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(Foto: Extra, 2010, na União da Ilha)

O leitor mais desatento deve estar estranhando o fato de estarmos em março e eu já estar falando em carnaval 2014, não é mesmo?

Pois saiba que o visto na Marquês de Sapucaí na verdade é o fruto de um trabalho que dura praticamente 365 dias de um ano. Ali é o ápice, o “grande finale”, mas resultado de um esforço de um ano inteiro. Ou seja, o que vimos ali começou em março do ano anterior.

Faço este preâmbulo para dizer que, embora ainda falte praticamente um ano para a festa, as escolas já estão a pleno vapor em seus preparativos. Após curtíssimas férias, é hora de definir as equipes de profissionais que estarão nas escolas – principalmente no Grupo Especial – e iniciar a definição dos enredos.

Neste momento, duas notícias se impõem: primeiro o frenético “troca troca” de profissionais entre as escolas, em magnitude não vista nos últimos anos. Segundo, o anúncio da Imperatriz Leopoldinense de que o ex-jogador Zico, o Deus da Gávea, será o enredo da escola para 2014.

Sobre o “troca troca”, falo mais abaixo. Mas queria chamar a atenção para alguns aspectos.

Recentemente escrevi artigo analisando a torcida pelas escolas de samba e as comparando com a que se encontra pelos clubes de futebol. Ainda falei um pouco dos enredos abordando clubes naquela ocasião, ressaltando as dificuldades de desenvolvimento e os modestos resultados – com boa vontade, a homenagem ao centenário do Flamengo feita pela Estácio de Sá pode ser considerada medianamente bem sucedida. E este enredo anunciado tem uma série de questões a serem analisadas.

A primeira delas é a própria característica da escola. A Imperatriz ultimamente tem adotado uma marca de desfiles sisudos, onde desfila mais para o jurado que para o público ou para o carnaval. Apesar de alguns espasmos (como 2005), a característica vem sendo essa. Além disso a agremiação não conta com uma grande torcida nem é considerada “simpática” pelo grande público, em especial após o (muito) contestado tricampeonato entre 1999-2001.

O objetivo me parece claro: apostar em um tema popular que permita um ganho de “simpatia” à escola, ainda que a custa de alguns “narizes torcidos” de torcedores de outras equipes. A tentativa é a de estabelecer identidade entre a torcida do “Mais Querido” e assim carrear ganhos à Imperatriz. No cálculo de sua diretoria, a antipatia dos não rubro negros será menor que o apoio na nação rubro negra.

Vale dizer que Luiz Pacheco Drummond, presidente da escola, é botafoguense, tendo inclusive participado da diretoria do clube no biênio 1984/85. Seu cálculo foi de que homenageando Zico e não diretamente o Flamengo carrearia as atenções não somente dos rubro negros como dos torcedores de outros clubes que admiram o “Galinho”. Isto pode ser comprovado nas declarações do Diretor de Carnaval da Imperatriz Wagner Araújo à Bandeirantes no último dia 19:

“O enredo não é o Flamengo, é o Zico. (…) Mas o Zico é quase uma unanimidade, inclusive nas outras torcidas. Sua postura, comprometimento profissional, o fato de ele não criar polêmicas. Claro que vai ter um setor sobre o Flamengo, mas a escola tem muito mais para mostrar. Pode haver uma reação clubística, mas não contra a figura do Zico.”

Ou seja, fica claro que a escolha foi no sentido de “tomar uma carona” na popularidade do homenageado e aumentar a sua própria. Curioso é que Zico já havia recusado ser enredo em outra ocasião, pela União de Jacarepaguá, além de ser notório torcedor da Beija Flor.

Assim que o enredo foi divulgado, alguns especialistas ponderaram que o enredo poderia ter o mesmo problema de outros abordando futebol: de que não haveria história suficiente para oito setores, oito carros alegóricos e 30 alas. A meu juízo, o carnavalesco (Cahê Rodrigues) terá de buscar formas para sair do trinômio “Quintino-Flamengo-Japão” a fim de não tornar repetitivo o desenvolvimento. Ainda assim, penso que há soluções possíveis para se contar uma história – e apostar na comoção causada pelo ídolo.

Zico será o terceiro jogador de futebol a ser homenageado na Marquês de Sapucaí. Nilton Santos foi tema da Vila Isabel em 2002, no Grupo de Acesso, com a escola obtendo um polêmico vice campeonato – houve suspeitas fortes de que a nota que lhe tirou o título foi adulterada. No ano seguinte a Tradição trouxe Ronaldo Fenômeno como enredo, em desfile que se revelou desastroso – com direito a carro de som coberto com um lençol à guisa de “carro alegórico”… Ainda assim não foi rebaixada.

Por outro lado, será a primeira vez em sua história em que a Imperatriz Leopoldinense fará uma homenagem em vida – todas as vezes anteriores em que a escola de Ramos prestou homenagens foi a pessoas falecidas, como Silas de Oliveira, Lamartine Babo, Dalva de Oliveira e Chiquinha Gonzaga.

Pessoalmente acho que será muito legal ver um de meus grandes ídolos tendo sua vida retratada na avenida.

