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Hoje, a coluna “Made in USA”, do advogado Rafael Rafic, trata do desempenho brasileiro no Mundial de Baseball ocorrido neste mês de março.

O Brasil no World Baseball Classic

Na coluna do dia 3 de dezembro, contei sobre a histórica e milagrosa classificação da seleção brasileira de baseball para o World Baseball Classic (WBC), o mundial da modalidade.

Agora, chegou a hora de noticiar e analisar o desempenho do Brasil no referido mundial, já que nossa participação se encerrou na madrugada do último dia 5. Conforme já havia escrito, a organização mudou o Brasil de grupo e fomos jogar no Grupo A, no Japão, para enfrentar, nessa sequência, além dos donos da casa, Cuba e a China.

Nosso objetivo era conseguir o 3° lugar do grupo e assim garantir vaga automática para o mundial de 2017, no qual o Brasil deverá ter um time bem melhor, sem precisar passar pela classificatória do continente americano – que é duríssima.

O time já começou enfrentando um problema: nosso grande jogador, Yan Gomes (único a ter experiência na MLB, a liga profissional americana) preferiu não jogar o mundial para ficar no treinamento de pré-temporada com seu novo time na liga, o Cleveland Indians, após ele ter sido trocado em janeiro.

Não crucifico o Yan. Alias, no lugar dele eu faria o mesmo. Por mais que a MLB tenha proibido os times de barrarem a ida de jogadores ao mundial, isso só resolve o problema das estrelas do jogo, aquelas que não importam o que fazem tem seu lugar no time garantido. A MLB até o momento nada fez para proteger nesse ponto o jogador “borderline”, aquele que já tem nível para jogar na MLB, porém não tem sua vaga certa e precisa disputá-la nos jogos de pré-temporada.

Esse é exatamente o caso do Yan Gomes.

Se ele escolhe ir para o mundial, fatalmente o Indians o iria cortar do time principal. Não apenas por retaliação, mas também porque não o viu jogar. Como a diferença salarial entre a MLB, com salário mínimo de US$ 490 mil anual, e as ligas menores, com salários que só chegam a US$ 50 mil anuais, é absurda, entendo perfeitamente a escolha de Yan Gomes.

Então já fomos para o Japão capenga e, para piorar, depois de elogiar o trabalho do técnico do time brasileiro, o americano Barry Larkin (um ótimo jogador e excelente treinador), na última coluna, já não posso fazer o mesmo elogio após o mundial.

Parêntese: lembrando que Larkin se ofereceu para atuar na seleção após uma visita ao Brasil com sua filha, que teve sua música selecionada para a trilha internacional da novela “Avenida Brasil”. Não consegui confirmar a informação ventilada de que o mesmo aceitou trabalhar de graça, mas de qualquer forma parece que ele não veio pelo “preço de mercado”, só pelo fato de ser o time do Brasil.

Para o nosso objetivo, tínhamos que concentrar forças no último jogo conta a China, porque era óbvio que Japão e Cuba ficariam com as duas primeiras vagas do grupo e se classificariam para a segunda fase, enquanto apenas restaria a Brasil e China se digladiarem pela última vaga automática para o WBC de 2017.

Por isso, fiquei bastante surpreso ao perceber que Larkin gastou nosso melhor arremessador titular, Rafael Fernandes, e nosso melhor reserva, Murilo Gouvêa, já no primeiro jogo contra o Japão.

O resultado imediato foi muito bom, Fernandes e Gouvêa seguraram muito bem a pressão contínua feita pelo time do Japão e mantiveram o Brasil na frente do placar por 3 x 2 até a saída de Gouvêa, ao fim do 6° inning.

Acredito que, embalado pelo ótimo resultado (afinal o Brasil estava prestes a chocar de vez o mundo do baseball derrotando o atual bi-campeão do WBC na casa deles), o treinador decidiu continuar a usar o que tinha de melhor nos arremessos e mandou o bom Oscar Nakaoshi para o jogo.

Porém, após um 7th inning limpo, Nakaoshi e o Brasil, após muito tempo, sentiram a pressão japonesa e cederam três corridas ao Japão no 8th inning, deixando o placar em 5 a 2. Alias, esse foi o placar da partida ao final (a partida de baseball é composta por 9 innings).

Ressalte-se que se a defesa do Brasil também não falhasse e completasse corretamente uma double play (dois jogadores eliminados na mesma jogada) que encerraria naquele instante o 8th inning, a partida ainda estaria empatada em 3 x 3.

Menos de 24 horas depois dessa derrota, como é de praxe no baseball, o Brasil voltou a campo para enfrentar a seleção de Cuba.

No início, graças a outra atuação grande atuação de um arremessador titular brasileiro, no caso o Andre Rienzo (que é minha aposta para ser o segundo brasileiro na MLB, ainda esse ano pelo Chicago White Sox, só que como arremessador reserva), o jogo continuou 0 a 0. Até que no 5th inning, Rienzo tomou duas corridas e foi substituído por Larkin.

Em minha opinião, a substituição foi tardia. Rienzo já havia mostrado sinais de cansaço no 4th inning. Porém aqui não havia muito que fazer também, já que não havia quem poderia o substituir a altura no bullpen (local onde ficam os arremessadores reservas) do Brasil. Ao fim uma derrota honrosa por 5 a 2 e a certeza de mais uma boa atuação do time brasileiro.

