E o pesadelo acabou.

Segunda pior campanha geral da temporada da NBA, alcançando apenas 17 vitórias em um universo de 82 jogos da temporada regular encerrada este mês. Torcedores arrancando os cabelos e a imprensa local em chamas, como se diz.

Parêntese: se o leitor acha a imprensa esportiva brasileira “corneteira”, não conhece a de New York. Faz pressão e muita sobre as equipes da cidade e seus profissionais, tornando o clima nas equipes um caldeirão. Nunca estão satisfeitos com nada.

Esta má campanha se deve a anos de decisões gerenciais erradas em série e à excessiva interferência do dono James Dolan (por intermédio da MSG, que administra também o ginásio, uma TV a cabo esportiva e o time de hóquei Rangers) nas decisões do dia a dia da equipe. Dolan não tem muita paciência para esperar resultados e a própria pressão da impaciente torcida e da impaciente imprensa também levou a um imediatismo nas tomadas de decisões.

O time chegou a fazer campanhas razoáveis como a da temporada 2012/13, quando a equipe acabou entre as oito melhores ao final da temporada (fazendo semifinal da Conferência Leste). Mas ali era claramente um “teto” de performance.

20131105_213355No início do ano passado os Knicks contrataram como seu “Presidente de Operações” – uma espécie de gerente geral – o multipremiado técnico Phil Jackson. Campeão pelos Knicks como jogador e depois várias vezes como técnico por Lakers e Bulls, Jackson veio com o objetivo de implantar uma nova filosofia de trabalho na equipe, incluindo nesta uma total reformulação do elenco.

O elenco dos Knicks era uma mistura de jogadores de alto salário e baixo retorno, por um lado, e problemáticos fora de campo por outro. Havia aberrações como o pivô Amare Stoudemire, reserva e que não consegue se manter saudável, ganhando estratosféricos US$ 23 milhões por ano, simplesmente o maior salário da NBA.

Ou peças como o italiano Andrea Bargnani (aqueles que me acompanham no Twitter sabem do meu “amor” por ele), que custou uma primeira escolha de draft na temporada 2014/15 e inacreditáveis US$ 13 milhões na folha. Vivia machucado e, quando jogava, pouca produtividade.

Entre os problemáticos estavam peças como JR Smith – que chegou a ser suspenso por uso de maconha – e Raymond Felton, que chegou a ser preso temporada passada. Ou Tyson Chandler, pivô, bom jogador mas que fritou abertamente o técnico Mike Woodson.

Phil Jackson chegou querendo implantar sua filosofia de trabalho, que incluía o sistema ofensivo dos “triângulos”. Além disso, limpar a folha salarial do clube e abrir espaço no “cap” (teto salarial) para assinar com jogadores que ficam sem contrato ao final desta temporada de 2014/15.

20131105_185438Com isso começou a limpeza. Primeiro foi o técnico Mike Woodson, “fritado” pelo elenco e substituído por Derek Fisher, ex-jogador de Jackson. Depois começou a “limpeza” no elenco propriamente dito.

Primeiro Chandler e Felton foram mandados aos Mavericks em troca de José Calderón (com baixo salário, contrato de três anos) e outros dois jogadores. Depois JR Smith e Imam Shumpert para o Cavaliers e Stoudemire, dispensado no meio da temporada – ele acabou assinando com os Mavericks. O argentino Prigioni foi para o Rockets também no meio da temporada, entre outros menos votados também envolvidos em transferências.

Com isso, os Knicks ficaram com um elenco para esta temporada ao gosto do que Jackson queria: jogadores baratos com contratos expirando ao final desta temporada, de modo a ter teto salarial para buscar o mercado de “free agent”. Para complicar, o astro do time, Carmelo Anthony, precisou sofrer uma cirurgia no joelho e só volta na próxima temporada.

20131105_190948Para o leitor ter uma ideia, do time que vi jogar ao vivo em 5 de novembro de 2013 no Madison Square Garden somente Carmelo, Bargnani e Tim Hardaway Jr. ainda fazem parte do elenco.

Dentro da estratégia a médio prazo de Phil Jackson, esta temporada já estava perdida desde o início. Com a cirurgia de Carmelo, piorou. Com um elenco fraquíssimo – alguns jogadores não jogariam na liga brasileira – e sem perspectivas a médio prazo, chegou-se a esse resultado catastrófico ao final da temporada regular.

Já se sabia que seria um ano ruim, mas foi pior que a mais pessimista previsão – que, na comunidade brasileira do time, era a minha: 20 vitórias. A ponto de gerar chacota entre nós mesmos, do tipo “se um de nós aparecer no Madison Square Garden uniformizado entra no time…”

Sem dúvida alguma, um pesadelo. Mas, ao contrário dos Lakers – outro saco de pancadas desta temporada – as perspectivas parecem promissoras a médio prazo.

O time terá dinheiro para gastar em um mercado que terá vários ótimos jogadores com contratos se expirando. Também terá várias vagas em seu elenco, haja visto que quase todo mundo deverá ser dispensado – praticamente só devem permanecer Carmelo, Hardaway e as duas escolhas do draft do ano anterior, a princípio.

E uma escolha de draft entre as cinco primeiras, embora a classe deste ano não seja lá muito talentosa – acompanhei muitos jogos do “March Madness” e não vi um jogador que possa mudar o rumo de um time. Sem contar que Jahill Okafor, provável escolha número 1, tem tudo para não vingar na categoria – me parece claramente ser um “bust”.

Marc GasolA imprensa americana especula que Marc Gasol (Memphis Grizzlies, foto ao lado) já teria um acordo verbal com os Knicks, e jogadores como Kevin Durant também estariam conversando. Vários destaques de suas equipes estão com contrato se expirando, e a equipe nova iorquina tem espaço na folha salarial para contratar uma ou duas estrelas e outros bons jogadores para seu plantel.

Segundo fontes, Jackson pensa em envolver em uma troca a alta escolha do draft deste ano. Em condições normais seria contra, mas com a classe de universitários deste ano e os talentos disponíveis no mercado é algo a se pensar.

O técnico Derek Fisher também está mais adaptado à nova função e certamente terá o auxílio de Jackson para implantar o sistema dos “triângulos” no ataque da equipe.

Enfim, apesar do pesadelo vivido este ano, o NY Knicks tem tudo para voltar a ser um dos destaques da NBA a médio prazo. Com certeza, já para a próxima temporada teremos um time bem diferente do que sofreu vexame atrás de vexame este ano – cujo único fato digno de registro foi a vitória sobre os Spurs na prorrogação, já aos estertores da temporada.

Como dizem os torcedores americanos, “In Phil we trust”. E eu também.

Imagens: NY Post e Ouro de Tolo

3 Replies to “O pesadelo dos Knicks”

  1. Pedrão, depois dessa babação toda da cultura americana, Orlando, Disney e afins, queria ler finalmente a opinião de um petroleiro petista sobre a devastação petista na Petrobras! Fico no aguardo!

    1. Marco, infelizmente não posso dados os limites do Código de Ética, mas diria que a cobertura do caso está bastante “exagerada”, por assim dizer

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