Está chegando a copa do mundo, faltam apenas duas semanas e estamos no clima do duzentos milhões em ação, pra frente Brasil do meu coração. Ruas enfeitadas, ansiedade mil…

… E é nada disso, tudo isso é mentira.

O clima está estranho. Claro que existe uma empolgação com a Copa, as pessoas começam a falar nela, uma certa ansiedade começa, mas muito pouco.

Eu nasci em 1976 e comecei a acompanhar copa do mundo em 1982. Lembro vagamente desta copa, bem da de 1986 e lembro o frenesi que a Copa do Mundo trazia. Nos meses próximos só se falava nisso. Ruas enfeitadas, inúmeras músicas sobre copa tocando nas AMs e FMs. O Brasil respirava copa do mundo. A partir de 1990 a coisa foi diminuindo, mas mesmo assim víamos com facilidade ruas enfeitadas, pessoas empolgadas. O Brasil era a pátria de chuteiras.

ruas-decoracao-copa-9g-20100611E essa ano a copa mesmo faltando apenas duas semanas é apenas um dos grandes assuntos do país junto com vários outros. Não é “O assunto”. Minha rua está longe de estar enfeitada. As ruas próximas estão tímidas. E para piorar tudo isso, a Copa esse ano é no Brasil.

Pensem. Se nos outros anos o Brasil parou, se enfeitou, ficou ansioso com uma Copa do Mundo imaginem em um ano que a copa é aqui. Na nossa casa. Os maiores jogadores do mundo jogarão em nossos gramados e aos nossos olhos.

Mas não aconteceu e agora eu pergunto porquê.

Primeiro porque as notícias que chegam não são muito boas. Por mais que seja mostrado que sim, existe um legado, que os gastos com a copa são muito menores que qualquer gasto com situações emergenciais desse país e que podemos ter lucro com essa copa a imagem passada não foi boa.

O Brasil sabe desde 2007 que sediaria a copa e mesmo assim se enrolou. Estádios atrasados nas obras, estourando orçamento e sendo inaugurados inacabados e com gambiarra. Economia ameaçando sair dos trilhos, problemas do dia a dia que provocaram o maior legado que essa copa deixa, o slogan: “imagina na copa”.

Nenhum publicitário pró Copa conseguiu criar um slogan tão forte.

Fora isso a ingerência da FIFA incomodou muito os brasileiros. Com postura arrogante, de donos do país e nos ameaçando com “chutes no traseiro” a entidade ficou antipática aos nossos olhos.

A Copa foi o segundo principal motivo de movimentação e manifestação popular nos dois últimos anos, só perdendo para os vinte centavos do transporte. Como esse foi equacionado as pessoas pensaram “Ih! Vai ter copa! Não! Não pode ter copa” mesmo com sete anos de atraso.

O povo brasileiro é mais politizado, consegue ter mais acesso a informação que no tempo da ditadura. Isso é bom e isso também é mérito dos nossos governos democráticos que deram liberdade ao povo. Mas aí chegamos ao segundo problema que de democrático não tem nada e esse sim esbarra no tempo da ditadura.

Patrulhamento.

cartaz1_protesto_brasil_mexico_getPorque mesmo com tudo isso muita gente está empolgada com a Copa. Sofreu para comprar ingressos, coleciona álbum de figurinhas, compra camisa da seleção, mas de forma tímida porque os que são contra a copa embutiram na cabeça da população que ela tem que ter vergonha de torcer pela seleção.

Tocam o terror numa guerra fria. Fazem greves pontuais e cirúrgicas para atrapalhar a população para que ela se volte contra o evento e tornar o governo refém. Fazem terrorismo em redes sociais. Protestam contra a seleção para que câmera de TV focalize e reclamam que professor ganha menos que o Neymar.

Cacete!! Repetindo em letras maiúsculas para quem não prestou atenção… CACETE!!

Qualquer jogador de primeira divisão de campeonato nacional com um mínimo de desenvolvimento ganha mais que professores. Não é governo que paga, é o clube e até reserva do tenebroso elenco do Flamengo ganha mais que professor.

E mais. O que a seleção tem a ver com isso? É o Felipão que ordena que seja assim?

Como eu disse acima, vivemos numa guerra fria e isso lembra a ditadura. Fazem slogan “Não vai ter copa” (outro que pegou) e acusam de alienação quem apoia a seleção e a copa fazendo que a gente pegue a bandeira e grite baixinho Brasil para que não percebam.

Atos que lembram muito o tempo da ditadura quando era considerado antipatriótico torcer pela seleção. Aí o “revoltado” via escondido os gols de Pelé e cia e pagava depois de “revolucionário”. A diferença que o revoltado de hoje não é o macho que invade bancos nem vai ao Araguaia. É o coxinha que marca protestos por Iphone.

Com tudo isso deixamos de criar o maior legado que poderíamos. Unir o país e mostrar ao mundo que apesar de todos os problemas que passamos podemos fazer uma festa bacana.

