Este é o vídeo que a TV Folha tirou do ar depois da visita do governador à sede da empresa.

Censurar a imprensa, usando o relacionamento pessoal com os proprietários das empresas jornalísticas e da pressão econômica do Estado, é comum em São Paulo. Ainda assim, este é um caso especial.

Desde o primeiro momento, pelo que vazava pela internet, pelo que transbordava pelas frestas da cobertura criminosa da imprensa chapa-branca, já dava para ver que o que estes meninos faziam era extraordinário.

Mas este filme é definitivo.

A periferia de São paulo não apenas deu um nó no governo ditatorial do Estado. A meninada está dando um nó na cabeça da política tradicional – inclusive na esquerda – na academia, nos teóricos, na geração mais velha. Eles estão fazendo História. Na volta às aulas, eles é que terão lições a dar a seus professores.

Como já disse o Emicida, “esses boy conhece Marx, noiz conhece a fome”. E por falar no Emicida, ele, o Paulo Miklos (Titãs), a Maria Gadú, o Teatro Mágico, foram lá nas escolas, fizeram shows, fizeram palestras. Um monte de intelectual e artista assinou manifesto. E, ainda assim, as grandes estrelas foram os jovens da periferia. Sem líderes individuais, mas em formação para a guerra santa que lutavam, no coletivo, na paz.

Eu não posso imaginar de onde saiu esta força, esta sabedoria, esta organização natural e genuinamente democrática, esta maturidade. O filme é emocionante, mostra isso.

Dá para entender a raiva com que a PM bateu na rapaziada. A raiva de não ter a coragem, a disciplina, a integridade que os meninos tiveram. Bateram de recalcados que são. Baterão porque são fracos. Dá para entender, não dá mais para admitir.

O filme me fez voltar a acreditar no futuro do Brasil.

Partidos, governos, políticas, programas e ações progressistas podem remediar o Brasil, criar tapa-buracos para os 500 anos de atraso. Que continuem fazendo isso mais e mais. Só que precisam fazer o jogo sujo da politica tradicional para existirem.

O que estes meninos estão fazendo é absolutamente novo. É a revolução. É a construção de uma Nação.

Não é tapa-buraco, não é mais só pela educação, não é provisório ou ilusório. É para a vida.

Alckmin deu o tiro no pé da década. Não porque teve de enfrentar a revolta das periferias, não porque perdeu 10% de seu já rarefeito índice de popularidade. Não porque teve de recuar humilhado. Isso foi o de menos, como foi apenas provisória a vitória dos garotos e garotas.

A grande derrota de Alckmin e do conservadorismo paulista foi ter dado o motivo aos jovens, foi ter aglutinado o sentimento, foi ter estimulado a ação. O mundo continuará a mudar entre avanços e retrocessos, mas a periferia de São Paulo nunca mais será a mesma, esta geração de paulistas nunca mais será a mesma, estes meninos nunca mais voltarão para a vida que tinham antes, eles jamais “desocuparão” o espaço conquistado.

E, junto com a periferia, mudarão São Paulo. E, junto com São Paulo, mudarão o Brasil.

Alckmin disse que o movimento dos jovens tinha motivação política. Nunca esteve tão certo e nunca esteve tão errado. Errado, porque falou isso para desqualificar, para sugerir uma motivação partidária. Nada disso, havia ali um objetivo genuíno e cívico. A luta é por uma escola melhor. O pensamento conservador de que nenhum jovem quer estudar seriamente mostrou-se falho. Eles querem sim. Não é partidário isso, é verdade de vida de cada um: a luta por oportunidades.

E é nesse sentido que está certo dizer que o movimento é político. Não partidário, mas político. É a vida, é o destino de cada um, é a possibilidade de refazer a própria história pessoal, nas próprias mãos, mas também numa ação que é coletiva. Quer coisa mais política do que isso?

Olha só o que o governador conseguiu: ele, um liberal, arauto do individualismo, do egoísmo, do cada-um-que-trate-de-si, do Estado mínimo, conseguiu dar voz à ideia vitoriosa de que as grandes conquistas são feitas em coletivo. Ele, todo-poderoso, armado e perigoso, perdeu para meninos e meninas desarmados, mas unidos e focados num objetivo.

Não deixe de ver o filme, não deixe de admirar a aula que a garotada nos deu. Não deixe de ver a prévia do futuro que está nos atropelando a partir de hoje.

One Reply to “Enfim, algo de bom”

  1. Bora pedir logo o impeachment do Alckmin! Afinal, como pode uma ditadura (sic) ter sido reeleita no 1o turno há apenas um ano??

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