a Imperatriz, mesmo tendo uma obra inferior à de várias adversárias, levou mais três notas dez.

O último quesito foi Bateria, e, mesmo com Beija-Flor e Viradouro tendo levado notas máximas, a vitória da Imperatriz foi consolidada porque a escola levou três dez, mesmo tendo atravessado. A Verde e Branco de Ramos somou 269,5 pontos, 0,5 ponto à frente da vice Beija-Flor, que foi seguida por Viradouro (267,5) e Mocidade (266,5).  O Salgueiro ficou em quinto, e a Grande Rio superou a Mangueira para ficar em sexto, seu melhor resultado até então. Foram rebaixadas as duas escolas que haviam subido: Império Serrano e São Clemente.

“Técnica por técnica, a Beija-Flor ganhou no ano passado. Esse ano foi a nossa vez”, disse o diretor da Imperatriz Marcos Drumond.

O resultado gerou bastante polêmica, e foi o título considerado mais injusto de uma escola desde que a Mangueira foi campeã em 1987 mesmo sem ter feito um desfile para ficar sequer entre as cinco primeiras. A Imperatriz, a despeito de alguns bons momentos, cometeu vários erros que não eram normais e teve uma apresentação aquém na comparação com várias outras escolas, além de não ter empolgado o público.

O Desfile das Campeãs foi marcado por protestos dos componentes e torcedores das escolas derrotadas, principalmente da Beija-Flor. Simpatizantes da escola não pouparam o jurado de Evolução que tirou o 0,5 fatal para a Azul e Branco: “De quanto foi o cachê, sr. Carlos Pousa?” eram os dizeres de uma faixa. O mesmo julgador foi o que deu o 7,5 para a Mocidade, e o carnavalesco Renato Lage também chiou: “Foi uma nota muito rigorosa”.

A Mocidade foi a escola mais aplaudida da noite, enquanto a Imperatriz foi muito hostilizada antes mesmo do desfile. Na concentração, ouviram-se gritos de “É marmelada” e, para piorar, o sistema de som parou de funcionar durante a passagem da escola, o que fez o público que restava irromper em vaias. O patrono da Imperatriz e presidente da Liesa, Luizinho Drumond, não ligou: “Não é o povo que julga e, sim, os jurados”.

RESULTADO FINAL

POS. ESCOLA PONTOS
Imperatriz Leopoldinense 269,5
Beija-Flor de Nilópolis 269
Unidos do Viradouro 267,5
Mocidade Independente de Padre Miguel 266,5
Acadêmicos do Salgueiro 265
Acadêmicos do Grande Rio 265
Estação Primeira de Mangueira 264
Portela 256
Caprichosos de Pilares 253,5
10º União da Ilha do Governador 253
11º Unidos de Vila Isabel 251,5
12º Tradição 250
13º Império Serrano 248,5 (rebaixada)
14º São Clemente 233,5 (rebaixada)

tijuca99Já o Grupo de Acesso foi marcado por um extraordinário desfile da campeoníssima Unidos da Tijuca, um ano após o injusto rebaixamento do Grupo Especial. Com o enredo “O Dono da Terra”, a agremiação do Borel levou para a Sapucaí os índios e suas tradições, além da relação deles com a natureza desde antes do Descobrimento.

O carnavalesco Oswaldo Jardim fez um brilhante trabalho na concepção de alegorias e fantasias, melhores do que muitas escolas do Grupo Especial daquele ano. A comissão de frente com curumins e suas danças, é inesquecível.

Inesquecível também é o samba de Vicente das Neves, Carlinhos Melodia, Haroldo Pereira, Rono Maia e Alexandre, defendido por David do Pandeiro. Foi o melhor samba-enredo daquele Carnaval em todas as divisões, e um dos melhores da década no Rio de Janeiro.

A superioridade da Tijuca foi tão grande, que a escola atingiu 180 pontos contra 172 da vice-campeã Unidos do Porto da Pedra. Unidos da Ponte e Unidos de Villa Rica desceram para o Acesso B, enquanto subiram a Acadêmicos da Rocinha, a Inocentes de Belford Roxo (que mudaria seu nome para Inocentes da Baixada em 2002 e mais tarde voltaria ao nome original) e a Paraíso do Tuiuti.

CURIOSIDADES

– A TV Bandeirantes transmitiu os desfiles do Grupo Especial pela primeira vez desde 1985, com narração de Luciano do Valle e Astrid Fontenelle. A vinheta de Carnaval da emissora tinha como estrela Susana Alves, a Tiazinha, que vivia o auge da popularidade pela sensual personagem que vestia cinta-liga e usava chicote no Programa H, apresentado por Luciano Huck. Quem fez as entrevistas nos camarotes foi Silvia Poppovic.