Outros Enredos

Outras escolas também iniciam o processo de divulgação de seus enredos. A Acadêmicos do Grande Rio assinou contrato e irá cantar a cidade de Maricá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro. A Beija Flor irá contar as histórias da publicidade e da televisão a partir da vida de José Oliveira de Bonfácio Sobrinho, o Boni. E por seu turno a União da Ilha terá enredo tendo como alvo os brinquedos. Na Série A a União do Parque Curicica já anunciou um desfile tendo a cachaça como tema para 2014, bem como a Viradouro sobre os 40 anos da Ponte Rio Niterói. Aliás, este blogueiro também completa 40 anos em 2014…

A São Clemente anunciou ontem enredo cujo título fala em favelas, mas que na prática será uma louvação às UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) do Governo do Estado do Rio e seus benefícios. Lembro que há eleições para o governo do Estado em 2014 e a escola mantém a linha recente de agradar aos que detém o poder em seus enredos – o que é uma pena, ainda mais com o passado de que a amarela e preta detém. Este enredo deverá ser desenvolvido por Cid Carvalho ou Roberto Szaniecki.

No campo das especulações, fala-se na Mocidade homenageando Ayrton Senna e em mais um tema afro para o Império da Tijuca. Mangueira e Portela, como terão eleições, devem retardar suas escolhas – embora rumores indiquem que o Presidente da Portela já teria assinado contrato de patrocínio, o que seria uma temeridade a meu ver tanto para ele quanto especialmente para o patrocinador. Paulo Barros colocou mensagens enigmáticas indicando um enredo sobre o “fim do mundo” na Tijuca, mas até o momento nada foi confirmado.

A Vila Isabel negocia enredo (que acho detestável) sobre transgênicos, apesar da negativa de seu presidente em entrevista no Desfile das Campeãs. Mas são apenas especulações.

“Troca Troca”

Muito mais que outros anos, para 2014 estamos assistindo a uma movimentação frenética no mercado, tanto no Grupo Especial como no Grupo de Acesso.

As escolas que mais buscaram se reforçar foram a Mocidade – que, segundo rumores, tem a volta do patrono a comandar de fato a escola – e a Unão da Ilha. A primeira trouxe o casal de mestre sala e porta bandeira Rogerinho e Lucinha, o carnavalesco Paulo Menezes, o diretor de Harmonia Anderson Abreu e o coreógrafo de comissão de frente Sergio Lobato. A União da Ilha contratou o Mestre de Bateria Thiago Diogo, o coreógrafo Jaime Aroxa e o diretor de harmonia Válber Frutuoso, além de reforçar o time de apoio do carro de som.

A Grande Rio tirou da Tijuca o diretor de carnaval Ricardo Fernandes (que também perdeu o puxador Bruno Ribas, que foi demitido ontem) e da São Clemente o carnavalesco Fábio Ricardo. A porta bandeira Marcella Alves está de volta ao Salgueiro após passagem pela Mangueira e o (ainda) presidente Nilo Figueiredo contratou Alexandre Louzada como novo carnavalesco da Portela, apesar de eleições estarem marcadas. Por outro lado, contrariando prática adotada pelas escolas recém promovidas a Império da Tijuca manteve toda a equipe que conquistou o título da Série A.

O que se sabe é que a escola de Noel começa a sofrer um “desmanche” de seus profissionais: saíram o coreógrafo da comisão de frente, o casal de mestre sala e porta bandeira, a carnavalesca Rosa Magalhães e o puxador Tinga. Segundo notícia do site “Tudo de Samba” tal debandada poderia estar ligada a atrasos salariais. A Tijuca deverá ser o destino do casal e do puxador.

Este blog irá mantendo os leirtores informados sobre o carnaval 2014, à medida em que os fatos forem ocorrendo.

6 Replies to “Zico, a Imperatriz Leopoldinense e alguns enredos para o Carnaval 2014”

  1. Essa aposta em Zico não vai dar certo. Nem todo mundo que torce pra Imperatriz é rubro-negro. Eu, por exemplo, não sou. Foge do padrão da escola, ao nível do enredo de 1988, onde a agremiação ficou em último. Depois de um bom desfile em 2013, começo a temer pelo rebaixamento no ano que vem.

  2. Eu acho curioso é o torcedor da Imperatriz achar que Zico (que não é, em princípio, um bom enredo) será o grande culpado pela escola não disputar o título em 2013. Vamos com calma… A Imperatriz ainda está se reerguendo depois de uns 3 ou 4 anos muito apagadinhos em termos de disputa por posições, mas a Escola vem numa boa caminhada e não achoq ue ZICO vá atrapalhar coisa alguma.

    Sucesso para a Imperatriz! Escola que conta sempre com o meu carinho!!!

  3. Apenas uma palpiteira que ama este maravilhoso carnaval…Será que não há algo mais emocionante do que falar sobre a vida de um jogador??? Seja ele quem for…Será que ta faltando ideias?? Me pergunto mts vezes qd vejo temas relacionados com homenagens a pessoas…cidades…onde ate se imagina o que vem…Onde anda a criatividade desta gente maravilhosa que faz carnaval??? Todo ano sabemos que alguem vai falar de alguem ou de um lugar..Que mesmice….

  4. Não tem pra ninguém SALGUEIRO CAMPEÃOO!!
    Gaia-A Vida em Nossas Mãos….MELHOR DE TODOSS!!
    E em segundo união da ilha…É Brinquedo É Brincadeira..A Ilha vai levantar Poeira…

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