No dia seguinte à definição da ordem dos desfiles da Série A do ano que vem um amigo virou-se para mim, sabendo do meu interesse pelo assunto e assumindo o desconhecimento de causa dele, e perguntou: uma escola chamada Alegria vai desfilar na Série A no ano que vem? De onde é essa escola?

Antes de dizer a ele que a simpática agremiação era dos limites entre Copacabana e Ipanema, abarcando foliões do Cantagalo, Pavão e Pavãozinho respondi que sim e que não, ao mesmo tempo. Sim, a Alegria da Zona Sul vai desfilar na Série A. Ou melhor, continuará desfilando na Série A (foi por pouco, né?). E não, não era o que ele estava pensando. No samba, Série A significa Série B – para ficar na metáfora futebolística. Resumindo: amigo, a Alegria é do segundo grupo, o de Acesso, rebatizado há uns dois anos de Série A.

Com essa pequena anedota, e novamente buscando uma correlação com o futebol, queria expor aos não iniciados no que gostamos de chamar de “Mundo do Samba” que o sorteio da ordem dos desfiles é mais ou menos como o sorteio dos grupos da Copa do Mundo para nós (os pretensos “iniciados”).

Sem transmissão ao vivo e, pena, sem Fernanda Lima.

Ao menos a parte musical é mais agradável. Como nos últimos seis Carnavais a série A tem me interessado de maneira ainda mais Especial – sentiram a sutileza do trocadilho? – fiquei nervosamente acompanhando pelo twitter a definição dos dias e horários de apresentação das catorze escolas.

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No fim das contas, batido o martelo, acho que, no papel, o desfile de 2016 deve ser mais equilibrado no que diz respeito à divisão de forças. Senão, vejamos. As duas últimas a marcar presença no Grupo Especial, Império da Tijuca e Viradouro, vão reforçar a sexta-feira, mais odiada pelas escolas do Acesso do que o domingo pelas coirmãs do grupo de cima. Exceção feita à Renascer de Jacarepaguá que desejava a sexta – e até descartou o sábado – em função do enredo que apresentará (mais detalhes, consultar o post do Luiz Antonio Simas).

Temos ainda uma Porto da Pedra que parece ter vaga cativa no primeiro dia de desfiles. O Tigre pode reclamar da sorte mas, como disse o competente Jaime Cesário, que assumiu o barracão da escola, não deve jogar a toalha. Deu o exemplo do Império Serrano que, em 2015, disputou o título mesmo tendo desfilado na ingrata terceira posição da sexta-feira. De qualquer forma, a Porto da Pedra é uma escola de passagens recentes pelo Grupo Especial e, mesmo com altos e baixos desde que caiu, tem seu chão e sua força. Veremos ainda uma Rocinha querendo a volta por cima. Uma escola que, há alguns anos, sempre esteve na briga para subir – e não para não descer.

Para completar, duas escolas que ficaram devendo e precisam mostrar serviço: Alegria e Santa Cruz. O presidente da Santa Cruz, Zezo, aliás, me surpreendeu. Meio que reclamou da posição – a quarta escola a desfilar – como se esquecesse que ele mesmo abriu mão de fechar a noite, cedendo lugar ao Império da Tijuca. Talvez não quisesse admitir que, no fundo, tinha medo de pegar uma Sapucaí vazia. Pelo histórico recente tem valido muito mais a pena esperar pelo verde e branco da Tijuca do que por aquele da Zona Oeste.

No sábado, a sorte tratou de dar uma mãozinha a Tuiuti, Império e Caprichosos, desfilantes da sexta-feira em 2015. A União do Parque Curicica, pela colocação que obteve, já sabia de antemão que abriria os trabalhos neste dia. Padre Miguel e Cubango, os reversos da fortuna da Porto da Pedra, continuam no “daqui não saio, daqui ninguém me tira” e encerram a festa já na madrugada de domingo.

20150214_220814Como imperiano, é claro que gostei do sorteio. Até porque nosso pão geralmente cai com a manteiga para baixo e é bom ser bafejado por bons ventos de vez em quando. Mas, sobretudo, como já disse, acho que a divisão ficou melhor.

Temos, na teoria, duas favoritas na sexta (Império da Tijuca e Viradouro), duas escolas de comunidade e chão que estão mordidas, podem e devem apresentar trabalhos melhores (Porto e Santa Cruz), uma garantia de bom samba-enredo (Renascer), uma tradicional força do grupo em reconstrução (Rocinha) e a alegria da Alegria.

No sábado, o favoritismo recai sobre o trio UPM-Império-Cubango, as três na fila para subir. Tuiuti e Caprichosos vêm de belíssimos carnavais, não devem ser descartadas, mas ainda acho que correm por fora. Inocentes e Curicica classifico, por enquanto, de incógnitas. As duas tricolores passaram maus bocados financeiros este ano. A Curicica ainda perdeu o mestre Lolo para a Imperatriz. Podem vir muito bem e jogar o nível de sábado para cima. Ou podem ser os pontos baixos da noite e igualarem a qualidade dos desfiles de sábado com os de sexta-feira. Em suma, o sábado ainda me parece um pouco mais forte. Um pouco. A disparidade do Carnaval passado não mais existe.

Paralelamente ao sorteio começam a ser divulgados os enredos e quero me aprofundar neste tema no próximo texto. Mas já adianto algo que têm me chamado a atenção. A repetição de enredos. Leio que a Beija-Flor está entre o Marquês de Sapucaí, o nobre que dá nome à avenida de desfiles, a cidade de Natal e o ex-jogador Ronaldo Fenômeno. Ora, mas a gente já não viu todos esses temas na Passarela (com, respectivamente, Imperatriz, Salgueiro e Tradição/Gaviões da Fiel)? E nem faz tanto tempo assim? Ou eu é que estou ficando velho?

Voltaremos ao enredo dos enredos em breve.

Falando nisso, leiam “Pra tudo começar na quinta-feira, o enredo dos enredos” (Morula Editorial), dos amigos Fábio Fabato e Luiz Antônio Simas. Li quase de uma só tacada faz pouco tempo. Imperdível.

One Reply to “Sobre Sorteios e Enredos”

  1. Verdade, Carlos. E, convenhamos, de tudo isso, só o da Imperatriz se salvou.

    Sobre a Série A, reforço que se a Estácio se mantiver no GE e o Império Serrano subir, vão aumentar o número de escolas!

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