– Na Globo, Renata Capucci dividiu a narração com Fernando Vanucci. Aliás, seria o último desfile narrado por ele na emissora, pois o profissional seria demitido após o famoso episódio do biscoito, meses depois.

– Wander Pires declarou que o desfile da Mocidade em 1999 foi o mais marcante da sua carreira. De fato, além de o desfile ter sido muito bom, pela sua atuação, Wander merecia mais um Estandarte de Ouro. Quem levou o prêmio foi Nêgo, que, de fato, também teve ótima condução no samba da Grande Rio.

– O intérprete Gera, que estava na Vila Isabel desde 1984, fez seu último desfile pela agremiação como cantor principal. No ano seguinte ele seria contratado pela Portela. Já Preto Joia, que era o intérprete oficial da Imperatriz desde 1991, também se despediu da escola – ele voltaria nos desfiles de 2007 e 2008, e depois em 2020, como apoio.

– A Mangueira não conseguiu sequer chegar ao Desfile das Campeãs, mas a histórica comissão de frente voltou a marcar presença no sábado e fez uma exibição na área de concentração, novamente arrancando aplausos do público.

– A produção do CD de sambas enredo aboliu a chamada “gravação ao vivo”, que de fato era mais dispendiosa por ser realizada no Teatro de Lona da Barra da Tijuca, e preparou as 14 faixas em estúdio. Para os amantes do samba foi um retrocesso, pois tirou um pouco do clima quente das gravações.

– Depois do imbróglio (não gosto dessa palavra, mas vida que segue) do Salgueiro com a Gravasamba em 1998, a Academia do Samba voltou a participar das gravações com a BMG.

CANTINHO DO EDITOR – por Pedro Migão

Sobre o desfile da Portela, pouco a acrescentar ao texto. A Direção de Harmonia teve uma atuação bastante aquém do que seria ideal.

Alexandre Pires deu declarações bastante desagradáveis quando da gravação do CD, na linha: “eu sou o verdadeiro samba e vim aqui emprestar um pouco do meu prestígio para levantar o moral de vocês.” Declarou também que não conhecia Jamelão, com quem dividiu a faixa.

Segundo o livro recém-lançado sobre a história da escola, da jornalista Bárbara Pereira, Renato Lage não gosta de fazer enredos homenageando pessoas, mas foi convencido pela esposa e parceira Márcia Lage, fã incondicional de Villa Lobos.

Este foi o último ano no qual as campeãs do Grupo de Acesso A participaram do Desfile das Campeãs. Um dos autores de “O Dono da Terra” entrou na Justiça requerendo os direitos de arena da execução do samba, e, como resposta, a Liesa cortou estas escolas a partir de 2000. Houve tentativas por parte da Riotur de retornar ao menos com a campeã em 2004 e 2012, mas sem sucesso.

Aliás, a apresentação da Tijuca teria facilmente chegado ao Desfile das Campeãs caso a escola tivesse desfilado no Especial. O mesmo ocorreria em 2003 com Paraíso do Tuiuti e União da Ilha, e incrivelmente nenhuma das duas subiu naquela oportunidade – mas esta é outra história…

O samba da Mangueira é na verdade de autoria de um outro famoso compositor, ligado a outra escola de samba – e que, obviamente, não assinou na Verde e Rosa. Era o início da história dos “escritórios” de samba enredo.

Vale destacar a antológica apresentação de Jackson Martins pela Caprichosos de Pilares. A escola também trazia um carro alegórico retratando vítimas de queimaduras, de gosto um tanto quanto duvidoso.

Curiosamente o Império Serrano não abriu o desfile de segunda-feira, embora tivesse sido o campeão do Grupo de Acesso do ano anterior. Tal posição foi ocupada pela Tradição, que faria um de seus muitos desfiles merecedores de rebaixamento até finalmente encontrar o descenso em 2005.

O meio ponto perdido em Alegorias pela Imperatriz seria uma das únicas notas diferente de 10 que a escola teria tanto em seu tricampeonato como na passagem de Luizinho Drumond pela Presidência da Liesa. Pelo menos aos olhos dos jurados, o estado da arte em desfile. Vale lembrar que a quadra da escola estava fechada na apuração de 1999.

Como já escrevi em uma “Nota do Editor” à coluna do compositor Aloisio Villar, o samba da União da Ilha tem versos no mínimo inusitados tendo em vista a idade provecta do homenageado: “Mente Sã, Corpo são, entregou a paixão/Ao amor de uma mulher/Deixa, Deixa eu te amar/Me assanha com seus beijos/Me faz sonhar”.

