Já estamos às portas de setembro, a disputa de samba-enredo na Portela já começou e os leitores do Ouro de Tolo devem estar estranhando que, diferentemente dos últimos anos, tal fato sequer foi assunto de uma linha aqui.

A culpa é minha. O combinado, até porque mais uma vez o Migão será julgador em algumas etapas do concurso portelense, é que eu seria imbuído desta missão. Só que meu tempo foi tomado por outras coisas, inclusive uma grande novidade na seção carnavalesca deste Ouro de Tolo que estamos preparando para o período pré carnavalesco.

Só que este ano farei diferente. A coluna de hoje e dos dias subsequentes será não sobre os sambas que estão na disputa, mas sobre um pouco da história desta disputa na Portela. Seus sambas, suas histórias e, especialmente, os grandes vencedores na história das disputas.

Obviamente, não é minha intenção esgotar o tema, longe disso: adições e correções por parte dos leitores serão muito bem vindas. Serão três artigos: hoje abordando dos primórdios aos Anos 60, amanhã as décadas de 70 e 80 e na quinta feira dos anos 90 até os dias atuais.

A disputa de samba-enredo na Portela sempre reuniu muitos grandes nomes e a disputa sempre foi titânica; como resultado a escola não tem nenhum supercampeão que tenha dominado e se tornado campeão dez, doze, quinze vezes.

Mesmo nos velhos anos 50 e 60, nos primórdios da popularização das escolas, na qual as escolas costumam encontrar esses supercampeões, a Portela não os tem.

Para começar a falar de compositores da Portela tenho que pedir licença e começar com Paulo Benjamin de Oliveira, o Paulo da Portela, fundador de tudo isso que discorreremos.

Na época de Paulo as escolas ainda não tinham sambas-enredo como os conhecemos. Elas não seguiam um enredo e muitas vezes a escola cantava mais de um samba no mesmo desfile. Por isso é difícil falar em quantidade de vitórias em concursos de samba-enredo. Mas Paulo teve sambas seus cantados nos desfiles de 35, 36 e 38. Destaque para “Linda Guanabara” de 1935, provavelmente o primeiro sucesso a ser apresentado por uma escola de samba.

O samba-enredo da forma como conhecemos hoje, descrevendo um enredo, com música única no desfile e fantasias dentro da mesma temática também foi obra de Paulo da Portela no histórico desfile de 1939. “Teste ao Samba” revolucionou e moldou os desfiles da forma como ele é até os dias atuais. As mudanças de lá para cá foram volumétricas e rítmicas. Mas a estrutura básica de um desfile de escola ainda é aquela idealizado por Paulo em 1939. Segundo o respeitado site PortelaWeb, Paulo ainda assina o hoje desconhecido samba de 1940.

Depois de Paulo, ainda nos primórdios dos desfiles, surge o nome de outro dos ancestrais da Portela: Manacea. Ele é o autor dos sambas de 48, 49, 50 e 52; além de inúmeros sambas de quadra maravilhosos, muitos deles gravados muitos anos depois pela Velha Guarda da Portela.

Logo no ano seguinte após a “Era Manacea” surge uma dupla que fez muita história pela Portela, talvez os dois que mais se aproximaram do epíteto de “supercampeões”: Candeia e Waldir 59, ambos com 6 vitórias, recorde este que sobreviveu por quase quarenta anos. Dessas seis vitórias, cinco foram conquistadas em conjunto (55, 56, 57, 59 e 65). Apenas as primeiras vitórias de cada um foram separadas: Candeia em 1953 e Waldir 59 em 1954. Uma curiosidade é que ainda hoje Waldir 59 concorre na disputa portelense.

Alias em 53, Candeia se destaca por já ganhar na Portela com apenas 17 anos de idade, ao lado de Altair Prego. Para quem não ligou o ano ao desfile, o desfile de 1953, “Seis Datas Magnas” marcou o primeiro confronto oficial após a reunificação da Associação das Escolas e garantiu à Portela o primeiro resultado da história do carnaval em que uma escola recebeu 10 de ponta a ponta (o chamado “Carnaval de 400 Pontos”). Além deste lindo samba, dessa época merecem destaque os sambas de 1956 e 1957.

Só para mostrar como nessa época a disputa da Portela já era complicada, Candeia e Waldir 59 disputaram em seus anos finais contra o hoje consagrado Walter Rosa, que figura na história com três vitórias (60, 61 e 63) com direito a uma pérola do gênero em 1960 – na opinião do Migão, o maior samba enredo da história da escola.

Outro grande nome desta época é Picolino, que também foi tricampeão em 54, 57 e 59, sempre junto de Waldir 59. Também vale lembrar, aqui, o samba de 1970 – reeditado em 2004, “Lendas e Mistérios da Amazônia”, de autoria de Catoni, Valtenir e Jabolô. Hoje é considerado um dos grandes clássicos da escola.

Paulinho da Viola é um caso à parte. Talvez ele seja hoje o nome mais famoso ligado à Portela, porém fazer samba-enredo nunca foi sua predileção. Disputou uma única vez, vencendo o concurso, e o seu único samba na agremiação (1966) é uma composição bem diferente: um samba de nada menos que 43 linhas somados a um refrão curto de apenas duas linhas (como comparação, “Aquarela Brasileira” tem “apenas” 36 linhas mais um refrão apenas em “lá rá rá”).

Como o carnaval naquela época era diferente, a Portela não teve problemas de harmonia e levou o título. Com a curiosidade de ter Tia Surica cantando o samba naquele desfile.

Na segunda parte, amanhã, as décadas de 70 e 80.

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