Luiz Felipe ScolariHoje em dia existe essa mania babaca de não deixar os outros torcerem. É gente patrulhando que vamos torcer pelo Brasil na copa. Gente patrulhando que comemoramos títulos mesmo que tenha sido com gol ilegal. O Futebol ficou chato, ficou sério. Tá ‘Espn’ demais.

Temos que tratar de nossas mazelas, cobrar os governantes sobre suas responsabilidades e tratar o futebol como ele merece. Como uma grande confraternização e que podemos dar uma boa festa. Receber nossos amigos estrangeiros e curtir por um mês esse momento tão bacana que iremos passar.

A Copa do Mundo é nossa e já vai começar.

Salve a seleção!

[N.do.E.: como já comentei em redes sociais, chega a ser esquizofrênica a postura de certos órgãos de imprensa: no noticiário político é contra, no esportivo e comercial é a favor. PM]

5 Replies to “Orun Ayé – “O direito de torcer””

  1. Aloísio, mais uma vez, perfeito. Como exemplo cito a África do Sul, que mesmo com muitos problemas, mostrou união em duas vezes. Em 95, no Mundial de Rúgbi, com forte dedo de Mandela, e recém-saída do Apartheid, os sul-africanos mostraram ser um país unido em torno de uma festa. E em 2010, com problemas mais modernos e típicos de países em desenvolvimento (como o nosso), fizeram a mesma coisa, melhorando sua imagem perante ao mundo.

    Aqui querem ser chatos, escancarar problemas que outros países têm também, como se fosse trunfo único nosso – sendo que os estrangeiros sabem que esses problemas existem, da mesma maneira que a gente sabe dos deles. Além disso, querem estragar uma imagem que o país tem. Querem criar uma geração ranzinza, completamente anti-brasileira.

  2. Perfeito !!! Nós, Brasileiros, nos últimos anos, aprendemos a exigir e reclamar !!! Infelizmente, muitos ainda, não aprenderam, que além disso, é preciso trabalhar e estudar também, para mudar o País !!!

  3. Olha eu entendo perfeitamente esse patrulhamento, é chato mesmo. Mas tenho algumas obsevações a fazer:

    O Governo Brasileiro conduziu muito mal esse processo, a começar na raiz optando por 12 sedes! E é natural que se fique puto ao ver estádios faraônicos sendo construidos em Brasília, Manaus, Cuiabá e Rio grande do Norte, é compreensível que qualquer cidadão minimamente esclarecido fique puto com o financiamento público dessas arenas que não terão nenhuma utilidade no pós copa.

    Ao meu ver essa parte do texto “Tocam o terror numa guerra fria. Fazem greves pontuais e cirúrgicas para atrapalhar a população para que ela se volte contra o evento e tornar o governo refém.” foi bem infeliz, rodoviários e professores históricamente tem suas “datas-base” em Junho, e é legítimo que façam suas greves independente de ter uma Copa sendo realizada no país ou não, a vida tem que seguir com Copa ou sem Copa, e reinvidicações saláriais, ainda mais nessas profissões que tem o trabalho bastante precarizado e sem o devido reconhecimento serão ao meu ver sempre justos, por mais que ache que tenham errado a mão na recepção da seleção, isso não invalida a luta desses bravos trabalhadores.

    É prefeitamente possivel, torcer, vibrar, acompanhar a copa sem cair no patriotismo vazio e sem encorporar o discurso governista (que coloca todos que estão contra a copa como coxinhas, e isso não é verdade) tem gente séria e com argumentos muito bons para não torcerem e não querer essa Copa aqui, assim como nem todo mundo que vai ao estádio é conformado, nem todo mundo que é contra é coxinha otário.

    O governo Brasileiro baixou a guarda legal pra FIFA, a FIFA faz o que quer aqui e é legítimo que se fique puto com a entidade, logo é natural que respingue em outras esferas, mas repito o que eu disse o governo que foi atrás disso.

    Pra finalizar vou expor minha posição: é preciso separar o jogo do que o cerca, e nesse aspecto tudo leva a crer que teremos uma copa com bons jogos e isso e legal de acompanhar de ver, mas assim como não da pra olhar só o extra campo e descer o cacete em tudo, se olharmos só para o campo tenderemos a nos omitir em vários aspectos importantes e questionais que envolvem o extracampo.

  4. Setores dos Sindicatos dos Professores do Rio e dos Rodoviários estão infestados por componentes do PSOL e do PSTU. Os caras não tem compromisso nenhum com as suas categorias, atualmente estão mais preocupados em atingir o Governo Federal, seja lá o que for…

  5. Em nenhum momento o texto foi ufanista ou tentou tirar culpa do governo ou das pessoas que conduziram o processo para a copa. O que foi dito é que a época de tentar impedir a copa foi em 2007 e quem quer ver a copa e torcer pela seleção não pode receber culpa de nada.

    Quem não gostou da forma que as coisas foram conduzidas tem 5 de outubro pra isso

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