Nesta quinta feira, o jornalista esportivo Fred Sabino faz uma interessante análise da derrota do lutador Anderson Silva no último sábado.

Ninguém é super-homem infalível – O Caso Anderson Silva

O grande assunto esportivo do fim de semana no Brasil foi a surpreendente derrota de Anderson Silva no UFC. Invicto desde 2006, o lutador brasileiro acabou nocauteado pelo americano Chris Weidman e perdeu o cinturão dos médios da organização.

A postura extremamente provocativa de Anderson durante o encontro gerou uma saraivada de críticas nas ruas e redes sociais. Afinal, foi justamente após mais uma provocação que o brasileiro errou a esquiva que permitiu a Weidman acertá-lo irremediavelmente.

Não sou um fã de MMA e nem varo madrugadas para acompanhar os UFCs. Gostava mais de acompanhar o boxe nas décadas de 80 e 90, com lutadores carismáticos do nível de Mike Tyson, Evander Holyfield, George Foreman, Lennox Lewis, Sugar Ray Leonard e Julio Cesar Chavez, entre outros. Fora que o tipo de luta – ou melhor, de lutas – em um combate de MMA não me agrada. Mas vi em VT a íntegra do combate Silva x Weidman.

Por isso, mesmo não sendo um especialista em MMA, de imediato me veio à cabeça um paralelo entre a postura de Anderson no confronto do último sábado com o estilo do maior boxeador de todos os tempos em qualquer peso: Muhammad Ali.

Não que eu queira comparar tecnicamente Anderson a Ali. A distância é enorme, até pelo que Ali fez fora dos ringues. Mas Ali tinha justamente essa faceta provocativa contra os adversários. Frases de efeito nas entrevistas, guarda propositalmente baixa, gingas e esquivas durante as lutas.

Mais do que tirar onda com os adversários, tanto Ali como Silva sempre usaram estas provocações como estratégias para desestabilizar os oponentes. É evidente que um oponente desequlibrado emocionalmente, que parta para cima de forma desenfreada, é um alvo mais fácil para um contra-golpe.

Então, teoricamente a postura de Anderson Silva foi semelhante à adotada em outros eventos. Só que contra Chris Weidman, um lutador bastante qualificado segundo a crítica especializada, o brasileiro exagerou nessa estratégia. Exagerou porque foi auto-confiante demais.

O próprio córner de Anderson durante o primeiro round e, ainda mais, no intervalo antes do segundo assalto, foi claro no pedido para que o brasileiro lutasse com seriedade e começasse a golpear Weidman. Anderson não obedeceu e perdeu.

Muitos outros ídolos em diversas modalidades já foram traídos por excesso de confiança. O próprio Ali nos últimos anos de carreira, mesmo perdendo agilidade e ganhando peso, insistiu em lutar e em 1978 perdeu o cinturão para um então desconhecido Leon Spinks. Tyson também lutou “no automático” contra Buster Douglas e caiu em 1990. Mas até hoje, ambos são justamente reverenciados pelos fãs.

Por isso, chega a ser ridícula a polêmica em relação à capacidade de Anderson e à “vergonha para o Brasil” que ele teria proporcionado. Uma derrota jamais pode desqualificar toda uma carreira. É inegável a qualidade técnica dele como lutador e o cartel de 33 vitórias e (agora) cinco derrotas é respeitabilíssimo.

Contra Weidman, Anderson errou, exagerou, e isso custou caro. Mas no fundo é apenas uma derrota. Provavelmente haverá uma revanche. Afinal de contas, Anderson é humano. Como somos todos nós.

Talvez esse seja o defeito dele. O torcedor quer que os atletas brasileiros sejam sempre super-homens infalíveis.