Links

O desfile que deu o título à Imperatriz Leopoldinense

A ótima apresentação da Beija-Flor em 1999

A melhor exibição do ano, da Mocidade

A Mangueira e sua inesquecível comissão de frente

O excepcional desfile da Unidos da Tijuca no Acesso

 

Fotos: O Globo, Jornal do Brasil, Extra e reprodução de TV

26 Replies to “1999: Jurados mostram a cara em Theatrum Naturalium e dão título à Imperatriz”

  1. Boa tarde!

    Prezado Fred Sabino:

    O carnaval de 1999 já começou com gosto ruim quando da decisão da forma de gravação do álbum, que se arrastaria até 2010, quando finalmente, com o advento da Cidade do Samba, os sambas voltariam a ser ao vivo (Mesmo assim, gravações como as 1994, 1995, 1996 e 1998 ainda dão um banho nas atuais…).

    – Joãosinho Trinta voltou a abrir a Viradouro com cores escuras, mas em vez de apenas o preto de 1997, misturou-o ao lilás e ao roxo e outras cores complementares criando um efeito aquarelado muito bonito.

    – A arrancada da Caprichosos deu o tom do resto do desfile. Jackson Martins impecável na condução do samba.

    – O buraco da Mocidade ia da Presidente Vargas até quase o meio do setor 5, passando por inteiro pelo primeiro módulo de jurados ao lado do setor 3. 7,5 não foi rigoroso. Fosse uma Escola sem bandeira, poderia até ter recebido a menor nota possível…

    – Ainda sobre a Mocidade, minha alegoria favorita é a do Pierrot, cuja gola foi feita com copinhos de plástico. Não foi a primeira vez que Renato os utilizou. No enredo “Macobeba”, da Tijuca (1981) ele já havia “testado” a fórmula. Aliás, recentemente voltou a usá-los no Salgueiro em 2014, no carro do patrocinador e com resultado não muito agradável…

    Que venha 2000!

    Atenciosamente
    Fellipe Barroso

  2. a imperatriz teve um título absurdo em 1999,ano que tinha 2 anos e tinha um bigulim pequenino,rs,fora isso o mais justo seria mocidade ou beija-flor ser campeã,a imperatriz fez desfile para ser no máximo décima colocada.

    a mocidade levou 7,5 de um juiz rigoroso ao extremo,carlos pousa,que como téo lima eram super rigorosos.

    o samba da tradição é meio trash,mas é um que eu gostei mesmo ouvindo uma vez.

  3. Lembro deste carnaval de 1999 o CD com as participações do Belo (derê, derê) e Alexandre “Barata da Vizinha” Pires. Sinceramente não sei se houve precedentes, mas me surpreendeu. Talvez a intenção, como bem foi dito no texto, foi dar um toque “pop” a safra.

    Belo ainda cantaria na Mancha Verde no Grupo Especial de São Paulo. Mas no encarte do CD de 2008, na faixa da Mancha tinha um texto mais ou menos assim: “Por falta de profissionalismo o cantor Belo não participou da faixa da escola este ano.” Neste ano (e em 2009), Belo cantou na Império de Casa Verde.

    Sobre os desfiles, gostei do samba da Ilha mesmo sem o sensacional Rixxa. O delírio do Milton Cunha é algo histórico, mas ele é um bom carnavalesco.

    Destaco também os sambas da Portela e Caprichosos. Jackson novamente extraordinário! Do samba da Tradição lembro a pérola: “vou sacudir, vou balançar
    sou emergente que emoção” (talvez a primeira e ultima vez que a palavra “emergente” aparece num samba).

    E as famosas alas da diretoria, dos amigos, já causavam nas escolas (que diga a Tatuapé em 2015). Hoje eu acho que as escolas devem estar mais atentas a eles, pois as vezes podem comprometer a evolução.

    E duas vertente de enredos: o sensacional da Viradouro, falando dessa heroína brasileira e o estranho, na minha visão, da Vila.

    Mangueira e Mocidade com duas Comissões de Frente históricas. Os sambistas e os sapos cururus emocionaram e impactaram e as imagens ainda hoje impressionam pela beleza e plastica. Hoje as Comissões só usam os horrendos “elementos cenográficos”.

    Pena que a Mocidade não faturou pelos próprios erros…

    1. Tenho a impressão que a Imperatriz seria campeã ainda se desfilasse cantando funk e com todos os componentes nus e com espanadores de adereços… o mesmo se repetiria em 2001, aliás

      1. Migão, só pra entender e sem querer causar: mas a Imperatriz seria campeã, como foi em 1999 e 2001, por conta da “ruindade” das outras ou de um protecionismo dado a ela pelos jurados?

