Dando sequência à série de posts sobre a temporada nova iorquina, hoje trago a realização de um sonho de adolescente: assistir a uma partida da NBA no mítico Madison Square Garden, ginásio mais famoso e mais importante do mundo na opinião de muitos.

Como já escrevi em outras oportunidades, acompanho a NBA e torço pelos Knicks desde minha adolescência, lá pelos idos de 1990/91. Era um sonho assistir uma partida ao vivo, mas como escrevi no dia do jogo, se naquela época alguém me dissesse que um dia estaria em New York assistindo a uma partida chamaria a pessoa de mentirosa.

Mas a vida nos traz estas surpresas e, especialmente, mostra como se pode buscar por nossos sonhos. Inclusive cheguei a comentar em tempo real, não sem uma ponta de arrogância, que “respeitem quem pode chegar onde cheguei”. Reconheço que foi comentário desnecessário, mas no calor da emoção…

Digressões à parte, quando saiu a tabela da NBA eu já estava com passagens e hospedagem compradas. Surgiu um problema: o único jogo dos Knicks em casa seria no mesmo dia e horário do jogo dos Giants que já relatei aqui.20131105_185438Pensei originalmente em ver mesmo um jogo do Brooklyn Nets, mas acabei mudando de idéia: um dos objetivos da viagem era ver os Knicks e não veria? Acabei optando por alterar a data e viajar dois dias antes a fim de assistir ao jogo contra o Charlotte Bobcats, dia 05 de novembro – um dia depois do meu aniversário.

Comprei os ingressos no Brasil utilizando-me do sistema do resale, que estava com preços mais em conta. Consegui um ótimo lugar, bem perto da quadra, a um preço que, se não foi barato, não foi tão caro quanto eu imaginava.20131105_211216Aliás, uma sugestão que dou é não pegar os estratosfericamente caros ingressos na beira da quadra: embora quase dê para conversar com os jogadores, a visão fica prejudicada pelos bancos de reservas em um dos lados e pela bancada da imprensa no outro. O lugar central que peguei me permitiu uma ótima visão do jogo, como as fotos disponibilizadas aqui mostram – sem precisar pagar os mais de 1 mil dólares que pedem por um lugar à beira da quadra.

O Madison Square Garden é uma estrutura mais antiga que o moderníssimo MetLife enfocado aqui anteriormente, e isso se verifica até mesmo em coisas como a qualidade do revestimento das paredes nos corredores, por exemplo. Ainda assim a estrutura é muitíssimo superior a qualquer ginásio ou arena do Brasil – a comparação com a Arena HSBC, único espaço brasileiro habilitado a receber partidas da NBA, chega a ser desmoralizante.20131106_181940Infelizmente a foto (acima) não ficou boa, mas a fachada por fora parece a de um prédio comum. Por trás é que há a forma típica de uma praça esportiva. Adentramos o ginásio, sofremos uma revista e somente depois é que se passa os ingressos no verificador.

Uma curiosidade: ao contrário do que muita gente pensa e muitos guias de viagem apregoam, havia ingressos disponíveis para venda na hora da bilheteria. Obviamente era uma partida menos procurada de início de temporada, mas me parece que o quadro se repete na maioria das partidas. O ideal é comprar ainda aqui direto na Ticketmaster, mas não se desespere, leitor, caso esteja lá e resolva ir a um jogo.20131106_201629Outra curiosidade é que apesar do sistema de “resale” – que não deixa de ser um cambismo oficial e regulamentado – havia cambistas na porta do ginásio. Alias este foi um quadro que se repetiu em todos os eventos aos quais assisti.

A loja oficial é grande, mas claramente não está preparada para o afluxo de pessoas em um pré-jogo. Muita gente para comprar, pouca gente para informar e bastante tumulto – tanto que comprei um short um número menor que, embora tenha dado, ficou bem justo.

A variedade é menor que na loja virtual, mas pelo menos os principais produtos se encontravam – embora não houvesse uma camisa azul de jogo no meu tamanho, nem a réplica da camisa do Pat Ewing da temporada 1990/91, que compraria posteriormente na NBA Store das Quinta Avenida.20131105_211221A propósito, uma dica: existem três tipos de camisas de jogo da NBA – para qualquer time. A “replica jersey” é uma camiseta mais barata, mas com os números e nomes em adesivos, colados – e que soltam fácil. A “swingman” é o meio termo: não é exatamente igual à camisa de jogo, mas os nomes e números são em uma espécie de bordado emborrachado, sendo bem próxima a uma camisa de jogo. Já a réplica exata custa mais do dobro da “swingman” – exatos 260 dólares – mas a única diferença é que o tecido me parece mais grosso.

Comprei duas “swingman” de jogo – a branca e o terceiro uniforme, laranja, com a qual estou nas fotos – três camisetas, dois bonés, um casaco e o short citado, além de algumas encomendas que haviam me feito. Não foram os únicos itens do time comprados na viagem, pois complementei depois em outras lojas com algumas coisas que haviam faltado.20131105_185547No acesso ao setor onde ficaria havia (acima) uma série de bares e um quiosque de produtos, onde adquiri o adereço de mão com o qual apareço nas fotos. O tamanho é menor que o “clube” do MetLife Stadium, o que é natural dada a diferença de capacidade: no Madison Square Garden cabem 20 mil pessoas e no MetLife 82 mil.

