Escrevo novamente para o Ouro de Tolo, porém desta vez assinando uma coluna em definitivo para esta querida revista eletrônica. Quero agradecer ao Editor-chefe deste blog por me dar este espaço para abordar alguns assuntos que possam ser do interesse de muitas pessoas. Pretendo abordar o futebol e o carnaval de 15 em 15 dias, de forma alternada ou não.

Apesar de já ter escrito aqui e alguns de vocês já me conhecerem, quero me apresentar: me chamo Bruno Malta, tenho 19 anos e sou estudante. Também sou torcedor do Império Serrano e… da Mocidade Alegre, escola de quem falo nessa estreia aqui no blog.

Faz pulsar o coração… a história de um enredo campeão.

Em agosto de 2008 tive o ápice de muitos problemas familiares e com isso acabei me mudando para o bairro do Limão no fim do mês seguinte. Numa coincidência do destino minha casa ficava próxima à sede da vice-campeã do carnaval paulistano naquele ano, a Mocidade Alegre.

Com isso tive a minha primeira e até agora única ligação com uma escola de samba durante o período em que morei lá. Principalmente, de setembro a dezembro, eu saía da escola por volta das 18 horas e ia para a rua da Mocidade Alegre ficar bisbilhotando o ensaio da Comissão de frente. Foram muitas tardes-noites fazendo isso e pude entender um pouco mais sobre o funcionamento de uma escola de samba, assim como sobre o canto da comunidade, ala de baianas e etc.

Por conta disso acabei gostando daquela escola e gostando mais dos bastidores do carnaval e de ver sempre aquele pessoal ensaiando com a garra que é o comum de desfile, mas que era totalmente novo para mim em um “mero” ensaio.

mocidadealegre2009cNo carnaval de 2009 a Mocidade Alegre levaria para o Anhembi o enredo: “Das chamas da razão ao palco das emoções… Sou máquina, Sou Vida, sou coração forte pulsando na avenida”. A escolha do enredo se deu graças a uma sugestão do saudoso Seu Beto (um dos fundadores da escola), e seria desenvolvido pela primeira vez desde 2005 por uma comissão de carnaval na Mocidade. Comissão essa que era formada por Sidney França, Fábio Lima e Márcio Gonçalves.

O samba era dos mais inspirados da história da Morada, apesar de não ser tão falado entre os sambistas graças ao grande samba da Nenê naquele ano. Porém tinha muita força em alguns versos desde o seu começo.

Com tudo isso e após o vice-campeonato doído de 2008, a escola aguardava com muita expectativa o dia do desfile. A Mocidade não viria tão luxuosa como estava acostumada, mas ainda assim era uma das grandes favoritas para vencer o campeonato. Entretanto, a expectativa não era só grande na Mocidade, mas também deste que vos fala, que queria ver logo a escola do “seu bairro” desfilar.

Depois de uma primeira noite bem tímida para a briga pelo título com apenas a Rosas se destacando e a Nenê tendo um bom samba, enfim o sábado chegou, dia este que teria Leandro, Pérola, Mocidade, Tom Maior, Gaviões, Vai-Vai e Império.

Após os dois primeiros desfiles, era chegada a hora da Mocidade Alegre desfilar e, logo nos primeiros minutos do desfile, o coração ficou acelerado. Logo percebi que a Morada do Samba havia me escolhido, não naquele dia, mas nos meses que antecederam. Porém ainda me faltava o estalo, e ele veio!

E eu finalmente me via como torcedor de uma escola de samba. A escola veio maravilhosa, um carro mais belo que o outro e com uma bateria em chamas que fez até coreografia de coração flechado. O samba foi cantado de forma maravilhosa por Clóvis Pê e por toda a comunidade do bairro do Limão e a cada minuto que passava eu me encantava cada vez mais por aquele desfile e por aquela escola.

mocidadealegre2009bO samba que dizia: “É mais uma emoção, batendo forte no meu peito, eu sou Morada e não tem jeito, faz pulsar o coração, o sonho de campeão” me arrebatou e me fez dizer aos quatro ventos: “É não tem jeito, agora eu sou Morada.”

Com o fim do desfile e passado o êxtase com a apresentação da escola, eu não conseguia imaginar nada que não fosse primeiro lugar no campeonato que seria o 7° da escola. Minha avó, que via os desfiles comigo, apesar de torcer pelo Gaviões, também dizia na terça da apuração que a Mocidade merecia vencer o campeonato por conta de sua esplendorosa apresentação.

Enfim começava a leitura das notas pela primeira vez na parte da tarde, e a cada 10 recebido, meu coração literalmente disparava. Era a certeza de que o meu sentimento iria se concretizar, de que a Mocidade Alegre venceria o carnaval naquele ano. Chegou o último quesito, Alegoria. A Mocidade levou as três primeiras notas 10 dele, restava apenas mais uma, para o sonho de ser campeão se tornar realidade.