        Eu já li, pelo menos, por tres anos o título ser contestado pelos amigos que aqui contribuem….

        1. 99 e 2001 foram muito injustos. Presidente da Liesa era o mesmo da Imperatriz. Não dá para se afirmar nada, mas…

  4. No pré-carnaval desse ano, eu, em minha arrogância adolescente, achava quase certo o bicampeonato da Mangueira, pois achava o samba superior ao campeão de 98, e a escola era a mais comentada pela mídia. Ledo engano… Na verdade, como acompanhei pela tv, a impressão era que tinha sido um ótimo desfile, principalmente com a histórica comissão de frente, para mim a melhor de todos os tempos (foi mal Tijuca 2010) e a excelente condução do samba. A despeito de alguns problemas visuais, também presentes em 98, parecia que a Mangueira ia com força para o bi, o que foi dito até pelo Fernando Vanucci ao final do desfile. Porém, a nota baixa dada pelo público na pesquisa ibope feita com quem estava na Sapucaí já evidenciava que algo não tinha ido bem, reforçado pela matéria do O Globo sobre o desfile, mostrando erros primários de evolução, com pelo menos dois grandes buracos no final. Uma amiga estava no setor 11 e disse que, após um bem em frente, o público irrompeu em vaias… Logo, resultado bastante justo para escola.

    Impressão parecida também tive com a Imperatriz, apesar de achar o visual abaixo do padrão normal da escola. Porém, depois descobrimos os vários problemas de evolução e harmonia no desfile. Essa mesma amiga também disse que a escola ficou quase uns dez minutos parada em frente ao setor 11. Realmente, título bastante injusto.

    Salgueiro veio bem, na estreia do Mauro Quintaes na escola, porém, o número excessivo de convidados, que formavam um mar nas laterais da pista, acabou com as chances de título. Bailarinas que faziam uma performance nas laterais de uma alegoria ficaram completamente espremidas e algumas passaram mal, segundo reportagens a época.

    Para mim a Grande Rio merecia voltar entre as campeãs, com a Imperatriz fora, foi um belo desfile.

    Concordo com o Pedro Migão, a exibição de Jackson Martins foi excelente, a melhor de sua carreira, acredito que ele merecia o estandarte porque, ao contrário de Wander Pires e Nego, que tiveram ótimas exibições também, ele salvou um samba extremamente limitado, garantindo um desfile bem animado, o refrão do meio, do “amor, me leva, me leva que eu vou caprichar” pegou, lembro do Vanucci enlouquecido com ele…

    Acho que a Tradição até mereceu (dessa vez) a permanência, pois Império e São Clemente também foram muito mal, mas confesso que também não seria absurdo o descenso. O furor causado pela Tiazinha pode se repetir esse ano com Anitta na Mocidade…

    Mocidade, aliás, que conseguiu jogar por água abaixo um título histórico. Deu azar que o jurado era o Carlos Pousa, e não a Salete Lisboa.

    A Beija-Flor também era minha campeã, foi o desfile mais completo de 99. Curioso é que, as vésperas do Carnaval 2003, depois de mais três vice-campeonatos, o Laíla declarou que dos quatro vices consecutivos, só aceitou e achou justo 99. Vai entender…

    A Unidos da Tijuca fez simplesmente o melhor desfile da história do grupo de acesso! Trabalho primoroso do saudoso Oswaldo Jardim, e um samba extraordinário. Na minha opinião, estivesse no grupo especial (onde deveria estar, não fosse o absurdo de 98) ficaria somente atrás de Beija-Flor, Viradouro e Mocidade. Olha que a Porto da Pedra teve um desfile bem legal, mas quase não foi comentado, tamanha exuberância apresentada pelos tijucanos.

    1. Luis Fernando, senti um calafrio agora, quando lí sobre a Anitta na Mocidade este ano. Não acredito que minha escola do coração vai cair nessa de dar cartaz para “celebridades” em detrimento de uma boa harmonia e evolução.

      1. Infelizmente parece que vai Ladislau, a presença dela, bem como da Claudia Leite, bagunçou completamente o ensaio técnico da escola. Porém, ainda dá para montar um “esquema” para ao menos minimizar isso. O ideal para mim seria colocar Anitta numa alegoria, mas, se não for possível, que seja feito um isolamento adequado tanto dela quanto da rainha de bateria, senão, a evolução vai pro brejo.