Uma dica é que embora haja serviço de bar com garçonetes direto no lugar onde fiquei – o que não ocorre em outros setores – sai mais barato ir direto nos bares e restaurantes atrás do setor. Outra dica: ande sempre com seu ingresso em mãos, pois ele é necessário para entrar e sair da área das cadeiras.20131105_213756Para quem gosta de cerveja não faltam opções, sejam em chope como em garrafa. Bebi cervejas locais como a Bronx Pale Ale (draft), Brooklyn  e SixPoint e outras artesanais conceituadas como a Ommengang e a já citada DogFish Head. Há pelo menos umas quinze opções entre drafts (chope) e garrafas, e a venda se encerra ao final do terceiro quarto de partida.

Comi cachorro quente e pipoca, embora no dia seguinte descobriria na partida de hóquei que a pedida é a pizza – uma média, onde comem duas pessoas tranquilamente, custa US$10 e é deliciosa. E olha que sou bom de garfo.20131105_190416Adentrei o ginásio em si faltando cerca de meia hora para o início do jogo, a tempo de ainda observar o trabalho pré jogo da MSG, canal a cabo dos mesmos donos do ginásio e do time. Repetindo o comportamento que assinalei na partida de futebol americano, o público local só ocupa seus lugares em cima da hora do jogo, que devia ter de 85 a 90% do público total do ginásio ocupado. Isso também talvez se deva ao horário em que a partida começou, 19h30 locais em um dia de semana. O telão de altíssima definição é fantástico (como os leitores podem ver na foto) e, embora climatizado, há a necessidade pelo menos de uma blusa de mangas compridas.

Algo interessante é que os títulos da equipe e os jogadores que tiveram suas camisas aposentadas estão em grandes flâmulas no alto do ginásio. De uma lado ficam os Knicks e do outro, os Rangers. A foto abaixo foi tirada no dia seguinte, da posição em que assisti ao jogo de hóquei.20131106_190838O show antes da partida é algo impressionante. As luzes são apagadas para o anúncio do time e de seus jogadores, recebidos sempre com aplausos. O hino americano foi cantado por um coral de crianças do Bronx e como sempre todos os locais acompanharam.

Confesso que esperava mais da torcida do time. Talvez por ser de camadas de renda mais altas – isso era visível no ginásio – achei muito fria a torcida dos Knicks. Fora os gritos de “defense” e aplausos em algumas jogadas – além de um tímido “let´s go Knicks” em alguns momentos – achei bem morno o clima, meio “blasé”. Por outro lado, vaia e vaia mesmo quando não estão satisfeitos. Eu, que estava torcendo à moda “brasileira”, era exceção.20131105_220045Ovação recebeu Pat Ewing, um dos maiores da história do clube, que estava como assistente técnico dos Bobcats. Quando anunciado pelo locutor do ginásio todos o aplaudimos de pé. No intervalo alguns torcedores tentaram acertar cestas do meio da quadra para ganhar um prêmio de 10 mil dólares, mas ninguém conseguiu.

A partida em si teve domínio dos Bobcats no primeiro tempo e dos Knicks na segunda metade. O time de Charlotte, que vai voltar a se chamar Hornets na próxima temporada, ainda é um time fraco embora não seja o saco de pancadas que perdia de todo mundo na temporada anterior.20131105_193603Por outro lado os Knicks ainda estavam – na verdade, estão no momento em que escrevo – tentando acertar o time às mudanças antes da temporada, além da ausência de J R Smith, então suspenso por uso de maconha.

Para complicar, o pivô Tyson Chandler (de quem gosto muito) quebrou a perna exatamente à minha frente durante a partida, estando ausente do time até agora. Seu desfalque se ressentiu no garrafão e os Knicks saíram perdendo por inacreditáveis 64 a 54 no primeiro tempo.

Na etapa final a equipe, mesmo sem Chandler e com Stoudemire muito mal, conseguiu reduzir a diferença e brigou pela virada até os instantes finais, onde alguns turnovers fora de hora e pelo menos três decisões bastante questionáveis da arbitragem acabaram pesando no placar final de 102 a 97 para o Bobcats.20131105_194715A propósito, os leitores reclamam da qualidade das arbitragens do futebol brasileiro porque não conhecem a da NBA. É horrível, ruim tecnicamente e sem critério disciplinar na marcação ou não de faltas. Irrita demais.

Além disso, os Knicks trouxeram um jogador italiano chamado Andrea Bargnani que não joga absolutamente nada. As pessoas à minha volta devem ter aprendido todos os palavrões possíveis e imaginários em português durante a partida, ainda mais quando o referido jogador errava uma jogada – “carcamano filho da puta” foi um dos epítetos mais leves dirigidos ao atleta em questão. Por outro lado Carmelo Anthony, apesar de fominha, é um jogador diferenciado.20131105_213355Ainda assim, é um jogo de alto nível técnico. É muito legal ver ali pertinho jogadores que tem quase uma aura de “semideuses” em todo o mundo por sua habilidade e precisão. Algumas jogadas são quase inacreditáveis, ainda mais se vendo de perto. É experiência que recomendo a todos que gostem do esporte. O resumo do jogo pode ser visto aqui.

Sem dúvida alguma, foi chato ver os Knicks perderem – ainda mais porque três dias depois o time ganharia do mesmo Bobcats em Charlotte. Também não repetiria ir no dia em que cheguei de viagem, devido ao cansaço. Mas realizei um sonho – e, como diz aquele comercial, certas coisas não tem preço. Muito legal a noite que passei.

Mas a série sobre New York seguirá – ainda tem bastante coisa para se falar.20131105_190948

3 Replies to “Um passeio pela NBA: Knicks 97 x 102 Bobcats”

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