Não bastasse toda a lama que o FBI já jogou no futebol mundial e mais especificamente no futebol sul-americano comandado pela CONMEBOL, mais uma prova que o modelo de negócios do futebol está errado é essa notícia surgida na última segunda-feira: a ridícula exigência da CONMEBOL para que o Brasil escolha apenas duas sedes para fazer seus jogos pelas eliminatórias.

O Brasil é o único país que não apenas tem condições, mas a necessidade de girar bastante suas sedes nas Eliminatórias por causa de sua imensa proporção territorial, a divisão populacional bastante espalhada e a devoção que gira em torno da seleção brasileira de futebol.

A CONMEBOL, claramente querendo prejudicar o Brasil, sufoca isso, mas sem perceber, também sufoca o seu próprio negócio.

O que é melhor para o marketing do futebol: que a seleção nacional (não só o Brasil, mas qualquer uma) se encastele em um local e fique distante do resto do país ou que a mesma faça um tour pelas principais cidades, fazendo se sentir mais perto de cada uma dessas cidades? A resposta é, obviamente, a segunda opção.

WP_20140704_035Porém a única seleção da CONMEBOL que fazia isso (não importa se por pressão externa ou vontade própria) era o Brasil. Mesmo países que teriam condições de se revezarem em mais de uma sede não o faziam, seja por preguiça, por falta de opções ou por escolhas competitivas.

Não preciso ir longe. A Argentina é gigante, tem pelo menos outras três cidades com totais condições de receber jogos da seleção. Porém desde de tempos imemoriais a seleção só se apresenta no Monumental de Nuñes em Buenos Aires.

O Chile agora tem vários estádios em várias cidades aptos a receber jogos das eliminatórias graças à Copa América. Mas se nem na tabela da Copa América o Chile sai de Santiago, não será nas eliminatórias que o Estádio Nacional de Santiago deixará de receber os jogos da seleção.

Aliás, considero um marketing despropositado a um país sede enclausurar sua seleção na capital a competição inteira!

Só para comparar, façamos um paralelo com a Liga Mundial de Vôlei, o torneio com características mais próximas das eliminatórias sul-americanas de futebol que encontrei na minha pesquisa.

, Australia v Brazil World League, 27/06/15Na primeira fase cada país recebe duas ou três vezes uma rodada com dois jogos consecutivos. Vejam historicamente a tabela das Ligas Mundiais aos longo dos anos e percebam que cada vez é maior a porcentagem de países que se utilizam de sedes diferentes para cada uma das séries. Dos 20 times que tiveram a chance de sediar a competição duas vezes ou mais neste ano de 2015, nada menos que 18 utilizaram sedes diferentes.

Apenas Cuba e Irã, situações bastante particulares, se utilizaram de uma sede única.

Isso começou justamente quando Brasil e Itália fizeram isso e deu tão certo que a FIVB hoje estimula os países a fazerem isso. Resultado: a competição cresceu tanto que, dos 12 times que ela tinha nos primórdios da competição, hoje saltou para 32 times, divididos por divisões informais inclusive. Um sucesso total.

O futebol com essa decisão equivocada da CONMEBOL só se apequena.

Em tempo: se eu fosse da CBF também não deixava barato. Escolhia Beira-Rio e Arena das Dunas. Sediava Colômbia, Venezuela, Peru e Equador em Porto Alegre e sediava Chile, Argentina, Bolívia, Uruguai e Paraguai em Natal. Só para forçar deslocamentos gigantescos…

Imagens: Arquivo Ouro de Tolo e Divulgação FIVB

2 Replies to “Alguns Pensamentos sobre o Último Equívoco da CONMEBOL”

  1. Federações que sempre foram beneficiadas em desenho de tabelas y otras cositas más, Brasil e Argentina vão penar nas mãos da Conmebol nas próximas Eliminatórias por motivos políticos e caça às bruxas. De fato, caso não haja reviravolta, a decisão é um despropósito e um desrespeito à soberania das entidades nacionais.

    1. Assino embaixo. Só que tem um detalhe: a Argentina tem uma seleção bastante interessante e mesmo com a arbitragem contra, deve garantir a vaga para a Copa da Rússia sem sustos. O mesmo já não posso dizer da nossa seleção, em péssima fase.

      Para piorar o cenário, não bastasse o cenário político ruim para o Brasil na CONMEBOL, ainda demos o azar disso ser ao mesmo tempo que a América do sul como um todo está em uma ótima geração. Além da Argentina, temos a Colômbia e o Chile com excelentes gerações. Fora esses três ainda temos o Equador que sempre se aproveita da enorme altitude dos seus jogos em casa, o Uruguai que apesar de ter um time envelhecido ainda consegue se sustentar e o Paraguai, que apesar de bater muito, acabará sendo beneficiado pelo momento político ruim de Brasil e Argentina.

      Ou seja, sufoco a vista.

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