        1. Pra mim colocava na ponta do Carvalhão, assim não atrapalha.

          Para uma escola que em Evolução, no ano de 2015 tirou 9.9/9.9/10 e em 2014 9,8/9,8/9,8/9,9, ela pode se dar ao luxo de arriscar.

          Torcemos…

      1. Ah Migão mas o samba é bom. Sei que você não disse que não é, mas merece ser colocado acima de muitos dos anos 90.

        1. Isso é outra história. Mas não é nem um dos cinco melhores da história tijucana – 1976 e 1980 A 1984 são melhores

          1. Questão de gosto Pedro, mas sim, esses seis são excelentes sambas, 1980-1984 foi a melhor sequência de sambas da escola. Mas acho que, numa lista dos dez mais da Tijuca, “O Dono da Terra” constaria tranquilamente.

  5. “Rodrigo, você não pode falar mal da Imperatriz em 1999 por causa das fantasias se desmanchando porque em 2004 você defendeu a Beija-Flor com o caneco”. Posso sim.

    Primeiro que os carros da BF estavam muito bem acabados até a chuva destruir tudo. No caso da Imperatriz, não teve chuva e já entraram a avenida com acabamento bem duvidoso.

    Segundo, o samba da BF é um dos melhores da escola (pra mim o terceiro). O da Imperatriz, nem é top-20 da escola.

      1. Antecipando um pouquinho 2004: no módulo 1 um carro que não se desmanchou levar 10 é perfeito, pela concepção, beleza e acabamento; o que não pode é no módulo 4 o mesmo elemento aos pedaços levar 10 também.

        1. Por isso que eu fiz o exemplo do início do desfile!! Aquelas alegorias da Imperatriz (e o acabamento delas) fizeram vergonha até pras últimas colocadas!!

          Quanto à passar… ops, Beija-Flor, bom, o samba de 2003, com seus versos finais, diz tudo.

  6. Com muito atraso, vamos comentar:

    O CD de 1999 foi apelidado pelo Anderson Baltar como “Disco de pagode-enredo”. E o CD do Grupo A conseguiu ser pior!

    Sou o único que acha que o Belo não atrapalhou o samba da Beija-Flor no CD, ao contrário, abrilhantou ainda mais. Aliás, “Araxá” é o arranjo mais lindo que já ouvi em um cd de samba-enredo.

    Sobre os desfiles: Imperatriz não deu nem pro cheiro, por mim ficava em 4°. Mangueira merecia ficar muito acima, aquela comissão de frente foi sensacional! Mocidade também fez um belo desfile, assim como a Viradouro.

    Na apuração, após o 7,5 (exagerado) da Mocidade, Wander Pires esbravejou sobre Carlos Pousa: “Tá maluco filho da puta?”

    O carnaval foi decidido ainda em Comissão de Frente. Se a Maysa Chebaddi lembrasse de dar nota a Imperatriz, talvez teríamos no mínimo um empate.

    Consta que na apuração do Acesso, Perlingeiro deu algumas risadas marotas de tanto 10 que a Tijuca recebia

    Que venha 2000!

    1. O Wander Pires nas Campeãs: “Alô, Sapucaí, vamos mostrar porque todo mundo gritou ‘campeã’ pra gente”.

      Daí o Paulinho Mocidade, em entrevista pra Band (ele era da Harmonia): “Se ele fosse um pouquinho mais inteligente e usasse o cérebro, saberia que ele jamais poderia dar 7,5 pra gente”!!

  7. Grande ano de 99. Grandes momentos de Mocidade, Beija Flor, Viradouro e Mangueira. Sobre o resultado final não há mais nada o que dizer. Todos já disseram tudo. Vendo pela TV eu acreditava que a Mangueira poderia brigar pelo Bi. E mesmo com o gritante erro de evolução ainda acreditava que a minha Mocidade estava muito no páreo. Aliás esse é o meu desfile preferido da Mocidade e também o trabalho que mais gosto do Renato Lage. Grande momento também da Tijuca que sobrou no Acesso.
    Outra: Esse desfile do Império Serrano é pra mim o pior da história da escola. Pior até que o dos Caminhoneiros em 91.

  8. A comissão de frente da Mangueira me leva às lágrimas sempre que assisto. Foi uma coisa de outro mundo!

    A Mocidade foi lindíssima! Não valeu o título, mas valeu o espetáculo.

    Esse samba do Salgueiro eu gostei demais. “É sol, é sal, é paixão, amor…” Sabia que eles não seriam campeões, mas torci muito para que ficassem entre os primeiros e eu pudesse rever o desfile no sábado das campeãs.

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