Quando começou a leitura da última nota do quesito Alegoria, a jurada Zélia Katiúscia Bogar surpreendeu quando passou pelas sétimas primeiras escolas e não deu nota 10 para nenhuma, então veio a Leandro e nada, o Pérola e nada. Era a hora da Mocidade, a hora do título… NÃO. 9.75. Era preciso ouvir a nota da Vai-Vai para saber se o Limão faria a festa, veio a nota do Tom Maior, do Gaviões, e veio a da Vai-Vai e… 9.5.

Explode o Limão, Título da Mocidade Alegre! O sonho tinha virado realidade e a escola era pela sétima vez campeã do carnaval de São Paulo.

Eu da minha casa via a escola em festa com a chegada da taça na quadra, os fogos, e vendo a escola festejar aquele título que foi sonhado desde o samba-enredo, passando pelo brilho nos olhos de cada componente e até chegar no sorriso de satisfação deste que vos fala com a taça sendo erguida no Anhembi.

Depois de mais alguns meses, deixei de morar no bairro do Limão, voltei para meu bairro de origem e muita coisa aconteceu desde então. Porém, fico com as lembranças dos meses perto da Morada do Samba e o que elas me trouxeram. Além de um contato inesquecível com uma escola de samba, descobri o elo que me faltava ao Carnaval: descobri um amor verdadeiro por uma agremiação.

A Mocidade Alegre desde então virou a minha escola, ficamos em 2° em 2010, 7° em 2011, e somos os atuais tricampeões do Carnaval de SP (Eu questiono um desses três títulos, mas ok), porém os resultados não foram o que me motivaram a torcer pela Mocidade Alegre. O que realmente me motivou a ser Mocidade Alegre? O Coração.

Encerro esse texto agradecendo mais uma vez ao editor-chefe deste blog pela oportunidade de me deixar assinar uma coluna nesta revista eletrônica e faço um convite a acessarem esta revista eletrônica diariamente, para mais encontros com esta coluna e as demais.

4 Replies to “Faz pulsar o coração… a história de um enredo campeão”

  1. Parabéns pela estreia, Bruno! Ficou muito legal o texto, percebemos a sinceridade em cada palavras, e traz nostalgia a todos nós, que somos apaixonados por carnaval e pelas nossas escolas.

    Comecei a acompanhar o carnaval por volta de 2003, e por influência da minha mãe adotei a Portela como escola, mas até então sem compromisso…mas senti mesmo esse “chamado” curiosamente em 2005, naquele desfile histórico (no pior sentido possível), assistindo junto com ela aquele caos, a tristeza de ver a velha guarda passar e a comoção que tudo aqui causou. Acho que foi a primeira vez que percebi o quanto o carnaval, as escolas, significam mais para as pessoas e a comunidade do que uma simples festa. Talvez por ser da Bahia e aqui o carnaval não ter essa característica de fidelização com blocos e desfiles, nunca havia tido essa sensação de pertencimento, de identificação com uma instituição carnavalesca.

    Mas enfim, assisti àquela apuração de 2005 aflito, torcendo muito pra Portela não cair, e dali em diante passei a acompanhar mais de perto a escola, descobri sambas antigos, histórias e personagens do passado, e não teve jeito, meu coração já estava conquistado.

    Abraço, e mais uma vez parabéns.

    1. Sérgio, primeiramente agradeço seu comentário.

      Sobre o texto, eu quis mostrar mesmo o quanto eu aprendi morando no Limão, a Mocidade Alegre já havia me conquistado no dia a dia daquele pré-carnaval eu só não tinha me dado conta daquilo e o estalo final veio no dia do desfile da escola.

      Sobre a sua paixão pela Portela ter começado em 2005 acho bastante peculiar, o Rafael Rafic colunista daqui do blog me disse o mesmo hoje, achei incrível. Talvez seja por perceber o quanto você sofre com um momento daquilo que o coração avisa pra você que é aquela a sua escola.

      E por último, não tenho como não concordar com o que falou sobre o que uma escola significa para a sua comunidade, no Limão isso ficou claro, no pré-carnaval de 2009 eu via o quanto aquela escola era essencial para aquele pessoal e o esforço que faziam para vê-la brilhar, foi sensacional.

      Mais uma vez agradeço seu comentário e espero que continue lendo o OT e consequentemente a minha coluna, abraços.

  2. Excelente texto, Bruno! Só lembrando que 2009 foi o título da famosa frase do Maurício Kubrusly: “Vai Zélia, fala pra gente quem ganhou! A gente não conta pra ninguém”

    1. É verdade, aliás, esta senhora quase me fez infartar quando ela deu 9.75 pra Mocidade Alegre na última nota, risos.

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