Até que chegou a partida contra China, que seria um confronto direto pela 3ª vaga automática no mundial de 2017.

A China claramente se poupou em seu 2° jogo contra Cuba e se deixou perder por 12 a 0 (no mundial existe uma regra de misericórdia que o jogo se encerra automaticamente caso, ao fim de inning, a diferença seja de 10 ou mais corridas) visando derrotar o Brasil.

No papel o time brasileiro era claramente favorito. Como todos os bons arremessadores já haviam sido utilizados, Larkin resolveu iniciar o jogo com o mesmo Oscar Nakaoshi.

Dessa vez Nakaoshi foi muito bem segurando sem nenhum susto o time chinês por 4 innings, assim como Murilo Gouvêa arremessou bem outros 3 innings, deixando o time chinês zerado nos 7 primeiros innings.

Enquanto isso nosso ataque, sempre no nosso estilo “small ball”, base por base, construiu 2 corridas, o que deixou o jogo 2 a 0. Porém, mesmo fazendo 2 corridas, o ataque desperdiçou várias chances por pura ansiedade e claramente se percebia que todos queriam fazer a grande rebatida da vitória.

O resultado é que ao final dos 7 innings, já era para a partida estar muito mais tranqüila para o Brasil, com 6 a 0 no placar. Como quem não faz leva, esse desperdício cobrou sua conta no 8th inning.

Para começar, Larkin errou demais. Gouvêa já vinha de um longo trabalho de 3 innings contra o Japão e já havia arremessado outros 3 innings contra a China. Era óbvio que o braço já estava cansado. Mesmo assim ele começou o 8° inning. Não bastasse isso, o Gouvêa teve que tomar uma rebatida simples e 2 walks (quando o rebatedor avança sem rebater porque o arremessador arremessou 4 bolas fora da zona de rebatida) em um claríssimo sinal que o braço estava cansado.

Resultado: o nosso closer (fechador) Thyago Vieira, que já havia operado um milagre para garantir a vaga do Brasil no mundial contra o Panamá, foi chamado para operar um milagre ainda maior.

Dessa vez com bases lotadas e nenhum chinês eliminado. Para piorar ainda mais a situação, ele entrou ainda no 8th inning (normalmente o closer só entra no 9th). Ou seja, o pior dos mundos para um closer.

Porém o Thyago não conseguiu operar outro milagre, não passou nem perto de ter o mesmo controle dos arremessos que teve contra o Panamá em outubro e, ao final do 8th inning, já com Hugo Kanabushi nos arremessos para o Brasil, o placar marcava um desastroso 5 x 2 para a China. Já estávamos no fim do jogo e o Brasil não conseguiu fazer mais nada, perdendo o jogo por esse mesmo placar e junto com ele, a vaga automática para 2017.

Não posso classificar como ruim a participação brasileira. Afinal fizemos jogos bastante decentes contra as potências Japão e Cuba e não fizemos um jogo tão ruim contra a China. Mas como éramos favoritos contra China e o objetivo não foi alcançado, também não posso dizer que a nossa participação foi positiva. De 0 a 10, dou uma nota 5.

Para 2017, a expectativa é que o time brasileiro esteja bem melhor, com vários jogadores, que já são bons hoje, mas jovens, com mais experiência. Entre eles destaco o Rafael Fernandes, o Murilo Govuea, o Thyago Vieira e o Oscar Nakaoshi.

Ainda deveremos ter no time a super promessa Luis Gohara, que com apenas 16 anos já foi contratado pelo Seattle Mariners e está sendo treinado pelo pessoal da MLB. Assim espero uma participação ainda melhor do Brasil em 2017.

O problema gigantesco é que, como não ganhamos da China (e até a própria organização da competição queria isso, percebam a mudança de grupo do Brasil e a programação dos jogos dentro do grupo, nos dando dois dias de descanso para esse jogo enquanto a China teve que jogar três dias seguidos), teremos que enfrentar a duríssima eliminatória do continente americano. Ou seja, derrotar de novo os tradicionais Panamá, Nicarágua e Colômbia – talvez mais algum novo país que apareça.

Resultado Final

No final do torneio, finalmente a República Dominicana pode comemorar seu merecidíssmo primeiro título mundial de baseball. Os dominicanos derrotaram na final o surpreendente time de Porto Rico por 3 a 0 e se tornaram o primeiro time invicto a ganhar o mundial, vencendo todas as partidas. O Japão completou o pódio, com a Holanda em 4° lugar.

Esse título apenas vem corroborar o que venho dizendo há alguns anos: hoje o país do baseball no mundo é a República Dominicana, até mais do que nos Estados Unidos. No país caribenho o baseball é a grande paixão nacional, esporte que faz parar o país, enquanto nos EUA o baseball nem o esporte preferido é, já que perdeu espaço para o futebol americano.

Em tempo: o time dos EUA fez outro papelão e foi eliminado, pela segunda vez consecutiva, ainda na 2ª fase após derrotas consecutivas para os dominicanos e os porto riquenhos. Isso sem contar que por muito pouco (apenas 6 eliminações) eles não ficaram em último lugar no grupo ainda na 1ª fase, o que sequer garantiria vaga para o próximo mundial.