Nesta quarta feira, a coluna “Saúde e Batom”, da jornalista Raphaele Ambrosio, trata novamente sobre um asunto de saúde pública: o alcoolismo feminino. Lembro aos leitores que o lema da cultura cervejeira é “beba menos, beba melhor”, justamente para coibir o consumo em excesso.

Alcoolismo Feminino

Cada vez mais, o álcool vai atingindo pessoas em suas diversas fases da vida, principalmente os jovens. Mas as mulheres também fazem parte desse grande numero de pessoas que vai descobrindo o álcool cada vez mais cedo e se tornando dependente dele. Elas, inclusive, sofrem danos no cérebro três vezes mais do que os homens, por conta do alcoolismo.

De acordo com o Ministério da Saúde, em pesquisas recentes, o consumo excessivo de bebidas alcoólicas por mulheres passou de 8,2% para 10,6% entre os anos de 2006 e 2010. E a doença, considerada grave pela Organização Mundial da Saúde (OMS), gera prejuízos biológicos bem mais agudos ao sexo feminino.

Mas a que se deve isso? Porque mulheres estão, cada vez mais, procurando o álcool como um refúgio? Entenda mais sobre o alcoolismo e o que ele é capaz de provocar

 O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e prolongados do álcool. É entendido como o vício de ingestão excessiva e regular de bebidas alcoólicas, e todas as consequências decorrentes. O alcoolismo é, portanto, um conjunto de diagnósticos. Dentro do alcoolismo existe a dependência, a abstinência, o abuso (uso excessivo, porém não continuado), intoxicação por álcool (embriaguez), síndromes amnésica (perdas restritas de memória), demencial, alucinatória, delirante, de humor, distúrbios de ansiedade, sexuais, do sono e distúrbios inespecíficos e por fim, o delirium tremens – que pode ser fatal.

Ele está relacionado à busca do prazer: quando algo é agradável, a pessoa busca os mesmos estímulos para obter a mesma satisfação. Mas ao mesmo tempo, quando algo não sai como o planejado, como, por exemplo, problemas pessoais ou no trabalho, a mulher procura o álcool na esperança de evitar dor ou aborrecimento. No começo a busca é pelo prazer que a bebida proporciona. Depois de um período, quando a pessoa não alcança mais o prazer anteriormente obtido, não consegue mais parar porque sempre que isso é tentado surgem os sintomas desagradáveis da abstinência, e para evitá-los a pessoa mantém o uso do álcool.

A idade geral onde há maior índice de mulheres alcoólatras é na faixa dos 26 aos 34 anos. E, na maioria das vezes, o álcool lhe é apresentado em casa, em comemorações familiares. A ingestão constante, descontrolada e progressiva pode comprometer, severamente, o bom funcionamento do organismo da mulher e levar a consequências irreversíveis, como lesões no fígado, até a problemas ginecológicos como menstruação ausente, abortos espontâneos e infertilidade.

Se no começo uma dose de uísque era suficiente para uma leve sensação de tranquilidade, depois de duas semanas (por exemplo) são necessárias duas doses para o mesmo efeito. É nessa fase que, especialistas afirmam que a mulher está se tornando tolerante ao álcool. Em pouco tempo, essas doses já não serão suficientes, uma vez que, no inicio uma única dose já deixava a pessoa um pouco tonta, ela passa a não sentir mais e com isso, precisar de mais e mais doses.

O tratamento não é fácil. É como de uma droga, um vício qualquer que a mulher esteja se livrando. Ela passa, então, a sofrer abstinência, já que o álcool já estará entranhado em seu organismo. E isso pode gerar sérios problemas e levar até mesmo à morte, caso não seja tratado corretamente, dependendo do nível, do tempo e da quantidade da substância no organismo.

Veja o que o álcool pode fazer:

  • Sistema Nervoso – Amnésias nos períodos de embriaguez acontecem em 30 a 40% das pessoas no fim da adolescência e início da terceira década de vida: provavelmente o álcool inibe algum dos sistemas de memória impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos durante o período de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é natural, tendo sua estrutura registrada no eletroencefalograma alterado. Entre cinco e 15% dos alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema consiste em um permanente estado de hipersensibilidade, dormência, formigamento nas mãos, pés ou ambos. Nas síndromes alcoólicas podem-se encontrar quase todas as patologias psiquiátricas: estados de euforia patológica, depressões, estados de ansiedade na abstinência, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento desajustado.
  • Sistema Gastrintestinal – Grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode levar a inflamação no esôfago e estômago o que pode levar a sangramentos além de enjoo, vômitos e perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis, mas as varizes decorrentes de cirrose hepática além de irreversíveis são potencialmente fatais devido ao sangramento de grande volume que pode acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas mais falados dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a vida, levando o alcoólatra lentamente à morte.
  • Câncer – Os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a população em geral.
  • Hormônio do crescimento – Alterações são observadas em indivíduos que abusam de álcool, mas essas alterações não provocam problemas detectáveis como inibição do crescimento ou baixa estatura, pelo menos até o momento.
  • Hormônio Antidiurético – Esse hormônio inibe a perda de água pelos rins, o álcool inibe esse hormônio: como resultado a pessoa perde mais água que o habitual, urina mais, o que pode levar à desidratação.
  • Hormônios Sexuais – O metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios reprodutivos no homem e na mulher. No homem o álcool contribui para lesões testiculares o que prejudica a produção de testosterona e a síntese de esperma. Já com cinco dias de uso contínuo de 220 gramas de álcool os efeitos acima mencionados começam a se manifestar e continuam a se aprofundar com a permanência do álcool. Essa deficiência contribui para a feminilização dos homens, com o surgimento, por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem).

O alcoolismo afeta a toda a família, não só a pessoa que carrega a doença. Uma vez que a família esteja saturada por toda a situação e resolve, erradamente, virar as costas para a dependente, ela procura ainda mais esse refugio, já que se vê sozinha na situação e o que, antes já era uma fonte de desafogar os problemas, passa a ser um apoio para a dor.

Se você passa por esse problema ou conhece alguém que passe, existe tratamento, formas de ajudar. No AA existe o chamado ’12 passos’, onde a alcoólatra aprende a viver um dia por vez sem a bebida, existem ainda Tratamentos Psicossociais e Psicoterapia Cognitiva Comportamental.

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