Domingo tivemos a primeira “noite nobre” de ensaios técnicos na Marquês de Sapucaí. Não que os outros dias não fossem importantes. Mas tivemos ensaio com duas escolas de torcidas gigantescas e que passam por momentos de reestruturação. Cada uma ao seu modo.

Mocidade e Mangueira não vem de anos bons devido a uma série de situações que passam por uma que lhes unia, a financeira. A Mocidade resolveu esse problema para 2015, a Mangueira ainda não. Mas cada uma se baseia em um ponto forte para reverter os anos ruins.

059A Mocidade tem sua força no visual. É grande a expectativa em cima de seu carnavalesco que é a maior estrela do carnaval atual. Paulo Barros. Paulo é hoje o único sambista capaz de atrair a atenção do leigo para uma escola de samba.

O carnavalesco é capaz das mais grandiosas e loucas surpresas. Pode botar carro alegórico de cabeça para baixo, bateria em cima do carro, comissão de frente trocando de roupa num passe de mágica, pessoas rastejando, virando bolas de fogo, vascaínos virarem Flamengo. Pode se esperar de tudo em um desfile seu e nada daquilo estava no ensaio de domingo.

Então como perspectiva de desfile é difícil analisar um ensaio de escola de Paulo Barros sabendo que o que sobressai em seus desfiles é o visual. Dá para analisar apenas e tão somente como apresentação do dia.

E a apresentação foi boa.

Não é um grande samba, como também é de costume em uma escola que tem Paulo Barros, mas é um samba que faz bem o papel de coadjuvante e serve para a engrenagem do desfile.

Um samba alegre, solto e que foi “comprado” pela comunidade que berrou o mesmo da primeira à última ala. Nem digo que era uma escola feliz; mas mais que isso, a Mocidade se mostrou uma escola confiante. Ela confia que a má fase acabou e vem para disputar carnaval. Não sei se conseguirá logo no primeiro ano. Mas certamente virá melhor que nos últimos.

O ponto negativo é o problema que a escola terá com sua rainha de bateria Claudia Leitte. Foi grande a procura da imprensa por fotos, pelo melhor ângulo, entrevistas e isso prejudicou o andamento da escola. Imprensa está lá fazendo seu papel, trabalhando e a Mocidade sabia que seria assim e até queria que isso ocorresse – senão não arrumava tal celebridade para o posto.

Cabe a ela ter a sabedoria até o desfile de resolver esse problema. Deixar que a imprensa trabalhe, fazer com que seu projeto de marketing funcione sem que o carnaval da escola seja prejudicado. No carnaval de hoje e equilibrado como promete ser o de 2015 qualquer décimo pode ser o “fim do mundo”.

049Logo depois veio a Mangueira que não tem carnavalesco celebridade, não tem rainha de bateria famosa nem tem dinheiro. Mas tem samba. E que samba!!

Logo em agosto, quando ouvi pela primeira vez, disse que era candidato a um dos melhores sambas do ano e nadando contra a corrente disse que sim, tinha cara de Mangueira. A Mangueira que conheci nos anos 80.

Mangueira de samba para ser saboreado, não berrado. De samba malandro, cadenciado, cantado quase que de uma forma devagar, dolente. O samba da Mangueira é um biscoito fino.

Ao contrário da Mocidade, que promete tentar sua recuperação no visual, a recuperação da Mangueira passa pelo auditivo. Vem da força de seu samba, da sua bateria, passando pelo canto do componente. A escola continua sem dinheiro, continua com sérios problemas internos e terá que se superar. Tem chão e samba para isso.

O samba rendeu muito como eu já percebera no ensaio que fui na quadra e a escola cantou. Não da forma que a Mocidade cantou, mas não precisava. O componente mangueirense não precisava se esgoelar: bastava sorrir e soltar a voz.

Mangueira3Não digo que é da mesma qualidade até porque esse samba ainda não participou do desfile oficial, mas o samba da verde e rosa de 2015 me parece “samba irmão” de sambas como de 1984, 1986, 1987, 1992 e 1998. Se fechássemos os olhos e nos concentrássemos na audição por alguns segundos dava para ouvir a voz do velho Jamelão pedindo aplausos para dona Neuma e dona Zica.

Mangueira sem dinheiro, com samba cara dos anos 80 e homenageando suas mulheres é um perigo.

Não acredito que venha para campeonato e acho que tem uma luta árdua para voltar nas campeãs. Mas a Mangueira não está morta, muito pelo contrário.

Tem que respeitar.

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